Telma ficou brincando com as crianças durante um tempo, quando tocaram a campanha.
Era Ronaldo que estava ali.
Pediu pra chamar a Rosângela e Telma respondeu:
- Ela foi levar a menina ao médico porque ela está com febre alta.
- Avisa a ela que eu estive aqui. Vim avisar que vou pedir a guarda das crianças e deixar com a minha mãe. Assim essa história de pensão termina.
- Eu não vou dar recado nenhum, principalmente um recado desses. Você não está nem aí para os seus filhos. Saiba que eu vou ser testemunha da Rosângela se você tentar tirar os filhos dela.
- Eu não posso abrir mão da metade do meu salário e o juiz está querendo me prender de novo. Me deu prazo para arranjar outro trabalho. Assim, deixar eles com a minha mãe é a única solução.
- A Rosângela sempre foi uma boa mãe, enquanto você, um péssimo pai. Entra com a causa e se prepara para perder. Tem muita gente pra testemunhar a favor dela. Eu sou apenas uma delas.
- Não perguntei a sua opinião. Eu vou dar entrada e se alguém tentar me atrapalhar, vai se ver comigo.
- Está me ameaçando? Saiba que tem gente prestando atenção na nossa conversa e eu vou dar queixa da ameaça assim que a Rosângela chegar. Agora, vai embora que eu tenho que ir ver os meninos.
Telma acabou de falar e fechou o porta. Ele estava falando do portão e ela nem chegou perto. Foi bom, porque assim ele falou alto e com certeza muita gente tinha escutado.
Quando Rosângela chegou, teve vontade de não falar nada, mas pensou melhor e resolveu dizer para não pegarem a amiga de surpresa.
- O Ronaldo esteve aqui.
- O que ele queria?
- Falar com você. Disse que vai pedir a guarda das crianças e entregar elas pra mãe dele criar.
- Eles nem lidam com essa avó.
- Eu disse pra ele que seria testemunha de que você é uma excelente mãe e ele me ameaçou. Vou dar queixa na delegacia.
- Ele vai negar.
- Ele falou do portão e eu fiquei aqui na porta. Por isso falou alto. Com certeza os vizinhos escutaram.
- Mais um vexame. Meu Deus! Quando isso vai acabar?
- Ele deixou claro que era só pra não ter que pagar a pensão das crianças. O juiz deu um prazo a ele para arranjar trabalho, e ele não quer ser descontado.
- O que eu não entendo, é como eu não percebi o cafajeste que ele é, em tantos anos de casamento.
- Fica calma. Eu nem ia te dizer nada, mas achei melhor você não ser pega de surpresa. Vai ver que nem vai fazer nada e disse isso pra você ficar com medo de perder a guarda deles e não cobrar mais.
- O juiz sabe que ele colocou em dúvida até a paternidade e demostrou não ter apego nenhum aos filhos.
- Então, fica calma que isso não vai dar em nada. Mesmo que ele entre com a ação, você vai ganhar. Criança pequena, a guarda sempre é da mãe.
- Eu sei. Só se eu maltratasse ou fosse alguma viciada ou v***a, que correria o risco de perder. Você falou que a menina está doente?
- Falei, mas ele nem deu atenção.
- Pra você ver. A mãe dele, nem conhece os dois menores. Como iria ficar com eles?
- Não conhece?
- Não. O Rogério ela viu na maternidade e nunca mais. Os outros, nem se deu ao trabalho.
- Então ele realmente disse isso pra te meter medo. Ela nem deve saber dessa idéia dele.
- Não deve saber mesmo.
- O que o médico falou da Regina?
- Foi bom ter levado. Não é dos dentes não. Está com inflamação de garganta. Vai ter que tomar antibiótico.
- Guarda a receita e o recibo da farmácia.
- Pra quê?
- Por via das dúvidas. Ele foi informado que a neném está doente e nem ligou. Como pode pedir a guarda deles? Pode ser que só tenha querido te amedrontar, mas se entrar com a ação, é mais uma prova contra ele.
- É verdade. Vou colocar na pasta de documentos.
- Precisa de mais alguma coisa?
- Não, Telma. Obrigada. Vou correr com as coisas que ainda tenho que dar aulas hoje.
- Se precisar de ajuda, eu posso ficar. Não adiantei nada, porque não sabia o que você ia fazer.
- Faço alguma coisa rápida hoje. Doença é prioridade.
- Com certeza. Vou indo, então.
- Obrigada.
Rosângela colocou Regina no berço e foi preparar a dose de remédio para dar a ela.
Depois de medicar a criança, foi separar o material que seria usado na aula da manhã e adiantar o almoço. Tinha tempo ainda. As crianças tinham plano de saúde e a consulta tinha sido rápida, mas ia fazer um almoço rápido.
Quando os primeiros alunos chegaram, já estava com tudo pronto e pode dar sua aula com calma.
Quando terminou, ligou para a mãe e falou:
- A Regina teve febre muito alta e levei ela ao pediatra.
- O que ele tem?
- Está com infecção de garganta, mas já estou dando o antibiótico que ele passou. Mas, deixei a Telma tomando conta dos meninos pra ir lá e o Ronaldo esteve aqui.
- O que foi desta vez?
- Deixou recado pra mim que vai pedir a guarda das crianças e dar para a mãe dele cuidar, pra não ter que pagar a pensão.
- Sob que alegação?
- Vai dizer que não pode sobreviver com a metade do salário.
- Ele pensa que um juiz tira filhos pequenos da mãe porque o pai não quer dar a pensão? Fica sossegada que ele não vai conseguir nada. Teria que provar que você não tem condições de dar assistência aos seus filhos.
- Eu sei. Ainda ameaçou a Telma de se ver com ele, se ela testemunhar a meu favor nesse caso.
- Você escutou isso?
- Não. Estava na rua com a Regina, mas ele falou alto e muitos vizinhos ouviram. Ela vai dar queixa dele na polícia.
- Ela faz bem. Ele está extrapolando. Já passou das medidas há muito tempo.
- Ela acha que ele fez isso pra me amedrontar e não vai entrar com ação nenhuma. A minha sogra só viu o Rogério na maternidade e os outros dois, ela nem conhece. Não deve estar sabendo disso.
- Pode ser. Mas de qualquer maneira, fica de sobreaviso. Ele já te pegou de surpresa uma vez, fazendo as malas escondido.
- Eu sei. Mas a mãe não tem nenhum amor pelas crianças. Não vai querer cuidar. Isso é coisa da cabeça dele.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Claro, mãe.
- Enquanto ele esteve em casa, ele dava o dinheiro direito para as despesas.?
- Cada vez, dava menos. Na certa, gastava com a outra.
- Ele me surpreendeu. Não pensei que fosse capaz disso.
- Agora já passou. Mas abrir mão dos direitos dos meus filhos, eu não vou. Ele que se vire.
- Você está certa. Mesmo porque, o juiz não aceita que você renuncie a pensão deles.
- É. Vai ver ele quer que eu receba e devolva na mão dele.
- Ele que espere por isso. Não vou nem comentar com o teu pai. Ele já está com raiva dele.
- É melhor. Agora vou ter que desligar para dar almoço as crianças. Vem passar o sábado aqui comigo.
- Vou falar com o teu pai e depois te dou a resposta. Mas devemos ir sim. Dá um beijo neles por mim e outro pra você.
- Beijos.