Capitulo XVIII

1330 Words
Enquanto almoçavam, Ronaldo continuou a conversar com os meninos. Rosângela muito pouco falou. Estava estranhando a mudança dele. Apesar de estar conversando, ele lhe parecia cansado. Perguntou: - Você já arrumou emprego? - Ainda não. Está difícil. - Você está parecendo cansado. - Estou mesmo. Mas cansado de procurar emprego o dia inteiro e não conseguir nada. Eu estava louco, quando pedi demissão. - Preferia não tocar nesse assunto agora, por favor. As crianças estão presentes. - Desculpa. Só respondi ao que você perguntou. Acabaram de almoçar e os meninos foram deitar, como de costume. Ronaldo beijou os filhos e prometeu: - Outro dia eu volto para brincar com vocês, agora eu vou pra casa. Rosângela, falou: - Pode vir a hora que quiser. Você tem esse direito. - Eu só vim hoje, para não atrapalhar as tuas aulas. - Se quiser vir durante a semana, você fica no quarto com eles. Foi o que eu tive que fazer com a tua mãe, quando veio. - Ela falou que você abriu mão dela pagar a pensão enquanto eu estou parado. - Não acho justo ela pagar. Estou ganhando bem com as aulas. - Eu estou procurando trabalho, assim que eu arrumar, tudo vai voltar ao normal. - Você está se referindo a pensão, né? - Eu sei que errei e fiz e falei muita besteira, mas você poderia pensar em me perdoar. - Não quero nem ouvir falar disso. Você pisou muito em mim. - Eu não estava em mim. Minha mãe falou que foi feitiço. - Mas o feitiço só foi feito depois da traição. Nessa hora, você sabia bem o que estava fazendo. - Eu sei que errei. Você estava de resguardo e ela apareceu se oferecendo. Se põe no meu lugar. - Se põe no meu. Agora é melhor você ir. As crianças vão demorar a acordar. - Pensa no assunto. - Tchau. Ronaldo abaixou a cabeça e foi embora, assim que saiu, Rogério perguntou: - Ele vai voltar pra casa? - Você não devia estar dormindo? - Queria ficar mais um pouco com o papai. Ele deixou de ser brigão. - Eu sei, mas você tem que se deitar e dormir. - Você não respondeu. - O que? - Ele vai voltar pra casa? - Meu filho, isso eu ainda não decidi. Quando ele arrumou uma namorada, ele magoou muito a mamãe e a mágoa ainda não passou. - Mas ele voltou a ser aquele pai legal de antes! - Eu vi. Ele sempre vai ser o pai de vocês. - Você não quer que ele volte? - Não. Não quero. - Eu queria que ele voltasse. Agora ele gosta da gente de novo. - Isso não é assunto para crianças. - Desculpa. Vou deitar. Rosângela estava dividida. Também tinha notado que Ronaldo tinha voltado a ser como era antes, mas tinha medo de aceitar a volta e ele trair de novo. Os filhos tinham gostado de ter o pai em casa. Estava sem saber o que fazer. Estava nesse curso de pensamento, quando escutou a campainha tocar. Foi ver quem era e Telma estava no portão. Abriu o portão e Telma entrou perguntando: - E aí? Como foi a visita? - Foi tudo bem. Ele voltou a ser o pai carinhoso de antes e até brincou com as crianças. - E contigo? - Ele quer voltar. Disse que sabe que errou, mas não estava nele. Chegou a dizer que estava louco. - E você? - Estou dividida. O Rogério me pediu pra deixar ele voltar. - Vocês conversaram na frente das crianças? - Ele fingiu que ia dormir e levantou. Aí escutou. - E o que você respondeu? - Que isso não era assunto para crianças. - Vai ser r**m pra você. Ele vai insistir. - Eu sei. Mas quem tem que decidir sou eu. Tenho medo de voltar e ele escorregar de novo. - Não creio. Depois do que ele passou, não vai tornar a fazer. - Não