Precisava ser mãe também

2278 Words
            Lembrou-se de colocar o despertador para as seis, já que queria estar as sete na Future, tirou a roupa e vestiu uma camiseta velha do ex marido para por fim, dormir em uma cama decente, o que não vinha fazendo a dias...             A manhã de sexta feira chegou fria e ensolarada. Uma claridade limpa tomava conta da sala quando o despertador tocou e Marianna não deixou de sorrir ao ler diversas mensagens das filhas, devido ao fuso horário, provavelmente ligariam em instantes, mas ela não esperou e ligou. - Oi Mãe – uma animada Laura disse ao telefone – tudo bem ai? Ligou cedo! - Ah, meu amor, tudo bem e com vocês? Eu acordei cedo... - Dormiu pouco? – a filha perguntou – Como estão as coisas? - Tudo se organizando – ela suspirou: não havia contado sobre o divórcio, nem sobre Porto – e a viagem? - Está incrível – e isso Marianna sabia que estava, afinal, quem ganha um Eurotur antes dos quinze? A escola de idiomas promovia dois por ano, e aquele era o primeiro das mocinhas – Londres é linda, Mãe, e essa noite estamos em Paris e posso ver a Torre Eiffel aqui do meu quarto, vou te mandar fotos... - Que bom que estão gostando – Marianna respondeu – e a Sofia? – Mari perguntava sobre a filha mais nova. - Ela está no banho, provavelmente aparece daqui a pouco – a menina suspirou – vamos conhecer o Louvre hoje, e partimos para Amsterdã, vamos dormir lá e passear amanhã, voamos para Berlim a noite e passaremos o domingo lá, estou em Porto na Segunda. - Em Porto? – a mãe perguntou encucada, tinha planejado pegar as meninas direto na fronteira. - Em casa, somente à noite, mas se tiver em Porto podia nos buscar no aeroporto de manhã, ia ser um máximo. - Certo, vou pensar – ela suspirou – falaram com o papai? - Ele parecia bem ocupado e estranho – ela respondeu – a Sofia tá furiosa com ele. - Porque? - Ele disse umas coisas de não morar mais com a gente, sabe como ela é. - Seu pai merece um prêmio – Marianna ironizou. - Vou passar para a Sofi, ela vem vindo ai, estou com saudades, Mãe! Te amo, Beijos. - Te amo, filha, se comporta e cuida da mana, também estou com saudades... - Oi mãeee – Sofia pegava o telefone – se eu disser que eu precisei expandir a memória da nuvem você não fica brava? Eu devo ter nove mil fotos incríveis, nem consigo selecionar. - Oi meu amor, sem problemas – ela suspirou – aproveitando então? - Demais, amei tudo! Só Lisboa que eu achei um pouco sem graça, mas do resto, é incrível, andei naquela roda gigante, perto da London Bridge, a Laura quase vomitou – ela riu – estou com saudades, queria que estivesse aqui. - Eu também queria estar – e era sério – segunda pego vocês e conversamos sobre férias juntas, pode ser? - Eu vou amar – a menina disse animada, mas logo pareceu lembrar-se de algo desagradável – mãe, que merda é essa do papai dizer que não vai mais... - O que foi que você disse? – Mari parecia furiosa pelo palavrão, mas só queria mudar de assunto. - Nada, desculpa... Conversamos na segunda. Estou com saudades. - Eu também estou – Mari disse com lágrimas nos olhos, e era bem verdade – logo estaremos juntas. Te amo, obedece a sua irmã. - Pode deixar, Mãe. Beijo.             Marianna desligou o telefone, suspirou: precisava ser mãe também e isso incluia resolver as questões do divórcio e conversar com as filhas sobre ele.. Ligou a cafeteira e foi para o banheiro: um banho longo e quente e uma xícara de café enquanto vestia roupão... Escolheu algo chique e confortável: calça pantalona, scarpin de salto mais baixo, uma blusa de cetim azul com um bonito corte e um blazer. Refez seu curativo e pediu um táxi.             