Almoço diferente

1624 Words
            Decidida a não se julgar tanto, suspirou novamente e saiu, parando na sala de Marcelo: - Saindo para almoçar, volto às duas – ela sorriu – você deveria sair também. - Vou comer no Fiorentino – o italiano do shopping em frente – inclusive, já fiz meu pedido, quero aproveitar o intervalo vendo a coleção do Harry Potter que chegou na Pitika’s... - Não deixa a Laura saber que eu não fui no lançamento – ela riu – vou passar lá e buscar algo para elas. - Se eu ver algo incrível demais peço para o Cristiano deixar separado pra você ver. - Olha aí, o que seria da minha vida sem... – a frase foi interrompida por Vicente que chegava sorrindo. - Preciso de dois minutos com você – ele a pegou pelo braço – Marcelo, bom dia... - Vicente, eu vou sair agora... - Sim, vai sair para almoçar pipipi popopó – ele debochou – dois minutos para o seu sócio, senta aí. - Okay – Marianna afundou-se na cadeira e encarou Vicente – chora. - Fim de semana dos Deuses – ele largou um envelope sobre a mesa – não me agradeça ainda...Passaporte VIP para o jogo da Libertadores e voucher de uma suíte presidencial no Don Diego, onde o time vai ficar – Vicente sorriu – e eu ainda te levo, o que você acha? - Não entendi – ela encarou o sócio. - Vamos, Marianna – ele riu – peguei os passaportes com o pessoal, mas o hotel, tive que cancelar o fim do ano passado e ai o pessoal ligou oferecendo essas diárias, pra fazer a troca e eu aceitei, mas pedi duas suítes, né mon amour... - Eu não sei se eu posso... - Tudo bem, nem quero um fim de semana, vamos na terça e voltamos na quinta, o joguinho é quarta, ainda pegamos uns vinhos... Falamos m*l dos argentinos e voltamos em paz. - Não sei não – ela ponderou. - Posso te pegar na passada se tu não estiver em Porto... Só quero companhia pro jogo do meu time, desde que a Amanda e eu terminamos, eu não viajo, porque não gosto de ir sozinho, e vai ser legal, você vai ver. - Viagem de diversão? – ela encarou o sócio – Sem trabalho? - Juro solenemente, madame: sem trabalho. - Então eu topo – ela riu – depois combinamos se eu vou daqui ou se você me pega por lá. - Perfeito – ele correu e abraçou a sócia – vai ser legal – e logo a encarou – quer carona? - Ah, não – ela respondeu sem jeito – minha carona deve estar chegando, inclusive. - Uhm, te acompanho até o saguão então – Vicente sorriu. - E a vergonha na cara? - Não entendi – o sócio responde debochado. - Vai descer pra ver quem vem me buscar? - Vai matar o velho de curiosidade? - Não – ela riu – mas você precisa passar na sala do Armando, esqueceu? - Esqueci mesmo – ele sorriu derrotado – bom almoço.             Marianna desceu correndo e encontrou o saguão quase vazio, logo avistou a Range Rover de Lemos no estacionamento. O sol do meio dia era brilhante, mas ainda assim estava frio, e ela entrou rapidamente no carro. - Oi – ela sorriu – eu esqueci que era inverno – ela sorri. - Oi – ele se estica para dar um beijo no rosto de Marianna – tem um moletom ali atrás se você quiser – ele riu, não vai combinar muito... - Aceito – ela estica o braço e pega o moletom, vestindo-o logo em seguida. - Ficou legal – ele ri enquanto dá a partida – parece o pessoal que bate carteira ali no entorno da Arena... - Qualé, mano? – ela diz debochada com o capuz na cabeça, mas logo tira e encara o rapaz ao seu lado, ainda em dúvida sobre o que estava fazendo com ele – Onde vamos? - Um amigo abriu um restaurante – ele sorriu – dei uma mão pra ele, e ai ele sempre cobra que eu apareça por lá, não é nada demais, mas eu fui lá ontem e achei tudo ótimo, e o ambiente é bem legal, achei você desanimada ontem a noite e pensei que ia curtir. - Certo – ela sorriu.             Lemos dirigia com destreza, cantava e conversava, era nítido a sua alegria de viver, e ela sentiu-se feliz por estar ao lado dele naquele intervalo, fazia ela sentir-se com vontade de viver e de ser leve como ele parecia ser. Dirigiam-se para uma zona mais afastada do centro, em uma das saídas da cidade, margeado um pequeno bosque, ali ele estacionou e ela encarou uma imensa cabana de madeira: - Chegamos – ele sorriu empolgado. - Certo – ela tirou o moletom – vou parecendo gente. - Você deve ficar linda até de roupão – ele riu.             