Seu avô não estava errado sobre o desafio, mas também não era o que ele esperava. Ao se apresentar para o trabalho no escritório DaLair Paris, ele passou por uma orientação como qualquer outro estagiário. Ao contrário de muitos estágios nos Estados Unidos, aqui ele receberia o mesmo salário que um funcionário iniciante. Ele teria as mesmas férias, bem como acesso ao pacote de benefícios da empresa.
Embora seja uma empresa americana, ela adere aos padrões europeus em relação à duração das férias e licenças, incluindo a licença-maternidade. Além disso, a empresa oferece licenças estendidas que facilmente dobram e, no caso da licença-maternidade, triplicam o tempo disponível. A licença-maternidade também é oferecida não apenas para as mães, mas também para os pais. De acordo com o treinador, até o CEO, Julius DaLair, usou quando sua filha nasceu, então eles não deveriam ter vergonha de fazer tais pedidos.
Na verdade, seu treinador passou uma boa parte do tempo elogiando seu ilustre chefe. Parecia que Julius DaLair causava uma grande impressão em seus subordinados, recebendo elogios e lealdade. Entre a personalidade implacável de DaLair e esses elogios, Marcus não tinha certeza do que esperar quando finalmente conhecesse o infame Julius DaLair. No entanto, sua primeira atribuição como assistente pessoal de Julius superou todas as suas expectativas.
"O que é isso?", Julius perguntou, olhando para o arquivo fino que lhe fora entregue.
"É o relatório sobre a proposta Otthild que você pediu", Marcus disse com um suspiro entediado.
Por duas semanas, ele tinha sido instruído nas tarefas mundanas de aprender o sistema de computador da empresa e as operações gerais. Uma vez que os outros ficaram sabendo da posição para a qual Marcus havia sido contratado, eles respondiam geralmente com olhares de espanto, admiração ou inveja. Um ou dois olhavam para ele com pena, e eventualmente ele descobriu o motivo.
Embora Julius fosse muito amado por seus subordinados, também havia um entendimento tácito de que ele era um mestre de tarefas rigoroso de se agradar. Esta era a primeira atribuição que exigia que Marcus se reportasse diretamente a Julius. Abrindo o arquivo, ele percorreu o conteúdo com uma carranca.
"É conciso, fácil de ler e... inútil", Julius suspirou fechando-o. "Você gastou mais de dez minutos nisso?"
"Vinte", Marcus hesitou.
"Você acha que pode fazer melhor com quarenta?"
"Não tenho certeza qual é o problema. Você pediu uma análise da proposta. Eu listei todos os prós e contras, bem como os lucros projetados."
"E quanto a Otthild? O que você descobriu sobre ele?"
"Otthild? Eu não entendo."
"Otthild, a pessoa. Quem ele é? Quais são suas aspirações? Onde ele estudou? Qual foi sua especialização? Ele é um bebedor? Ele tem uma família?"
"Por que isso importa?"
"É uma pergunta sobre motivação e foco. Otthild não é a única proposta que estou considerando. Eu tenho pelo menos outras cinco muito parecidas. Preciso saber qual é o melhor investimento."
"Mas isso não deveria se resumir à quantia que estão pedindo?", Marcus perguntou. Se as propostas fossem parecidas, então se resumiria a quem estava pedindo mais dinheiro e aos lucros potenciais.
"Trata-se de ponderar riscos e recompensas", Julius disse: "Se duas propostas forem similares, mas uma pessoa já tiver um laboratório enquanto a outra não tem e, portanto, precisa de um fundo inicial maior, qual delas você investiria?"
"A primeira?"
"E se a pessoa A for conhecida por beber muito?"
Marcus hesitou. Isso realmente importava?
"Pode levar mais tempo para a pessoa B começar porque ela precisa construir sua infraestrutura, mas se ela for apaixonada e focada, ela obterá resultados melhores e mais rapidamente do que a primeira, que passa a maior parte do tempo na cachaça. Entende?"
Marcus fez uma careta com a comparação, mas reconheceu o que Julius estava tentando explicar. Era muito mais arriscado investir na primeira pessoa se ela fosse pouco confiável.
