Rosângela estava surpresa. Não imaginava que seus pais iam ser a favor dela perdoar o deslize do Reinaldo, mas pelo que a mãe tinha acabado de lhe dizer, não só eram a favor como estavam torcendo para que isso acontecesse.
Bem que Telma havia lhe dito que a pressão seria grande, mas pensou que fosse só da parte das crianças, principalmente de Rogério.
O problema, era que num caso de traição, a confiança no parceiro acaba. Qualquer demora em voltar pra casa ou qualquer saída que desse, já iria imaginar que estava acontecendo outra vez.
Será que seria capaz de superar isso?
Resolveu conversar com Telma novamente.
Foi na porta dela e perguntou:
- Você tem uns minutinhos pra mim?
- Está com problemas?
- É que eu confio muito na tua intuição e queria conversar com você.
- Vai lá que vou avisar a mamãe e já vou.
Rosângela voltou para casa e poucos minutos depois, Telma chegava para conversar.
- Pode falar. Sou toda ouvidos.
- É que por incrível que pareça, meus pais estão dando força pra eu testar com o Ronaldo.
- Não brinca! Eu pensei que eles iam ficar chateados.
- Eu também. Mas minha mãe ligou e disse que eu deveria pensar em reatar, por causa das crianças.
- Mas você não deve voltar se for só por causa deles. Quem vai dormir com ele é você.
- Eu sei, mas a pressão está ficando grande. Até meus pais. O que você faria no meu lugar?
- Consultaria meu coração. Se você ainda ama ele, você tenta de novo, mas se a mágoa estiver superando o amor, não vale a pena tentar. Eu acho melhor, você dar mais um tempo. Espera pra ver como ele se comporta nas próximas visitas antes de decidir.
- Você tem razão. Vou fazer isso.
- Mas se no final, você decidir voltar com ele, você vai ter que voltar a confiar também. Senão a tua vida vai virar um inferno.
- Eu sei disso. Quem pode me garantir que ele não vai cair na tentação outra vez?
- Se o arrependimento dele for verdadeiro, ele não cai em outra não.
- Vou dar um tempo e me certificar que ele se arrependeu de verdade.
- A mágoa que você sentia, já passou?
- Depois que eu fiquei sabendo como foi, melhorou muito. E como eu não pretendo ter mais filhos, não vou ficar de resguardo de novo.
- Homem é assim. Não aguenta a tentação.
- Obrigada, Telma. Eu gosto de conversar com você, porque você é lúcida.
- Nós temos sempre que ver todos os lados do problema, antes de tomar uma decisão. Se não analisamos todos os lados, corremos o risco de tomar a decisão errada. Por isso eu te digo: espera um pouco mais e só toma a decisão quando perceber, que já analisou tudo. Vê como ele trata as crianças nas próximas visitas, se está realmente procurando trabalho, e principalmente se você ainda tem como confiar, se depois de um tempo, você decidir voltar, tem que estar segura de que está fazendo a coisa certa.
- Vou fazer isso!
- Quer mais alguma coisa?
- Não. Desculpa eu ficar te chamando, mas você é a única pessoa que sabe dos meus problemas.
- Eu agradeço a confiança. Agora vou ajudar a mamãe a fazer a comida. Qualquer coisa, me chama de novo.
- Eu estou esperando os meninos acordarem, eles estão levantando cada dia mais tarde.
- Eu vou indo. Tchau!
- Tchau!
Depois que Telma se foi, Rosângela ficou pensando na conversa que tinham tido. Ela estava certa. Se não recuperasse a confiança em Ronaldo, não valeria a pena voltar com ele.
Deixaria o tempo passar, e resolveria aquele dilema com calma. Não iria aceitar a pressão de ninguém. Nem dos pais e nem dos filhos.
Foi para a cozinha, resolver o que faria para o almoço de hoje. Estava verificando o que tinha na geladeira, quando tocaram a campainha.
Foi até a porta ver quem era. Era uma mulher que não conhecia.
Chegou perto e perguntou:
- Está procurando alguém?
- Estou procurando você. Me chamo Heloísa e fui eu quem tirou o seu marido de casa.
- E o que você veio fazer aqui? Ele não mora mais aqui não.
- Ele não voltou pra casa?
- Ele está morando com a mãe dele.
- Eu estou precisando falar com ele. Pode me dar o endereço?
- Sem autorização dele, não dou não.
- Por favor. Eu estou precisando de ajuda. Ele me deixou de. uma hora pra outra e eu não tenho pra onde ir.
- A mim também foi de uma hora pra outra e por tua causa!
- Mas você ficou com a casa. O apartamento que estávamos morando era alugado e tive que sair de lá.
- A casa é minha. Foi presente dos meus pais. Você não tem família?
- Não me dou bem com eles.
- Isso é problema seu. Com licença que eu estou esperando as crianças acordarem pra dar o café deles.
- Você não vai me dar o endereço?
- Não.
- Você é uma pessoa vingativa.
- Não sou não. Se fosse, procuraria um centro espírita e devolveria o trabalho que você fez pra ele.
- Como você sabe?
- Por que eu tenho uma amiga que é espírita e fez a pergunta lá.
- Então foi por isso que ele me abandonou.
- Não me interessa o motivo. Ele não mora mais aqui e faz o favor de ir embora e não voltar. Foi muita petulância sua, vir bater na porta da minha casa.
- Eu estou desesperada. Não tenho aonde ficar.
- Isso não é problema meu. Agora vai embora.
Telma chegou por trás de Heloísa e perguntou:
- Algum problema, Rosângela?
- Essa mulher veio bater aqui a procura do Ronaldo. Foi ela que tirou ele de casa.
Telma olhou para Heloísa e perguntou:
- Vai demorar a obedecer a ordem de sair daqui? Eu acho que você está querendo levar uns tapas.
Heloísa respondeu:
- E quem se atreveria a me encostar a mão?
- Eu.
Telma acabou de falar, já dando o primeiro t**a em Heloísa. Quando ia dar o segundo, ela falou:
- Eu já estou saindo. Mas aguarda o retorno dessa bofetada.
- Se vai ser no espiritual, saiba que meu Deus é maior do que o seu d***o. Tenta fazer qualquer coisa contra nós de novo e você vai se arrepender.
Heloísa foi embora e Telma entrou com Rosângela.
Rosângela ainda estava em estado de choque com o que tinha acabado de acontecer.
Telma apanhou um copo de água e colocou açúcar, dando pra ela beber:
- Calma que está tudo bem. Ela já foi.
- Eu não queria que você se aborrecesse por minha causa.
- Eu estou bem. Foi muita audácia dessa mulher bater aqui.
- Isso eu também achei. Ela disse que está desesperada porque não tem pra onde ir.
- Ela que vá trabalhar para pagar um cantinho. Nem se ela encontrasse o Ronaldo aqui, ela iria resolver. Ela não sabe que ele está desempregado?
- Deve saber.
- Então, veio fazer o que aqui?
- Pensando bem, você tem razão. Mesmo que ele estivesse aqui, não ia resolver o problema dela.
- Ela veio pra te desestabilizar. Se vocês tivessem voltado, a presença dela seria motivo pra briga.
- Você acha que foi pra isso que ela veio?
- Tenho quase certeza.