Mayla Fischer
Alguns dias já se passaram desde aquela noite e já me recuperei do ocorrido. Meu pai ficou irado por eu ter saído da mesa de jantar, por “supostamente” ter largado Lael sozinho e por ter desrespeitado ele e o pai dele na visita oficial da declaração do noivado.
Esses foram os argumentos usados!
Por sorte, não fiquei tão pior como aquela outra vez e as marcas já saíram.
Hoje eu voltei as aulas e, infelizmente, já começam as provas e quase não consegui estudar. A minha mente não se concentrava, porém, muitas coisas eu já tenho conhecimento. Antes disso tudo, eu já tinha estudado, feito todas as atividades, anotações e pesquisas, e espero que eu me saia bem.
Como fiquei de fora de uma delas, fui liberada da sala e decidi ficar bem escondida num certo lugar que descobri. Eu só queria um pouco de paz, sem ver pessoas e sem ouvir vozes de alguém para poder ao menos chorar em isolamento. Pelo menos uma vez. É raro eu ficar sozinha e aqui então, é da mesma forma, porque eles gostam de vigiar.
Mas aqui ninguém me encontra!
Fico sentada com os joelhos juntos e apoio um livro nas minhas coxas para ler um pouco. Porém, a leitura não me prende nesse momento e não querendo estudar, sinto uma vontade de escrever um pouco. É uma das manias que tenho Sempre escrevo sobre o que quero, as vontades que tenho, meus pensamentos sobre certas coisas e em poucos minutos, a folha está preenchida dos dois lados. Ao acabar, arranco a folha para dobrar bem pequeno e coloco dentro do meu sutiã para que nunca encontrem.
Ao ouvir o sinal, recolho as minhas coisas e vou ao refeitório para o lanche da manhã.
— Por que você não estava na prova final de matemática? — Uma das garotas que vive me perseguindo questiona ao querer passar a minha frente na fila.
— Com licença! — Passo por ela sem dar atenção e sinto um puxão no meu ombro.
— Eu falei com você! — Viro-me em reação e ela cruza os braços. — Se acha melhor que todas nós por causa das notas? Ou será que descobriram as suas trapaças e colas nas provas que vão te reprovar? — Ela sorrir em deboche e tento não lhe dar atenção.
A verdade, é que se eu quisesse mesmo, daria um jeito nela sem muito problema. Raika é baixa e magra, o típico de garota que tem apenas a língua afiada, mas, por já saber que não revido e muito menos respondo, ela se sente na colocação de me provocar até conseguir que eu perca o controle. Ela é do grupinho da Johanna que tem prazer em me infernizar.
Se eu der esse gostinho a elas, teria problemas aqui e em casa e elas sabem disso. Porém, Johanna não está aqui agora.
— Deixa a garota em paz! — A garota da minha frente dispara em minha defesa. — Você não cansa? Todo o dia é isso!
— Eu não falei com os porcos, sua filha de motorista! — Fico chocada com ela. — É isso que não concordo aqui, estudar com todo o tipo de gente e isso deveria ser abominável na máfia. — Ela passa as mãos nos cabelos e ergue bem a cabeça. — Eu no caso sou filha de um dos homens mais importantes e consequentemente, vou me casar com um também.
— Tenho pena de você! — Seguro o riso e a garota da frente lhe dá as cosas. — Sei bem o que isso significa! — Ouço ela resmungar, mas duvido que as outras tenham escutado.
Como ela pode se gabar disso? Ela não sabe como as coisas são?
— Você não me respondeu! — Ela ainda insiste comigo e respiro fundo lhe encarando.
— Não é da sua conta. — Disparo sem medo e tanto ela quanto as coisas me olham surpresa. — Se você estudasse tanto, não seria a terceira da sala e muito menos iria se gabar do que disse há pouco.
— Algum problema aqui, meninas? — A professora chega repentinamente e me mantenho firme. — Espero que não e você, Raika, não queira se envolver em problemas, porque a sua lista já é grande! — Vejo-a tensionar na mesma hora. — Esqueceu da última?
— Não senhora e me desculpe! — Ela abaixa a cabeça se calando em seguida.
— Ótimo! Estou de olho em vocês. — A professora se afasta e viro para frente.
Raika sempre é chamada atenção e isso, porque já é conhecida por andar muito com a Johanna.
Fico no meu lugar quieta como sempre, apenas esperando para receber o meu lanche depois, vou para o lugar de sempre para comer.
{...}
Chego em casa depois de Konrad me buscar e, não sei explicar, mas decido entrar em casa pelos fundos. Além de não saber explicar isso, eu sinto uma sede grande e esse é o outro motivo disso. Mas, sinto uma certa sensação desconhecida. Faço o caminho lateral passando pelo gramado, entro na trilha de pedrinhas para chegar na ala da piscina e ao chegar na porta, quase me esbarro com a Mabel que me olha como se estivesse vendo um fantasma.
— Você chegou! — Ela declara eufórica, mas controlando a voz.
— O que houve? — Questiono sem entender nada e ela olha para os lados.
— O seu pai está aqui e tem visitas! — Ela sussurra e ainda olha para trás e lados. — Ouvi algo sobre o seu noivado de apresentação. Eles estão decidindo os detalhes, mas não ouvi muita coisa. Mas sei que está bem perto.
— Era de se esperar... — Sinto um nervoso dentro de mim. — Com quem ele está?
— Com o seu futuro sogro, o seu noivo e..., o com o Don também. — O meu sangue gela na hora.
Por que o Don estaria aqui?
— O que o Don faz aqui? — Pergunto em sussurro e ela gesticula mostrando que não sabe.
— Eu não faço ideia! — Ela passa as mãos no rosto e se mostra mais nervosa que eu. — Ele é estranho! Me olhou de um jeito como se soubesse dos meus pecados, do que penso e tudo mais e sai correndo de lá. Não volto ali nem me pagando!
— Preciso de água. — Falo ficando ofegante pelo medo.
Não consigo entender o motivo desse homem estar aqui, mas se eu já achava que o meu pai era um homem muito importante na máfia, essa certeza se fortifica mais ainda.