Capítulo IV

1232 Words
Rita deixou Rosângela com as crianças em casa e foi pra casa dela. Assim que entrou, Sergio perguntou: - Como foi? Conseguiram falar com um advogado? - Conseguimos e ela já vai começar a receber no mês que vem. Por um ano vai receber cinquenta por cento do salário dele, depois cai pra pouco mais de trinta e sete por cento, porque ela perde o direito de pensão pra ela. Só as crianças que vão receber. - O problema é que as crianças são muito pequenas. Se ela tiver que pagar alguém pra tomar conta dos filhos, não vai valer a pena trabalhar. - A advogada deu a idéia de dar aulas de reforço em casa. Ela é professora formada. - Mas é uma coisa incerta. - Nem tanto. Sempre tem gente procurando explicadora. - E nas férias? Tem praticamente três meses de férias por ano. - Te garanto que ela vai saber dividir o que ganhar para dar para o ano todo e depois a gente pode ajudar. - E você acha que ela vai nos dizer se precisar de alguma coisa? - Nós temos que estar por perto e ver como ela está se virando. Por um ano, podemos ficar sossegados. Te garanto que ele não dava a metade do salário para as despesas. - Disso eu tenho certeza. A maior parte gastava nas farras. - Além de tudo, era muito dissimulado. Eu nunca desconfiei de nada. - Ela também não. Nós erramos em ter consentido que ela se casasse tão inexperiente. Só teve ele de namorado. E agora parece que ele ainda tem dúvidas sobre a paternidade das crianças. - Como é que é? - Fala das crianças como se fossem filhos apenas dela. - Nunca imaginei que fosse tão baixo. Isso é pra fugir da responsabilidade. Mas vai ter que arcar. - Será que é melhor a gente pegar alguma coisa que ele tenha esquecido de levar e fazer o exame logo? - Não. Podem botar em dúvida o resultado. Vamos esperar pra ver se ele tem coragem de falar isso perante a justiça. Se ele falar, o juiz pede o exame e tem que ser feito no laboratório que ele indicar. Aí não vai ter como ter dúvida nenhuma. - Então o jeito é esperar. Na casa de Rosângela, o ambiente estava mais calmo. Pediu a uma vizinha pra dar uma olhadinha nas crianças e foi na papelaria comprar um quadro para anunciar que iria dar aulas de reforço. A vizinha perguntou: - Vai voltar a trabalhar? - Tenho que voltar. O Ronaldo saiu de casa para morar com outra mulher e só as crianças têm direito a pensão. - É, as leis mudaram. - Durante um ano, eu vou receber, mas depois só as crianças. - Ainda bem que você tem os seus pais. Eu vi que estiveram aqui no sábado e fizeram compras. - É que ele tinha recebido o salário no dia anterior e como já tinha decidido ir embora, não me deu nada. - Que safadeza! E as crianças? - Disse que não ia sustentar duas casas. Que eu tinha que trabalhar pra sustentar meus filhos. - E não são dele também? - Parece que ele tem dúvida. - Se você precisar de testemunha no processo, pode contar comigo. Você sempre foi uma mulher direita. - Obrigada. Eu vou pendurar o quadro, mas me ajuda a divulgar. - Conta comigo. Vou falar pra todas as vizinhas que tiverem filhos na escola. - Obrigada. Vai ajudar muito. - Te garanto que logo você vai estar cheia de alunos. - Deus te ouça. Não quero voltar a depender dos meus pais. - Não é bom mesmo. Você já é independente e aceitar ajuda faz com que você tenha que voltar a obedecer. - Isso também, mas meu pai trabalhou muito para receber a aposentadoria e não é justo ficar gastando comigo. Afinal, sou uma mulher casada. - Te garanto que eles ajudam por amor a você e as crianças. - Eu sei. Mas tenho que aprender a me virar. - Vou pra casa, se precisar de alguma coisa me chama. - Obrigada. Telma, a vizinha, cumpriu o prometido. Assim que entrou em casa, ligou para diversas amigas que tinham filhos, oferecendo o serviço de Rosângela. Logo no dia seguinte, tocaram a campainha. Era uma mulher com duas crianças, que perguntou: - Você está dando aulas de reforço? - Ainda não tenho alunos, mas vou dar sim. Sou professora formada. - Meus meninos estão com dificuldades na escola. Você pode ajudar eles? - Claro. Entre por favor. Quem me indicou? - Foi a Telma. Eu nem sabia que tinha uma professora aqui perto. - É que quando casei, parei de trabalhar, mas agora que voltei a ficar sozinha, tenho que me sustentar. - Ficou viúva? - Não. Foi morar com outra. - E você ficou sozinha com três crianças pequenas? - Eles vão receber pensão. Eu é que não tenho direito porque sou nova ainda. - Posso te dar um conselho? - Claro. - Paga autonomia. A mocidade passa e você vai ficar velha um dia. Assim, se aposenta também. - Vou procurar saber como funciona. - Você tem que tirar um NIT no instituto e comprar o carnê. É muito fácil. - Obrigada. Vou fazer isso assim que puder. Conversaram e combinaram o preço das aulas. Combinaram que os meninos viriam todos os dias depois da escola e ela ajudaria com os deveres de casa. Assim eles iriam aprender mais fácil. A mulher foi embora e Rosângela comemorou. Já tinha seus primeiros dois alunos. Logo apareceu mais gente procurando e rapidamente, Rosângela estava com mais de vinte alunos de idades variadas. Procurou combinar as aulas para cada grupo da mesma idade e série. O mês passou rápido e sempre apareciam novos alunos. Os que melhoraram na escola, indicavam Rosângela para os colegas de turma, e muitos vinham a procura de entender a matéria. O dinheiro da primeira pensão caiu na sua conta. Pelo visto, Ronaldo tinha desistido de pedir demissão. Logo deveria ter a audiência de conciliação. Estava nervosa, Ronaldo não tinha procurado ver as crianças nenhuma vez. No dia marcado, seus pais lhe acompanharam para ajudar a olhar as crianças. Ronaldo chegou, e nem olhou pra eles. Dentro da sala, durante a audiência, falou: - Porque eu tenho que sustentar essas crianças se não tenho certeza que são minhas? O juiz perguntou: - A sua esposa cometeu adultério? - Não sei. Trabalho o dia inteiro e não tenho tempo para vigiar. - Mas encontrou tempo para arranjar outra mulher e deixar a sua esposa com seus filhos, que só não passaram fome porque os avós, pais dela, ajudaram. O senhor vai fazer o exame de DNA e as crianças também. - Eu não vou fazer exame nenhum. - O senhor está me desacatando. Vai fazer o exame porque eu estou ordenando. O senhor sabe muito bem que os filhos são seus e vai continuar a sustentar eles sim. - Eu vou pedir demissão e trabalhar sem carteira assinada. - O senhor está preso! - O senhor não pode fazer isso! - Estou fazendo. Ronaldo saiu da sala algemado. Foi levado para a delegacia próxima e no dia seguinte, uma enfermeira foi tirar seu sangue para o exame. Ele tentou impedir, mas diante da ordem judicial, dois policiais seguraram ele e o material foi colhido.
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