3

3560 Words
— O que ainda está fazendo aqui? Marielle não precisou de mais nada para convencer-se de que Cedric havia acabado de chegar. — Eu a convidei — Paddy foi logo acalmando-o. — Aliás, é melhor moderar seu mau humor, filho. Puxe uma cadeira e tome um licor conosco. — Eu já estava de saída — Marielle justificou-se. — Mas você nem acabou o primeiro cálice! — Paddy protestou. — Deixe-a ir, papai, talvez ela tenha algum compromisso... — Cedric sutilmente a colocava para fora. — De modo algum; não tenho compromissos. — Marielle percebera a intenção de Cedric de se livrar dela o quanto antes e ficou bastante irritada. — Acalmem-se, crianças. Vocês não pretendem estragar minha noite, não é? Filho, onde está a educação que lhe dei? Sente-se e seja gentil com a moça. Marielle, não há necessidade de ir tão já. Tenho certeza de que nós três temos muito o que conversar. — Sinto muito, Paddy. Não posso demorar mais. Deirdre está no hospital esperando por mim.  Nada a faria mudar de ideia. Nem mesmo a simpatia do velho. Queria se livrar logo daqueles problemas que não eram seus. Não havia razão para ficar ali, ouvindo desaforos. — Não vai acabar seu Amaretto? — Ela bebeu o resto de um só gole, para atender ao pedido do velho. — Obrigada por tudo — disse, estendendo a mão. — Tive muito prazer em conhecê-lo. Ê sempre bom encontrar uma pessoa amável como você. Para Cedric, Marielle não ofereceu a mão. Limitou-se a olhá-lo de frente, sem esboçar o menor sinal de intimidação. — Boa noite. — Vou acompanhá-la até a porta. — Não é necessário. Obrigada. — Quero me certificar de que não irá se perder e vai embora de verdade. Ela pensou numa resposta atravessada, todavia já não tinha forças para tolerar outra discussão. Em poucos minutos, estaria longe de Cedric e de sua insolência. — Boa noite, Paddy. E mais uma vez obrigada por sua gentileza. — Espero encontrá-la de novo, Marielle. — Eu também gostaria de revê-lo. — Falava com sinceridade.  Desde o primeiro instante, encantara-se com os modos atenciosos que ele lhe dispensara. Porém, um novo encontro não estava em seus planos; não retornaria mais àquela mansão nem que a sua própria vida dependesse deste gesto. Cedric abriu caminho para que ela deixasse a pequena sala. Ao passar por ele, sentiu-lhe o perfume agreste e, sem saber a razão, arrepiou-se. Apesar de toda antipatia, Cedric era um homem atraente e sensual. Embora um pouco magro, ele mantinha sempre as costas bem eretas, demonstrando altivez e determinação. Uma espécie de aura de poder e liderança o envolvia. Parecia ser o tipo de homem que não fugia de nenhuma situação e no entanto negava-se a assumir a responsabilidade pelas consequências de seus atos. Não era à toa que a jovem e inocente Deirdre tinha se apaixonado.  Com certeza, ele usava todo aquele charme para conquistar mulheres, ludibriá-las, enchê-las de ilusão. A quantas já não teria dado o gosto amargo da decepção? Quantas não teria engravidado e abandonara depois? Devia ser mais canalha do que supunha! Mas isso já não importava. Marielle estava saindo daquela casa e da vida de Cedric. Agora só lhe restava voltar ao hospital e contar a Deirdre o acontecido. Não seria fácil enfrentar os olhos azuis dela cheios de lágrimas de desencanto. E, por alguns segundos, a hipótese de Paddy a fez duvidar da história de Deirdre. E se ela fosse mesmo uma impostora? Contudo bastava olhar para Cedric para julgá-lo capaz de um ato tão h******l. Ele parecia sentir prazer em humilhar os outros. Não havia agido de outro modo com ela. Tratara-a como uma criminosa, uma chantagista barata. Quanta gente já não teria sofrido por causa do orgulhoso Cedric Greenleaf?  Deirdre, coitada, era a grande vítima. Dali em diante, não teria mais esperanças. Sustentaria o filho sozinha, sem ajuda. Era provável que Paddy também sofresse... Um homem tão meigo e generoso, tentando encobrir as covardias e atrocidades do filho! Refletir sobre estas coisas cortava-lhe o coração. Finalmente, Marielle chegou ao hall de entrada. Percebia que, ao acompanhar Cedric, pela primeira vez havia caminhado para o lado certo. Eles saíram da casa sem trocar uma palavra sequer. Existia uma espécie de energia negativa entre os dois, que os repelia. — É raro usarmos a porta da frente — Cedric falou de repente. — É, logo vi que recebiam poucas visitas. — Ela foi ferina no comentário. — Bem poucas — Cedric confirmou, não aceitando a provocação.  Quem se disporia a aturar aquele ambiente mórbido e pessoas tão esnobes? O destino da família só podia ser a solidão. Não podia ser de outra forma.  — Diga a Deirdre que está perdendo tempo — Cedric ameaçou, com frieza. Marielle nada respondeu. — Esse golpe é velho — ele continuou. — É impossível provar a paternidade, sabia? Por isso, muitas mulheres abusam e... — E muitos fogem da responsabilidade! — E o que me diz da parte de culpa que cabe a ela? Vocês não vivem por aí gritando por igualdade? — Não é esse o caso! — Não? Diga-me, então, como foi que ela engravidou?  Marielle parou de andar. Levantou bem a cabeça, para provar a ele que não se intimidava com facilidade. — É evidente que foi seduzida — argumentou, com a convicção brilhando nos olhos. — Ela não passa de uma criança. Não deve ter sido difícil para você enganá-la com falsas promessas ou presentes. — Você está me acusando sem provas. — Quer prova maior do que uma gravidez de oito meses? — Como você pode ter tanta certeza de que eu seja o pai? — Ora, prefiro acreditar em Deirdre, que não me deu razões para dúvidas, ao contrário de você. — A paciência de Marielle esgotou-se. Queria ir para casa, esquecer o fim do dia, cair na cama e dormir as poucas horas que lhe restavam. — Não é preciso me seguir até o carro. Desta vez, não errarei o caminho. — Oh, não! Vou acompanhá-la até que tenha partido. E é melhor que não volte. — Não tenho a menor intenção! — Estou acostumado a tipos como você e sua amiga. Sei o que pretendem. Se Cedric não fosse tão forte e agressivo, Marielle lhe estalaria um t**a na cara, porém tinha medo. As reações daquele bruto podiam ser inesperadas. Prudente, resolveu calar, ainda que se sentisse ultrajada. Tudo o que lhe interessava agora era o bem-estar de Deirdre e da criança, que chegaria ao mundo sem o carinho do pai. Cedric Greenleaf era desalmado. Pior que isso, valia-se da posição social e do dinheiro para corromper jovenzinhas, deixando-as entregues ao sofrimento e à desilusão. — Ali está meu carro. — Ela apontou para o outro lado do portão. — Pode me deixar agora. — Um Porsche novinho! Seus negócios devem andar bem. — Muitíssimo bem, obrigada — Marielle aproveitou a deixa. — Como vê, não necessito do seu dinheiro. — Dinheiro nunca é demais. Ninguém está satisfeito com o que tem. — Ele fez uma pausa. — Talvez precise de uns trocados para pagar a prestação vencida do carrinho. A ironia de Cedric era execrável. — O Porsche está completamente p**o. Centavo por centavo.  Por que não virava as costas e ia embora? Não tinha por que ficar ouvindo desaforos. — Tem certeza? — Olhou-a de cima com descrédito. Para Marielle foi o suficiente. Não toleraria mais agressões. Afinal, estava ali prestando um ato humanitário, um favor. Era injusto ser tratada daquele modo. Se ele não respeitava a mãe do filho dele que pelo menos tratasse a ela com educação. — Escute aqui, Cedric Greenleaf — começou em voz baixa, mas logo foi se impondo — seu dinheiro pode comprar carros, joias, fontes luminosas e até pessoas mas, para seu azar, não compra decência nem caráter. É isso que lhe falta, sabia? Um homem honesto, com vergonha na cara, não abandonaria uma jovem inocente como Deirdre. Isso para não falar do próprio filho. Não pensou nas consequências quando a seduziu, não é? Sabia que ninguém faria nada contra você, por medo de seu poder. Porém não esqueça que a vida dá voltas, sr. Greenleaf. Macho, qualquer animal é! Não se iluda com sua virilidade por ter engravidado Deirdre, pois o que fez foi a mais desprezível das vilanias. Espero que encontre alguém que lhe pague na mesma moeda e que não surja uma alma sequer para ajudá-lo. — Muito comovente! — Deu uma sonora, gargalhada, embora no fundo dos olhos tivesse surgido uma sombra de aborrecimento. — Sabe de uma coisa? Você deveria ter gasto seu dinheiro com aulas de boas maneiras e não num carro esporte. Esforçando-se para manter o controle, Marielle entrou no carro. Pelo menos ali, sentia-se segura. — Boa noite, Marielle Bond. — Pela primeira vez, ele sorria, mostrando seus dentes brancos e perfeitos. Mas havia maldade no sorriso, algo taciturno e sorrateiro. — Ninguém a ensinou a se despedir? Por que Cedric insistia em perturbá-la? Não percebia o quanto a magoava? Marielle tivera uma infância pobre, brincando nas ruas e nos becos. Mais tarde, começou a trabalhar para ajudar nos gastos da casa. Jamais havia tido tempo para os estudos, muito menos para as regras de etiqueta. Ela sentia-se envergonhada por não ter concluído o ginásio e por isso guardava esse fato como um segredo trancado a sete chaves. Os anos se passaram e foi aos poucos montando o seu próprio negócio até juntar algum dinheiro, o suficiente para se sustentar e ter uma vida tranquila.  Dava-lhe uma imensa sensação de prazer olhar para trás e constatar tudo o que havia conquistado. Porém, as lacunas estavam ali, presentes como nunca. O vocabulário era fraco e, apesar dos esforços, cometia erros gramaticais frequentes. Quanto às normas de etiqueta... ah! lera dois ou três livros sobre o assunto, mas ainda se sentia insegura. Sem saber, Cedric a atingira num ponto fraco e a deixara magoada. — Boa noite? Adeus, sr. Greenleaf. Se eu fosse você, não faria comentários jocosos sobre minhas maneiras, uma vez que as suas não são as mais refinadas. Entrei na sua casa em paz, com boa educação e com a melhor das intenções. Fui recebida como impostora e tratada como uma criminosa. Costuma chamar todas as mulheres que conhece de chantagista? — Fez uma pausa breve e aproveitou para encará-lo. — Outra coisa, sr. Greenleaf. Se acaso meus modos não são requintados, há uma boa razão para tanto. Nasci num bairro pobre, cresci com sacrifício e tudo o que ganhei foi com o suor da pele. Você é que não tem justificativa para um comportamento tão grosseiro. Nasceu em berço de ouro, herdou uma fortuna e nunca molhou a camisa com trabalho duro. — Antes que ele pudesse retrucar, arrematou: — Não sei como uma pessoa tão azeda pode ser dona de uma fábrica de doces! Ligou o motor, acelerando como se fosse levantar voo, e os pneus cantaram ao acelerar em disparada. Quando Marielle chegou ao hospital, Deirdre já havia partido. Primeiro sentiu alívio por não precisar enfrentar a decepção da garota. Depois, veio o remorso. De qualquer modo, tinha feito o possível para convencer aquele mau-caráter a ir ao hospital. Sua consciência estava tranquila. Pobre Deirdre. Provavelmente se cansara de esperar pelo pai de seu filho. A infeliz passaria o resto da vida assim, nutrindo uma eterna e inglória esperança. Sem mais o que fazer, Marielle voltou para o carro e tomou o caminho de casa. Supunha que jamais veria de novo a srta. Wheeler ou o sr. Greenleaf. Havia se envolvido naquela confusão sem saber ao certo como sair dela e sem mais nem menos estava livre. Agora, sentia pena de Deirdre e raiva de Cedric. Porém, seu instinto de preservação lhe dizia para esquecer de uma vez aquela noite. Entrar no pequeno apartamento localizado no bairro de Pacific Beach trouxe-lhe um grande alívio. Era arejado e aconchegante. Havia poucos móveis, modernos e de linhas retas. Não pusera cortina nas janelas, para que o sol da manhã invadisse todos os aposentos. As plantas existiam em quantidade, distribuídas com harmonia por todo o espaço útil: samambaias, azaléias, ficus e outras. Ali era o seu refúgio. Uma extensão do próprio corpo e um lugar só seu, bem diferente da mansão austera de Cedric. Devia ser h******l morar numa casa escura e triste como aquela, onde os cômodos se sucediam, numa sequencia interminável. Muitas vezes, quando chegava do trabalho, Marielle pendurava-se na janela, para ver as ondas quebrarem na praia. Era uma espécie de higiene mental. Esquecia-se do tempo, da exaustão, das obrigações. Perdia horas observando, deixando o pensamento navegar no movimento calmo e ritmado da água. — Pobre Cedric Greenleaf! — ela exclamou, jogando o casaco sobre o sofá. — De que