02- Jade e Dom...

1565 Words
Jade Narrando: Depois que vi Dom me senti inspirada a dar o meu olhar, era incrível ver o jeito que ele reagiu ao som do meu Violino. Durante três semanas subi todos os dias até lá, Dom já estava me esperando, ele sempre sorria quando me via, eu comecei a levar uma bolsa térmica com uns lanchinhos para comermos. Tentei falar com Dom, mas ele sempre estava focado em outra coisa, não olhava direto para mim, apenas quando eu tocava a música que ele focava. Ontem, quando vi Dom, percebi que ele estava com um cordão em seu pescoço de ouro, na frente tinha um pingente de quebra cabeça, atrás o nome dele Dominique, um número de celular, escrito autista. Foi aí que minha ficha caiu, Dom é autista, agora tudo se encaixou, já tive contatos com alguns autistas em SP no centro de música, mas nunca conheci ninguém como Dom, sei que cada um é único e tem o seu jeito. Hoje resolvi levar algo para Dom, um presente, como percebi que ele gosta de minhas músicas, passei todas para um pendrive, Dom é muito inteligente, vou ensinar ele a colocar na Tv ou no som e ouvir as músicas quando ele estiver ansioso, acho que isso pode acalmar ele. Passei a noite fazendo isso, quando fui dormir o dia estava quase clareando, mas estava frio hoje, dormi apenas três horas, acordei com a minha avó me chamando. Levantei correndo, coloquei minha roupa quente, peguei as minhas coisas, e a bolsa térmica que minha avó já havia preparado e corri para encontrar Dom. Quando cheguei lá, fiquei desanimada, Dom não estava como todos os dias, olhei em volta procurando ele, e nada de encontrar, fiquei sentada na escada esperando, depois de uma hora, eu vejo Dom, ele estava subindo as escadas com o rosto vermelho, e um corte na testa, ele está sem roupa de frio, apenas de shorts e camisa, e a cabeça sangrando muito corri até ele preocupada. _ Dom, o que foi? O que aconteceu? Foi a primeira vez que ele olhou em meu olhos, correu e me abraçou, começou a chorar... Coloquei a bolsa na cintura, violino nas costa, peguei Dom no colo e corri para casa da minha avó. Quando eu cheguei lá, minha avó não estava, tinha apenas um bilhete. Bilhete: Fui até o asfalto, preciso comprar algumas coisas e ver uma amiga, volto a noite... Beijos... _ Agora vó, pelo amor de Deus... Peguei Dom no colo, eu não sabia o que tinha acontecido com ele, se ele caiu, ou alguém bateu nele, levei ele até o meu quarto, coloquei uma blusa de frio minha nele, como era grande foi até os pés dele. Peguei o que achei e fiz um curativo para tentar parar o sangue, e deu certo. Dom continuava chorando, ele estava batendo a cabeça no sofá, e tentando falar algo, mas não entendia... _ Lê... Lea.... Leão.... _ Dom estava tentando falar... _ Dom, quer Leão? Que isso? Um bichinho? Dom consegui me falar como se machucou? Dom não falava nada, fui até o meu guarda-roupa, peguei outra blusa de frio, coloquei na minha bolsa, junto com meia e luva. Corri para sala, peguei ele no colo, pesquisei no meu celular o hospital mais próximo, vi que no morro tem um posto de saúde. Eles vão poder me ajudar, peguei minha bolsa e corri até o endereço com Dom no colo, quando cheguei no postinho, vi que não era o que pensava, o lugar não tinha condições de atender Dom. No caminho Dom tinha se acalmado, e peguei no sono no meu colo, coloquei a toca nele para não pegar a friagem, olhei em volta e vi um rapaz de moto com placa táxi. Achei estranho, mas serve, pedi para ele me levar ao hospital, ele não perguntou nada, quando viu que estava com uma criança ele apenas obedeceu... Subi na moto com Dom, colocando ele virado para mim, e segurando na cintura do homem com força, chegamos no hospital em vinte minutos mais ou menos. Entrei na sala de emergência, e pedi ajuda. Um médico corri até mim. _ O que podemos ajudar? _ ele perguntou... _ Esse Dom, ele está ferido, a cabeça está com um corte profundo, ajudem por favor. Ele é autista, não me falou o que aconteceu! O médico correu para o pegar Dom de meu colo, ele tirou a faixa e viu o corte. _ Bom trabalho estancando o sangue... Vamos levar ele para o raio-x agora! O médico disse para enfermeira. Fui até acompanhando Dom, liguei para o número que estava no colar de Dom, mas apenas chamava e ninguém