Capítulo III

1207 Words
Pediram para Rosângela fazer uma lista do que costumava comprar e foram para o supermercado. Rosângela só havia colocado itens de extrema necessidade. Os pais compraram tudo que constava ali e acrescentaram outras coisas que acharam necessário. Sergio pagou as compras com cartão e parou no caixa eletrônico que havia ali e retirou mais algum dinheiro para deixar com a filha. Voltaram para a casa de Rosângela, que logo percebeu que tinha muitas coisas além do que tinha colocado na lista e agradeceu: - Obrigada. Eu não coloquei essas coisas, porque são guloseimas. - As crianças vão pedir. - Infelizmente, eles vão ter que aprender a passar sem. Só de vez em quando é que vou poder comprar. - Não quero que meus netos passem falta de nada. O que você não puder comprar eu completo. - Obrigada, papai, mas não é justo. Os filhos não são seus. - Mas são meus netos. E não quero discussão. - Não estou discutindo com você. Só estou falando que agora a situação mudou e eles vão ter que viver de outra forma. - Não passando dificuldade. Isso eu não vou tolerar. - Passar dificuldade pra mim, é passar fome. E não é disso que eu estou falando. Me refiro aos doces, geleias e chocolates. - Eles gostam e eu vou comprar pra eles. - Faz o que achar melhor. Eu só posso agradecer. Rita aconselhou: - Coloca em lugar alto e só dá depois das refeições. - E isso mesmo que vou fazer. Segunda-feira você vem pra ir comigo no advogado? - As oito estarei aqui e vamos levar as crianças. - Não era melhor eles ficarem com alguém? - Vendo as crianças eles resolvem mais rápido. - Então tá. As oito estaremos todos prontos. Sergio e Rita voltaram pra casa e deixaram Rosângela, que estava mais calma, sozinha com as crianças. Rogério perguntou: - Porque o papai foi embora? - Porque escolheu outra mulher pra morar. - Porquê? Ele não gosta mais da gente? A vontade de Rosângela foi de responder que ele nunca gostou, mas conseguiu se conter e respondeu: - Não é de vocês. Ele não gosta mais de mim. - Porquê? - Ninguém manda no coração. Quando você crescer, você vai entender. Agora vai brincar que a mamãe tem que arrumar essas compras e depois fazer a comida. Rosângela não queria que os filhos ficassem com raiva do pai, apesar de desconfiar que ele nem procuraria mais por eles. Há muito tempo que ele evitava ver os filhos, mas tinha certeza que seu pai seria presença constante ali na sua casa. Ficou pensando no que fazer para arranjar dinheiro para o seu sustento. Não queria depender dos pais de novo. Afinal era uma mulher casada e eles não tinham mais obrigações com ela. Pensou o dia todo e no seguinte também, sem encontrar solução. Na segunda-feira, levantou cedo e arrumou os filhos para irem na Defensoria Pública, dar entrada no pedido de pensão. Foram atendidas por uma advogada jovem ainda, que determinou o prazo de um ano para ela receber pensão e depois somente os filhos continuariam a ter o direito, até completarem a maioridade. Ficou estabelecido que Ronaldo teria que dar cinquenta por cento de seu ordenado, a princípio. Depois de um ano, cairia para trinta e sete, setenta e cinco por cento. Rosângela falou: - Ele disse que se eu pedisse pensão, ele pediria demissão. Que não ia trabalhar para sustentar duas casas. A advogada respondeu: - Ele tem obrigação de sustentar a senhora por um ano, até a senhora arranjar emprego e aos filhos até se tornarem maiores. Se ele pedir demissão vai ser preso. Quem abandonou a casa foi ele e devia ter pensado nisso antes. Se o dinheiro da pensão não chegar na sua conta, volta aqui para nos comunicar. - Esse mês, ele recebeu um dia antes de sair de casa e não me deixou nenhum dinheiro para as despesas. Foram meus pais que fizeram as compras e me deram algum para alguma coisa que falte. - Infelizmente não temos como fazer ele dar um dinheiro que já está com ele, mas a partir do mês que vem, vai ser descontado em folha. Graças a Deus, a senhora tem seus pais para lhe ajudar. - Como posso arrumar emprego com três crianças tão pequenas? Meus pais moram longe e não tem como deixar com eles. - Quanto a isso, não podemos fazer nada. A senhora é professora formada. Tenta dar aulas de reforço em casa. Assim pode olhar as crianças e trabalhar ao mesmo tempo. - Doutora, a senhora é uma santa. Quebrei a cabeça por dois dias e não encontrei solução. A senhora logo encontrou. - Você está muito nervosa e isso impede de encontrar saída. Quem está de fora, pensa melhor. - É isso mesmo que vou fazer. Trabalhar em casa. Muito Obrigada. Saíram para a rua e Rita comentou: - Viu como é rápido quando tem crianças envolvidas? - É rápido mesmo. No próximo mês já estarei recebendo. - Se precisar de mais dinheiro esse mês, você liga pra gente. Seu pai está com medo que você não fale se faltar alguma coisa. - Vou procurar fazer as coisas darem para o mês todo. Ainda tenho o dinheiro que ele deixou comigo. O Ronaldo nem se preocupou se os filhos iam passar fome. - Na certa ele imaginou que eu e seu pai iríamos te socorrer. Não acredito que tenha mudado a ponto de não se importar se os filhos iriam passar fome. - É que você não viu como ele estava agindo ultimamente. Nem perguntava mais por eles. Entrava e saía sem se preocupar nem de dar uma olhada pra disfarçar. Não sei porquê mas que ele não gosta das crianças é um fato. Até o Rogério me perguntou porquê o pai não gostava mais de nós. - Isso é muito r**m para a cabeça de uma criança. Nesse caso foi melhor ele ter ido embora. Vai doer menos nas crianças. - Acostumadas com a ausência dele, eles já estão. Tem meses que não vêem a cara do pai. - Como as coisas chegaram nesse ponto? - Pior é que eu não sei. Ele foi ficando muito irritado com qualquer barulho que eles faziam e passou a chegar cada vez mais tarde em casa. Começou a se esquivar dos meus carinhos e nem perguntava pelos filhos, que eu colocava pra brincar na saleta que arrumei pra eles. Qualquer coisa que eles falassem ou se rissem, ele ficava de cara f**a e ia pra rua. - Você me disse que ele tinha esfriado com você, mas não me contou que ele também estava se afastando das crianças. - Eu pensei que ele estivesse com algum problema no trabalho e por isso estava tão irritado. Mas quando se referiu as crianças como se fossem só meus, foi que eu percebi que ele não gosta deles. - Será que ele tem alguma dúvida quanto a paternidade? - Se tiver é só fazer o DNA. Eu não tenho dúvida nenhuma. Foi meu primeiro e único namorado. Nunca me envolvi com outra pessoa. - Mas parece que ele não acredita nisso. - O problema é dele. Minha consciência está tranquila.
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