adianta tanto dinheiro se não pode desfrutar do prazer da paisagem que uma simples janela oferece? E, desistindo do banho, depois de alguns minutos contemplando a praia, caiu na cama e adormeceu. Como de hábito, o despertador tocou às cinco da manhã. Marielle relutou em se levantar, mas a recordação dos problemas que a aguardavam na academia a fez saltar da cama e tomar uma ducha gelada. Às seis em ponto entrava no Sun Studios. Checou as diversas salas de ginástica, o galpão dos aparelhos e a sauna. Se tudo corresse bem, com um pouco de sorte resolveria ainda cedo o caso do armário arrombado e do filtro da piscina aquecida. Já ia para o escritório no terceiro andar, quando encontrou Rusty Devon. Era seu braço direito e um dos principais instrutores de ginástica aeróbica. Dono de um corpo musculoso e um belo par de olhos verdes, servia de atrativo para a academia devido a sua fama de ídolo e ex-jogador de rúgbi. As mulheres ficavam fascinadas com sua simpatia. De fato, Rusty Devon era um grande sujeito. Atualmente, participava da sociedade com dez por cento.  Marielle acertara ao lhe dar a porcentagem. A dedicação de Rusty havia redobrado. Por tudo isso, somado à amizade e ao companheirismo que existia entre eles, Rusty era indispensável. Alguns amigos insinuaram um romance entre ela e Rusty. Porém aquilo era comentário de quem não tinha nada para fazer. Rusty era só um leal e honesto amigo e até mesmo não tinha interesse suficiente para acompanhar a ambição de Marielle. Faltava-lhe arrojo para pretender a chefia. Os dez por cento da sociedade o satisfaziam; jamais dera sinal de descontentamento. — Já ia me esquecendo — Rusty comentou, enquanto subiam apressadamente as escadas. — Se uma garota chamada Nancy procurar por mim, diga-lhe que nós dois temos um encontro esta noite, está bem? — Está com algum problema? — Claro que não! É que Mary Helen me telefonou ontem e a convidei para sair. — Dois programas para uma mesma noite. Já ouvi esta história antes! — Você pode fazer isto por mim? — Rusty esfregou a mão nos cabelos loiros dela. — Não vai me decepcionar, não é, Marielle? — Conte comigo. — Ela pensou um pouco e acrescentou: — Desde que não vá ao Ópera Bar. — Por quê? — Lembra-se de quanto gastou com Sue lá? — Uns cem dólares... — Cento e quatro, fora a gorjeta. — Bem, valeu a pena. — Imagino que sim, mas este mês você gastou todo o salário adiantado. — Embora brincando, Marielle imprimiu um tom de severidade à conversa. — Mas sócia... — É minha condição. — Está bem, aceito os seus termos. — Ele abriu a porta do escritório para que pudessem entrar. — Mas sob protesto! Não era uma sala espaçosa. Tinha sido difícil arrumar lugar para o sofá de almofadas macias, a mesa de tampo de vidro, poltronas, estante e duas mesinhas.  Contudo estava tudo lá, em ordem, agradavelmente familiar. — Sua capacidade para atrair bons clientes só é superada pela inabilidade de poupar dinheiro — ela disse, já arrumando alguns papéis sobre a mesa. — Estou falando sério, Rusty. Você tomou todo o salário adiantado este mês. Acho que tem pouco mais de um dólar em caixa. — O pior é que vim lhe pedir outro adiantamento. — De jeito nenhum! Se eu o conceder, você terá de me dar dinheiro no fim do mês. Vai ser h******l para você e para mim. Acha que estou errada? — Não, mas... Às vezes, era preciso tratá-lo como uma criança. — Rusty, quanto dinheiro possuía no bolso quando nos conhecemos? — Você sabe muito bem, Marielle, que não tinha o suficiente para comprar uma lata de cerveja. — Mais que isso, meu caro. Estava afundado em dívidas. O que fez com a fortuna que ganhou jogando rúgbi? Você era o ídolo do Raiders, lembra-se? Recebia milhões cada vez que botava as mãos na bola. — Não precisa repetir a mesma história toda vez que peço um adiantamento. — Pois eu acho que escuta mas não ouve o que digo. — Agora Marielle já não mexia na pilha de papéis; tinha a atenção inteira voltada para o amigo. — Conte-me o que tem. — Você sabe. — Eu sei, porém quero que refresque minha memória. — Comprei um apartamento perto da praia, um andar abaixo do seu; tenho um carro, um Corvette; algum dinheiro