3- Leão

2291 Words
Leão narrando: Acredito que a vida é uma caixa de surpresas, você nunca sabe o que vai acontecer e o que você vai ganhar, então vivo cada dia, um após o outro tentando fazer o meu melhor, mas eu não sou perfeito. Meu nome é Leonardo, mas o meu vulgo é Leão, Seu Dono do Morro da Rocinha, e pai de Dominique. Vou contar um pouco sobre a minha história, sou cria do Morro, nasci e fui criado nas ruas daqui, os meus pais eram dois drogados, trocava tudo por drogas, até um pouco alimento que tinha em casa. E você está se perguntando como eu sobrevivi, vou te dizer agora! O Morro da Rocinha sempre foi o meu lar, foi criado nas ruas pelos moradores, quando eles me viam vagando pela rua, me colocavam em suas casas, me alimentava e me davam roupas quentes, ou até mesmo um teto para dormir sem dor de cabeça, sem meus pais brigando um com o outro, para ver quem que ia arrumar um pouco de droga. Meus pais não ficaram muito tempo vivos, o vício deles acabou com tudo. Começaram a fazer dívida na boca, e não trabalhavam para pagar, até que o dono na época derrubou nossa casa, querendo o seu dinheiro, eles disseram que não tinham nada para oferecer, mas que poderiam fazer um acordo, um punhado de droga, todas as dívidas pagas, em troca eles me daria para o Dono do Morro como p*******o. Lembro até hoje o dono do Morro, "Xau", ele ficou muito pu.to com os meus pais, começou a bater neles sem parar, mandou levar eles para salinha, ele apenas me olhou com dó antes de sair da minha casa pediu para o vapor me levar para o seu barraco. Juro que fiquei morrendo de medo, foi o dia mais aterrorizante da minha vida, eu não sabia o que ia ser de mim, eu já estava com 7 anos na época, frequentava a escola, pois lá eu me sentia seguro e tinha comida. Quando eu cheguei na casa de Xau, a mãe dele estava sentada no sofá, os vapores me deixaram na porta, informando as ordens dele, a mãe dele me olhou de cima a baixo, chegou até a porta e me abraçou, me levou para a cozinha e começou a fazer um lanche, o medo passou, respirei fundo de alívio, não era uma bruxa, e nenhuma mulher má. Naquele dia a Xau chegou em casa à noite, eu estava no sofá com a mãe dele, ela já tinha me dado um banho e colocado roupas limpas em mim, ele se aproximou e me olhou bem nos olhos, nunca vou esquecer de suas palavras. _ Moleque, você tem que aprender que na vida precisamos abrir mão de tudo que nos faz m*l, os seus pais queriam a sua morte, então eu salvei a sua vida hoje, tirando a vida deles, seja grato por isso, e faça valer a pena o meu esforço. _ palavras de Xau. Fui crescendo ao lado de Xau, ele foi me ensinando tudo que eu precisava, após muitos anos, aprendi a ser um homem de verdade, ele me ensinou a ter respeito, ser justo, e cuidar do Morro, dar o meu melhor, para que um dia eu pudesse ter o melhor. Quando eu tinha 24 anos, Xau se aposentou, pegou a sua mãe e se mudou para longe, com a sua pequena Fortuna, me deixou na frente do Morro, e me disse que um dia voltaria para ver o homem que eu me tornei. Depois de 4 anos assumindo o morro, conheci uma bela patricinha, ela subiu para o morro para aproveitar o baile, era a mulher mais linda que eu tinha visto em toda minha vida, me apaixonei por ela, e ela fo.deu a minha vida. Prometi-lhe o mundo, dava tudo que ela me pedia, e muito mais, dinheiro, ouro, bailes, tudo, até o meu coração. A família da Patricinha sempre foi contra o nosso relacionamento, então ela cansou da falta de noção deles, se mudou para o meu barraco comigo, a antiga casa de Xau. Quando ela se mudou para o morro, tudo acabou, ela mudou sua personalidade da água para o vinho, andava com uma piriguete do Morro, vivia quase semi nua, chamando atenção de outros homens, e me fazendo pirar de ciúmes, até o dia que ela me contou que estava grávida. Proibi ela de ficar saindo, apenas poderia me acompanhar quando eu pedisse, ela passou quase nove meses, trancada em casa, com apenas algumas visitas de suas amigas. Minha maior preocupação Não era nem tanto ela, e sim o bebê que ela carregava, ela pegou muita apreciação por coisas ruins, e eu queria