atendia... Perdi a conta de quantas vezes eu liguei, acho que deve ter umas cem ligações para o número, e nada de atender... O médico me chamou até a sua sala, eu estava com Dom no colo. _ Vamos dar uns pontos em Dom, não foi nada grave, apenas um corte profundo. Gostaria de saber o que aconteceu com ele, pois está com marca de tapas no rosto. O médico era novo, devia ser alguns anos mais velho que eu, estava me olhando com olhos de acusação... _ Pode parar, eu não teria coragem de bater nunca em uma criança, não importa quem seja! _ Disse me defendendo... _ Então me diga o que ouve! _ médico perguntou ansioso... _ Ta aí, algo que eu gostaria de saber, Dom não é meu filho, ele é morador da comunidade onde estou, vejo ele todos os dias quando vou tocar, ele sempre me acompanha, hoje ele demorou a chegar, quando apareceu estava assim. Ele não fala, não sei o que aconteceu, só sei que ele estava com medo, muito medo! _ Eu disse olhando para Dom no meu colo. _ Então não é parente dele, sabe onde estão os pais? _ médico me perguntou confuso... _ Não, só esse número, estou ligando desde que peguei Dom, mas ninguém atendeu... Peguei meu celular e mostrei o número para o médico, ele anotou e chamou a enfermeira, ela entrou na sala. _ Liguei para esse número, e chamem o responsável por Dominique, diga onde estamos, que eles tem que vir buscar ele com documentos, se não vamos chamar a polícia. Olhei para o médico surpresa... _ Sério isso? Polícia? Não vou fugir com ele, como disse apenas o conheço... _ Falei com raiva... _ Eu sei, desculpe, mas são os procedimentos, sua sorte que veio a um hospital particular, se fosse outro não ia atender sem documentos, vamos aproveitar que ele está dormindo e fazer anestesia para os pontos. O médico acordou Dom, foi super simpático com ele, Dom começou a chorar com medo. _ Não fique assim Dom, olha vamos ouvir música. _ Coloquei minha música no celular, quando começou a tocar, Dom se acalmou e parou de chorar, o médico conseguiu dar os pontos nele sem trabalho. _ Muito bem rapaz, foi forte, aposto que ama essa música né? _ Dom sorriu pela primeira vez depois de tudo. _ Pode me trazer alguma coisa alta limpar esse sangue dele? _ Perguntei ao médico. _ Melhor, naquele porta tem o meu chuveiro, pode dar um banho nele. _ Médico disse sorrindo. _ Confia em mim para isso? Ou vai chamar à polícia? _ Disse com ironia. _ Vou chamar a enfermeira, ela poderá te ajudar... _ ele disse desconfiado! _ Ok. _ Fiquei brava com esse médico! Deixei a música tocar, dei um banho rápido em Dom, a enfermeira me trouxe uma toalha e uma cueca nova, peguei a minha blusa de frio na bolsa que estava limpa e coloquei em Dom, às meias pretas e a luva. Ele se sentiu tão quentinho que deitou no meu colo e dormiu... Fiquei na sala com ele esperando, até sua família chegar, se passaram algumas horas, já estava quase a noite. Quando ouvi alguém gritando no corredor... _ Dom? Onde está o meu filho? _ Cade ele? Quem pegou ele? Vou matar o filho da pu.ta. Senti um gelo passar pelo meu corpo, mer.da, quem é esse? Se for o pai de Dom, deve ter sido ele quem o machucou, para estar agindo assim como louco. _ Calma senhor, o seu filho está bem, dormindo agora, mas precisamos conversar sobre o modo que ele chegou! _ o médico disse. _ Você está louco? Cadê meu filho, primeiro vem ele, depois o seu papo. _ homem gritou de novo. _ Ok, venha comigo! _ Ouvi os passos se aproximando do quarto, meu coração estava acelerado, meu Deus, que não seja um monstro, sou pequena para lutar com alguém nessa situação! A porta foi aberta, vejo um homem alto, forte entrar, ele era lindo, os cabelos castanhos, com os olhos verdes, mesmo no frio, ele estava de camiseta regata, calças de moletom, mostrando todos os seus músculos, e as tatuagens que deixava seus braços mais perfeitos. _ Eita! Dom, seu pai é um Deus grego? _ disse abaixo para ninguém ouvir... _ Você, o que está fazendo com meu moleque? O que fez com meu filho? _ Naquele momento os olhos do homem mudaram de cor para azuis, ele puxou uma arma de sua cintura, fazendo o médico gritar. _ Ei, aqui não, o que é isso? _ médico disse... Na minha cabeça eu só estava pensando em uma coisa, onde me meti?
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