Eu aceito (Com os problemas também).

1893 Words
A comunicação do casal por cartas seguiu, e a data da união foi marcada para 26 de Abril de 1947. Pedro e Arlete se casariam no cartório de Viamão e na igreja de Águas Claras, sendo a festa no salão paroquial. Diva prometeu entregar o convite para Inês, mas Arlete não sentiu que ela realmente fosse fazer aquilo. A empregada se recusava a contar para a família onde a filha estava morando, e pouco falava sobre ela. Quando questionada, apenas respondia que Inês estava bem. *** Arlete foi cantar na rádio Sexta-feira dia 18 de Abril, já que na outra Sexta dia 25 seria seu casamento civil. - Boa noite meu público, meus ouvintes! Essa é uma noite muito especial, porém também um pouco triste. Hoje é a última vez que a voz de minha filha Arlete é ouvida aqui nesta rádio. É, é isso mesmo meu amado público. Letinha vai se casar! Sábado que vem, dia 26. Margareth vai seguir aqui cantando, mas Lete vai casar e se mudar. Com vocês as minhas jóias raras. - Disse José Aldo apresentando o programa. Arlete cantou com a mãe a música "Ai que saudades de Amélia", canção popular que fora lançada cinco anos antes e que era cantada por Ataulfo Alves. "Às vezes passava fome do meu lado E achava bonito não ter o que comer Quando me via contrariado Dizia: "Meu filho o que se há de fazer?" Aquilo não tinha a menor vaidade Amélia era mulher de verdade" Após o fim da canção Arlete se despediu do pessoal da rádio que já conhecia há muito tempo. Margareth lamentou que agora que a rádio era perto de casa a filha iria embora, mas José Aldo disse que a filha formaria uma família e que isso superava a tristeza. Já em casa a menina só conseguia se perguntar o que seria de seu futuro, já que ela não tinha ideia do que o futuro lhe reservava. Desde que se entendia por gente Arlete teve que ajudar no serviço da casa, ajudar a cozinhar, lavar roupa. Somente quando Diva foi trabalhar em sua casa é que ela passou a trabalhar menos, mas ainda assim tinha que ajudar no serviço devido à idade da empregada. Seu pai havia dito que a casa de Pedro era enorme. Será que lá ela não teria que ajudar? Por um lado Margareth tinha razão: agora que enfim a vida da família estava melhorando ela tinha que ir embora. Quinta-feira dia 24, Pedro chegou de noite juntamente com seus pais na casa de Arlete, pois no outro dia de manhã já era o casamento civil. Ao vê-los chegando foi que a ficha de Arlete caiu. Ela iria se casar! E iria embora com eles no Domingo de manhã! - Boa noite minha querida. Enfim cheguemo! - Disse Paula à sua maneira espalhafatosa. Luciano, reservado como sempre, se limitou a cumprimentar e depois ficar em silêncio. Diva ajudou a família a se instalar, e Pedro sorriu ao ver Arlete. - Boa noite Lete! - Cumprimentou animado. - Boa noite. - Respondeu a jovem tímida. Nisto José Aldo surgiu vindo do corredor. - Ora se não é a família que vai levar a minha Letinha de mim! Boa noite dona Paula, seu Luciano. Pedro meu genro, me dê cá um abraço! - Boa noite sogro. Jantaram e seguiram conversando até tarde, e Pedro e Arlete eram as vozes que menos se ouvia embora estivessem sentados lado a lado. - Mas os moço não falam nada? - Perguntou Diva. - Falar o que? - Respondeu Pedro rindo. Arlete ficava observando o noivo e queria realmente conversar com ele. Mas falar de que jeito com todos ali escutando? - Fala alguma coisa Lete! - Incentivou o pai. - Ah meu pai. Eu tô muito feliz de me casar, e eu quero muito que nessa mesma data ano que vem eu teja ganhando nosso primeiro filho. - Falou a moça olhando Pedro. Houve uma comemoração geral, e Margareth lembrou que Arlete nasceu após 4 anos de casamento. Mas Paula disse que não demoraria tanto, pois seu primeiro neto veio no primeiro ano de casamento do filho que vivia no Rio de Janeiro. - Tem razão. E seus irmãos Pedro? Não virão mesmo? - Questionou Zé. Luciano engoliu seco e Paula procurou sair pela tangente. - Não deu pra eles virem. É longe né? Margareth notou que o casal ficou desconfortável, mas apenas ficou em silêncio. *** Chegou o dia do casamento e Arlete não poderia estar mais nervosa. Havia casado no civil no dia anterior, e agora era chegada a hora de selar a união perante Deus. Arlete foi criada em uma família católica e extremamente conservadora, o que implicava que a moça não tinha a menor ideia do que ia acontecer após a festa. E isso a deixava nervosa, muito nervosa. Seu vestido era de mangas compridas e tinha um pequeno decote, sendo apertado na cintura e com a saia solta, sem armação. Além disso possuía uma cauda longa. - Dá uma voltinha pra mãe ver. – Disse Margareth tirando a filha de seus devaneios. Arlete sorriu para a mãe e a obedeceu, olhando-se no espelho e se achando linda. - Ô meu Deus. Coisa mais linda da mãe. - Obrigada pelo vestido mãe. Ele é maravilhoso! Margareth pôs a mão na barriga da filha. - Que Deus te dê muitos filhos e depressa. Que tu não demora pra engravidar também, e que não seja como eu minha filha, que só consegui ter tu. A vida inteira Arlete se sentiu m*l com os comentários de sua mãe sobre ela ser filha, mas apenas guardava tudo para si. Agora era chegada a hora de ela ter sua família, e se Deus quisesse e a Virgem ajudasse ela teria muitos filhos. Todos os seus amigos e conhecidos tinham irmãos, somente ela era sozinha. Muitas vezes Arlete desejou ter irmãos, ou pelo menos uma irmã com quem conversar. Mas logo tudo seria diferente. José Aldo abriu a porta, e foi sua vez de se encantar com sua menina. Viu ali aquela menininha que vinha até ele antes de dormir e perguntava: “Pai, quando o senhor for famoso eu posso ser cantora?” - Ai meu coração. Será que eu vou aguentar? - Papai? – Sorriu Arlete. - O sonho de todo pai: levar sua filhinha até o altar. - Vai se realizar paizinho. Aqui estou eu! – Disse a jovem abrindo os braços. - Vamos lá Lete. A família do Pedro já foi toda pra igreja. - Pai. - Que foi filha? - Eu tô com medo. Eu nunca fiquei longe de vocês. José viu que Arlete estava à beira do choro. - Filha. À partir de agora a tua família é a do Pedro. Sei que dói, mas tu tem que te acostumar. Não chora não minha guriazinha, o pai e a mãe sempre estarão aqui pra responder as tuas cartas. Chegaram na igreja e Margareth entrou primeiro. Depois foi a vez da noiva entrar acompanhada do pai. Ao avistar Pedro ela evitava fixar os olhos nele, por pura vergonha e por ter sequer ideia se devia sorrir ou ficar séria. Chegar até o altar, e pegar na mão dele fez o coração de Arlete quase parar. As mãos dos noivos suavam, e Pedro a encarava de vez em quando de uma forma muito rápida e furtiva, que fazia ela se questionar o que estaria passando na cabeça dele. Eram 19:30 e a festa acontecia no salão paroquial ao lado da igreja. Os convidados estavam se servindo e noiva foi cortar o bolo. - Filha, oferece um pedaço pro Pedro. – Disse Margareth que estava perto da mesa. - Tu quer? – Perguntou ela. - Quero, quero sim. O rapaz pegou um prato e alcançou para a esposa. Pedro sorriu e Arlete se sentiu confortável para retribuir. Ela cortou uma fatia de bolo e pegou uma colher para dar um pedacinho para ele. - Tá muito bom. Quem foi que fez? - A Diva. Ela me ensinou a fazer esse bolo, mas eu anotei a receita pra não esquecer, pois de cabeça não lembro mais. Pedro percebeu que Arlete tinha uma tristeza nos olhos, por mais que estivessem ali conversando amigavelmente. Provavelmente era por que ela iria embora com a família dele no outro dia. Ele cortou um pedaço de bolo. - Tu tá cortando tudo torto. Deixa que eu corto. - Eu queria te dar um pedaço. Tu nem comeu ainda. - Obrigada, mas deixa que eu corto. Simplesmente encostar na mão de Pedro fazia seu coração disparar, mas não de felicidade e sim de medo. Arlete ficava tentando se distrair e não pensar na noite de núpcias, mas estava difícil. Seu marido lhe deu o bolo, mas ela não conseguia se concentrar no momento, apenas pensando no depois. Ela foi de mesa em mesa cumprimentando os convidados, os dois jantaram, e a hora passou rápido. - Tu tá muito linda. - Obrigada. - Eu nem acredito que a gente casou, achei que tu nunca fosse querer casar comigo. – Dizia ele enquanto viam os convidados começarem a ir embora. - Mas por que não? Não lembra aquele dia que a gente se conheceu? Eu te disse que tu era muito lindo. Pedro ficou corado, e Arlete o achou ainda mais lindinho ostentando aquela expressão. Ele a observou e lhe deu um beijo, pondo a mão em seu queixo. Arlete havia dado alguns beijos na vida, lá atrás quando recém tinha voltado de Porto Alegre formada. Ela e Davi tiveram apenas um namorico. Coisa de pré adolescentes que descobriram como se beija e acharam fabuloso. Não foi adiante, pois a menina ainda nem havia completado 15 anos e naquela época José jamais deixaria a filha se casar. É claro que aquilo seria um segredo que ambos levariam para o túmulo, pois nem Inês soube daquilo. Até hoje quando se viam ambos não conseguiam se encarar, e Davi chegou a dizer para Arlete que não seria se casar com a noiva que lhe arranjaram, mas a própria Lete disse que ele não podia romper o noivado e deixar a moça a ver navios. Fazer o que? Não aconteceu. Agora ambos eram casados e a moça queria ser muito feliz ao lado de Pedro. - Vamo? – Perguntou Paula. Os noivos olharam em volta e viram que todos há haviam ido. Pedro e Arlete se olharam e o pânico tomou conta de ambos. Só então caiu a ficha que agora ambos eram marido e mulher, e que logo estariam sozinhos. Não que Pedro não soubesse o que fazer, mas agora a moça em questão era sua esposa. Será que ela iria sentir dor? Se machucar? Os olhos verdes de Arlete lhe diziam que se ela pudesse escapar com certeza o faria. Foram todos para a casa dos pais de Lete, e chegando lá foram todos para os quartos. Por um instante os noivos ficaram sozinhos na sala. - Quer sentar? – Convidou Pedro apontando o sofá. - Ah, claro. O casal ficou sentado na sala até os barulhos cessarem e o silêncio ser completo, demonstrando que todos já haviam ido dormir. De repente mais um medo veio assombrar Arlete: e se na verdade não tivessem ido dormir e ficassem escutando? Ela poderia morrer se isso acontecesse.
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