um bebê saudável. Quando ela teve Dominique, foi o dia mais feliz da minha vida, liguei para Xau e contei que era pai, ele ficou com maior orgulho de mim. Liberei minha patricinha para poder fazer as suas coisas, agora que Dominique nasceu, tudo seria mais tranquilo. O tempo foi passando rápido, Dominique foi crescendo, mas ele não era como as outras crianças, eu via o meu filho, e ficava perdido. Chamava meu filho querendo brincar, ele não me olhava, tentava lhe abraçar, ele corria, na hora do banho então, sempre foi uma tortura, ele chorava muito. Me desesperei, e disse para minha patricinha que ela precisava buscar ajuda, nosso filho precisava fazer exames para saber o que tinha! Acompanhei ela na visitas dos médicos, paguei o melhor para o meu filho, foi aí que veio o choque, a fi.ta era pior do que eu pensava. Eu nunca tinha ouvido falar do " Autismo". Pensei que era uma doença, e que meu filho teria cura, depois o médico começou a explicar melhor, o autismo é um espectro e não uma doença, o meu filho nasceu assim. Os médicos não souberam explicar o porquê aconteceu, apenas podiam ajudar ele, com algumas terapias, condutas, e mudanças de rotina. Minha vida mudou de cabeça para baixo, a minha patricinha, em vez de ficar ao meu lado e cuidar do nosso moleque, ela se mandou, voltou para casa dos seus pais, disse que o filho não era dela, que ela não queria criar um deficiente, o menino com parafuso a menos. Aquelas palavras me destruíram, nunca pensei que ela pudesse falar isso do nosso moleque, ela foi embora sem olhar para trás, comecei a me dedicar a cuidar do meu filho, contratei uma senhora para ficar com ele, Dona Lurdes, ela foi um anjo na minha vida. Começou a levar Dom para as terapias, assim que começamos a chamar ele, pois ele gostava mais do que Dominique. Liguei para Xau e contei tudo que tinha acontecido, ele apenas me deu um conselho: " Deus nunca dá um fardo que não possamos carregar, continue na fé irmão, tudo vai dar certo". Dessa vez nem as palavras de Xau conseguiu refazer os pedaços do meu coração, o amor da minha vida foi embora, quando eu mais precisei dela, ela me abandonou junto com o nosso filho, como se não fossemos Nada, então a minha conclusão foi, ela nunca me amou, ela só amava tudo que eu dava-lhe. Quando o Dom pegou o seu diagnóstico de autismo ele tinha apenas 3 anos, hoje ele tem 5 anos, com toda terapia, e todo o acompanhamento médico ele se desenvolveu bastante, a maior dificuldade dele ainda continua sendo a fala, mas o meu filho é muito inteligente. Sei que um dia ele vai poder fazer as suas coisas sem minha ajuda, é para isso que eu luto, é isso que eu desejo de todo o coração para o meu moleque. Dona Lurdes ficou doente, então tive que arrumar uma outra pessoa para cuidar de Dom, não conseguia arrumar ninguém de confiança no morro, então contratei uma profissional no asfalto, ela subia todos os dias para minha casa, e cuidava de Dom, aproveitando e fazendo suas terapias. Pelo menos até que a senhora Lurdes se recupere, pois uma mulher que nem ela não existe, Dom adora a companhia dela, e sente muita a falta da senhora Lurdes. A pior notícia chegou, quando a sobrinha de Dona Lurdes foi até a boca, me avisou que a tia dela morreu no hospital com parada cardíaca, e que ela nunca mais iria voltar para o morro, eu me acabei na tristeza, a dor dominou o meu peito. Fui para casa, hoje era dia de baile, geralmente eu não ia, depois da Patricinha, não queria saber mais de mulher no meu pé, quando estava necessitado, contratava uma prostituta, passava a noite com ela, pagava, e depois nunca mais havia, essa era a vida que estou levando. Mas hoje o meu sub do Morro me convenceu a ir para o baile, esquecer tudo que está acontecendo, apenas uma noite de liberdade, eu concordei com ele, meu sub do morro é o meu melhor amigo, quando ele me dá um conselho, tenho que seguir. Ele sempre taca na minha cara que ele me avisou que a patricinha era furada, e eu fui contra ele, olha onde tudo terminou... Passei a noite toda no baile, a madrugada bebendo e fuden.do as pira.nhas, acho que essa noite foram cinco... Quando finalmente eu cheguei no meu barraco, subi as escadas até o segundo andar, passei rapidamente no quarto de Dom, ele estava na cama dormindo, fechei a porta e fui para o meu quarto, caindo na cama e entrando em coma. Mais tarde do mesmo dia... Acordei na parte da tarde, olhei para o relógio estava quase escurecendo, me levantei e sentei na beirada da cama, sentindo a enxaqueca chegar, a ressaca vai ser brava. Arrastei-me até o banheiro, tomei um banho bem quente, percebi que o tempo esfriou, saí do chuveiro, já fui até o meu armário, sempre deixo o remédio aqui. Tomei o remédio para dor de cabeça, depois um copo d'água, sai e me troquei, hora de resolver as coisas, peguei meu celular e coloquei no bolso, nem olhei as notificações, primeiro precisa ver o meu moleque, ele deve estar ansioso, ficou o dia inteiro sem me ver. Fui até o quarto de Dom, ele não estava em sua cama, desci para o primeiro andar, a enfermeira estava na cozinha com o celular na mão. Olhei em volta e não encontrei Dom! _ Onde está o meu filho? _ ela me olhou assustada, arregalando os olhos e largando o celular na mesa. _ Senhor Leão, o seu filho não estava com você na boca? Pensei que não Dom estava com você! _ ela me disse assustada... Comecei a sentir a raiva subir, o que essa pu.ta tá falando, deixei o meu filho sobre a responsabilidade dela, agora tá falando que meu filho sumiu? _ Você está se fazendo de louca né? Onde está o meu filho, eu não vi ele hoje, cheguei quase de manhã cedo e estava dormindo, você está me falando que perdeu o meu filho? Para quê que eu tô te pagando sua pu.ta? _ disse com raiva, ela ficou em silêncio... Peguei o meu celular para mandar mensagem para o sub do Morro, mandar os moleques ir atrás do meu filho, quando vi a tela cheia de ligações, dois números diferentes, tinha mais de 100 ligações do primeiro número, e 30 ligações do segundo. O meu celular tem dois chips, o primeiro é para os negócios, o segundo é pessoal, apenas Dom tem esse número no pingente que dei para ele de identificação. Quando eu vi que o número vinha do segundo chip, meu coração acelerou, alguma coisa aconteceu com meu filho! Entrei em contato com o segundo número, era ligação de um hospital, Dom tinha dado entrada, com uma mulher, ele estava com um corte profundo na cabeça, e com sinais de maus tratos. Não podia discutir com a enfermeira de Dominique, peguei a minha arma coloquei na cintura, e chamei meus vapores, mandei entrar na minha casa e levar a enfermeira para salinha, foi até a boca com a moto correndo, cheguei lá chamei o meu sub do Morro para pegar o seu carro, que íamos até o asfalto. Ele correu sem fazer pergunta, no caminho expliquei a ele o que tinha acontecido, ele me olhou pálido, como se soubesse que iria dar mer.da. Enquanto estávamos chegando no hospital, pedi para os vapores identificar quem foi que levou meu filho do Morro, ninguém soube falar, ninguém viu o Dom saindo com ninguém, aquilo me deixou com mais raiva ainda, como alguém sai com meu filho e ninguém vê? Cheguei no hospital, o primeiro andar, na recepção indicou onde ficava o quarto do meu filho, peguei o elevador e subi, cheguei lá já fui perguntando onde estava o meu moleque, meu coração estava quebrado, Dom é a única coisa verdadeira que eu tenho na minha vida, é por ele que eu luto todos os dias... O médico me indicou onde ele estava, quando ele abriu a porta, meu coração acelerou mais, vi uma linda mulher segurando meu filho, era impossível não perceber a sua beleza! Tirei o foco dela e concentrei no meu filho, que estava em seu colo, puxei a arma da minha cintura e fui perguntar, que po.rra ela tá fazendo com meu filho? _ Você, o que está fazendo com meu moleque? O que fez com meu filho? _ perguntei com raiva para ela, apontando minha arma. _ Ei, aqui não, o que é isso? _ médico me disse entrando na frente da minha arma. _ Sai da frente! Se não, vai levar um tiro, tô perguntando para ela e não para você. Afinal de contas ela tá segurando meu moleque e não você. _ falei para o médico com uma pu.ta raiva...
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