O ambiente era realmente alegre: mesas de madeira, flores, som ambiente animado, chopeiras e um cheiro delicioso de comida caseira. Lucas sorriu para um rapaz perto da porta, que rapidamente despediu-se de alguém e veio encontra-lo. - Lemos – o rapaz cumprimentou. - E ai, irmão, tudo bem? – Lucas sorria – Essa é a Marianna, uma amiga muito especial. - Seja bem vinda, Marianna – o rapaz a cumprimentou – fiquem à vontade. - Obrigada – Lemos respondeu e logo encaminharam-se para uma mesa próxima.             Os dois conversaram animados pedindo o cardápio e selecionando o pedido. Lucas fez algumas sugestões, e logo os dois brindavam e bebiam uma cerveja artesanal. - O Lourenço é dono – ele indicou o amigo – estava com a cervejaria, funcionando a meio p*u, não tinha um lugar, entende? E ai a distribuição engole muito do lucro, conversamos e eu emprestei uma grana pra ele começar – Lemos riu – adorei o lugar. - Eu adorei também – ela disse com sinceridade – muito aconchegante e sinceramente, mais divertido que pedir um prato do Fiorentino’s... - Que bom que eu resgatei você – ele sorriu e pegou a mão dela – e ai? Vamos ter aquela conversa? - Certeza? – ela suspirou. - Acho que está na hora de você dividir isso tudo – ele a encarou com seriedade. - Tudo bem, você quem pediu...             Marianna contou rapidamente os detalhes do divórcio e do relacionamento extraconjugal de Pedro, e das dificuldades... Só não falou das crises, não falou da insegurança, nem do medo de ficar sozinha. - Nossa – ele a encarou depois de tudo – eu nunca imaginei... – ele pegou a mão dela apertando com delicadeza – sabe que para o que precisar, eu estarei aqui, não sabe? - Sei sim, muito obrigada.             O restante do intervalo do almoço foi de Marianna contando como pretendia se adaptar à rotina da capital, Lemos parecia muito interessado nessa parte e constantemente fazia observações sobre as vantagens dessa mudança para ela. Perto das duas da tarde, ele a levou de volta para a Future, feliz por enfim compreender o que estava acontecendo com ela, porque ela havia se afastado...             Lemos lembrava-se com muita clareza de quando conhecera Marianna: já faziam quatro anos e ele ainda era o goleiro das categorias de base do clube. Em uma tarde comum, ela chegara com shorts jeans, all star e a camiseta do clube, usava um Ray Ban modelo aviador com lentes polarizadas e um batom rosa, chegou com Vicente, que ele já conhecia, e os dois sentaram-se com o  presidente do clube para uma reunião informal no CT.             Logo Marianna era visita frequente, e Lemos, entre as traves, durantes os treinos, sentia aquela estranha sensação de que precisava falar com aquela mulher, a Future passou a patrocinar as categorias de base e Marianna, uma torcedora apaixonada, diversas vezes era vista no Clube, no CT e nos eventos. E foi em um evento desses, que Lemos havia se preparado para falar com ela: era a Festa de Fim de Ano da Base, os apoiadores, os dirigentes, os jogadores... Todos juntos em um evento chique, nos salões nobres do Clube. Marianna chegou sozinha, vestindo um vestido longo azul marinho: daqueles tomara que caia, com o corpo ajustado e a saia leve, quase esvoaçante. Os cabelos loiros caiam em longas ondas por suas costas, ele não lembrava de vê-la de cabelos soltos ainda, percebeu uma infinidade de tatuagens e uma enorme aliança no dedo. Mesmo decepcionado, não perderia a oportunidade.             Ele se apresentou, ela disse conhece-lo. Ele questionou o que ela fazia lá e ela contou aquilo que ele já sabia, qualquer coisa para seguir junto com ela... Ele lembrava-se até do cheiro do perfume que ela usava, doce e intenso, um floral com fundo de baunilha e um toque de frescor, ele podia ficar toda a noite vendo ela falar, prestando atenção na forma como ela sorria...             Foram quatro longos anos tentando negar para si mesmo que ela era a mulher com quem ele sonhava. Agora, às vésperas de completar vinte e três anos, Lucas sentia-se ainda mais inseguro do que aos dezessete quando a conhecera, agora, ela era real, livre e desimpedida, e ele não tinha mais a desculpa do marido, ou da distância, porque ela estaria cada vez mais perto.             Marianna chegou na Future sentindo-se bem consigo mesma: a terapeuta ficaria orgulhosa, e isso a fez lembrar de pedir que Marcelo remarcasse sua sessão. Ainda haviam questões pendentes para resolver e ela apenas queria chegar no fim de todo aquele caos que era a sua mesa de trabalho: às 15:45, uma orgulhosa Marianna deixa sua sala, para pegar um café e retocar a maquiagem. A assinatura do contrato seria em alguns minutos e ela sentia-se mais segura do que nunca. 
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