Capítulo VIII

1238 Words
Depois do almoço, Rosângela limpou a cozinha e foi arrumar o material para as aulas da tarde. Estava com uma turma pela manhã e duas a tarde. Estava gostando de ensinar em casa. Ganhava muito mais do que se estivesse trabalhando no colégio e podia ficar com os filhos o dia inteiro. As crianças lhe respeitavam e eram bem disciplinadas. Melhor do que as turmas que havia pego quando trabalhava fora. Os pais estavam gostando muito de ver que eles estavam aprendendo com facilidade e todos tinham melhorado as notas. Arrumou tudo e sentou um pouco para relaxar. Os filhos costumavam dormir depois do almoço. Na primeira aula da tarde, eles estavam sempre dormindo e na segunda, sentavam comportados assistindo televisão depois de fazerem um lanche. Rosângela sabia que podia ficar sossegada a respeito da ameaça de Ronaldo. A mãe dele, era uma mulher muito fútil e não ia querer perder a liberdade tomando conta de crianças que nem conhecia. Deu a segunda aula da tarde e depois que as crianças saíram, a campanha tornou a tocar. Novamente, Ronaldo estava no portão. Perguntou: - O que você está fazendo aqui? Não tenho tempo para bate-papo. Estou com uma criança doente em casa. Falou sem sair de dentro de casa para obrigar ele a gritar e todos os vizinhos ouvirem. - Essa mulher que estava aqui de manhã, falou que não ia te dar o recado e voltei pra te avisar. Vou requerer a guarda das crianças para acabar com essa história de pensão. - Eu já falei, se você acha que tem algum direito, entra na justiça. Eu só vou fazer o que for ordem judicial. - Você não acha melhor a gente entrar num acordo, sem ter que ficar diante de um juiz? - O acordo que você quer é que eu sustente os nossos filhos sozinha e eu não vou abrir mão dos direitos deles. - Eu vou tirar eles de você e dar pra minha mãe cuidar. - Se você conseguir, eu vou ter que acatar. Mas você sabe que a sua mãe, nem conhece as crianças. Não estou acreditando que ela esteja disposta a cuidar deles. - Você está enganada. Ela quer sim. Depois que meu pai morreu, ela se sente muito sozinha. - Então tenta na justiça. A guarda de filhos pequenos é sempre da mãe. Só se você provar que eu não cuido direito, é que tem chances de tirar eles de mim. - Hoje mesmo cheguei aqui e você tinha deixado os meninos sozinhos. - Sozinhos, não. Deixei uma pessoa de confiança olhando eles para levar a Regina ao pediatra porque estava com febre alta. - A sua pessoa de confiança, me desacatou. - Você ameaçou ela. - É a palavra dela contra a minha. - Faz o que você quiser. O que o juiz deliberar, eu acato. Agora, tenho mais o que fazer. Fechou a porta e deixou ele na calçada. Teve a certeza, que ele só queria amedrontar. Entrou, respirou fundo e foi ver se estava tudo bem com as crianças. A febre de Regina tinha cedido e ficou aliviada. Ainda não era hora de dar remédio a ela. Foi para a cozinha e começou a preparar a janta. Reforçou a sopinha de Regina, rezando para que ela comesse. A menina não estava aceitando muito bem a comida de sal. Talvez devido a infecção a garganta doesse e por isso estava engolindo com mais facilidade os alimentos doces e frios. Foi na despensa e pegou três caixinhas de gelatina de sabores variados e preparou. Encheu diversos copos com o doce e pôs na geladeira. Não ia dar para ficar pronto naquele dia, mas no seguinte as crianças teriam uma sobremesa nutritiva. Na hora de dar a sopinha para Regina, deixou ficar um pouco mais fria que o normal, e talvez por isso, a menina engoliu com mais facilidade. Deu a janta dos outros dois e tentou comer um pouco, mas estava sem apetite e o estômago estava embrulhado. Os aborrecimentos do dia, tinham lhe tirado a fome. Forçou um pouquinho e quando viu que não consegui comer mais nada, levantou e começou a juntar a louça para lavar. Os dias seguintes não tiveram novidades. Regina já tinha tomado o remédio por três dias e a febre não tinha voltado. A menina já estava se alimentando normalmente. Chegou o sábado e Rosângela levantou cedo. Seus pais vinham passar o dia com eles. Estava um dia muito quente, e Rosângela resolveu fazer um salpicão. Separou o que ia usar no preparo e colocou o frango para descongelar. Resolvido isso, foi preparar o café das crianças. Regina ainda ia tomar o antibiótico por uns dias e tinha que estar bem alimentada antes do remédio. As crianças acordaram e foi colocar o café da manhã deles. Pegou a mamadeira de Regina e colocou o café com leite que tinha preparado. Fez uma papinha de pão e levou até o quarto para alimentar a menina. Quando terminou, era a hora exata de dar o remédio. Depois de ter cuidado das crianças, começou o preparo do almoço. Tinha que fazer cedo, para dar tempo de gelar. Tocaram a campainha e seus pais estavam chegando. Conversaram um pouco, evitando o assunto de Ronaldo, para que o pai não ouvisse. Os avós foram brincar com as crianças e Rosângela foi dar uma geral na casa. Tudo era mantido muito limpo, apesar do número de crianças que estavam ali. Logo, tudo estava pronto. Já estava na hora de dar a comida de Regina de novo. As crianças estavam fazendo muito barulho com as brincadeiras com os avós. Mesmo na saleta de brinquedos, o barulho se espalhava pela casa. Até seus pais, falavam muito alto quando estavam brincando com os netos. Pensou que tinha sido melhor a separação. Os filhos não tinham o direito nem de brincar como gostavam, quando o pai estava em casa. Aliás, há muito tempo que Ronaldo se esquivava dos filhos e dela. O romance dele com a outra, devia ser coisa antiga. Mas pelo visto, agora que estavam debaixo do mesmo teto, é que ele realmente estava conhecendo a mulher. Homem nenhum que não seja rico, escolhe para mulher, uma que goste de tanto luxo. Infelizmente, tudo indicava, que esse relacionamento estada fadado a acabar. Ele tinha posto a vida que levava fora, e ia acabar ficando sem ninguém. Uma coisa era certa, a responsabilidade da pensão das crianças, ela não abriria mão. Ele que tivesse lembrado dos filhos, antes de se envolver em uma relação que custava tão caro. Não era porque estava ganhando bem com suas aulas, que iria assumir essa responsabilidade sozinha. Rita chegou na cozinha e perguntou se ela precisava de alguma ajuda. Rosângela respondeu: - Está tudo pronto e a Regina já comeu. - Então é melhor, todo mundo comer logo. Assim você pode descansar um pouco. - Está na hora mesmo, mas não chamei porque vocês estavam se divertindo tanto. - O barulho incomodou você? - Eu não me incomodo com barulho de alegria. Me incomoda muito mais o silêncio de desprezo que tinha nessa casa até pouco tempo. - Ainda dói muito, né? - Não. Estamos muito melhor sem ele. As crianças não podiam nem falar, agora podem brincar a vontade. Rita chamou os netos e o marido e sentaram para comer. De tarde, enquanto as crianças dormiam, foi que Rosângela sentou para conversar com os pais.
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