Arlete vai casar.

1537 Words
- Tá aqui ó! Endereço da Letinha. Ai minha Nossa Senhora, logo se Deus quiser vocês casam. – Dizia a alemoa baixinha batendo as mãos. Pedro pegou o papel e observou, sorrindo de lado. - Agora tu vai escrever no papel o que mãe mandar. Confia, mãezinha sabe o que uma moça quer escutar. Escreve aí, “Minha querida Arlete. Eu fiquei muito feliz de te conhecer...” Pedro anotou no papel tudo que a mãe dizia, como se anotasse uma lição da escola. Dias depois Arlete foi até a venda que era o ponto onde as cartas eram deixadas, já que naquela época não havia carteiro que passasse de casa em casa, muito menos no interior. Davi mencionou que havia uma carta para ela. A moça estranhou, mas levou a correspondência embora. - Ô mãe, tem carta pra mim. - Carta de quem? Margareth veio do quartinho da costura ao ouvir a voz da filha. - Carta de quem Arlete? Andou dando endereço pra algum rapaz? Nisto a mulher se deu conta de que José Aldo havia dado o endereço da família para Paula, e vá nervosismo. Ao abrir o papel Arlete viu uma caligrafia feia, mas ainda legível. “Minha querida Arlete fiquei muito feliz de te conhecer. Sou eu Pedro, que tu conheceu na festa do rádio. Eu te achei linda, tão linda que não sei explicar. E também achei tu muito inteligente, mas isso é claro, por que tu é professora...." Os dizeres seguiam, e Arlete ia identificando erros de ortografia. Margareth se aproximou para ver o papel. - Virgem Santíssima. Que letra feia meu Deus. Letra feia, papel velho. - É do moço que sentou com nós na festa da rádio. Eu nem lembrava mais dele. Margareth se irritou pela carta, mas louvou a Deus pela filha nem ter dado atenção à família dos pobretões. Ela e Aldo foram pobres muitos anos, e passaram por tantas dificuldades que prometeu a si mesma: Arlete não passaria por isto. De jeito nenhum! Arlete foi para o quarto e releu a carta. Afinal, mandar uma carta era sinal que Pedro queria algo com ela. Mas seu pai permitiria? Temerosa que José Aldo pensasse algo de errado, ela decidiu que mostraria a carta ao pai assim que ele chegasse. E assim o fez. - De fato Lete. O rapaz é bem simples mesmo, se vê pelo jeito que escreve. Mas ele parece interessado em ti minha filha. Arlete olhava a parede, disfarçando a vergonha que sentia. - Lete?! - Sim pai. - Sim o que filha? – Riu o homem. - Meu pai, o senhor disse que eu ia casar no ano que vem. Eu nem conheço esse homem, eu não sei por que ele mandou essa carta meu pai. José Aldo se inclinou perante a mesa. - Filha, eu já visitei a casa deles. Pobres eles não são, por que é uma casa boa. Eu achei eles boa gente, e agora no meu aniversário conheceremo todos eles melhor. E essa carta é sinal de que ele realmente quer dar andamento à um compromisso. Margareth apenas escutava quieta. De repente Arlete lembrou de algo que precisava perguntar ao pai. - Pai, o meu nome é uma junção do seu nome e do da mãe? Seus pais se surpreenderam. - De onde tu tirou isso Arlete? - Nada. De lugar nenhum mãe. Eu só tava pensando: José Aldo e Margareth = Arlete. - Sim, o teu nome é uma junção dos nossos nomes. – Confirmou o pai. Arlete ergueu as sobrancelhas muito rapidamente, e José Aldo percebeu que aquela conclusão não podia ter sido tirada por ela. Pelo teor da conversa que teve com os pais, Arlete decidiu responder a carta de Pedro. “Olá Pedro. Queria dizer que perguntei ao meu pai sobre aquilo que você me disse sobre o meu nome. Papai me disse que sim, que meu nome é a mistura dos nomes dele e da minha mãe. Como tu soube disso? Eu quero que tu me mande uma foto tua, e também te mando uma minha. Vocês ainda vem no aniversário do meu pai?” Arlete Flores da Rosa, 28 de Janeiro de 1947. *** Pedro recebeu a carta e mostrou aos pais. Luciano percebeu que o compromisso começava a tomar forma e ficou mais aliviado. Ele chamou o filho para uma conversa, e perguntou se Pedro tinha certeza que queria casar com Arlete, já que na família não se tinha o costume de tardar muito em subir ao altar. Pedro disse que sim, e Luciano disse junto com a próxima carta que ele enviasse a Arlete