Sou obrigada a sair dos meus sonhos mais perfeitos, que raiva! Ele tinha que me acordar justamente na hora que ele estava me dando a primeira vez que eu tanto desejo? Chato.
—Já estou saindo —falei revirando os olhos. Ele fecha a cara.
—Vai esperar os olhos virarem para trás da cabeça primeiro ou vai sair logo?
—Eu já disse que estou saindo. Se você vai ficar me tratando assim porque me ofereceu carona? —reclamo e ele suspira.
—Tudo bem, Vanda, eu sinto muito pela indelicadeza —respondeu sarcástico —agora você pode ir dormir na sua cama?
É impressionante como ele fica ainda mais sexy falando desse jeito. Eu mostro a língua pra ele.
—Quando você vai crescer, Vanda?
—Eu já cresci, Arthur. Sou uma mulher muito mulher. Só você que não enxerga. —mostro a língua outra vez.
—Tô vendo. —falou me encarando com aquela cara linda.
Eu saio da garagem a contragosto, eu queria mesmo é ficar lá pertinho dele. Depois de um bom banho eu vou pra minha cama, quem sabe eu volto para o mesmo sonho.
—Bom dia, minha filha —meu pai me dá um beijo na bochecha.
—Bom dia, papai —devolvo o beijo, depois de dar uma mordida na maçã.
—Você veio de táxi ontem?
—Não. O Arthur me deu uma carona.
—Que bom, ainda bem que vocês trabalham no mesmo lugar, assim ele acaba sempre ajudando você. Minha filha, você não acha que já está na hora de tirar sua habilitação?
—Papai, eu já tentei antes e não deu muito certo.
Ele ri quando eu lembrei disso. Uns três anos atrás eu tentei tirar minha habilitação, mas acabei batendo com o carro da auto escola e o instrutor só faltou decretar minha prisão, depois disso eu desisti, mas ficar sempre dependente dos outros já está me cansando, acho que vou tentar outra vez, quem sabe dessa vez eu consigo.
—Eu estou pensando seriamente nisso, papai.
Depois de conversar com meu pai e com a Maria, a cozinheira, eu vou colocar o lixo pra fora como todos os dias. Assim que estou chegando na garagem para recolher o lixo de lá também, eu vejo novamente a mulher, essa bicha exibida não me desce. Ela desce do Audi prata dela e vai em direção à porta, seus saltos quinze vão batendo nos azulejos fazendo um barulho muito irritante. Eu terminei de recolher o lixo na força do ódio; só de pensar no excesso de contato desses dois me irrita demais da conta. Hoje nós temos plantão somente à noite, então eu tenho o dia todo para descansar e ficar em casa.
—Vandinha minha querida, você pode fazer um favor pra mim? —A Lisa pergunta com aquele jeitinho meigo.
A Lisa cuida da limpeza aqui da casa; eu estou sempre ajudando ela nas minhas horas vagas. Ela também mora aqui, assim como eu, meu pai e a Maria; ela e a Maria vão para casa das suas famílias nas folgas, já eu e meu pai somos só nós dois mesmo, então ficamos sempre aqui. Nós todos nos damos muito bem aqui, somos como uma grande família.
—Claro que faço Lisa. Pode falar.
—Eu preciso levar as roupas da senhora para lavar, você busca lá no quarto dela pra mim?
—Agora!
Eu dou um beijinho na sua bochecha e vou em direção ao quarto. Eu passei pelo corredor externo, pois não estou afim de me encontrar com o casal de amigos novamente. Estão todos na sala e pelo movimento na área da piscina e o calor que está fazendo hoje, eles vão passar o dia lá. Eu bati na porta e a voz doce da senhora Eloise respondeu-me lá dentro.
—Pode entrar!
—Com licença, Senhora Eloise, a Lisa pediu para pegar as roupas pra lavar.
—Oi Vanda, pode pegar lá no canto esquerdo do closet. Depois você vem para a piscina com a gente, a Flávia veio passar o dia aqui, você vai gostar dela.
Eu duvido muito disso, mas forço um sorriso e dou uma desculpa para recusar o convite.
—Eu agradeço muito o convite, Senhora Eloise, mas eu marquei um compromisso com um amigo.
—Que pena, eu tenho certeza que você iria adorar, principalmente porque agora a Flávia vai trabalhar no mesmo hospital que você e o Arthur —Eu demorei alguns segundos para filtrar essa nova informação, ela continuou —É muito legal né, a Flávia está de volta à Seattle e ainda vai trabalhar no mesmo hospital que o amigo. O Antônio está muito feliz.
Ela parece gostar muito dessa mulher e pelo jeito o senhor Antônio também gosta, é oficial, isso é o fim pra mim. Eu vou até o closet e pego o cesto de roupas sujas, me despeço dela e saio. Eu estou tão surpresa e irritada com o que acabei de saber que me esqueci de voltar pelo mesmo caminho; quando cheguei na escada e me preparei para descer o primeiro degrau acabei batendo de frente com alguém.
— Ahhh! —A mulher grita.
—Cuidado Flávia! —Agora o grito é do Arthur e pelo desespero dele já vi que vai dar merda.
Eu tiro o cesto de roupas da frente do meu rosto e vejo o Arthur com a mulher nos braços, ela está chorando e ele acaricia o cabelo dela. Que cena ridícula!
—Calma, foi só um susto Flávia —ele olha pra mim —Você está tentando matar alguém, Vanda?
Só pela voz gelada, já vi que ele está muito bravo. Ele olha pra mim e seus olhos é pura acusação; a mulher me olhou também e nos olhos dela eu só vi raiva e nojo.
—Porque você não faz seu serviço com mais cuidado? Menina, você quase causou um acidente agora, se o Arthur não está atrás de mim e me segura eu estaria com sérios problemas —Ela fala de maneira calma, mas é visível que ela está apenas se fingindo de boa moça.
—Eu sinto muito, não foi minha intenção machucar você.
—Vanda, você sabe que quando temos visitas em casa, é o corredor externo que deve ser usado para os serviços, se você não sabe seguir isso é só deixar o serviço com a Lisa.
—Eu já me desculpei.
—Eu sei disso Vanda, mas isso aqui foi um descuido muito perigoso. Pode ir agora.
Eu saí de perto deles com meu coração doendo. O Arthur está certo, isso faz parte das regras, mas eu me esqueci, ele não precisava ser tão grosso. Eu voltei para a área de serviço e ajudei a Lisa a separar as roupas, decidi focar minha mente em outra coisa que não seja o Arthur e a velha amiga se divertindo na piscina, mas aparentemente hoje não é o meu dia de sorte; a Maria está toda afobada com o preparo dos petiscos então me pede para levar o suco que já está pronto até lá. Eu não estou com muita sorte, além de ter meus planos de manter distância indo pelo ralo, eu ainda quase caí com a bandeja e tudo. Olhar aqueles dois no maior papo naquela piscina estragou meu dia; eu pensei em aceitar o convite e passar o dia ali só para provocar o Arthur, mas isso seria muita ignorância e perda de tempo, eu não consigo competir com essa doutora cheia de pose.
—Fica aqui com gente, Vanda. Está um dia tão bom para pegar um sol —Senhora Eloise insiste.
—Eu realmente não posso. Outro dia eu fico.
Assim que cheguei em casa fui direto para o quarto. Eu queria tanto estar naquela piscina, mas em outras condições, queria estar aproveitando o sol nos braços do Arthur, pena que aquele i****a não quer. Para minha surpresa o dia passou até rápido e o horário do meu plantão chegou.
—Boa noite! Pronta para uma longa noite de trabalho, Doutora? —O Brandon falou com um belo sorriso.
—Pronta e muito animada. Nossa, como está gato, Doutor Brandon.
—São seus olhos, Doutora. Então nosso jantar está de pé?
—Claro que sim. Eu preciso sair para espairecer —ele ri quando forço uma cara de cansaço.
—Pode deixar, eu te ajudo nisso.
Ele me abraça e nós seguimos para o consultório dele. O Brandon está indo muito bem, hoje ele já está entre os melhores da equipe da ortopedia. Ele está se aperfeiçoando cada vez mais e ele é muito querido pelos pacientes. O Brandon e o Arthur estão se destacando muito, cada um na sua área, já eu e a Débora estamos fazendo uma carreira normal, nada de muito espetacular, mas estamos indo bem. A Débora está atendendo a ala leste essa semana, a ala da pediatria. Ela está muito estranha esses últimos dias, eu até achei que fosse pelo término dela com o Arthur, mas não parece que é isso.
—Você viu se a Débora já chegou? —pergunto e o Brandon torce a cara.
—Não sei —respondeu seco.
Eu não entendo porque o Brandon não gosta da Débora. Antes ela era chata e meio insuportável, mas ela mudou muito, agora ela está bem legal. Semana passada eles tiveram um desentendimento, a Débora ficou bem chateada porque o Brandon usou umas palavras meio pesadas, o que foi novidade porque o Brandon é um amor de pessoa.
Continua...