Fabiane
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— Porque tem que ser Léo, de todas as pessoas?— Lamento, cutucando minha comida em meu prato com um garfo.
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Estou feliz que minha irmã decidiu ficar para jantar no complexo esta noite, porque as outras garotas da unidade de TI estão tão encantadas com Léo que minhas reclamações cairiam em ouvidos surdos. Eu quase não fiz nada hoje depois que ele decidiu me atormentar com sua tagarelice incessante.
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— Isso é r**m?— Fabíola pergunta, inclinando a cabeça, olhos simpáticos.
— Mais do que r**m, ele tentou dar em cima de mim hoje.— eu zombo bufando.
— Ele o quê?!— Os olhos de Fabíola se arregalam, então ela explode em um ataque de risos.
— Tá, tá, tá... nem é tão engraçado assim Fabióla.— Eu estreito meus olhos, apunhalando um pedaço de frango com meu garfo.
Estou um pouco ofendida que ela ache tão engraçado que alguém me ache atraente. Só porque sou estudiosa e focada não significa que sou fria.
Nem sempre é fácil ser a irmã gêmea de Fabíola. Ela tem uma personalidade tão forte que vivi a maior parte da minha vida à sombra dela. Ela é tão viva, corajosa e confiante. Faz amigos com tanta facilidade. Ela é destemida, imprudente e sempre parece escapar das coisas que estão por cima. As coisas simplesmente funcionam para ela, sem esforço.
Então há eu. Tranquila. Inteligente. Sensata. Equilibrada. Planejando tudo para suavisar qualquer risco. Eu não poderia ser mais diferente da minha irmã e, honestamente, invejo Fabíola de várias maneiras. Eu gostaria de poder ser mais despreocupada como ela, em vez de ser sempre a boa garota, a garota legal. Às vezes, penso que quando o embrião se dividiu para nos tornar gêmeas idênticas, todas as características "divertidas" foram encaminhadas a ela.
— Eu posso imaginar a expressão no rosto dele quando você negou ele!— Fabíola ri.
Ok, então ela não quis dizer nada negativo sobre mim com sua reação. Acho que estou extremamente sensível hoje, depois de passar a tarde sendo incomodada por Léo.
Eu sorrio, pensando em como ele apenas olhou para mim quando eu recusei, os olhos castanhos piscando.
— Eu não acho que a palavra 'não' fazia parte do seu vocabulário antes de hoje.— eu rio, colocando um pedaço de frango na minha boca e mastigando.
— Então, quanto tempo você está presa com ele?— Hugo pergunta, inclinando-se para mim.
Hugo é um dos melhores amigos de Fabíola de nossa matilha. Ele fizeram uma equipe quando ainda estavam no ensino medio, para se prepararem para o acampamento de verão do batalhão de segurança, junto com seu outro amigo Diogo, que está sentado em outra mesa para jantar esta noite com sua companheira, Clara.
Completando nossa mesa estão Shay, Connor e Rick, mais membros do batalhão que estavam no campo de treinamento com Fabíola e recentemente entraram no time. Também me tornei amiga deles por meio da minha irmã.
— Alguns meses.— eu suspiro.
— Pelo menos ele é bonito de se olhar. Faria todamente meu tipo.— Shay dá de ombros, girando o macarrão no garfo.
Fabíola e eu nos viramos para dar a ela olhares de desgosto simultâneos.
— O que? A coisa do bad boy funciona totalmente para mim e aposto que todos aqueles alfas são sexys rosnando e dominantes no quarto.— Shay ri e balança as sobrancelhas.
— Você não tem ideia.— Fabíola sorri, dando uma mordida em sua comida.
Minhas bochechas esquentam em resposta aos comentários vulgares de Shay. Eu fico olhando para o meu prato.
— ok, ok. Podemos falar de outra coisa agora?— geme Hugo.
Shay e Fabíola riem juntas, enquanto eu volto a empurrar minha comida no prato com o garfo.
— Ei, Fabiane, você vai sair com a gente amanhã?— Connor pergunta, olhando para mim por baixo de seu cabelo castanho desgrenhado.
Connor e eu temos flertado casualmente nas últimas semanas. Ele é fofo, corpo todo atlético, um menino bonito e um pouco mais quieto, como eu. Tenho me divertido em conhecê-lo, embora até agora sempre tenha sido em um ambiente com nosso grupo de amigos.
— Sim, acho que sim.— eu respiro.
Léo estava certo, eu gostaria de uma noite de folga. Só não com ele.
— Legal.—Connor sorri.
Ele volta a comer, enquanto eu volto a brincar com minha comida.
Fabíola e suas amigas falam sobre os treinos que correram de hoje, enquanto eu ouço com indiferença. Às vezes me sinto um pária entre eles, uma loba solitária. Em nossa sociedade existem lobos selvagens e lobos solitarios, os solitarios exibem tatuagem de um lobo em alguma parte do corpo e sempre de mostram ao alfa pedindo autorização para ficar território em que estão passando, enquanto os selvagens exalam um mau odor e sempre estão com as piores intenções possivel.
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Eu sei que eles nunca me fariam sentir assim intencionalmente, mas tenho pouquissimo interesse em todas as coisas esportivas que eles gostam, além do que minha loba não é muito confiavel, unica coisa que eu consigo fazer para alivia a tensão é correr na floresta.
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Minha loba, se anima quando a parte de trás do meu pescoço formiga, uma sensação estranha tomando conta de mim como se alguém estivesse olhando. Minha pele formiga quando minha loba vai direto para o modo protetora paranóica, me fazendo olhar ao redor com cautela, em alerta máximo. Eu examino as mesas ao redor da nossa na sala de jantar, procurando a fonte do meu desconforto, mas todos parecem estar perdidos em suas próprias conversas, comendo sua comida.
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Meus olhos continuam a percorrer a sala, parando, voando de volta para encontrar outro par. Olhos castanhos intensos olhando para os meus por baixo de uma sobrancelha franzida.
Os olhos de Léo. Minha respiração fica presa na minha garganta e meu batimento cardíaco acelera. Por que diabos Léo está me observando do outro lado da sala de jantar como um perseguidor assustador?
Ele mantém contato visual por um momento antes de desviar o olhar, de volta para seus amigos em sua mesa.
Minha sensação de desconforto permanece, no entanto. Pego meu prato com a mão e me levanto do banco, jogando uma perna sobre ele para sair.
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— Talvez eu não vá te ver mais tarde.— eu digo, de repente sentindo a necessidade de fugir. Quando se trata de instinto de luta ou fuga, o meu é definitivamente fugir.
— O quê?— Fabíola geme em objeção, olhando para mim do banco.
— Eu tenho muito trabalho para colocar em dia, preciso me adiantar hoje para sair com vocês amanhã.— eu respondo levianamente.
— Tudo bem.— Fabíola suspira, girando de volta, seu r**o de cavalo voando. Ela teve sorte de não cair no meu prato.
Eu largo meu prato na lixeira e saio da sala de jantar, indo direto para os dormitórios do batalhão. Eu não perco aquela sensação estranha, espinhosa até que esteja enfiada em segurança no meu quarto.
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Pego meu laptop, me jogo na cama e me perco nas linhas de códigos.