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O garoto loiro que havia se ausentado por alguns dias da escola aparentemente sem nenhum aviso prévio ou sinal de que estaria bem, finalmente havia aparecido normalmente para as aulas na segunda-feira. E não demorou muito para que pudesse sentir a falta de Mikael por ali.
Questionou para Anna se ela sabia de algo e tendo uma resposta negativa da mesma, Paulo já se encontrava impaciente para que os horários de aula terminassem logo e ele pudesse ir pessoalmente até a casa de Mikael para vê-lo. Um desafio e tanto já que os minutos no ponteiro do relógio pareciam nunca passar.
Quando finalmente acabou os horários Paulo não hesitou em sair as pressas em direção a residência de Mikael, ignorando completamente o esforço que fazia no momento. Chegando lá, bateu à porta com certa insistência de sua parte não obtendo nenhuma resposta.
"Estranho ele não sai de casa na segunda." Pensava consigo mesmo resolvendo forçar a tranca e arrombar a porta. Assim que conseguiu, adentrou no local chamando pelo garoto em alto e bom som ao que seguia pela casa toda o procurando quando. Ouviu uma voz rouca quase inaudível quando estava próximo as escadas o que fez seu coração acelerar e um frio gélido lhe percorrer a espinha.
Subiu-as sentindo um forte cheiro que o fez levar o antebraço sobre o rosto para respirar um pouco melhor, já a frente da porta de Mikael, essa literalmente aberta, Paulo sentiu percorrer por todo o seu corpo um pavor inexplicável, junto a este sentimento, muitos outros se misturavam e em seus olhos às lágrimas já se formavam.
─ Mikael... ─ Ele sussurrou entrando rapidamente no quarto acendendo as luzes e podendo contemplar aquela cena, cuja mesma jamais se apagaria de sua memória. Foi inevitável que suas lágrimas rolassem pelo rosto vendo seu melhor amigo naquele estado sobre uma cama completamente ensanguentada. Com Mikael ali imóvel, Paulo se aproximou analisando a pulsação.
─ Está vivo... ─ Sussurrou pra si mesmo arregalando levemente os olhos, era um milagre ele ainda estar vivo. ─ Mikael me escute, por favor, aguente só mais um pouco, hm? Eu vou te levar ao médico. Seja forte, só mais um pouco...
Ele dizia a medida em que pegava o celular mandando uma simples mensagem e seguia para o armário ali, pegando um lençol limpo e o envolvendo com o mesmo.
Em seguida o pegou no colo com uma certa dificuldade, sentindo em seu peito uma fincada e uma leve dor, ignorou tudo aquilo e desceu as escadas com Mikael em seus braços, logo saindo de dentro da casa implorando internamente para que o mesmo pudesse aguentar só mais um pouco.
Não demorou muito, e um carro preto apareceu ali, um homem desceu e mesmo vendo toda aquela cena não questionou nada para Paulo, apenas abriu a porta traseira para ele e o ajudou bem como podia.
No caminho para o hospital, tentando se manter firme e forte ali ao lado do garoto. Paulo sentiu uma pequena mão fria segurar seu antebraço, esse que envolvia o pequeno corpo de Mikael, e uma voz baixa pronunciar com dificuldade, "Eu... vou... morrer..." aquilo definitivamente dilacerou sua alma e mais uma vez as lágrimas rolaram pelo seu rosto enquanto inssistia em negar.
─ Não, você não vai, aguente só mais um pouco... estamos chegando... ─ Depois de se pronunciar, Paulo presenciou Mikael tendo uma crise, enquanto tossia cospia sangue o fazendo ficar sem chão. ─ Acelere! ─ Ele ordenava para o homem que dirigia e que não hesitou em obedecê-lo."Eu juro que vou matar quem fez isso com você, e já até sei quem é o desgraçado." Pensou o abraçando-o fortemente.
Logo chegaram ao hospital, Paulo pegou Mikael pelo colo novamente e o levou para dentro, assim que viram um médico não foi necessário implorar pra que atendessem imediatamente tendo em vista o estado em que se encontrava.
O doutor pediu pra que o levassem até a sua sala de imediato, chegando lá eles não deixaram com que Paulo entrasse o deixando ainda mais nervoso e com medo diante de tudo aquilo.
Pensando somente no pior que poderia vir a acontecer, Paulo se sentou na sala de espera se entregando ao choro e preocupação.
Já haviam se passado algumas horas, e nenhuma notícia havia chegado até ele.
Já a noite, Paulo havia acabado de fumar ao lado de fora do hospital e estava voltando para a sala de espera quando viu o médico. Correu até ele o segurando e questiando a respeito de Mikael.
─ Estava realmente te procurando. Olha, já cuidamos dos ferimentos dele e por agora ele se encontra estável, mas, precisará ficar para observação no hospital, e muito repouso. Depois se tudo ocorrer bem daremos alta e ele poderá voltar pra casa.
Uma expressão de alívio invadiu a face de Paulo e um fraco suspiro escapou de seus lábios.
O que durou bem pouco já que o doutor olhando para os lados, e vendo que não havia ninguém, se aproximou falando mais discretamente a respeito dos ferimentos de Mikael.
Ambos sabiam que aqueles ferimentos não provinham de um simples acidente, estava claro, e a polícia por sua vez já estava na cola, mas Paulo não queria entregar de mão beijada o pai de Mikael, não antes dele mesmo o fazer pagar por tudo aquilo.
Ter o sobrenome Lion, tinha la suas vantagens, foi fácil fazer com que o médico enrolasse os polciais e desse tempo o bastante para Paulo conseguir o que realmente queria.
Antes do doutor se afastar, Paulo questionou o que mais lhe importava, a saúde de Mikael e seus cuidados, sendo já tratado tudo aquilo, o médico o liberou para ir até onde ele estava.
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Quando entrou na sala Paulo viu o pequeno corpo de Mikael enfaixado sobre a maca, mesmo desacordado seu estado realmente parecia melhor do que antes. Então, Paulo se sentou ao lado observando-o enquanto seu coração ficava mais aliviado apesar de se sentir imensuravelmente culpado pelo acontecimento em sua ausência.
Ele não queria simplesmente ir à escola e seguir sua rotina enquanto o deixava sob os cuidados médicos. Mas, era necessário.
Paulo havia passado grande parte da noite ao lado de Mikael o observando, já durante a madrugada voltou para casa deixando alguém de confiança ao lado do garoto. Então cochilou um pouco e se levantou cedo na manhã de terça-feira para logo em seguida ir ao colégio.
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