VII

1355 Words
Três dias haviam se passado desde a noite de Halloween onde toda aquela brincadeira i****a havia levado a uma trágica tempestade, qual sumira na manhã seguinte sem deixar rastros ou quais quer que fossem os vestígios nas memórias das pessoas a respeito daquele ocorrido. Até então a garota se sentia louca por ser a única a jurar para si mesmo que algo havia acontecido, mas que somente ela recordava e por isso não tinha coragem alguma em questionar nada a respeito. No primeiro dia sentia-se assustadoramente revigorada. Como se não tivesse sofrido de insônia nos últimos meses, nem que algum m*l lhe sucedia em saúde ou que os pesadelos lhe acompanhassem até quando acordada. No segundo podia jurar que alguns corvos ainda a seguiam e isso somente fez-se aumentar a confusão em sua mente sobre o ocorrido, mas tentou a todo custo seguir sua rotina de sempre sendo grata por Éric não ter aparecido ultimamente em seu caminho. No terceiro sua avó já lhe enchia de perguntas como de cometido algum tipo de crime e logo estando em um interrogatório. Eram perguntas tipo: O que fez enquanto estive fora? Para onde foram? Quem estava presente na festa? O que fizeram? Onde dormiram? E assim por diante. Mas fazia questão de responder omitindo grande parte de todo o ocorrido. Não era como se ela fosse acreditar que alguém a escutaria e a levaria a sério depois de contar o que realmente lhe atormentava a mente. Seria taxada de louça na certa e com toda certeza seria internada em alguma clínica isolada. E mesmo depois desses dias sentia como se o pior não fosse a sensação de saber algo terrível que aconteceu e simplesmente evaporou, mas também a sensação de estar sendo observada a todo instante. Mesmo agora, quando foi arrastada de casa pelos amigos depois de uma manhã inteira na faculdade para visitarem uma exposição de artes, parada em frente a uma enorme tela abstrata em preto e branco, ela podia jurar sentir o peso do olhar de alguém ou alguma coisa sobre seus ombros. Mas estava só. Seus amigos haviam seguido um caminho completamente oposto para comprarem água enquanto que Luce optou por ficar e observar um pouco mais. Mesmo assim se manteve parada, olhando fixamente para a enorme tela cujo borrão n***o e toda sua magnitude em mistério faziam surgir aos tímpanos um zumbido agudo e constante que ia aumentando gradativamente até seus olhos piscarem, uma fração de segundos até se abrirem novamente e agora se ver em uma terra seca e morta cuja poeira avermelhada parecia estar por todo lado como uma névoa. Nada havia naquele lugar senão corvos sobrevoando de uma árvore morta a outra e a sensação de que lhe faltava oxigênio nos pulmões era mais que aterrorizante. Era mais um de seus pesadelos? Talvez. Não havia outra justificativa pois só em seus piores sonhos contemplava aquela coisa de olhos dourados a observando. Luce somente teria voltado de seus devaneios quando sentiu uma mão firme em seus ombros a despertar. Era Diego com seu lago e gentil sorriso nos lábios a lhe oferecer uma garrafa d'água e assim a puxar de volta para perto do grupinho. Mas mesmo quando seguia andando para perto dos amigos novamente, Luce se viu dando uma última olhadela para aquela tela abstrata sentindo uma queimação no peito. [•••] Duas semanas depois ainda sentia-se vigiada e observada a todo instante. Essa sensação somente não a perturbava durante suas horas de sono. Horas as quais estranhava estar dormindo perfeitamente bem e acordando tão disposta como nunca já houvera. Mas agora, ao se despertar suas belas orbes azuis iam de encontro com aquele mesmo ser de antes, o garoto de aparência mais que jovial e olhar profundo. ── Precisamos conversar, garota. ── ele decretou sem nem ao menos esperar uma resposta da mesma perante aquilo. Não que fosse de alguma forma dar a opção de escolha a ela no momento pois já estava