"Além disso, muitas startups procuram por múltiplos investidores para dividir o ônus financeiro. Mas mais investidores significam mais pessoas querendo resultados e esperando lucro, o que pode levar a conflitos de interesses: muitos cozinheiros na cozinha. Se o investimento parecer bom, talvez eu queira oferecer mais para manter afastados esses outros cozinheiros."
Marcus nem tinha considerado essa opção. Enquanto ele refletia sobre isso, Julius pegou um arquivo espesso em sua mesa e o colocou ao lado do arquivo que Marcus lhe tinha dado. "Quando eu peço por informações, isso é o que eu espero."
Marcus aceitou com um pouco de apreensão e leu cuidadosamente. Era a proposta Otthild. Havia muito pouca informação sobre a própria proposta. Em vez disso, detalhava sua educação, família, mentores, bem como há quanto tempo ele estava no comando de seus próprios escritórios. Havia até mesmo uma cópia da dissertação de faculdade de Otthild, que parecia focar no mesmo problema da proposta.
"Já tinha pesquisado sobre isso?"
"Claro. Era muito importante para deixar para um estagiário. Isto era um teste para ver como você se saia. Tinha de saber."
Marcus revirou os olhos. Estava irritado por ter sido pedido para fazer algo que Julius claramente tratava sozinho. Qual era o objetivo de desperdiçar o seu tempo?
Em voz alta, ele disse: "Ambos sabemos por que estou aqui..."
"Correção, eu sei por que o teu avô te enviou aqui, mas isso não me diz realmente nada sobre ti", disse Julius: "Nunca tive um assistente pessoal. Tive dez que se candidataram para o cargo e nenhum deles durou um mês. Devo ser fácil contigo porque não quer estar aqui quando eles realmente queriam o emprego?"
"Não vou matar-me por um emprego."
"E eu to te pedindo isso? Todas essas informações demoraram-me cerca de duas horas a compilar." Julius acenou com a pasta.
Marcus olhou para ele, duvidoso.
"Aqui, este é o meu planeador. Dá uma olhada." Julius atirou-lhe um livro de datas. "Diz ai o que ta vendo.”
Marcus suspirou, lendo as entradas semanais: "Recital do Caden, a******a da exposição da Macey, concurso de ortografia da Lyra; apresentação do coro da Aria..."
"Agora diz-me o que não vê." Desafiou Julius. A implicação era óbvia, já que não havia menção alguma a reuniões de conselho ou eventos relacionados ao trabalho. "Quando preciso marcar uma reunião, verifico isso primeiro, porque é o que é importante."
Julius levantou-se, tirou o casaco do encosto da cadeira. Enfiou-o antes de aceitar o planeador de volta. Olhou fixamente para Marcus, avaliando-o seriamente. Não havia hostilidade no seu olhar, mas Marcus ainda achava difícil encará-lo.
"Estabeleça suas prioridades e se mantém focados nelas. Nunca faças compromissos," entoou Julius. "Quase perdi as coisas mais importantes da minha vida uma vez e nunca farei isso novamente. O futuro desta empresa é importante para o futuro dos meus filhos, por isso tenho de levar a sério, mas não o colocarei acima deles. Agora tenho de ir."
"Ir? São apenas duas da tarde."
"Coda tem um jogo de futebol hoje.. Prioridades. Entenderá quando for a tua vez."
Marcus revirou os olhos. Isso nunca iria acontecer. Mas será mesmo correto o chefe simplesmente sair a meio do dia?
"Revise a proposta de Otthild novamente e certifica-te de memorizar como ele gosta do café dele. Ele estará aqui amanhã para discutir a proposta pessoalmente."
"O café dele? Por quê?"
Julius sorriu de lado, "Vai ficar surpreendido com o quanto as negociações fluem melhor quando servimos a bebida favorita exatamente como eles gostam antes mesmo deles te dizerem como querem."
Havia um brilho travesso nos olhos de Julius e era um olhar com o qual Marcus logo se tornou muito familiar. Aconteceu que Julius tinha um sentido de humor malicioso, mas isso não o impediu de levar o emprego a sério. Para a vida dele, Marcus não conseguia entender como Julius ganhou a reputação de ser um maverick, porque certamente não era.
Cada decisão empresarial era cuidadosamente ponderada, planejada e executada. Ele tinha uma personalidade amigável com seus subordinados e amigos, mas não era menos c***l e decisivo do que o seu pai e irmão.
Exceto quando se tratava dos seus filhos e esposa.