Um bom dia para ser mãe

1345 Words
            Depois de sentir-se praticamente uma adolescente irresponsável, na cama com um garoto, perdendo totalmente a compostura e vivendo pela primeira vez, permitindo-se apenas ser feliz, Marianna encarou-se no espelho retrovisor: ela estava bem, sentia-se viva e desejada, sentia que havia alguém que se preocupava com ela... Aquele era um bom dia para ser mãe, mesmo em uma das piores tarefas que a maternidade poderia exigir.              Assim que o portão de desembarque abriu-se, as meninas correram em direção à ela: aquele era o momento em que toda e qualquer dúvida que ela tinha ou tivera sobre a maternidade dissipava-se, ela era a mãe e aquelas eram as duas filhas mais perfeitas e preciosas que alguém poderia ter, o mundo podia parar de girar, e ela ainda estaria disposta a fazer tudo, tudo mesmo pelas suas pequenas.             Retiraram as bagagens e elas falavam tanto que Marianna quase não conseguia entender tudo o que era dito. Havia tirado folga naquela manhã, então queria aproveitar as suas pequenas da melhor maneira possível, e isso incluiu parar para comprar os croissants que uma adorava e o pão que a outra queria... Mari nem pegou o celular, não queria saber que horas eram ou o que estava acontecendo: aquele era um bom dia para ser mãe e ela aproveitaria cada segundo.              Chegaram ao pequeno apartamento ainda em meio à muito falatório: prepararam o café da manhã e o apreciaram, com pausas para as meninas pegaram lembrancinhas e souvenirs na mala para a mãe e para Marianna entregar os presentes que havia comprado na ausência das meninas.              Perto das onze horas o telefone toca várias vezes, o que obriga Marianna a atender: - Alô? - a voz desanimada dela denuncia que quem telefona, interrompeu alguma coisa.  - Por onde anda a sócia mais linda do mundo? - Vicente perguntava.  - Em casa - responde - as meninas chegaram agora há pouco...  - Maravilha - ele diz - conta que eu mandei beijos e que eu já estou negociando um camarote no estádio para a próxima temporada... - ele suspira - melhor não contar, elas vão me atormentar... - ele brinca.  - Tudo bem, deixo para você contar - ela ri - o que precisa?  - Tem um advogado aqui, Mari - ele diz sério - um cara esquisito, pediu para falar diretamente com você.  - Certo - ela suspira decepcionada - vou deixar as meninas com a madrinha delas, elas haviam combinado um almoço para contar os detalhes da viagem, pode pedir para ele aguardar, por favor?  - Sim, eu posso - responde Vicente.              Falei para as meninas que eu precisava voltar ao trabalho: advogado... Aquilo não parecia nenhum pouco bom, mas me ative a deixar as meninas no condomínio onde vivia minha comadre e seguir para a sede da empresa, eu precisava resolver os problemas que eu costumava criar.  - Bom dia - eu vestia jeans e camisa social com sapatos de salto e os cabelos presos - Marianna Ferrachinni...  - Eu sei quem você é - ele responde educado - Marco Aurélio Miranda, advogado.  - É um prazer - eu sorrio e indico a cadeira em minha frente - em que posso ser útil? - Então, eu tenho um colega, que está tendo problemas com o cliente dele, que por um acaso, é o seu ex marido - ele diz sem rodeios - ele diz que no processo de divórcio que o cliente dele ainda não assinou, não tem um inventário completo e atualizado dessa empresa, nem todas as projeções que são necessárias, no sentido de preservar os direitos do cliente dele - diz o homem - parece que a proposta de divisão dos bens foi feita de forma unilateral, ou seja, você estabeleceu o que seria conveniente para você e pediu que ele aceitasse, sem nem mesmo analisar a possibilidade de fazer diferente.  - Certo - eu suspiro e o encaro - eu não vou responder às suas - ela para e pensa - poderia dizer acusações, vou exigir a presença do meu advogado e... - Não é necessário - ele diz - apenas eu preciso que preencha esse documento - ele me entrega um envelope - pode entregar no meu escritório.  - Eu não vou entregar documentos... O advogado do meu ex que pode exigir...  - Ou pode subcontratar quem o exija - ele diz e entrega um copia de contrato assinada por Pedro, onde ele vai liberdade a seu advogado de buscar outro profissional para realizar partes do serviço. Eu estava tão indignada que não consegui resposnder. Apenas disse "ok" e fiquei com uma cópia do contrato dele, para que meu advogado pudesse  analisar e me dizer o que fazer. Eu queria matar o meu ex marido.              m*l eu tinha conseguido livrar-me do advogado quanto o telefone do escritório toca:  - Alô - ela diz.  - Oi - a voz do outro lado da linha é inconfundível: Henrique Cavalcantiti - tudo bem? - Sim - ela responde. - Será que a gente pode conversar? - ele pergunta parecendo um pouco agitado.  - Hoje é um péssimo dia - ela diz - de verdade, eu estou resolvendo minha mudança, minhas filhas chegaram aqui na Capital e tenho problemas do trabalho para resolver. - Tudo bem... À noite? - ele pergunta.  - No fim da tarde? - eu suponho.  - Certo - ele diz.             Assim que conseguiu desligar, Marianna encarou as células vazias da planilha enquanto sentia o estomago revirar... “péssima hora para conversar... não devia ter aceitado esse contrato...” e seu trabalho rendeu muito, talvez pelo que ela costumava chamar de “força do ódio” que a movia as vezes tornando-a produtiva demais, quanto mais estresse, mais resultado. Havia combinado que as meninas ficariam com a madrinha por mais um tempo, e que Marcelo passaria no novo endereço. Quando saiu do escritório, viu que ele não estava mais lá: - Oi – ela disse apressada com os sapatos na mão – eu nem mesmo acredito que eu consegui sair no horário hoje. - Milagre – ele levantou-se da banqueta da cozinha e foi dar um beijo no rosto de Marianna, aproveitou pera pegar o notebook e as folhas empilhadas em cima dele. - Obrigada – ela suspirou e sentou-se em uma das banquetas – vamos fazer um café? Estou com... -... fome – ele disse rindo – peguei um lanche na central. - Marcelo, o que seria de mim sem você? – ela riu. - Não sei, eu realmente não sei – ele disse convencido, e logo perguntou - E ai? Como estão as coisas? - Normais – ela suspirou enquanto colocava o pó de café na cafeteira elétrica – preciso ir me adaptando às rotinas das meninas...  - Verdade - ele concorda.  - Só estou cansada, eu acho – ela largou-se na banqueta novamente e pegou um biscoito do pacote sobre a bancada – um pouco esgotada. Faltam cinco dias para as minhas férias, Marcelo. - Sim – ele riu – você merece e precisa descansar, mas precisa resolver as coisas antes... - Sei disso – ela revirou os olhos – vou conversar com o Henrique mais tarde. - Eu acho que vocês devem – Marcelo a encarava com seriedade – de verdade, as vezes parece que tem uma nuvem pairando sobre vocês dois enquanto conversam... - Sim, todos os dias eu agradeço mentalmente pelas coisas terem terminado... – ela suspirou: era mentira, e ela sabia, todos os dias, olhava para ele e sentia o estômago revirar com a mera ideia de tudo o que poderia ter sido, se as coisas não tivessem terminado.             O silêncio invadiu o ambiente, junto com o cheiro do café. Logo ela afastou a nostalgia, e deu atenção aos relatórios que Marcelo tinha trazido para que ela conferisse enquanto esperavam pelo entregador e os montadores dos móveis planejados: Marcelo havia se oferecido para acompanhar a montagem da cozinha naquele fim de tarde. Ela despediu-se do estagiário às sete e meia, e percebeu que m*l teria tempo para tomar um banho antes de encontrar Henrique e depois, buscar as meninas. 
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD