Enquanto almoçavam, Ronaldo continuou a conversar com os meninos.
Rosângela muito pouco falou. Estava estranhando a mudança dele. Apesar de estar conversando, ele lhe parecia cansado. Perguntou:
- Você já arrumou emprego?
- Ainda não. Está difícil.
- Você está parecendo cansado.
- Estou mesmo. Mas cansado de procurar emprego o dia inteiro e não conseguir nada. Eu estava louco, quando pedi demissão.
- Preferia não tocar nesse assunto agora, por favor. As crianças estão presentes.
- Desculpa. Só respondi ao que você perguntou.
Acabaram de almoçar e os meninos foram deitar, como de costume.
Ronaldo beijou os filhos e prometeu:
- Outro dia eu volto para brincar com vocês, agora eu vou pra casa.
Rosângela, falou:
- Pode vir a hora que quiser. Você tem esse direito.
- Eu só vim hoje, para não atrapalhar as tuas aulas.
- Se quiser vir durante a semana, você fica no quarto com eles. Foi o que eu tive que fazer com a tua mãe, quando veio.
- Ela falou que você abriu mão dela pagar a pensão enquanto eu estou parado.
- Não acho justo ela pagar. Estou ganhando bem com as aulas.
- Eu estou procurando trabalho, assim que eu arrumar, tudo vai voltar ao normal.
- Você está se referindo a pensão, né?
- Eu sei que errei e fiz e falei muita besteira, mas você poderia pensar em me perdoar.
- Não quero nem ouvir falar disso. Você pisou muito em mim.
- Eu não estava em mim. Minha mãe falou que foi feitiço.
- Mas o feitiço só foi feito depois da traição. Nessa hora, você sabia bem o que estava fazendo.
- Eu sei que errei. Você estava de resguardo e ela apareceu se oferecendo. Se põe no meu lugar.
- Se põe no meu. Agora é melhor você ir. As crianças vão demorar a acordar.
- Pensa no assunto.
- Tchau.
Ronaldo abaixou a cabeça e foi embora, assim que saiu, Rogério perguntou:
- Ele vai voltar pra casa?
- Você não devia estar dormindo?
- Queria ficar mais um pouco com o papai. Ele deixou de ser brigão.
- Eu sei, mas você tem que se deitar e dormir.
- Você não respondeu.
- O que?
- Ele vai voltar pra casa?
- Meu filho, isso eu ainda não decidi. Quando ele arrumou uma namorada, ele magoou muito a mamãe e a mágoa ainda não passou.
- Mas ele voltou a ser aquele pai legal de antes!
- Eu vi. Ele sempre vai ser o pai de vocês.
- Você não quer que ele volte?
- Não. Não quero.
- Eu queria que ele voltasse. Agora ele gosta da gente de novo.
- Isso não é assunto para crianças.
- Desculpa. Vou deitar.
Rosângela estava dividida. Também tinha notado que Ronaldo tinha voltado a ser como era antes, mas tinha medo de aceitar a volta e ele trair de novo. Os filhos tinham gostado de ter o pai em casa. Estava sem saber o que fazer.
Estava nesse curso de pensamento, quando escutou a campainha tocar.
Foi ver quem era e Telma estava no portão.
Abriu o portão e Telma entrou perguntando:
- E aí? Como foi a visita?
- Foi tudo bem. Ele voltou a ser o pai carinhoso de antes e até brincou com as crianças.
- E contigo?
- Ele quer voltar. Disse que sabe que errou, mas não estava nele. Chegou a dizer que estava louco.
- E você?
- Estou dividida. O Rogério me pediu pra deixar ele voltar.
- Vocês conversaram na frente das crianças?
- Ele fingiu que ia dormir e levantou. Aí escutou.
- E o que você respondeu?
- Que isso não era assunto para crianças.
- Vai ser r**m pra você. Ele vai insistir.
- Eu sei. Mas quem tem que decidir sou eu. Tenho medo de voltar e ele escorregar de novo.
- Não creio. Depois do que ele passou, não vai tornar a fazer.
- Não podemos ter certeza.
- Então espera o tempo passar. Só o tempo conserta tudo.
- Eu por enquanto, não quero ele de volta, apesar de ter visto que realmente ele mudou.
- É bom deixar ele sofrer mais um pouco. Assim se vocês voltarem, ele vai te valorizar mais.
- Isso, é. Se eu deixar ele voltar muito fácil, eu é que vou estar valorizando ele.
- Pensa bem, antes. Não se deixa levar pelos pedidos das crianças.
- Eu vou pensar.
Ronaldo chegou em casa e sua mãe perguntou:
- Já almoçou?
- Já. A Rosângela me convidou para almoçar com as crianças.
- E como foi a visita?
- Brinquei bastante com as crianças e almocei com eles.
- Estou querendo saber como a Rosângela te recebeu.
- Deixou claro que eu era apenas uma visita. Me ofereci para ajudar ela no preparo do almoço, como fazia antigamente e ela disse isso.
- Ela ainda está muito magoada com você. Continua visitando as crianças e deixa o tempo passar. Uma hora, você consegue.
- Será?
- Eu tenho certeza. Ela se casou por amor.
- Eu também. Não sei aonde estava com a cabeça pra ter uma relação fora de casa.
- No resguardo dos meninos, você permaneceu fiel?
- Fui. Mas apareceu aquela mulher bonita se oferecendo e eu pensei em sair uma vez e depois esquecer da existência dela, mas ela ficava me cercando na saída do trabalho e eu continuei com o caso.
- Quando você voltar lá, leva flores.
- Mãe, a senhora esquece que eu estou desempregado?
- Eu te dou o dinheiro pra comprar.
- Não. Já basta a senhora estar me sustentando.
- Isso é uma fase e vai passar.
- Tomara que não demore. Até pra voltar pra casa, seria r**m agora. Comigo parado, teria que ser sustentado por ela.
- Isso é verdade. Só volta ao assunto, depois de arrumar trabalho.
- Tomara que não demore muito. Vou me deitar um pouco. A senhora vai sair hoje?
- Marquei de ir ao cinema, com uma amiga. Mas só vou sair mais tarde.
- Se eu não levantar antes da senhora sair, bom divertimento.
- Vou sair daqui, as quatro e meia. São quase três, você deve estar dormindo sim.
No domingo, Rita ligou para Rosângela e perguntou:
- Ele esteve aí ontem.
- Veio sim. Ficou a parte da manhã com as crianças e foi embora depois do almoço.
- Pediu pra voltar?
- Pediu, mas eu falei que não. Só que o Rogério ouviu, e pediu pra eu deixar ele voltar, porque tinha voltado a ser um pai legal.
- Vocês conversaram isso na frente das crianças?
- Não. O Rogério não dormiu e levantou. Aí escutou.
- A pressão vai ser forte.
- Eu disse que isso não era assunto de crianças. E que o pai tinha me magoado muito, quando arrumou uma namorada.
- Ele mudou mesmo?
- Voltou a ser o Ronaldo de antigamente.
- Se você achar que vale a pena tentar de novo, nós não vamos ficar contra você.
- Esse era um dos motivos de eu não querer ele de volta. Não queria vocês contra mim.
- Vocês se amam e tem as crianças.
- Mas e o que ele fez? Passo uma borracha e pronto?
- Eu sei que vai ser difícil esquecer. Mas tem as crianças e se ele voltou a ser como antigamente, acho que vale uma tentativa.
- Vou pensar no assunto. Vocês vão vir aqui?
- Não. Seu pai acordou indisposto. Acho que apanhou um resfriado.
- Dá bastante fruta pra ele. Vitamina é o que cura resfriado.
- Vou colocar agrião na carne. Também é muito bom.
- Se precisar de mim, telefona.
- Pra quê? Você tem as crianças.
- Mas se precisar, a Telma fica com eles.
- Não vai ser necessário. É só um resfriado.
- Se cuida pra não pegar também.
- Vou ter cuidado. Beijos.
- Beijos.