CAP 6

1215 Words
Mayla Fischer Estamos todos à mesa e tento apenas olhar para o meu prato. Ele consta numa carne grelhada com ervas, há batatas cozidas e temperadas, salada fresca e por mais delicioso que esteja, eu não sinto vontade de comer. Mas não tenho escolha. Não posso demonstrar medo aqui, me mostrar atacada e que estou abalada pela notícia e nisso tudo, eles conversam e sorriem enquanto bebem. Estou invisível, mas sou obrigada a estar aqui! O meu pai está sentado no lugar de sempre, o senhor Funcherst está ao seu lado esquerdo e o seu filho logo depois, porém, eu estou do outro lado e de frente a ele. Eu como a minha comida lentamente e literalmente a força. As poucas vezes que me atrevo a olhar para eles, tenho o olhar atento do meu pai e do meu “noivo”, porém, é de um certo desdém. Ele não é estranho ou fisicamente feio, apenas, tem um olhar negrö que me faz pensar em algo rüim. Ele transmite uma energia e rüim sinto daqui. O meu pai se comporta na sua plenitude e pose de autoridade. Conversa, bebe e sorrir como se tudo estivesse em perfeita harmonia e engulo todo o choro e tensão que há em mim. A única coisa que peço, é que o tempo passe o mais rápido possível para que eu possa subir e ficar no quarto. É só isso que quero! — Então, Mayla! — Elevo o rosto ao ouvir o meu nome e é o senhor Funcherst que fala. — Soube que você toca piano! — Sim, senhor! O meu pai faz questão que eu tenha aulas semanais. — Respondo na tentativa de não mostrar a minha tensão. — Que maravilha! E o que mais você sabe fazer? — Duvido que ele esteja interessado, mas preciso responder. — Sou a melhor aluna da instituição, eu sou muito boa com números, sei pintar, tocar e faço leves costuras. — Digo de forma simples e sem muito detalhes. — Interessante! — Ele passa os dedos na barba e continua a me olhar. — Você será a típica esposa tradicional que a organização tanto preza. — O olhar dele é muito estranho para mim e tento evitar olhá-lo. — Fico feliz por isso! — Minto engolindo o amargo na minha boca. Esse tipo de modelo tradicional é o que eles mais prezam em imagem, mas é o pior de tudo. Mulheres tradicionais são amedrontadas, usadas e moldadas por eles. O tipo que aceita de tudo sem contestar, sem reclamar e que suporta tudo dentro da casa para não ser morta por traição. Eu nunca desejei algo assim e não desejo, porém, me vejo sendo obrigada a trilhar esse caminho contra a minha vontade. É como se tivesse uma arma nas minhas costas e a única ação, é andar em frente! — Funcherst! — O meu pai o chama e fica de pé. — Vamos ao escritório um minuto! Os dois saem da sala de jantar e para piorar tudo, eu fico sozinha com Lael Funcherst. O silêncio é enorme e apesar de eu não ter nada para falar, eu sigo as normas sobre como me portar a mesa e continuo a comer. A minha saída para engolir tudo é o suco, porque sem ele, eu já teria me engasgado da pior forma. — Quando fará os seus dezoito anos? — A pergunta quebra o silêncio e ele me olha como se me analisasse. — Em algumas semanas! — Bebo um pouco de suco e tento manter a postura. — Bom, ainda tenho tempo para curtir... — Ele sorrir e deboche e sei bem o que ele quer dizer. — A quem estou querendo iludir, nada vai mudar mesmo depois do casamento. — Ele mostra bem o seu desdém e não há uma gota de compaixão. — Sei bem como as coisas funcionam! — Abaixo o olhar começando a pensar onde essa conversa poderá chegar. — Ótimo! Espero não ter dores de cabeça com você. — Ele bufa alguma coisa e se levanta e anda para sair da sala de jantar. Por sua ação, eu faço o mesmo por querer ir para o quarto o quanto antes, porém, no corredor, ele retorna sou surpreendida ao ser prensada na parede com a sua mão encaixada no meu queijo. — Coloque logo na sua cabeça que esse casamento não é da minha vontade! Eu não desejei isso, não me programei e muito menos cogitei, mas estou sendo obrigado. Sendo assim, você sofrerá as consequências por se meter no meu caminho e se é adepta a orações, peça por socorro. — Fico chocada com as palavras e pela forma que são ditas a mim. — Vai sofrer nas minhas mãos! — Eu..., eu também não planejei isso e só fiquei sabendo hoje. — Tento explicar, mas tenho dificuldade. — Eu não tenho culpa! — Fodä-se! O lado mais fraco é que leva a culpa e essa é a sua colocação! É fraca e garanto que não vai durar muito. — Vejo bem a ameaça no seu olhar. — Você não parece uma mulher, é mais uma garota e isso é patético! Não tem beleza, não tem nada que chama a atenção de um homem e independente da prova do lençol, você está avisada do seu destino. — Ele larga o meu rosto na maior brutalidade e sai. Levo a mão ao meu queixo e ao meu peito pelo susto e fico alguns segundos sem reação pelo que houve. As lagrimas querem sair, a vontade de gritar é enorme, mas não posso fazer isso aqui e por isso, eu corro em direção às escadas e entro no quarto. Me jogo na cama com tudo e agarro o travesseiro liberando o choro pesado e amargo. O meu destino já está praticamente traçado e sinto com toda a certeza de que vou passar mais anos sofrendo e pisando em ovos. Nunca vou me livrar dessa tensão, eu nunca vou ficar longe dessa forma de vida que é obrigado a ser seguida e mesmo depois de me livrar do meu pai, tudo vai apenas piorar. Eu ainda tinha uma certa esperança de ter uma vida mais leve quando sair daqui, mas, me enganei. Como pude esperar por isso sabendo que ele mesmo iria programar tudo? Como eu queria ter a minha mãe aqui, ter a ajuda dela e conselhos. Ou será que ela também seria como o meu pai? — Quem te deu permissão para subir e deixar a mesa? — Estremeço ao ouvir a voz dele na porta e noto bem a sua irritação. — Me desculpe! Eu..., eu fiquei sozinha e pensei... — Tento explicar, mas o soluço me atrapalha. — Pensou em fugir? — Ele se aproxima da cama e tento recuar, mas é tarde. O meu braço é puxado com força e a dor é imediata. — Você não aprende, Mayla! Já sabe como as coisas funcionam e estamos com visitas. É seu noivo que está lá embaixo, porrä, e era para estar com ele! — Por favor..., eu só... — A ardência no rosto vem pelo tapa e já sei que vem mais. Não sei exatamente o motivo de tanta raiva, mas só posso pensar que Lael deva ter falado algo a ele.
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