Capítulo 4

1559 Words
—Mas que bagunça é essa, Vanda? —Perguntei irritado quando ela se aproximou. —Os coelhinhos… —Eu sei que são coelhos —seguro seu braço quando ela vai passar por mim —o que eu quero saber é porque esses bichos estão soltos no hospital. Você está achando que está onde? —Eu sei que estou em um hospital, mas os coelhos são todos limpinhos e bem cuidados —ela tenta puxar o braço —eu preciso ir recuperar os fofuxos. Minha vontade é apertar aquele pescoço. Não é possível que ela seja tão s*******o. Eu estou lidando com uma médica formada ou com uma criança? Eu olho para o corredor e dois enfermeiros estão vindo com os coelhos. —Vanda, não teste a minha paciência! De onde saiu esse monte de bichos? —Eles são os coelhinhos do projeto Doe amor, aquele pessoal que conta histórias e diverte os pacientes da oncologia. Então os coelhinhos você sabe como eles são né, tinham apenas dois, um macho e uma fêmea no começo, mas eles namoraram e fizeram os outros três. —Muito engraçado —olha a cara de deboche dela e minha vontade é acertar aquele pescoço —Você está afim de levar uma advertência, Vanda? —Claro que não. Eu já disse de onde são os coelhinhos, porque você vai me punir? —A oncologia fica no terceiro andar. Como eles vieram parar aqui? Ela me olhou arqueando a sobrancelha e mordeu o lábio inferior, pensando em alguma forma de sair da confusão que arrumou. —Está tentando pensar em uma desculpa esfarrapada para explicar esse circo que você arrumou? —Pergunto entre os dentes. —Arthur, eu estava apenas tentando recuperar os coelhinhos fugitivos, não arrumei confusão nenhuma. —Não? Quem deixou eles fugir? —Ninguém, eles fugiram sozinhos. —Vanda —Olho pra ela, para aumentar minha raiva, ela revira os olhos. —Eu sem querer acabei errando ao travar as gaiolas, aí quando o pessoal estava levando eles embora as gaiolas abriram e os bandidos fugiram. Arthur, eu juro que não fiz por m*l e além do mais os pacientes adoraram a confusão, se divergiram. Eu olho aquela carinha de inocente dela e desisto, não dá para debater com uma pessoa que não tem a menor noção de comportamento adequado. Eu respiro fundo e aponto a direção do meu consultório. —Vamos?! —Falei sem paciência quando ela não deu um passo. —Arthur, você vai me dar uma advertência? Cara, que maldade. Foi só um acidente, algo inesperado que pode acontecer com qualquer pessoa, não seja um chefe rabugento. Além do mais, os coelhinhos já estão sãos e salvos. —Vanda, eu mandei você ir para o consultório. Agora! Ela finalmente calou aquela matraca, eita língua afiada essa encrenqueira tem. Ela fechou a cara e começou a me seguir. —Não vai entrar? —Perguntei quando ela ficou parada na porta. —Pronto. Estou aqui, chefe —falou irônica. —Vanda, é melhor você guardar essa ironia pra você. Eu deveria te dar uma boa advertência, você está agindo como um arruaceiro ao invés de uma médica formada. —Não precisa exagerar também. Tudo bem que eu errei, mas ser comparada a um arruaceiro? Você está sendo c***l. Eu não gosto de ver aquela carinha de ofendida que ela faz. Essa mulher me tira o juízo, mas eu não consigo ver ela triste. —Vanda, eu sei que exagerei na comparação, mas você não está me dando muita escolha. Olha só a confusão que você aprontou, se o diretor do hospital chegar aqui agora ou algum órgão sanitário? Você precisa prestar atenção nas suas ações, você não é mais criança, cresce Vanda! —Tudo bem, desculpe —fala de cabeça baixa. —Tudo bem, Vanda, mas na próxima bagunça eu não vou ser tão bonzinho. —Tudo bem, muito obrigada por sua bondade —sorri sarcástica. Eu respiro fundo e devolvo o sorriso. —Sabe, Vanda, eu ainda posso revogar minha decisão e assinar uma advertência pra você. Você vai continuar com seu sarcasmo depois disso? —Não! Arthur, você não sabe nem brincar —faz uma careta divertida —então posso voltar ao meu trabalho agora? —sorri —a menos é claro que você esteja gostando da minha presença aqui. —Advertência? —Chato. Sabe, Doutor Arthur, você ficaria mais bonito sorrindo e sendo legal. Estou indo. Tchauzinho —vem até mim e beija minha bochecha. Eu quero brigar com ela, mas não adianta, essa mulher não tem jeito. Depois da bagunça dos coelhos o resto do plantão