Capítulo V

1249 Words
Assim que a enfermeira saiu da delegacia, Ronaldo foi solto. As crianças também tinham feito exame e o resultado demoraria uns dias para ficar pronto. Rosângela estava indignada com a atitude dele. Colocar sua moral em dúvida, na frente de várias pessoas tinha sido um golpe muito baixo. Ela não estava preparada para passar por aquela humilhação. Sérgio queria tomar satisfações com o ex genro, mas Rita impediu porque tinha certeza que acabaria em pancadaria. Se Ronaldo não respeitou nem o juiz, não iria respeitar ele também. Ronaldo procurou saber o que aconteceria se pedisse demissão e foi informado que seria preso de novo. p*******o de pensão alimentícia para crianças, era sagrado. Ele tinha obrigação de sustentar os filhos. Rosângela estava ganhando muito bem com suas aulas particulares e pensou até em abrir mão desse direito. Mas o juiz não aceitou e ele teve que continuar pagando. Quando saiu o resultado dos exames, o juiz chamou eles de novo para serem abertos na presença de todos. O resultado confirmou a paternidade e Ronaldo teve que engolir a raiva. As coisas não estavam indo muito bem pra ele. A nova mulher, gostava de luxo e com o desconto da pensão, ele não estava conseguindo levar a vida luxuosa que ela pretendia ter. Estava arrependido de ter se separado. Rosângela sempre foi uma boa esposa. Se contentava com o que lhe desse. Essa queria roupas caras, passeios todos os fins de semana e fartura na mesa. Mas Ronaldo tinha certeza que Rosângela não aceitaria uma volta dele. Tinha errado e agora a conta estava sendo muito cara. Tinha ficado sabendo que ela estava trabalhando em casa e tinha uma grande quantidade de alunos. Resolveu pedir pra ela dar baixa na pensão. Foi até a casa dela e pediu: - Posso ver as crianças? - Poder pode, mas não é isso que você quer. Lá no fórum você nem olhou pra elas. - Estava com raiva. Essa pensão está me tirando a metade do meu salário. Quem trabalha sou eu e só fico com a metade. Não está dando para viver com isso. Eu sei que você está com muitos alunos e não precisa do meu dinheiro. - Então foi pra isso que você veio aqui? Precisar eu não preciso, mas é um direito das crianças. São seus filhos e você tem obrigação de sustentar. - Você está fazendo isso por vingança. Eu não tenho culpa de ter me apaixonado por outra. - Eu estou fazendo o que é do meu direito fazer. Você saiu de casa um dia depois de receber o seu salário e não se preocupou nem em deixar o dinheiro do pão do café da manhã das crianças. Eles têm o direito de receber pensão e você tem obrigação de pagar. - Mas as coisas não andam bem pra mim. Minha mulher está acostumada com luxo e só com a metade do meu salário não está dando. - Manda ela trabalhar também. Não foi isso que você me mandou fazer? Ela é nova e pode trabalhar. - Tá vendo como é vingança. Ela não é como você. Gosta de vestir roupas caras, passear todos os finais de semana e comida fina na mesa. Se eu continuar a pagar pensão, vou acabar perdendo a mulher. - Arruma outro emprego e bota ela pra trabalhar também. E não esquece de avisar a ela pra não ter filhos porque você não gosta de crianças. Aqui até a risada deles te irritava. Quer saber, eu não perdi nada com a nossa separação. Ganhei a liberdade dos meus filhos dentro da casa deles. Eram obrigados a brincar sussurrando e ficar trancados na saleta. Agora podem usufruir da casa toda. - Ainda tem isso. Nós ganhamos essa casa de presente de casamento. Ela é minha também. - Eu ganhei a casa de presente, antes do casamento. Aqui você não tem nenhum direito. Só obrigações que você vai cumprir ou vai ser preso. - Você não acha que já se vingou o bastante? Você tem muitos alunos e não precisa do meu dinheiro. - Vai reclamar na justiça. Se o juiz decidir que porque eu estou ganhando relativamente bem, você não tem obrigação de sustentar seus filhos, ele corta a pensão e eu vou ter que acatar. Mas abrir mão dos direitos deles eu não vou. Manda a tua mulher trabalhar que trabalho não mata ninguém. E se era só isso, pode ir embora agora. Daqui há pouco uma turma de alunos vai chegar e tenho que me preparar. Ronaldo nem respondeu. Virou as costas e foi embora. Rosângela entrou em casa e se serviu de um copo de água com açúcar. Estava tremendo de tanta raiva. O barulho da campainha lhe chamou a atenção. Ainda era cedo para os alunos. Será que ele tinha voltado? Foi ver quem era e separou com Telma parada no portão. Ela entrou até a varanda e perguntou: - Está tudo bem? Vi o Ronaldo aqui e pareceu que vocês estavam discutindo. - Veio querendo que eu dê baixa na pensão. Soube que eu estou com muitos alunos e posso sustentar meus filhos sozinha. A mulher dele gosta de luxo e o dinheiro não está dando. - Que desaforo! Você não está pensando em fazer isso, né? - Claro que não. Falei pra ele pedir na justiça. Se o Juiz achar que ele tem razão, eu acato. Mas só com ordem judicial. - Ele não vai conseguir nada. Pensão alimentícia é um direito dos filhos menores. Mas você está bem? - Estava tremendo de raiva, mas o pouco que conversamos me acalmou. Quero te agradecer por ter me arranjado tantos alunos. Tenho muitos agora e realmente estou ficando bem financeiramente. - Isso é porque você sabe ensinar. Algumas mães já me ligaram para agradecer a indicação. Seus filhos melhoraram muito na escola. - Mas de qualquer maneira, foi você quem me indicou. Obrigada. - Você tirou o NIT? - Tirei e comprei o carnê. Já vou começar a pagar esse mês. Se eu tiver alguma dúvida no preenchimento, você me ajuda? - Ajudo. Quer fazer isso agora? - Agora vai ficar corrido. Tem uma turma pra chegar pra aula daqui há pouco. É melhor deixar pra depois e fazer com calma. - Se você quiser, me chama depois da aula. Vou indo. - Obrigada por se preocupar comigo. - Qualquer coisa, é só chamar. Telma saiu e Rosângela foi se arrumar para esperar seus alunos. Logo começaram a chegar e ela se entregou ao trabalho deixando de lado a visita de Ronaldo. Mas depois que o último aluno saiu, ligou para a mãe para desabafar: - Você acredita que veio aqui pedir pra eu abrir mão da pensão porque a mulher dele gosta de luxo e o dinheiro não está dando? - É ser muito cafajeste. Se ela gosta de luxo tem que arrumar alguém com dinheiro e sem filhos. - Nem viu as crianças. - Talvez seja melhor assim. As crianças são pequenas e vão acabar esquecendo. É melhor do que ficar sentindo saudades. - Talvez você tenha razão. Mas são filhos dele e pelo visto ele não tem nenhum amor por eles. - Realmente parece que não. Mas a gente dá bastante amor e carinho pra compensar. Posso ir aí no sábado com seu pai? - E precisa perguntar? Vem pra passar o dia comigo. Vou fazer aquela lasanha que todo mundo gosta. - A sobremesa, eu levo. - Te espero então no sábado. Beijo. - Beijo.
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