ficando impaciente com o fato de estar preso a uma humana. ── Luce, querida! Seus amigos estão aqui, querem te ver então desça logo ou mando eles subirem! Ambos os olhares estavam fixos, bem como da primeira vez em que se viram. Os do de cabelos negros como breu serenos e inexpressivos como sempre. Já os da garota formosa como a lua, tão arregalados em incredulidade e pavor que m*l conseguia pensar no que responder à mais velha. ── Não vai atender seus... amigos? Posso esperar mais um pouco se necessário. ── O que faz aqui? Por que sonho coisas estranhas e do nada você me surge? Por que eu? O que quer de mim?! ── questionava freneticamente de forma até a juntar as palavras todas como uma só. ── Tantas perguntas. Assim fico desnorteado. ── sorriu ladino ── Vamos na que mais me interessa no momento, hm? Também gostaria muito de compreender o porquê de "você". E quero nada mais nada menos que minha liberdade definitiva pra fazer o que desejo há muito tempo. Luce engoliu a seco enquanto ouvia passos apressados subirem as escadas, se aproximando gradativamente. ── Eu não pedi por isso... ── Nem eu, criança. Mas infelizmente cá estamos nós e... ── iria completar a frase ao que três jovens adentravam o quarto da garota sem nem ao menos bater à porta antes, o interrompendo. Todos se deparando com a garota ainda de camisola a olhar pro "nada". Samy imediatamente parou alguns passos à frente da entrada do quarto, segurando Diego e o puxando a medida que levava uma das mãos a frente dos olhos do garoto. Enquanto isso, Sarah seguiu até a amiga a segurando pelos ombros. ── Garota! tu tem que parar com essa mania de não olhar mais as notificações. ── Samy! ── exclamou o amigo de forma manhosa a medida em que a de cabelos coloridos ainda o segurava e o mantinha sem visão do que estava a frente ── me solta... ── Luce... L-u-c-e... está dormindo sentada é? Questionava a morena, contudo não era o sono que a prendia com o olhar fixo ao "nada" nem ele próprio estava a fazer isso. Mas Luce se recusava a tirar os olhos dele, pois pressentia que se o fizesse ele poderia atacar qualquer um deles ali presente. Ela via nos olhos dele embora estes não estivessem mais fixos aos seus, ela via e sentia o pavor de uma presa frente ao seu predador. ── Por que não os responde? Está com medo que eu faça algo contra eles? ── Questionou sem manter o contato visual com a mesma, assim caminhando rumo a de cabelos castanhos que tentava lhe chamar a atenção. ── Responda logo e os faça ir embora. Ordenou fazendo com que Luce engolisse a seco e somente a partir disso seus olhos se encontraram com os de Sarah. ── Uh! Desculpa, eu... o que estão fazendo aqui? ── questionou se forçando a não desviar o olhar para aquele que ainda permanecia parado entre os amigos e observava a situação. ── Bom, você anda estranha nessas últimas semanas. Os meninos e eu estamos bem preocupados, até pedimos pra sua avó se podíamos... ── Não. ── interrompeu a respondendo imediatamente. ── Não o que? Credo, Luce. Você nem deixou eu terminar. ── a garota com apenas poucos meses de diferença em idade comparado a Luce, cruzou os braços de maneira contrariada ao que Samy e Diego se retiravam do quarto de mansinho. ── Eu sei, agradeço pela preocupação. Mas... não quero sair no momento, preciso resolver algo antes. Então... se puder... ── Não! Não vou sair até que me diga o que está acontecendo com você. ── esbravejou dando alguns passos e logo se assentando ao lado da amiga. Luce sentiu um arrepio quando seus olhos foram de relance para o ser que fechava os punhos e cerrava os dentes como se estivesse impaciente. Anarom imediatamente se virou para a amiga e a abraçou. ── Por favor... eu não posso agora... eu, eu juro que te conto tudo depois mas precisa ir agora. Por favor, Sarah... me escuta dessa vez... [•••]
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