Capítulo IV

2119 Words
Capítulo IVSasha Dmitriev: Aquela noite foi silenciosa e eu estranhei não ouvir as risadas de Benjamin ou os passos silenciosos de Bella assaltando a geladeira durante as madrugadas, mas, não foi possível dormir, afinal eu estava realmente curiosa para saber o que aconteceria naquela manhã. A equipe que Nalla mandou me deixou extremamente assustada, já que eles eram interesseiros demais e eu tive que inventar as desculpas mais mirabolantes para aturar eles durante todo aquele dia, meu cabelo tinha ganhado um corte mais moderno, tirado todas aquelas pontas queimadas e o resto das luzes que eu tinha sido f*****a a fazer a alguns anos para mudar o visual, minhas unhas ganharam um esmalte nude, tão diferente dos habituais vermelhos que Louis me obrigava a usar, já que ele gostava de coisas vistosas. Eles depilaram todo o meu corpo e fizeram uma maquiagem suave, deixando o meu rosto a muito tempo cadavérico mais próximo de uma pessoa saudável. Algumas roupas foram colocadas no closet do quarto que eu ocupava e eles me deixaram escolher o que eu gostaria de usar. Escolhi um macacão amarelo que realçaria o tom pálido da minha pele e os meus cabelos escuros e não mostraria as minhas pernas cheias de cicatrizes e calcei uma sandália com saltos baixo que o estilista disse que era a última tendência no verão novaiorquino e como eu não queria desapontar ninguém segui o seu conselho. Quando eles se foram, eu sentei-me na sala de estar enquanto tomava um chá e esperava pelo tal noivo que Nalla tinha me arrumado. — Você pode servir o chá no jardim Eugenia. – Pedi quando ela perguntou onde eu iria receber a minha visita. — Está um dia bonito e eu estou cansada de ficar o tempo todo trancada dentro dessa casa. Leve o senhor Griffin ao meu encontro quando ele chegar e depois nos deixe a sós, precisamos ter uma conversa em particular. Ela concordou e eu coloquei a minha xicara sobre a mesa e saí sentindo o sol forte o vento refrescante tocar a minha pele, sentei-me embaixo da cobertura do jardim e cruzei as minhas pernas e fechei os olhos, esperando que aquela conversa fosse amena. Passos fizeram com que eu abrisse os meus olhos e prestasse atenção no senhor Griffin, ele era muito diferente do que eu poderia imaginar, era um homem na faixa dos 35 anos, cabelos loiros e belos olhos verdes a cara fechada já era esperada e não me assustada, eu tinha passado anos encarando Louis, então por mais que ele fosse c***l, nunca chegaria ao pés do d***o de Chicago. Ele era alto e atlético, pra ser sincera ele era bem gostoso e tinha uma boca que deixaria qualquer mulher com inveja e a barba por fazer o deixava extremamente sexy e eu preferiria um velho caquético, assim eu não teria esse tipo de pensamento impróprio. — Senhor Griffin, por favor, sente-se. – Pedi quando ele se aproximou da mesa. — Eugenia fez um banquete, espero que esteja do seu gosto, eu realmente não sou uma fã da culinária italiana, espero que você seja, assim não iremos desperdiçar tanta comida. Nalla informou-me que você tinha algumas regras antes de concordar com o casamento, estou curiosa para saber quais são. Por favor sirva-se. — Você é muito mais educada do que eu imaginava. – Confessou ele fazendo com que eu sorrisse. — Mas, a sua ficha é mais suja do que qualquer um dos meus sodados mais rebeldes, uma traidora, fiquei espantado quando a sua irmã veio me propor um acordo, isso não estava nos meus planos, mas, a sua irmã está sendo muito generosa e devo lhe confessar que ninguém deve negar um pedido a Nalla Marino, não se quiser continuar fazendo negócios em Nova York ou em qualquer lugar nesse país. — Minha irmã não é uma mulher de quem você quer ser inimigo. – Concordei cruzando os meus braços. — Então vamos aos termos desse acordo de casamento, o senhor parece ser um homem compromissado e eu não quero gastar o seu precioso tempo. — Primeira e mais importante regra, isso vai ser apenas um casamento de aparências. – Avisou ele encarando-me curiosamente, ele estava esperando que eu fizesse um escândalo porque ele não queria dormir comigo, eu estava quase o agradecendo por aquilo, mas, mantive a minha expressão neutra, afinal eu tinha sido educada para ser uma boa esposa. — Você precisa de um marido que lhe dê o status de uma primeira-dama da máfia, assim ninguém poderá colocar as mãos em você e eu preciso de uma esposa para continuar no meu posto de chefe da família. Espero que não crie confusão por conta disso. — Você acha que eu irei jogar-me aos seus pés e pedir para que me coma? – Perguntei arqueando uma sobrancelha debochadamente, Nalla realmente tinha me arrumado um neandertal que pensava que porque tinha um rosto bonito todas as mulheres da face da terra iriam querer acabar na sua cama. — Não se preocupe senhor Griffin, estou de acordo com a sua primeira regra, não me importo com quantas amantes você tenha, não me importo onde passa as noites e principalmente não quero que se apaixone por mim. Não sou uma princesa de contos de fadas, não se o que Nalla lhe falou, mas, nem ela realmente me conhece depois de todos esses anos separadas. A única coisa que é realmente importante é você me manter viva e segura, além disso eu não quero ter nenhum tipo de contato com o senhor, já que você foi muito bem pago para cumprir essa fácil tarefa. Por favor, continue, pois, você está me deixando entediada e eu não quero ser má educada e lhe deixar falando sozinho. — Não se preocupe, eu não tenho a mínima intenção de me apaixonar por você, a única mulher que eu verdadeiramente amei está morta e o meu coração foi enterrado com ela. – Bradou ele enfurecido, acho que eu tinha cutucado o seu ego. — Segunda regra, eu tenho três filhos, então é melhor você gostar de crianças, pois, eu me livrarei de você se fizer qualquer coisa contra eles. — Eu gosto de crianças. – Informei sorrindo, pelo menos eu não iria ser um enfeite em uma mansão enorme e como eu não podia mais ter filhos, conviver com os dele me faria com que eu tivesse pelo menos uma oportunidade de parecer com uma mãe. — Então, você não precisa se preocupar com isso. Mais alguma regra arbitraria? — Você n******e se relacionar com mais nenhum homem enquanto estivermos casados. Eu não serei considerado um desonrado por sua causa. – Avisou ele aproximando-se perigosamente e aquilo me assustou, eu não gostava de ser encurralada por pessoas do s**o oposto, aquilo fazia com que eu me lembrasse de Louis e isso poderia acarretar um ataque de pânico. — Você não é confiável sendo uma traidora, então terá muito o que lutar para conseguir o reconhecimento das pessoas a sua volta e eu não irei deixar com que brinque com a minha honra e nós irlandeses a apreciamos com fervor. — Não tem com o que se preocupar, eu não gosto de homens. – Falei levantando-me e vendo os seus olhos me inspecionarem atentamente, acho que ele estava imaginando que eu era homossexual, eu apenas não sentia atração por nenhum gênero desde que tinha sido abusada, torturada e humilhada por tantos anos, por isso aquelas regras pareciam um sonho, eu nunca teria contato com ele ou com qualquer outra pessoa. — Nem de mulheres se é isso que está se passando pela sua cabeça. Por favor, me mande um dossiê com os gostos dos seus filhos, eu realmente quero me dar bem com eles e cometer uma gafe no nosso primeiro encontro não seria bom para nós. — Você as conhecerá está noite, quero que tenham algum contato antes do casamento que acontecerá no final da semana. – Informou ele levantando-se. — Gael tem 16 anos é um bom garoto, mas, desde que a mãe morreu ele se tornou um rebelde e só me dá problemas, então tenha um pouco de cuidado com ele, não me responsabilizo pelas suas ações antes de nos casarmos e ele irá infernizar a sua vida. Aisha tem 11 anos é uma garotinha doce e meiga e precisa de uma presença feminina na sua vida, principalmente nesse fase que está saindo da infância e começando a transição para a adolescência, ela gosta de ler e de animais estranhos, então espero que você não seja como as babás deles que tem medo de qualquer coisa. Kylian é o caçula, tem apenas 5 anos e com certeza você o conquistará se lhe oferecer um chocolate, mas, não faça isso ou ele ficará elétrico por horas, de todos ele era mais apegado a mãe e pode entranhar a sua presença em casa, por mais que já faça três anos da morte da minha esposa. — Obrigado pelas informações. – Agradeci cruzando os meus braços e vendo-o passar por mim. — Deixe o seu endereço com os seguranças, assim eu conseguiria chegar na sua casa com segurança e você não precisa preocupar-se comigo, eles são mais fiéis que cachorros de madame. — Às oito, não se atrase. – Mandou-o sumindo das minhas vistas e fazendo com que eu desabasse na cadeira. — E chame-me de Thor está noite, não queremos que os meus filhos pensem que a madrasta dele não sabe o nome do futuro marido, isso bagunçaria a cabecinha deles. Três crianças, eu tinha que conquistar três crianças que tinham perdido a mãe e deveriam odiar a todas as mulheres que o pai levava para casa, eu não os culpava, pois, depois de tantos anos eu ainda sentia saudades de nana e não ficaria nem um pouco feliz se minha mãe voltasse a se casar e eu já era uma mulher feita. Nalla tinha me jogado em uma família formada e eu teria que me adaptar a uma realidade muito diferente da que eu estava acostumada. — Ele tem três filhos, Eugenia. – Contei vasculhando as roupas que Nalla tinha me mandado, eles pareciam muito com a antiga Sasha e ela saberia o que usar em um jantar como aquilo. Mas, eu tinha me acostumado com o jeans surrado e as blusas maiores que o meu número, assim não retratava o meu corpo, nem as minhas cicatrizes que ninguém deveria vê-las. — Preciso de algo elegante, discreto e confortável, não posso parecer uma pirua maluca, são apenas crianças conhecendo pela primeira vez uma mulher que agora vai fazer partes das suas vidas. — O que acha desse? – Perguntou ela tirando um dos vestido do cabide e fazendo com que eu o encarasse, era uma linda peça, não mostraria os meus braços por conta das mangas 3/4, era também era mid, então eu ficaria muito confortável, pois, não tinha nenhuma f***a ou racha que mostraria as minhas pernas e ele era todo rendado em um tom de cinza que não me deixaria apagada. — Tenho certeza de que ficará perfeito na senhorita, tem um corpo esbelto e o vestido lhe cairá muito bem. — Obrigado. – Agradeci tirando o vestido das suas mãos. — Você pode ir agora Eugenia e tire a noite de folga, não irei precisar dos seus serviços, apenas peça para que os soldados que me escoltaram até a casa do senhor Griffin tire o carro e me espere, eu estarei pronta dentro de meia hora e nós poderemos ir. Ela saiu e eu sentei-me na frente da penteadeira, fazia tantos anos que eu não usava um pincel de maquiagem que as minhas mãos tremeram quando eu comecei a organizar tudo sobre a pequena bancada, em cada etapa eu me sentia mais confiante, parecia que eu tinha voltado ao meu quarto cor de rosa, onde eu era protegida por todos e precisava apenas me preocupar com a minha aparência, eu era a Sasha educada e elegante que estava sempre com um sorriso delicado no rosto e pronta para acatar as ordem. O vestido caiu como uma luva, marcando a minha cintura fina e destacando o meu corpo curvilíneo e eu não me senti bem quando me encarei no espelho. A maquiagem era delicada, o vestido lindo, o sapato elegante, os cabelos presos em um coque frouxo que destacava a minha beleza aristocrática e singular. Aquela mulher refletida no espelho parecia a antiga eu, a moça cheia de sonhos que se entregou ao seu primeiro amor e esse foi o maior erro da sua vida, pois, agora restava apenas a casca vazia e um coração de gelo despedaçado que não podia ser concertado por ninguém.
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