Cegou na Future pontualmente as sete horas, muito satisfeita com sua pontualidade. Encarou as paredes e corredores vazios, com exceção do zelador e uma recepcionista que murmuram um “bom dia” surpreso e impressionado. Em sua sala, abriu o notebook e trabalhou compulsivamente – e sem mais nem uma gosta de cafeína – até as oito horas. Marcelo abanou pouco antes de Mari sair de sua sala e encontrar o departamento pessoal as oito em ponto na sala de reuniões. - Bom dia meninas – ela disse sorridente – por fim aqui estamos nós, reunião adiada, mas conseguimos. - Bom dia – Dani foi a primeira a responder – nossa sorte que  eram apenas ajustes, né, o trabalho seguiu e segue bombando – ela riu – é admissional de um lado,  lotes de demissões de outro. - Esse mês tá bem puxado – Mari sorriu – mas, infelizmente para vocês e para mim, o caminho a seguir é ainda mais puxado, conversei ontem com a Dani e temos um grande projeto pela frente, então eu queria que a Dani organizasse com vocês, uma semaninha de reuniões, na primeira semana de agosto... Quero que a chefe de cada departamento se reúna, uma por dia, comigo, a Dani e o Armando, para podermos planejar os processos de admissão e demissão do nosso novo parceiro comercial. - Certo – Amanda, que era responsável pela folha de pagamento questionava – todos os departamentos mesmo? - Sim, Amanda... o que eu quero de verdade é que a gente consiga estruturar todas as funções, por meio de processos padronizados, a gente pode criar fluxogramas, entendem? Até podemos utilizar os nossos fluxogramas como base. - Entendo – Dani interrompe – e a estrutura empresarial dele? - Vamos ter essa definição daqui uns dez dias, assim, vocês vão ter mais uns dez para quem sabe já irem pensando em alguma coisa dentro disso para agilizar o trabalho... E, Amanda, acho que eu deixo a conversa contigo pro fim da semana, né? Tu vais estar lidando com as folhas do mês... - Preferencialmente – a moça respondeu – esse mês poder ser que dê tudo certo, mas desde que trocamos de banco, é um rolo atrás de outro. - Isso me lembra de ligar novamente pro Medeiros – Mari anota alguma coisa num post-it – vou colar na testa, eu acho, mas assim que possível eu telefono e já digo para ele que estamos decepcionadas, ponderando voltar para o concorrente. - Mas sem pressão – Amanda ria. - Por falar em sem pressão – Maia, que cuidava dos benefícios – o pessoal reclamou agora de manhã que o plano de saúde não estava cobrindo consultas simples, como era mesmo o acordo? - Uhm, não lembro – Mari respondeu com sinceridade – mas pode chamar o Heitor, do arquivo e pedir esses contratos, foram renovados em abril – Mari fez uma pausa para que a moça anotasse – e aí, com ele em mãos, vê um horário com a Isabel, acho que hoje no comecinho da tarde, sobe e a gente verifica, e eu já telefono para eles – ela revirou os olhos – odeio lidar com essa gente, mas o plano de saúde é um benefício que eu gosto de funcione cem por cento e sem stress. - Perfeito – Maia sorriu e Marianna continuou com a resolução de pequenas demandas do departamento – ficou sabendo do ajuste de 3,3% do transporte e de 2% da alimentação? - Fiquei – Marianna havia lido o email enviado pelo sindicato dos trabalhadores do comércio e serviços – vamos ajustar sim, mas puxa pra 5% nos dois – todos se encararam na mesa – preciso deu meu marketing interno, meninas, e outra coisa, 3,3% não vai subsidiar a diferença pra quem pega transporte tipo ônibus ou lotação,  m*l vai dar para custear os que vem de trem, fora que na alimentação, o básico do básico ajustou numa média de 4% e com uma p**a chance de seguir subindo conforme inflação... - Tudo bem – Maia sorriu – e preparo um comunicado oficial? - Sim, Maia, quero um email bonito lá dizendo que baseado na portaria do sindicato, que propõe aumento... E ai coloca que nós, pensando no bem estar, segurança e qualidade de vida dos nossos colaboradores, ajustamos para 5% nos dois. - Perfeito – Dani sorri e encara Marianna – mais uma coisa, chefe? - Sim – Mari sorri – quero estender o pacote de benefícios – ela suspira – Maia, vamos verificar viabilidade de cesta básica? Gympass? Vale cultura? No Iguatemi tem um esquema de vales-presente que funcionam para cinema, livrarias... - Vou investigar, chefe. - Ótimo – Marianna sorriu – acredito que eu tinha isso por hoje, alguém tem alguma demanda? - Sobre tua seleção de estágio – Carla, do recrutamento – a Dani me passou ontem e eu m*l comecei, pode me enviar tuas ideias de prazo por email? - Claro – Mari suspirou – ficou bem solto, e eu não registrei nada, te envio daqui a pouco. - Ótimo.             