já deveria avisar a moça e aos seus pais sobre o pedido. - Você faz o pedido no aniversário do pai da moça. - Mas vai ter mais gente lá. - Por isso avisa antes, e pede pra ser algo mais fechado, só pra nós. Depois ele faz outra cerimônia e avisa todo mundo. Chegou o dia, e Pedro colocou sua melhor roupa pois estava ansioso para rever a moça de olhos verdes. Saíram cedo, mas o lugar não era tão longe quanto ir até a capital, e não demoraram muito a chegar. Arlete os recebeu, e olhou receosa para Pedro. - Bom dia, sejam bem-vindos. - Eu trouxe um bolinho. - Obrigada. Pode deixar em cima da mesa. Zé Aldo havia convidado mais pessoas. Mas depois que Pedro avisou que pediria a mão de Arlete em casamento, ele avisou aos amigos que depois faria outra festa, pois por hora a cerimônia teria que ser mais intimista. Arlete ficou observando Pedro de maneira discreta e viu que o rapaz fazia o mesmo. Almoçaram e depois disso retornaram à sala. O jovem casal se sentou no mesmo sofá, porém à uma certa distância. Luciano tomou a frente da situação e explicou que Pedro queria se unir à filha do casal. José Aldo disse que a família fazia muito gosto do casamento, e que esperava que a união saísse o mais rápido possível. O coração da jovem parecia querer sair pela boca, e foi então que Pedro fez o pedido. - Arlete, tu quer casar comigo? Embora já esperasse por aquela pergunta, Lete ficou em silêncio. - Filha, tu não quer casar com o moço? - Eu quero sim meu pai. Eu só tô nervosa. – Ela virou para Pedro. – Eu aceito sim. Pedro sorriu. - Então agora tu é oficialmente o meu genro! Dá cá um abraço rapaz! – Convidou Zé. Paula e Luciano estavam muito felizes. O pai pois Arlete parecia uma boa moça, já a mãe esperava vantagens daquele casamento. *** José Aldo fez outra festa para comemorar seu aniversário. Agora ele convidou bastante gente de Águas Claras, e também comemorou que Arlete iria se casar. Agnes abraçou a amiga. - Nem me disse que tava trocando carta com o moço! Fiquei magoada! – Ria a baixinha. - Achei melhor não falar. Vai que ele desistisse? Deus me livre. Eu não queria passar pelo mesmo que a Inês. - Falando nela, como ela tá? - Pior que não sei. - Mas como tu não sabe se a mãe dela mora na tua casa? - Não sei não sabendo. A Diva manda carta pra ela, ela demora a responder. E a gente pergunta e a Diva fala pouco. Também, tu queria o que? O marido dela se matou, o filho teve que recém casado assumir a venda. Tudo isso pra depois descobrir que era mentira do Hélio? - Aquela gente não vale nada mesmo. Deus que me perdoe. – Resmungou Agnes se referindo à família que acabou com a vida de Inês. José Aldo bebeu bastante e agradeceu aos amigos pela presença. Arlete cortava o bolo de aniversário e servia aos convidados, aproveitando para se despedir das amigas e colegas de profissão, já que ficou acertado que ela não trabalharia mais após o casamento. *** Já em Março a moça foi comprar o tecido do vestido e mandar fazer os convites da cerimônia. Diva e Arlete fariam os doces e salgados, e a esposa de Davi, nora de Diva faria a comida. Lete foi junto dos pais até Porto Alegre comprar as coisas para o vestido e véu, pois Margareth faria o vestido da filha. - Mãe olha que lindo esse! – Dizia a jovem apontando alguns tecidos. - É verdade. O teu vai ser todo de seda, e vai cobrir os pés, que eu acho horrível vestido curto. Temos que ver a grinalda e o sapato também. Branquinho pra ficar delicado no teu pezinho filha. - Minha menina, tu vai ficar tão linda! - Obrigada Diva! *** O vestido quase pronto, faltava apenas o véu. Os sapatos deixavam seus pés delicados, e o vestido a fazia parecer uma princesa. Enquanto se olhava no espelho, Arlete viu Diva se retirar do quarto. Margareth ficou com um olhar triste. - Ela foi chorar. De certo lembrou da Inês. Arlete estava feliz, mas ficou péssima ao ver Diva chorando. - Mãe, posso chamar a Inês pro casamento. - Pode sim filha. Só que tem que ver se a Diva vai entregar o convite pra ela. Ela não quer nem dizer pra nós onde a Inês tá morando!
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD