Capitulo XVII

1284 Words
Assim que Telma saiu de sua casa, Rosângela ligou para a mãe. - Queria te contar que a dona Helena esteve aqui hoje pela manhã para ver os netos e conversar comigo. - O que ela queria? Não vai me dizer que ela aceitou ficar com as crianças. - Não. Ela veio me sondar, se existia alguma possibilidade de eu aceitar o Ronaldo de volta. - O que aconteceu? Ele não está se dando bem com a outra? - Eu não te falei que a Telma frequenta um centro de linha branca que disse que o Ronaldo agiu assim porque estava com feitiço em cima dele e que a gente precisava orar muito para desfazer o trabalho? - Contou, e daí? - Daí que ele foi na casa da mãe e pediu para morar uns tempos com ela. Falou que devia estar ficando louco por ter deixado a família por causa de uma mulher, como a que ele tinha arrumado. Que estava muito arrependido e desempregado. Contou tudo pra mãe assumindo a culpa pelo que aconteceu. - Pelo visto, então, ele deixou a outra! - Deixou e está morando com a mãe. - E você vai aceitar que ele volte? - Pelo menos, por enquanto, não. Mas ele disse pra mãe que estava com saudades dos filhos, mas não vinha aqui, por medo de eu não deixar ele ver as crianças, porque ele tinha maltratado muito elas nos últimos tempos. E eu falei que era direito dele ver os filhos. Que ele podia vir. - Ele foi? - Eu acredito que ele venha no final de semana por causa das aulas que dou. Sabe que durante a semana vai me atrapalhar. - Então, nesse final de semana, nós não vamos aí. Vocês tem que resolver isso, sem a intromissão de ninguém. - Eu não liguei pra vocês deixarem de vir. Só queria contar pra senhora. - Eu sei. Mas é melhor nós ficarmos de fora. Parece que esse negócio de feitiço acontece mesmo. Foi você começar a orar e ele deixou a mulher. - Sim, mas de qualquer maneira, ele me traiu. - Isso é verdade, mas qual o homem que não trai? Ainda mais quando uma mulher bonita se oferece? Deve ter sido o caso dele. - Segundo a dona Helena, foi. Eu estava de resguardo da Regina e essa mulher ficou se oferecendo pra ele em um bar, aonde ele tomava uma cerveja, antes de vir pra casa. - Eu não quero dar opinião, mas até teu pai, já teve seus casinhos na rua. Apenas teve o cuidado de eu não ficar sabendo. - Ele não teve esse cuidado, aliás, foi ele mesmo que me falou. - Mas se estava enfeitiçado, não fez com a intenção de te magoar. Você é que sabe. Mas enquanto você não resolver o que vai fazer, vamos deixar de ir aí. Só vamos se você precisar. - Eu te avisei, porque te conto tudo. Sempre foi assim. - Eu sei, meu anjo. Mas é melhor vocês terem privacidade para conversar. - Se ele vier no sábado, vocês vem no domingo? - Vamos ver. Estamos acostumados a ficar com vocês pelo menos um dia na semana. Vou falar com o teu pai e depois eu te digo. - Tá bem. A senhora acha que eu devo falar com as crianças? - É melhor, não. Depois ele não aparece e elas vão ficar decepcionadas. - Tem razão. É melhor não falar. - Depois eu ligo para dizer se vamos no Domingo ou não. - Faz uma força. Tchau! - Tchau! Rosângela acabou de falar no telefone e foi para a cozinha providenciar o jantar das crianças. Já tinha passado um pouco da hora costumeira. Deu a sopinha da Regina e depois sentou com os outros dois para comer. Rogério perguntou: - Quando que o papai vai vir ver a gente? Ele disse pra vovó que está com saudade de nós. - Eu falei pra ela dizer a ele que pode vir quando quiser. - Eu pensei que ele vinha hoje! - Ele sabe que a mamãe dá aulas e deve ter deixado pra vir num fim de semana. - Tomara que ele venha. Mas, tomara também que não fique brigando com a gente e colocando de castigo. - Seu pai esteve doente. Agora ele está melhor e vai voltar a ser o pai legal que sempre foi. - Ele vai voltar a morar aqui? - Isso eu não sei. Mas pode visitar vocês na hora que quiser. Rosângela não estava disposta a perdoar o deslize de Ronaldo, mas não queria dizer isso ao filho. Era ainda era muito pequeno para entender o quanto doía uma traição. Seria obrigada a conviver com ele, porque ele tinha o direito de ver os filhos, mas independente de ter sido enfeitiçado, procurou mulher na rua. Passou o resto da semana apreensiva, sem saber exatamente quando a visita seria feita. No sábado, por volta de nove horas, a campainha da casa tocou e Ronaldo estava no portão. Ela foi até o portão e convidou ele para entrar. Deixou ele sentado na sala e foi chamar os meninos no quarto e pegar Regina no berço. Ronaldo levantou assim que os filhos entraram na sala e abraçou e beijou os meninos, depois pegou Regina do colo de Rosângela e ficou com ela. Rosângela percebeu que realmente ele tinha voltado a ser o pai carinhoso que era antes. Um pouco mais calma, disse: - Você fica a vontade que eu vou para a cozinha providenciar o almoço. - Precisa de ajuda? - Não. Você aqui agora, é apenas uma visita. Foi para a cozinha e ficou lá até a hora que Rogério veio lhe chamar: - Mãe, o papai está indo embora. Pediu pra você ir lá na sala. Rosângela lavou as mãos e foi atender o pedido. Ronaldo estava abatido. Mas Rosangela, fingiu não perceber e não comentou nada. Apenas perguntou: - Você já vai? Pensei que fosse passar o dia com as crianças. - E eu pensei que você estivesse incomodada com a minha presença. - Se quiser almoçar com eles, pode ficar. - Não vai te incomodar? - Não. Eles estavam com saudades e você está aqui há menos de duas horas. - Depois do almoço, eles não vão dormir? - Esse é o costume. Mas você pode almoçar com eles. - Está bem. Obrigado. Rosângela colocou a comida de Regina e ia pegar ela, quando ele disse: - Deixa que eu dou. Ela já podia estar comendo comida mais sólida. Já tem dentinhos. - Estou esperando o pediatra dizer isso. Ela tem problema de garganta e fica enjoada as vezes para comer. - Teve outra crise, depois daquela? - Não, mas estou evitando de dar coisas geladas a ela. - Você sabe o que está fazendo, mas as vezes o pediatra não fala nada pensando que ela já está comendo normal. - Pode ser. Na próxima consulta, vou perguntar a ele. - Ela está magrinha. - É por causa da garganta. Tem dias que não quer comer direito. - Isso não pode. Ela tem que se alimentar. - Eu falei com o pediatra e ele disse que é assim mesmo. Ela depois de fazer um ano, vai tomar umas injeções pra isso. - O estranho é que só ela teve problema. Os meninos nunca tiveram. Ronaldo conversava e dava a comidinha da filha ao mesmo tempo. Quando terminou, entregou a mamadeira para Rosângela, e colocou a menina em pé em seu colo, dando uns tapinhas nas costas. Depois que Regina arrotou, entregou a menina para a mãe. Rosângela levou Regina de volta para o berço e na volta chamou: - Vamos almoçar?
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