Aquele tipo de reunião era essencial: Mari gostava de saber que as coisas funcionavam, e gostava mais ainda de saber que promovia mudança na vida das pessoas e proporcionava qualidade de vida. As meninas despediram-se e logo a sala estava vazia: oito e trinta e oito. Tinha vinte e dois minutos até receber o pessoal para a segunda reunião.              Marcelo entrou na sala de reuniões vazia com uma grande caneca de café e um pacotinho: - Resolvi te fazer um agrado – ele sorri – peguei um lanchinho na passada e peguei pra você também, imaginei que não tinha... -... imaginou certo – ela suspirou – muito obrigada – disse animada quando abriu o pacote de papel pardo e tirou uma caixinha com duas empadas de frango, palmito e azeitonas – obrigada, isso aqui é dos Deuses. - Verdade – o rapaz sorri – e então? Como foi a palestra? - Casa cheia – ela suspirou – aproveitei para quase me despedir do mundo acadêmico, pelo menos por um semestre... - Vi uns vídeos – ele diz – conseguiu descansar? - Um pouco – ela achou melhor não comentar sobre reuniões sociais ao invés de dormir cedo e descansar – acabei dormindo tarde, e você? Passou bem? - Dormi como pedra – ele riu – um cara seguro e confiante com um emprego bom. - Já pode casar – ela disse rindo. - Então – ele sorriu sem jeito – acho que já posso mesmo! Vou esperar a Beatriz voltar do intercâmbio, com o salário novo vou engordar a poupança e comprar uma aliança legal... - Acho ótimo – Marianna sorriu satisfeita – ela tá terminando a especialização, né? - Sim – ele sorriu – volta em novembro, eu acredito. - Fico feliz por vocês dois, de verdade. - Vou te deixar comer – Marcelo diz – vai ter só mais dez minutos de paz, o Armando está com o d***o no couro – ele riu – chegou cedo e não parou de trabalhar... - Estou perdida, minha cabeça começou a doer só de pensar em tanta informação. - Boa reunião. - Obrigada.             Marcelo saiu e Marianna aproveitou para pedir umas impressões para Isabel, comeu tranquila e deu uma olhada nas mensagens do celular: Lemos e as fotos do CT, fotos das meninas na Europa, fotos do seu Golden Retriver, Budweiser, enviadas pela funcionária da sua casa na Fronteira. - Bom dia – Armando interrompeu seus devaneios com as folhas impressas por Isabel em mãos – já fiz um frete – ele ri – passou bem, chefe? - Ah, muito obrigada – e fez um sinal de positivo para Isabel na sala ao lado – Eu passei sim, senhor – ela sorriu – e você? - Passei bem – ele respondeu – dormi pouco, trabalhei bastante e vi meu time ganhar. - Foi no estádio? - Sim – ele sorriu – Levei a Larissa junto, ela adorou! - Que bom – ela sorriu – apesar da pobrezinha não ter direito de escolha quanto ao time – ela referia-se ao fato de que Armando torcia para seu rival – o estádio é um ambiente legal, as meninas adoram. - E elas estão aqui em Porto? – Armando questionou. - Ainda não, estão na Eurotrip do ano – ela riu – mas começam o próximo semestre por aqui sim. - Ah, sim, a Isabel comentou, acho que a Sofia vai ser colega de classe da Larissa. - Acho que sim – Marianna franziu a testa – sim, vai ser, que legal! - Acho que vão gostar – as meninas se conheciam dos eventos da firma e davam-se bem.             Logo a sala começou a receber os demais convocados daquela reunião, e quando por fim Marianna se viu livre de reuniões, eram quase onze e meia. Suspirou se sentindo derrotada quando pensou que ainda tinha muita coisa para fazer naquele dia. - Mari – Marcelo chamou assim que ela se sentou em sua cadeira – ligação para você, já pode atender? - Sim, claro – ela consentiu, pegando o aparelho – Alô? - Mari? – reconheceu a voz de Lucas do outro lado – Lucas, tudo bem? - Oi, tudo bem com você? - Tudo bem – ele pigarreou – tá ocupada agora para o almoço? - Uhm, não – ela respondeu sem pensar. - Posso te buscar pra gente almoçar juntos? Tem um lugar que eu acho que você ia curtir... - Okay, aceito o convite – ela sorriu sozinha. - Te busco em quinze minutos. - Te espero lá embaixo.             Marianna encarou o computador, parecia que o monitor a julgava...    
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