Capítulo Nove

1303 Words
As crianças da família DaLair eram um tópico comum de discussão em todos os níveis da empresa. Muitos se gabavam de terem conhecido eles em diversas ocasiões. Aparentemente era considerado uma honra cuidar das crianças sempre que visitavam o escritório, e qualquer pessoa encarregada de providenciar lanches e atender suas necessidades rapidamente se tornava objeto de inveja e admiração. Como o novo assistente recém-contratado de Julius, essa responsabilidade recaiu sobre Marcus. Dado que suas únicas experiências com crianças eram as companheiras de brincadeiras aprovadas antecipadamente por sua mãe, Marcus foi pego de surpresa quando conheceu as crianças DaLair pela primeira vez. Os gêmeos eram bastante respeitáveis, especialmente Caden que era mais reservado, mas o casal mais novo era cheio de energia e não se seguraria na hora de fazer travessuras. Seja jogando xadrez com Caden, aprendendo francês com Aria, brincando de hacky sack com Coda ou colorindo ao lado de Lyra, nunca era monótono. Marcus logo descobriu por que tantas pessoas estavam fascinadas pelo quarteto. De certa forma, parecia que estava revivendo sua própria infância, e entreter as crianças se tornou sua responsabilidade favorita. Despretensiosamente, Marcus colocou a mão no bolso para pegar o saquinho de feijão do hacky sack que Coda havia lhe dado como presente de despedida. As crianças tinham ficado tristes quando descobriram que seu estágio estava terminando e que ele iria embora. Cada uma delas fez com que ele prometesse não esquecê-las. Aria e Coda, em particular, insistiram que ele não esqueceria as coisas que havia aprendido. Marcus apertou o pequeno saco cheio de feijão e sorriu. Esquecer não era uma opção. Se não fosse pelo acordo com seu avô, ele teria ficado em Paris por tempo indeterminado. "Abraham, o avô está em casa?", Marcus perguntou repentinamente. "Não, senhor. Infelizmente, ele teve alguns assuntos para resolver, mas mandou dizer que irá vê-lo em sua festa de boas-vindas em casa." Marcus assentiu. Ele estava desapontado, mas estava tudo bem. Julius havia enviado relatórios de progresso, então ele estava certo de que seu avô estava bem ciente de tudo o que aconteceu durante sua estadia em Paris. Ele teria algumas horas para relaxar antes que seu avô o confrontasse sobre se tornar seu sucessor. Marcus ainda tinha suas dúvidas, mas depois de observar como Julius equilibrava sua vida, ele começou a entender o meio-termo que seu avô falava. A duas horas de carro até a cidade, Abraham chegou à propriedade da família Avery. Marcus a encarou como se fosse um antigo inimigo, mas surpreendentemente não sentiu nenhuma conexão emocional com ela. Ele sempre a achou repulsiva devido à rígida criação de sua mãe, mas agora não sentia nada. Talvez tivesse amadurecido um pouco. Abraham abriu a porta para que ele saísse. Marcus deu um suspiro. Não parecia um lar. Depois de passar um tempo com Julius e sua família, Marcus aprendeu como um lar pode ser acolhedor e amigável, mas não sentia nada disso agora. "Algum problema, Sr. Marcus?" "Não", suspirou Marcus. "Só é estranho estar em casa, só isso." "Claro, senhor", assentiu Abraham. "Eu vou juntar suas coisas." Marcus assentiu e seguiu para dentro, tentando afastar seu humor pensativo. Dentro, encontrou a equipe em movimento, se preparando para sua chegada e para a festa mencionada por Abraham. Ele acenou para aqueles que o notaram, mas não interrompeu suas atividades. "Marcus! Você está em casa!" Ele se virou quando sua mãe se aproximou. Cybil era uma mulher severa, acostumada a ser obedecida e a esperar nada menos que a perfeição. Havia várias pessoas entre a equipe com medo dela, pois era conhecida por descontar salários quando suas exigências não eram cumpridas. Seu cabelo, que antes era castanho-avermelhado, perdia o brilho com a idade, embora ninguém tivesse coragem de dizer isso a ela. Como de costume, estava preso em um coque, destacando seu rosto angular e nariz pontiagudo. Suas roupas eram o típico conjunto de calça de alto padrão que ele se lembrava. Parecia que algumas coisas nunca mudavam. Ele a via menos como mãe e mais como uma diretora, embora fosse o único filho presente. Antes de conhecer Macey, ele assumia que todas as mães eram iguais, mas estava errado. Macey DaLair era um ser humano caloroso e gentil, que cuidava de seus filhos com zelo e atenção. Ela era firme, mas não severa quando se tratava de disciplina, e seus esforços eram evidentes pela forma animada e extrovertida como suas crianças eram. Pode ter sido errado, mas ele não pôde deixar de sentir inveja das crianças DaLair pela infância segura e feliz que elas desfrutavam. "Olá, mãe", cumprimentou Marcus. "É só isso que você tem a dizer? Eu esperava um cumprimento mais caloroso. Não nos vemos há cinco anos!" Marcus tentou conter um engasgo. Ele não fazia ideia do porquê sua mãe esperava um cumprimento diferente, já que nunca houve calor entre eles.  "Eu tenho muito o que reclamar com o tal Augustus e o filho dele. Certamente ele poderia ter te dado dias de folga em vez de te fazer trabalhar como um cão e nem permitir que você voltasse para casa para visitar." Marcus teve cuidado para manter uma expressão neutra. Sua mãe não ousaria confrontar nenhum deles de fato, e quanto a não retornar aos Estados Unidos, aquela havia sido sua própria ideia. Ele usou suas férias para viajar, conhecendo diferentes cantos da Europa com a sugestão de Macey para ampliar seus horizontes. As crianças frequentemente o ajudavam a planejar suas viagens, às vezes debatendo durante dias sobre qual seria o melhor destino. Ele não tinha pensado sobre sua casa nenhuma vez durante esse tempo e surpreendentemente também não tinha sentido vontade de beber. Sem os estresses de casa, ele não se agarrou à garrafa como costumava. Talvez ele tenha simplesmente superado isso?             "Bom, vovô me mandou lá para aprender, então..." "Ainda não consigo acreditar que esse velho foi pelas minhas costas e te mandou embora assim. Vou falar com ele, acredite."             Marcus mais uma vez manteve sua expressão neutra. Ele duvidava muito que sua mãe cumprisse tal ameaça. Ela podia criticar seu avô, mas nunca o desafiaria abertamente. Enquanto ele fosse o patriarca da família, sua palavra era lei unilateral, então ela iria segui-la.             "Bom, de qualquer forma, você está em casa novamente e isso é o que importa", disse Cybil. "Elizabeth tem esperado por você. Você realmente deveria ter ligado para ela."             Marcus lutou para esconder a repulsa de seu rosto. Ele entendia o desprezo de seu avô pela favorita de sua mãe. Ela era fria e displicente com os funcionários e falava sobre o futuro deles como se estivesse escrito em pedra. Na verdade, ela era exatamente como sua mãe, então talvez seja aí que realmente residisse seu desgosto por ela.             "Bom, então, vá para o seu quarto e tome um banho. A festa não começa por mais algumas horas."             "Certo.", Marcus assentiu e imediatamente se virou grato por finalmente ser dispensado.             Ao chegar em seu quarto, ele imediatamente se dirigiu à cômoda. Lá pegou uma jarra cheia de uísque e serviu-se um copo. Bebendo lentamente, ele fez uma careta. Durante cinco anos, m*l havia tocado em álcool. Por uma vez, ele apreciava acordar sem ressacas e dores de cabeça paralisantes. Sua mente estava livre de sua neblina usual e o sol não torturava seus olhos.             Franzindo a testa, ele olhou para o líquido âmbar em sua mão. Não havia nem cinco minutos em casa e já tinha pegado um copo. Colocando-o de volta, ele se sentou em sua cama. Abrindo a gaveta da mesa de cabeceira, ele retirou seu único conteúdo: um casaco cor de vinho.             Esfregando o tecido entre os dedos, ele novamente se questionou sobre a mulher misteriosa. Quem era ela? Para onde ela foi? Será que ela ainda pensava nele como ele pensava nela? Eles se encontrariam novamente algum dia?
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