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No caminho de volta para casa, aproveitei que ainda tinha algum dinheiro sobrando na minha carteira e passei na mercearia para comprar algo diferente pra jantar naquele dia, pois já estava enjoado de miojo, mesmo que fosse um sabor diferente pra cada dia. Não que eu tivesse escolhido algo mais saudável para me alimentar, tendo em vista que tinha comprado salgadinhos, refrigerante e uma caixa de bombom.
Depois que paguei os produtos no caixa, finalmente me pus a andar apressadamente para minha casa. Chegando próximo a ela, pude perceber uma silhueta familiar sentado na calçada com o cotovelo apoiado sobre o joelho enquanto que a cabeça permanecia repousada sobre a mão, e a outra mão livre, com um graveto em sua posse rabiscava o asfalto. Reconheceria aquelas madeixas loiras de longe e então um sorriso largo surgiu em meus lábios ao que meus pés se dirigiam rapidamente em sua direção.
Ao que escutou os sons de passos apressados, Paulo ergueu a cabeça direcionando aquelas íris claras em minha direção, e tão logo largou o graveto se pondo de pé, me recebendo com um abraço caloroso.
─ Paulo! Seu idiota... por que sumiu? ─ Me separei brevemente do abraço o observando para ver se não tinha nenhum machucado visível ou qualquer coisa que demonstrasse estar m*l. Mas tudo o que vi foi um belo sorriso de seus lábios.
─ Sentiu tanto a minha falta assim? Bem que eu poderia sumir mais vezes então. ─ Brincou, m*l sabendo eu naquele momento que, o que ele mais deseja era nunca mas ter de passar por aquilo novamente. Mas com toda minha ingenuidade acabei levando realmente como uma brincadeira sem graça da parte dele, e dei-lhe um leve tapa no ombro.
─ Está louco? Não pensei em fazer isso de novo. Anna e eu quase morremos de preocupação pois nem as mensagens você respondia. Vem, ─ o segurei pela mão antes mesmo que ele pudesse dizer qualquer coisa, o puxando até a entrada da minha casa, e assim ele veio sem nada dizer nada no momento. ─ vamos entrar logo. ─ Completei.
Assim que entramos, deixei minha mochila ao canto e segui até a sala deixando a sacola do supermercado em cima da mesa de centro, logo atrás de mim vinha Paulo.
─ O que comprou? ─ Questionou curioso se sentando no sofá logo colocando as mãos nos bolsos.
─ Salgadinhos, bombom e refrigerante. ─ Respondi simples me sentando ao lado dele ainda o observando de modo analítico.
─ Céus! Você ao menos tem um dia pra se alimentar com comida de verdade? ─ Questionou uma vez mais virando o rosto na minha direção, ao que logo suas bochechas ganharam um tom rubro, talvez pela minha proximidade no momento. ─ O que... o que foi, Mika?
─ Estou tentado ver se é meu amigo mesmo que está aqui e não um "et" que simplesmente o abduziu fez testes e trocou por um clone. ─ Falei sério, tão sério como nunca havia dito coisa parecida na minha vida e mesmo com toda minha seriedade um sorriso mais largo surgiu nos lábios de Paulo que tão logo se escapou dos mesmos uma risada gostosa.
─ Eu estou bem, okay? ─ Com isso a risada foi cessando aos poucos até ele soltar o restante do fôlego nos pulmões, umedecendo os lábios ─ E... sou eu mesmo, quer sentir? ─ Questionou em tom baixo, quase que em um sussurro ao que se aproximava.
Em meu peito o coração começou a acelerar, e uma especie de formigamento tomava meu corpo enquanto que meus olhos se intercalavam ente os lábios e os olhos acinzentados de Paulo, a medida em que ele se aproximava. Podia sentir seu fôlego quente, tão próximo a ponto do meu corpo arrepiar. Uma de suas mãos agora repousava ao canto do meu rosto até que finalmente pude sentir seus lábios em contato com os meus, me puxando para um beijo lento e sútil.
Senti minhas pernas e braços tremerem, mas o medo não me possuía naquele momento. Apenas me vi cedendo passagem e retribuído ao beijo no mesmo ritmo, na mesma intensidade, sentindo o gosto de menta contra minha boca enquanto que nossas línguas se encostavam e se moviam em perfeita harmonia. Aos poucos o beijo foi se intensificando e nossas respirações se descompassavam dando lugar a arfares, nos víamos forçados a dar pequenas pausas para puxar o fôlego para os nossos pulmões ao que Paulo vinha pra cima de mim, me fazendo deitar sobre o sofá. Seus lábios finos e umedecidos seguiam agora rumo ao meu pescoço, e agora um temor me assombrava fazendo com minhas mãos lhe apertassem os braços. Ele parou e então me olhou nos olhos.
─ O que foi, está com medo? Eu o amo, não vou fazer nada que não queira... ─ sussurrou com aquele mesmo tom persuasivo e atraente, e aí que meu pesadelo começou.
"Eu o amo, não vou fazer nada que não queira" repetia inúmeras vezes a medida em que cada vez que se repetia era uma voz diferente intercalando entre as vozes de Steve, Allex e até mesmo o próprio Paulo. Aqueles mesmos olhos que me olhavam com amor e carinho momentos antes do beijo, agora se tornavam cheios de desejo e possessão enquanto iam se tornando negros como a noite, suas mãos me apertavam firmemente contra o sofá e não importasse o quanto tentava, não conseguia fugir dali. Em seus lábios aquele maldito sorriso entoando aquela frase incessantemente, agora ia de orelha a orelha com dentes pontiagudos ao que se aproximava de mim e do nada, tudo se apagou.
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