empregado no banco a médio prazo. — Dez por cento desta sociedade! — ela o ajudou. — E pouco mais de um dólar em caixa para o dia do p*******o — Rusty completou, dando um tom alegre à conversa. — Acha pouco? — Não, Marielle. — O sorriso desapareceu do rosto dele. — Também sei que tudo o que possuo hoje devo a você. Não só pela oportunidade que me deu, como por cuidar de meus investimentos. Marielle ergueu a cabeça e suspirou. Estava satisfeita; o havia convencido e podia voltar ao trabalho. — Mas, Marielle, esta garota é mesmo especial e... — Desista, Rusty. Leve-a para comer uma pizza. — Mary Helen não está acostumada a pizzarias. — Mas é o que você pode pagar — ela ponderou com firmeza. Se cedesse, Rusty gastaria todos os lucros da academia para impressionar a garota. — Não vou mais falar em adiantamentos, empréstimos e coisas parecidas. E, se fosse você, cancelaria o cheque especial, caso contrário vai acabar perdendo seus privilégios no banco. — Sabe de uma coisa? — ele a desafiou contrariado antes de sair. — Você deveria ter seguido a carreira militar, assim, teria um batalhão inteiro para comandar! Com alguma dificuldade, os técnicos consertaram a piscina aquecida. O armário da sra. Stuart foi arrumado e o par de tênis que havia sumido foi indenizado. Tudo parecia sob controle. Na primeira aula da tarde, um aluno machucou a testa com a raquete. Foi logo levado para a enfermaria. O ferimento leve não acarretou maiores consequências. Das três às cinco, Marielle deu aula de jazz e, às seis e meia, fez dança aeróbica com um grupo misto de pessoas. Somente às oito e cinco conseguiu pegar os livros contábeis para as últimas anotações. Saiu do Sun Studios às dez e meia. Será que algum dia levaria uma vida normal como qualquer trabalhador?, ela cogitou ao se dirigir para o carro. Não era à toa que se sentia tão cansada. Todo o trabalho administrativo corria por sua conta. Isso incluía contratação de novos professores, coordenação do serviço de bar, compra, lavagem e estocagem de toalhas, organização do material esportivo... Nossa! Pensando bem, não sabia como dava conta de tudo! Felizmente as férias estavam chegando. Teria duas semanas para relaxar, esquecer os problemas, as reclamações, os horários... duas semanas inteiras só para descansar. Como não tinha namorado, passaria esse tempo sozinha, numa deliciosa viagem. Talvez fosse para a Europa... Seis dias se passaram, no mesmo ritmo acelerado. Marielle acordava entre cinco e cinco e meia da manhã, tomava uma ducha rápida, vestia o uniforme de dança e guiava seu Porsche amarelo até o Sun Studios. Trabalhava sem parar o dia todo, voltando para casa tarde da noite. Como Rusty estava sem um centavo no bolso, ela lhe dava uma carona e jantavam juntos. Depois ele ia ver televisão e, se Marielle não o expulsasse, dormia ali mesmo estendido no sofá. Numa manhã de sol, Marielle conseguiu meia hora de folga e resolveu ir buscar alguns folhetos numa agência de viagem a dez quarteirões da academia. No caminho de volta, entretanto, pegou um terrível congestionamento. Carros e pedestres se misturavam. Alguns motoristas erguiam-se janela afora, curiosos, outros buzinavam. Marielle consultava o relógio a cada minuto. Não podia se atrasar. Tinha de dar aula de ginástica a um grupo de senhoras. Impaciente, chamou o motorista do carro ao lado, acenando: — Sim, é com o senhor que quero falar. — Esperou até que o homem abrisse a janela. — O que está acontecendo? — A senhora não sabe? — Não! — É a fonte Greenleaf! Como uma fonte podia causar tanta confusão? Trabalhadores, gente com obrigações e compromissos estava parada à mercê de obras estúpidas e sem nenhuma finalidade. d***a! Cedric Greenleaf conseguia irritá-la mesmo a distância. Fonte de água... que coisa mais fora de moda! Zangada, Marielle ficou detida por uma hora. Perdeu a aula, todavia Rusty tinha providenciado uma substituta. Também foi ele quem deixou um recado anotado sobre a mesa. Deirdre Wheeller havia telefonado. Estava no hospital e pedia que Marielle entrasse em contato o mais breve possível.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD