A RÉPÚBLICA DOS ÓRFÃOS| 02

3429 Words
Já tinha algum tempo desde que tinha voltado no Orfanato em que fui criada . A madre Georgina deve estar furiosa comigo porque não andei dando as caras ultimamente , não que eu gostasse de ficar arrodeada por tanta gritaria de crianças o dia inteiro- dava uma dor de cabeça insuportável , ainda assim era grata a ela e a via como uma tia ou parente mais próxima . Paro em uma rua que fica a 3 quarteirões do Orfanato retirando meu capacete , porque vi um menino magrelo desengonçado apanhando que nem mala velha por uma turma de 4 garotos , o presando contra a parede enquanto ele se deixava ser espancado . - Oh oh...chega já dessa patifaria aqui! . Vaza moleques !- Altero meu tom de voz me aproximando deles batendo com a mão no meu capacete  . - É uma das componentes da república dos órfãs. Vamo galera ! vamo – Um garoto ruivo gordinho diz pros demais me olhando assustado e saindo correndo em disparada para longe de mim . Justamente por isso que eu curtia ser reconhecida por esse apelido ‘’ me poupava de gastar energia  . Passo meus olhos pelo menino que estava sendo encurralado contra a parede , o mesmo continua de cabeça baixa e soluçando sem parar . Me aproximo dele. - Hey . Qual foi moleque , sai dessa . Homem que é homem de verdade não chora – Eu digo me aproximando dele e me agachando em sua frente . - Mas eu não sou homem . Eu sou um menino – Levanta a cabeça para me olhar . Eu prendo meus lábios entre os dentes para frear a risada por causa de sua resposta . - Não deveria deixar eles fazerem isso com você – Eu digo analisando seu rosto magro e pálido , com alguns hematomas se formando pelos seus braços e bochechas. Aqueles moleques ainda iriam receber o que mereciam . Ele enxuga as lágrimas me olhando novamente com seus olhos negros profundos e tristes . Endureço um pouco minha expressão porque não gosto do que vejo . O mesmo se mantém calado ainda fungando , tentando se recuperar . - Como se chama ? -Maylon . -Aceno entortando minha boca -Onde você mora Maylon? , vem comigo eu te dou uma carona – Me levanto fazendo caminho em direção da minha moto . Porém paraliso meus passos quando noto que o garoto não está me seguindo. Viro metade do meu corpo para lhe olhar . - Você não vem?- Questiono gesticulando com as mãos e com um sinalar de minha cabeça em direção da moto. - Não tenho uma casa , sou morador de rua . Há merda dupla! Volto novamente para perto dele . - Sei de um lugar onde pode ficar seguro . Vem comigo – Puxo ele pelo braço com cuidado porque sei que está machucado . Ainda assim Maylon expressa uma careta em seu rosto se levantando . - Pra onde está me levando moça?. - Para um lugar onde sei que ficará seguro. Lhe passo o outro capacete – ele o toma , ainda um pouco hesitante me dando um olhar de descrença por debaixo dos olhos de modo desconfiado . - Relaxa . Não estou te levando pra um matadouro ou alguma merda do tipo . Se quisesse isso teria deixado aqueles garotos fazerem isso por mim – Lhe dou uma piscadela brincalhona , então percebo sua expressão suavizar. - Vamos lá Maylon – Eu disse assim que ele montou na garupa e me abraçou a cintura com toda a força da qual seu magro braço possuía .                                                                          *** - Me trouxe pra um Orfanato ?- O menino de cabelos escuros e lisos questionou com seus olhos imensos quando estacionei na frente do Orfanato Santa Luz. -E pra onde mais achou que eu te levaria ? . Se toca moleque , deixa de cheiro mole e anda – Vou passando em sua frente . Porém solto um suspiro de tédio , porque sei que ele não me segue de volta . Paro meus passos no terceiro degrau me virando para ele estalando a língua no céu da minha boca já me sentindo impaciente .- E agora o que foi ? - Não quero ser adotado. - Todo mundo quer ser adotado .- Não consigo desfazer a carranca do meu rosto – Você vai ter sorte se conseguir ter isso . Aí garoto nem todo mundo teve essa chance , vai por mim . - Já fui adotado uma vez . A família que me adotou me escravizava , mandava eu realizar todas as tarefas de adulto de casa , enquanto ficavam o dia inteiro assistindo Tv . E quando me renegava a fazer, eles me batiam . – O rosto de deboche sai das minhas expressões faciais rapidamente . Minha garganta ficou seca com o que acabei de escutar. - Chega aí moleque – Eu aceno com a cabeça . Trazendo o capacete em suas mãos ossudas ele vem até mim andando quase parando .- Olha . Enquanto eu tiver aqui , não vou permitir que ninguém se meta com você , tá ligado ? -Tá falando sério ?- Seus olhos alegram-se ganhando vida . Como se fosse a primeira vez que alguém se importava com ele . Por algum modo isso me afeta ainda mais do que deveria. Me curvo um pouco pra ficar em sua altura , não que ele seja muito baixo . Daqui a uns meses tenho certeza que estará maior do que eu . Lhe olhando nos olhos prossigo – Não tem mais que se sentir só . E foi por isso que te trouxe aqui . - Você é uma órfã não é?- Aceno para ele me limitando a lhe dar mais informações quando vi a curiosidade surgindo em suas íris . - Vamos logo . Preciso te apresentar o pessoal e a Madre Georgina .- Me virei nos meus pés subindo os degraus rapidamente pulando de dois em dois . -Madre ?- Maylon indaga curioso me acompanhando quase correndo ao meu lado olhando meu perfil . - Você vai gostar dela – Lhe dou um sorrisinho de canto de boca fechada , quando ele me entrega seu capacete . Madre Georgina , é bastante legal  na maior parte do tempo , e severa quando tem que ser . Ainda assim possui um coração gigante , e por isso sou muito grata a ela por tudo que fez por mim. Quando entramos no hall, Maylon investiga tudo ao seu redor , tentando captar o tanto que puder de informações do que será seu novo lar . - Kassandra minha filha . Até que enfim decidiu vir visitar a pobre madre Georgina – Rolo meus olhos por causa de seu drama recebendo seu abraço apertado . Ela tem cheiro de lar . - Não exagera madre . Aproveitei que estava passando por aqui por perto e então encontrei esse garoto sendo lixado por uns moleques do bairro . Ele é morador de rua , então imaginei que a senhora pudesse abriga-lo no Santa Luz . Madre Georgina acena para mim mas sorrindo para Maylon . Ele me olhava e para ela de volta . - Maylon seja bem vindo ao Orfanato Santa Luz . – Ela vai para perto dele mas o menino se esquiva de seu toque . Meu coração se comprime . Parece um gatinho assustado , tinha sido tão abusado na vida que já não possuía confiança em mais ninguém , e isso era triste . Eu dava graças aos céus por ter ainda com quem contar , meus amigos da república são como meus irmãos e uma família para mim, sei que cada um ali daria a vida pelo outro caso fosse necessário. Ainda que tenhamos nossas diferenças as vezes. Madre Georgina recolhe sua mão de forma amigável sorrindo ainda para ele , que a olhava assustado. - Não precisa ficar tão alarmado Maylon . Aqui cuidaremos muito bem de você , não se preocupe . – Ele me olhou incerto mas acenei com um sorriso confirmando que ele poderia confiar na madre. Incentivado por mim Maylon é encaminhado pelas outras freiras para tomar um banho . Fico o olhando , enquanto ele se vira me dando um olhar por cima de seus ombros . Então o moleque volta correndo e me surpreendendo me agarrando a cintura me dando um forte abraço , me pegando desprevenida . - Obrigado . – E então volta novamente as pressas seguindo as demais freiras que o guiam para a outra ala. - Minha nossa ..- Eu murmuro pigarreando olhando ao redor claramente ainda baqueada pelo ocorrido . Não sou chegada a demonstração de afeto . - Viu Kassandra como é bom ter suas virtudes ? . Fico feliz em ver que não se perdeu como os outros . - Nós não nos perdemos Madre . A sociedade é quem nos marginaliza em vão – Eu digo apenas a verdade . As pessoas acreditam no que elas querem , seria eu que iria ficar os explicando sobre suas crenças exageradas ?. Ela acena concordando com minha fala - Onde está Brendon? – Começamos a caminhar  vagorosamente pelo Orfanato - Não sei e sinceramente não me interessa – Bufo arrastando uma mão pelo meu cabelo . Ainda estava com uma p**a raiva da cara dele , seu nome fazia com que minhas entranhas se retorcessem raivosas. - Pelo que vi , ainda não se acertaram .- Ela conclui me dando uns daqueles seus olhares enigmáticos de que sabe muito mais do que eu de fato estou dizendo . Porém como não estou nem um pouquinho afim de ficar falando sobre minha vida pessoal , desvio o foco de nossa conversa para um polo seguro. - E por aqui ? , as crianças estão se alimentando bem ?. - Estamos fazendo o que podemos. As verbas foram cortadas e nós necessitamos de alimentos para as crianças . Francamente só temos comida para até depois de amanhã .- Ela se inclina para mais próximo a mim sussurrando essa parte para que mais ninguém ouça- Logo após disso não sei mesmo o que iremos fazer – Sua voz é tensa ,e suas sobrancelhas se juntam em agonia quando a madre aperta uma mão na outra , e eu sei que ela só faz isso para tentar ter algum controle sobre a situação que está ocorrendo. - Vou ajuda-los . - Como fará isso minha filha ?- Madre Georgina questiona tocando em meu braço paralisando nossa caminhada quando parou em minha frente . - Eu sempre dou um jeito . A mesma me dá um olhar de esguelha – Olha lá hein ? , não vá fazer besteiras . – Avisa apontando em meu rosto seu dedo indicador. Eu abro um sorriso enorme para ela , tentando lhe tranquilizar- Relaxa Madre . Eu tenho um plano.                                                            *** -Você vai o que ?! – Brendon se ergue do sofá com tudo quando contei a todos o que pretendo fazer para ajudar o Orfanato me olhando horrorizado . - Vamos assaltar a rede de mercados , será por uma boa causa – Tento argumentar Trix rola seus olhos com deboche . - Quando se trata do aluguel da república em que moramos , você quer cair fora para não assaltarmos aquela joalheria de que o Ferrugem falou porque acha que é uma furada . E agora manda essa ? , só pra ajudar umas pobres criancinhas catarrentas ? – Ela faz uma  careta – Vai te f***r Kass. Minha nossa como Trix andava irritante ultimamente . - Vai fazer teu trisal com a Pegue e companhia vai Trix – Gesticulo com minhas mãos como se a estivesse enxotando – Isso aí no mínimo é falta de sexo . –  Outra vez em menos de 24 horas ela me dá os dedos do meio me encarando nos olhos . Dou alguns passos para perto dela a encarando também , porém os meninos tomam a minha frente . - Qual é gente já chega dessa bagaça! Morou ? . Vamos tentar , isso nos ajudaria a assaltar a joalheria . Serviria como experiência – Oscar incrementa e todo mundo aceita . Coloco as mãos na minha cintura de boca aberta . Qual era o problema da galera? . Tudo que eu falava geral se colocava contra , quando o Oscar dá as cartas todo mundo aceita ? . É sério isso ?. Mordi meus lábios com força , sentindo a raiva consumindo meu peito . Odiava ser contrariada . E com certeza odiava ainda mais a dupla Trix e Pegue . Não entendi qual era a birrinha delas duas para meu lado ultimamente . Um dia ainda iria as colocar contra a parede para saber o que estava acontecendo . E se quiserem resolver isso na porrada, meu amor , eu boto pra f***r com força no r**o dessas vadias.! Brendon vem até mim me dando um olhar vago , m*l olhando em minha cara – Chega aí , quero levar um papo contigo . Contorno a língua pela minha boca sentindo a irritação ressurgir , porém o sigo para a cozinha. Me escoro na porta cruzando meus pés e braços lhe dando um olhar intimidador . Brendon está segurando com força na cabeceira da cadeira encarando a mesa por durantes segundos . - O que deu em você Kass , pra estar considerando em roubar o supermercado ? . Pirou ? , ainda ontem estávamos de acordo sobre não aceitarmos a loucura do Ferrugem e hoje você dá a louca e quer se meter em encrenca ?!-  Ergue seus olhos furiosos para mim - Você sabe que o Orfanato está precisando , não ferra Brendon . Sabe das dificuldades que aqueles moleques passam , nós já estivemos na pele deles – Argumento minha tese . Ele bate com as duas mãos na cabeceira da cadeira mordendo o lábio , balançando a cabeça em negativa , me dando as costas em seguida mergulhando as mãos pela juba . - Sei não . Isso vai dar muita merda cara . -E se não der ? – Dou umas passadas largas até chegar nele , lhe tocando nos ombros . Brendon vira-se para mim , de cenho franzido e expressão preocupada . - Não tem como saber disso Kass!. - Justamente por não saber é que temos que tentar – Tento lhe convencer – De todo jeito Oscar não está errado .- Lhe dou as costas colocando meus polegares por dentro dos bolsos da traseira de minha calça . – Se nos sairmos bem com esse assalto , as chances de termos sucesso em roubar a joalheria seriam altas – Viro  para ele , o mesmo está com os braços cruzados com uma mão massageando o queixo . Ainda consigo ver a dúvida formada em seu rosto bonito. – Qual é Brendon ? sabe que essas crianças precisam . - Tem certeza que é só por isso ?- Questiona me estudando atentamente de olhos semicerrados –  E aquele papo todo de não sermos ladrões ? -E não somos ! Mas... Sei lá ...- Batuco com meus  dedos em cima da mesa – Durante meu trajeto para cá , pensei em mil formas e jeitos diferentes de nos livrarmos de tudo isso , mas para todo lado  que olho não vejo saída .- Olho para ele correndo meus olhar pelo seu rosto – Ainda que odeie a maldita ideia do Ferrugem de querer nos marginalizar, ele tem razão . Não temos para onde escapar , e é isso ..- Dou de ombros - Ainda que queira acabar com a raça daquele bastardo , ele tem razão . Brendon desvia o olhar de mim arrastando as mãos pela boca e me olhando em seguida. -Vem cá . – Vou até ele com passos lentos me aconchegando ao seu corpo grande . Recebo seus lábios contra meus cabelos enquanto ele me abraça apertado . – Der no que der essa merda , estamos juntos .  Mas se der r**m , se lembre que eu avisei . Damos risada ao mesmo tempo que digo um ‘’humrum ‘’ .                                                                *** Dois dias haviam passado , então Oscar e eu reunimos a galera na mesa da cozinha para darmos inicio ao plano . Conseguimos a planta do supermercado , Gui tem amigos que trabalham por lá , e de um jeito ou de outro conseguiu ter acesso a mesma- nós o indagamos para saber como seu amigo conseguiu as plantas , mas ele não quis detalhar , então não insistimos no assunto . Tudo o que importava aqui era a missão . Abri a planta em cima da mesa . O mapa do lugar era realmente grande e preciso , por isso teríamos que ser cautelosos. - Vamos fingir que vamos fazer compras . A hora deve ser fora do horário de pico , o momento em que fica mais vazio é lá pras sete da noite que é o tempo que eles já começam a fechar . Então é nesse instante que agimos – Digo correndo os olhos por eles . Todo mundo acena – Trix e Pegue entram no estabelecimento ,compram algum lanche apenas para disfarçar , e ao sair é quando se topam com o Gui , Então fingem que não se veem a muito tempo e engatam numa conversa desenfreada na frente do estabelecimento porém a ideia principal é evitar alarde , caso alguém apareça vocês inventam qualquer coisa só para impedir a entrada de ‘’ novos clientes ‘’ . Em seguida aparecem eu , Brendon e o Oscar , fingimos que vamos comprar e é quando atacamos . -Não precisam fingir que vão comprar- Gui diz atraindo nossa atenção , posso ver o símbolo da interrogação em sua cara – Justamente por isso a câmera estará desativada para facilitar a entrada de vocês. Bato em minha testa me dando conta de meu deslize. - Realmente Gui – aponto com o indicador para ele – Bem lembrado. - Porque Pegue e eu não podemos simplesmente entrar e assaltar enquanto você finge tagarelar ? . Tudo você quer liderar Kass, qualquer um aqui tem capacidade pra isso . – Rolo meus olhos passando uma mão pelo meu cabelo perdendo a última gota de paciência que ainda restava em meu cérebro . - Qual é a tua hein Trix? . Já tem um bom tempinho , que ando observando tua implicância para meu lado . Se tem algo contra mim fala na minha cara! – Esbravejo a metralhando com meus olhos . Soltando um risinho de deboche ela aponta pra  mim com o dedo indicador – Não é sobre ter algo contra você ‘’ deliberadamente ‘’ mas sim por sempre querer ser a super heroína ,enquanto nós fazemos papel de nadas , como se você fosse a única que sabe fazer de tudo um pouco! .  Não cansa de se exibir!. Rio sem acreditar balançando minha cabeça em negativa cruzando meus braços e descansando o peso de uma de minhas pernas . – A ideia de assaltar o supermercado foi minha , logo eu lidero essa merda! Queira você ou não . Dane-se ! . - Já deu meninas . – Pegue pela primeira vez parece não aguentar mais os insultos de sua ‘’ melhor amiga ‘’ . – Para Trix , a Kass sabe o que tá fazendo . Trix bufa se jogando em uma das cadeiras de qualquer forma emburrada , me tacando punhais com seus olhos por debaixo dos cílios . A ignoro afim de não perder o foco . – Como dizia .. todo mundo está de acordo com o plano ? - Sim , achei que a ideia bateu certo – Oscar diz – Como o Gui convenceu seu amigo a mexer nas câmeras para as desativar não teremos com o que nos preocupar. Até porque ele está devendo uma a gente – Oscar e Gui se entreolham soltando um risinho enigmático . Nem queria saber o que esse ‘’tal amigo’’ estava devendo ao Gui e ao Oscar . - Ótimo! , então mãos a obra ! – Eu digo estendendo minha mão no centro da mesa ,  perscrutando meu olhar no rosto de cada um . E assim eles o fazem , estendendo suas mãos em cima da minha  e soltando o nosso grito de guerra – Pela República dos Órfãos !!!.
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