III

2158 Words
Assim que ouvi alguém bater na porta e a campainha ser tocada com uma certa persistência, desliguei o chuveiro rapidamente e me sequei enrolando a toalha envolta da cintura. Logo desci para ver quem era já suspeitando quem poderia ser. Olhei pelo olho mágico e não tendo ninguém ali, fui até a janela podendo ver Paulo sentado na calçada, estava com a cabeça baixa entre os joelhos e parecia rabiscar algo na calçada com um pequeno graveto em mãos. Abri a porta podendo ver o loiro se virar imediatamente com o barulho que ela fizera. sorri de forma meiga dando passagem para ele entrar, mas ele ficou a me observar com aqueles belos mirantes e um sorriso ladino. ─ O que foi, quer ficar ai fora? ─ Questionei um tanto quanto incomodado com aquela situação, mas só depois é que fui me lembrar que somente havia me secado e enrolado na toalha. No mesmo instante senti as bochechas queimarem logo dando um tom mais ruborizado, ao que Paulo começou a rir. ─ Anda logo seu i****a, entra! ─ Murmurei vendo ele passar por mim, e não hesitei em fechar a porta rapidamente antes que mais alguém na vizinhança pudesse me ver daquela forma. ─ Ta bom! Tá bom... fique calmo. ─ O loiro disse enquanto ia direto para o sofá se assentando no mesmo, pegou o celular do bolso, talvez se distraindo com qualquer coisa alheia. Tentando não manter por muito tempo sua atenção no garoto pálido — vulgo eu mesmo — que agora se encontrava levemente irritado. ─ Vou me vestir e já venho.─ Foi a única coisa que pronunciei, passando por detrás do sofá para então finalmente poder subir as escadas e ir para o quarto. Mas teria parado ali mesmo atrás do sofá ao que ouvi Paulo dizer: ─ Tudo bem, apesar de você estar sexy assim... ─ Novamente o loiro deu uma risadinha que fez com que uma veia saltasse na minha testa e meus nervos fossem a mil. ─ Seu i****a! fica quieto... ─ Exclamei ao que lhe tacava uma almofada, em seguida subi correndo para o quarto, entrei mais do que depressa e fechei a porta. Depois que finalmente já tinha colocado as calças, me dei conta de que ainda não tinha colocado as roupas pra lavar. Então não tinha camisa limpa para se vestir. "Droga!" andando de um lado para o outro tentava achar uma solução já que meu maior problema no momento era não deixar com que Paulo visse meu corpo naquele estado. ─ Talvez ele não tenha percebido enquanto eu estava somente de toalha, né? ─ Sussurrava pra mim mesmo ainda a perambular nervoso pelo quarto. ─ Seu tonto! estava claro e com essa pele branquela sua, como ele não iria perceber? ─ Mais uma vez Me via tentando achar qualquer peça de roupa limpa em meu guarda-roupas, mas, nada. Estava realmente todas na roupa suja, não que tivesse muitas opções. [•••] No andar de baixo, Paulo tentou se manter distraído com o celular e tentava não maquinar tanto em sua cabeça a respeito do que havia reparado no corpo de Mikael, não queria o aborrecer mais do que já poderia estar depois do que ocorreu na escola e agora o provocando. Mas, com a demora do garoto em se vestir e voltar logo fez com que Paulo largasse o celular de lado e subisse as escadas rumo ao quarto de Mikael. Já de frente para a porta, deu algumas leves batidas na madeira chamando pelo mesmo. ─ Mikael, está tudo bem? ─ Ele questionou com seu tom de voz firme ainda estando do outro lado. Meio em desespero, comecei a devolver as peças de roupa para dentro do guarda-roupas o respondendo: ─ Sim! eu só estou procurando uma blusa... ─ O respondi de maneira direta tentando pensar em algo. ─ Ok, quer ajuda? ─ O loiro questionou apoiando uma das mãos na porta a medida em que aproximava o ouvido da madeira tentando escutar o que se passava ali dentro. ─ N-não precisa, já já estarei descendo. ─ Arquejei recuperando o fôlego enquanto fechava a porta do guarda-roupa. ─ Tá bom, te espero lá em baixo, vê se não demora. ─ Certo, não demoro... ─ Depois de ouvi-lo descendo as escadas soltei um suspiro aliviado, como não tinha uma camisa limpa, saí do quarto indo até o quarto de meu pai onde peguei uma camisa limpa dele mesmo. Tudo bem que pelo meu tamanho comparado ao de meu pai, caberiam uns três de mim ali dentro, ainda sim era melhor do que nada. Ao menos era o que pensei. Depois de finalmente vestido voltei para o andar de baixo onde vi Paulo deitado no sofá com o antebraço sobre o rosto ─ Então, o que vamos fazer hoje? ─ Perguntei de modo a avisar que já estaria ali, e claro, pra descontrair um pouco. Imediatamente ele retirou o antebraço da testa virando um pouco o pescoço de modo que desse para olhar em minha direção com um sorriso largo nos lábios. ─ Jura que não se lembra do que combinamos? ─ Mas é claro que me lembro! ─ Lembrei de p***a nenhuma, nem lembro direito o que havia comido ainda cedo, levei a mão até a nuca massageando o lugar com um nervosismo nada discreto. ─ Sei. ─ Retrucou Paulo, enquanto se sentava no sofá umedecendo os lábios e soltando um breve suspiro. Talvez desapontado pelo fato de que eu ando meio esquecido nos últimos tempos, ainda mais em questão da nossa amizade. Confesso que realmente não ando sendo o mesmo Mikael de alguns anos atrás, mas juro que estou me esforçando a mantar nem que seja um pouco de mim mesmo ainda vivo no meu interior. ─ Desculpa, eu ultimamente ando meio cansado. ─ Eu não estou te culpando, deve ser mesmo cansativo t*****r quase todo dia. ─ Disse com ar de irônia e deboche, fazendo alguns gestos meio indecentes com a mão. ─ Seu... ─ Rindo da provocação muito bem sucedida sobre mim, Paulo já sabia o que estaria por vir da minha parte, então se levantou mais do que depressa, na defensiva. ─ Uh! volte aqui vou te dar um puxão de orelha seu i****a! ─ E durante um curto tempo percorri praticamente a casa toda em uma caçada de cão e gato, mas aquele gato de olhos acinzentados e madeixas loiras parecia bem mais ágil, não demorou muito mas logo o vi parando no meio do caminho colocando a mão sobre o peito a recuperar um pouco o fôlego e só assim consegui alcançar ele. Eu não havia percebido a mudança drástica de Paulo quanto aquele esforço físico, então pulei em suas costas e comecei a lhe puxar a orelha. ─ O que foi que você disse, Hm? Repete! ─ Ai! c-calma, isso dói Mika... ─ Agora foi a minha vez de começar a rir dele. ─ Pede desculpas ─ insisti ainda em suas costas, rendido, Paulo anuiu com balançar de cabeça levando a mão por cima da minha o que me fez parar de puxar. — Desculpa! Desculpa... Mika, para... ─ Hunf! i****a. ─ Completei e somente assim soltei completamente a orelha do maior que por ter a pele bem clara ficou bem avermelhado a região. E então desci das costas dele. ─ Isso foi maldade, quero um beijo pra sarar... ─ Disse o loiro agora com o semblante igual a de um pet chorão. ─ Você vai ganhar é uns tapas pra largar mão de ser i****a. ─ Me sentei no sofá direcionando o olhar para ele ─ Bora jogar? ─ Pode ser. ─ Ele respondeu revirando os olhos e dando um suspiro meio frustado por não ter conseguido o que queria no momento. [•••] Depois de três horas apanhando pro Paulo no Mortal Kombat, soltei o joypad de lado cruzando os braços, enquanto sustentava um bico nos lábios. ─ Você está roubando, só pode! ─ Esperniei como uma criança mimada que não sabe receber nada negativo em sua vida. E como de costume, Paulo começou a rir da situação, não conseguia levar a sério aquele tipo de reação da minha parte mesmo sabendo que eu estaria realmente nervoso por perder. ─ A culpa não é minha se você não sabe jogar e fica emburrado quando perde. ─ Findou o riso com um passar de língua nos lábios humedecendo os mesmos enquanto olhava agora mais atentamente em minha direção. ─ Essa blusa não é sua. ─ Disse finalmente, mais sério por ter noção de quem aquilo seria. ─ Não, as minhas estão para lavar. ─ Respondi de maneira simples e direta enquanto ajeitava a postura no sofá. ─ Até o uniforme? ─ Ele está limpo, por quê? ─ O olhei meio confuso e curioso com os questionamentos do loiro. ─ Por que não usa ele ou fica sem nada? essa blusa fede a gente sem caráter, um porco, se é que me entende. ─ Murmurou se contendo o máximo possível. Já era r**m o suficiente ser forçado a ficar em silêncio e sem nenhuma reação mesmo sabendo tudo pelo que eu passava nas mãos daquele covarde. Agora, talvez fosse pedir de mais me ver usando suas roupas. ─ É que... bem... eu... quero dizer... ─ tentei achar algo que pudesse ser digerido pelo maior a frente, sabia do seu instinto protetor para comigo mesmo e não queria acabar dizendo algo que o fizesse perder o controle. Antes mesmo de prosseguir, Paulo já se adiantou dizendo: ─ Eu sei como está o seu corpo, Anna me contou e eu percebi hoje mais cedo quando estava de toalha. E eu sinceramente não entendo o porquê de não ter denunciado ele ainda, eu te ajudaria, sabe disso. Né? Poderia ficar lá em casa, Allfred ajudaria com todo o processo também. ─ insistiu novamente naquele assunto, não sendo a primeira nem a segunda vez que tentava colocar algo do tipo na minha cabeça para poder me ver livre daquela situação logo. Pois temia que eu não sobrevivesse mais um ano até minha maioridade, e pra ser sincero, até eu mesmo duvidava que isso poderia ser capaz. ─ Não é tão fácil assim Paulo... ─ E realmente, não era. Quando o poder é dinheiro, a balança sempre pende para àqueles que o têm. E no caso, Steve o tinha. Não que a situação financeira de Paulo não pudesse ajudar, eu queria com todas as forças confiar nele e em sua família, mas meu pai também não deixaria barato. E "problemas" era o que realmente queria evitar para Paulo. Vencido pela teimosia da minha parte depois de uma longa discussão, o loiro engoliu a seco contraindo a mandíbula enquanto segurava tudo o que realmente queria soltar naquele momento, pra si mesmo. ─ Bem, olha a hora... ─ Ele ergueu o punho esquerdo observando o relógio de pulso, logo batendo as mãos nas coxas em apoio e se levantando. ─ Já está tarde e temos aula amanhã, vou indo pra casa. Amanhã nos vemos lá na escola. Tá bem? Se cuida. ─ Completou levando a destra até os fios negros sobre minha cabeça os bagunçando em um singelo carinho. Então seguiu para a porta. Sabia muito bem o caminho da saída, e pelos longos anos de amizade comigo, não sentia a necessidade de ser acompanhado até lá. Eu também não fiz nada a não ser anuir com um simples aceno enquanto o observava sair pela porta e fechar a mesma. Permaneci ali sentado, pensativo a observar a porta fechada por um bom tempo. Somente voltei para o mundinho real quando a Tv se desligou por estar um tempo em inatividade. Assim me levantei acendendo a luz da sala. Meus mirantes repousaram sobre o sofá onde havia notado que Paulo esqueceu sua blusa de frio. Me aproximei a pegando para guardar e entregar depois, quando um maço de cigarros caiu da mesma. Achei estranho, peguei e vi que já estava aberto faltando alguns cigarros ali. Claro, eu e Anna já sabíamos desse lado "obscuro" de Paulo, que começou tão cedo a fumar e beber. Não tinha o costume de fazer essas coisas perto da gente, mas também não era lá um enorme segredo. O que realmente havia me preocupado era o fato dele ter dito há algum tempo que teria parado, e desde então não o vimos com um maço daquele até o momento, e me questionava o que poderia ter feito ele voltar com isso, já que definitivamente não era do tipo de se abrir com os outros. Ignorando aquilo, por hora, decidi devolver para o bolso da blusa e segui para o quarto a deixando próximo da mochila para entregá-la ao dono no dia seguinte. Assim deitando na cama, estava decidido a dormir cedo naquele dia, mas antes retirei aquela maldita blusa que de fato Paulo tinha razão, ela fedia, e então me deitei novamente. [•••]
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