podemos ter certeza. - Então espera o tempo passar. Só o tempo conserta tudo. - Eu por enquanto, não quero ele de volta, apesar de ter visto que realmente ele mudou. - É bom deixar ele sofrer mais um pouco. Assim se vocês voltarem, ele vai te valorizar mais. - Isso, é. Se eu deixar ele voltar muito fácil, eu é que vou estar valorizando ele. - Pensa bem, antes. Não se deixa levar pelos pedidos das crianças. - Eu vou pensar. Ronaldo chegou em casa e sua mãe perguntou: - Já almoçou? - Já. A Rosângela me convidou para almoçar com as crianças. - E como foi a visita? - Brinquei bastante com as crianças e almocei com eles. - Estou querendo saber como a Rosângela te recebeu. - Deixou claro que eu era apenas uma visita. Me ofereci para ajudar ela no preparo do almoço, como fazia antigamente e ela disse isso. - Ela ainda está muito magoada com você. Continua visitando as crianças e deixa o tempo passar. Uma hora, você consegue. - Será? - Eu tenho certeza. Ela se casou por amor. - Eu também. Não sei aonde estava com a cabeça pra ter uma relação fora de casa. - No resguardo dos meninos, você permaneceu fiel? - Fui. Mas apareceu aquela mulher bonita se oferecendo e eu pensei em sair uma vez e depois esquecer da existência dela, mas ela ficava me cercando na saída do trabalho e eu continuei com o caso. - Quando você voltar lá, leva flores. - Mãe, a senhora esquece que eu estou desempregado? - Eu te dou o dinheiro pra comprar. - Não. Já basta a senhora estar me sustentando. - Isso é uma fase e vai passar. - Tomara que não demore. Até pra voltar pra casa, seria r**m agora. Comigo parado, teria que ser sustentado por ela. - Isso é verdade. Só volta ao assunto, depois de arrumar trabalho. - Tomara que não demore muito. Vou me deitar um pouco. A senhora vai sair hoje? - Marquei de ir ao cinema, com uma amiga. Mas só vou sair mais tarde. - Se eu não levantar antes da senhora sair, bom divertimento. - Vou sair daqui, as quatro e meia. São quase três, você deve estar dormindo sim. No domingo, Rita ligou para Rosângela e perguntou: - Ele esteve aí ontem. - Veio sim. Ficou a parte da manhã com as crianças e foi embora depois do almoço. - Pediu pra voltar? - Pediu, mas eu falei que não. Só que o Rogério ouviu, e pediu pra eu deixar ele voltar, porque tinha voltado a ser um pai legal. - Vocês conversaram isso na frente das crianças? - Não. O Rogério não dormiu e levantou. Aí escutou. - A pressão vai ser forte. - Eu disse que isso não era assunto de crianças. E que o pai tinha me magoado muito, quando arrumou uma namorada. - Ele mudou mesmo? - Voltou a ser o Ronaldo de antigamente. - Se você achar que vale a pena tentar de novo, nós não vamos ficar contra você. - Esse era um dos motivos de eu não querer ele de volta. Não queria vocês contra mim. - Vocês se amam e tem as crianças. - Mas e o que ele fez? Passo uma borracha e pronto? - Eu sei que vai ser difícil esquecer. Mas tem as crianças e se ele voltou a ser como antigamente, acho que vale uma tentativa. - Vou pensar no assunto. Vocês vão vir aqui? - Não. Seu pai acordou indisposto. Acho que apanhou um resfriado. - Dá bastante fruta pra ele. Vitamina é o que cura resfriado. - Vou colocar agrião na carne. Também é muito bom. - Se precisar de mim, telefona. - Pra quê? Você tem as crianças. - Mas se precisar, a Telma fica com eles. - Não vai ser necessário. É só um resfriado. - Se cuida pra não pegar também. - Vou ter cuidado. Beijos. - Beijos.
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