correu bem. Estou saindo do quarto do meu último paciente, a Débora passa por mim, ela abaixa a cabeça, mas não precisa olhar muito o seu rosto para ver que está vermelho, é visível a marca de um tapa. —O que aconteceu? —Perguntei bloqueando seu caminho. —Nada. Porque? —Ela tenta parecer natural. —Débora, você vai mesmo mentir pra mim? O que aconteceu no seu rosto, quem te agrediu? —Ninguém me agrediu não, isso foi só um acidente —tenta virar o rosto, mas eu seguro seu queixo. —Acidente? O que foi, você bateu acidentalmente o rosto na mão de alguém? —Perguntei com sarcasmo —Débora, eu não sou i****a e mesmo um i****a sabe que você levou um belo tapa. Quem fez isso? —Arthur, por favor, vamos esquecer isso, ok. —Esquecer? Débora, você foi agredida e ainda dentro do hospital, você vai deixar quem fez isso ir embora? Você é i****a por acaso! —Falo cheio de raiva. Ela abaixa a cabeça e respira fundo algumas vezes. Eu passo os braços em volta dos seus ombros e a levo até meu consultório. —Pronto. Aqui nós podemos conversar tranquilamente. Fala, Débora, o que aconteceu? —Arthur, são problemas pessoais meus. Não é nada com ninguém daqui do hospital. —Não me interessa de onde que é o problema, Débora. Não importa se é problema pessoal, você foi agredida e isso é crime. Nós podemos não estar juntos como namorados mais, mas ainda somos amigos e colegas de trabalho, você pode contar comigo —eu acaricio seu rosto e depois aplico gelo no local. —Arthur, eu sei que posso contar com você e agradeço muito por ter um amigo tão legal. —Mas você não vai contar né —balanço minha cabeça quando ela n**a —Débora, você não pode deixar que te agridam assim, isso não é justo. Agressão é crime. —Eu sei disso. Arthur, é complicado, sabe, mas não é nada demais. Juro. Essa foi a primeira vez que isso aconteceu e a pessoa que fez isso não vai fazer mais nada. —Foi um namorado? —Não. Eu ainda não tenho um novo namorado e pode acreditar que se ele tentar fazer algo assim eu acabo com ele —sorri. —Fico mais aliviado agora. Mas eu quero que você saiba que pode sempre contar comigo. Débora, tem dias que estou te notando triste, sei que não está pronta para me contar o motivo, mas quando estiver eu vou está aqui e vou te apoiar no que puder. —Eu sei disso, Arthur. Eu tenho muita sorte em ter vocês, são muito especiais. Eu fico feliz que me aceitaram como amiga mesmo eu sendo uma pessoa r**m no começo. —Você não era uma pessoa r**m, talvez um pouco i****a, mas lá no fundo a Débora legal sempre esteve lá, ficou esperando pra sair. —Não precisa mentir pra me deixar bem. Eu era sim uma pessoa bem tóxica, a Vanda que o diga, ela sofreu comigo. —É verdade, você implicou muito com ela. —Mesmo assim, ela ainda me trata tão bem. Ela é muito especial —ela sorri quando fala da Vanda. Eu gosto de ouvir a Débora falando assim da Vanda e é a mais pura verdade. A Vanda é realmente muito especial, mesmo que tenham a tratado m*l ela perdoa facilmente a pessoa, aquele coração é gigante. —Ela resolveu os problemas dos coelhos? —Sim. Você ficou sabendo disso também? —Claro que sim, o hospital inteiro sabe. Aliás as crianças da oncologia adoram a Vanda e nessa história dos coelhos eles se divertiram muito. Você sabia que estão planejando dar fuga para outros animais na próxima semana? —fala rindo. —Eu não sei o que fazer com aquela maluca —falei rindo também —ainda bem que a Vanda não escolheu psiquiatria para fazer ou ela iria virar paciente do hospital. —Não é pra tanto, Arthur. A Vanda é muito legal e esse jeito atrapalhado dela é o que os pacientes mais gostam, ela se diverte junto deles. —Mas é justamente isso que me preocupa nela, isso pode prejudicar se ela se exceder muito, sabe. Eu não quero que ela perca a carreira que tanto sonhou. —Ela não vai perder. Arthur, ela brinca e tudo, mas é muito competente e faz o trabalho com muito amor. Não precisa se preocupar, ela sabe se cuidar. Minha conversa com a Débora fluiu bem e a cara triste dela melhorou muito. Eu também gostei de saber que a Vanda é tão querida pelos pacientes da oncologia, isso me deixa muito feliz. Aquela maluquice dela conquista mesmo as pessoas. Continua…
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