Capítulo IV - KATRYN

1283 Words
Ícarus reflete profundamente sobre as coisas que falei, quando parece prestes a dizer algo mais, as portas do meu escritório são abertas num rompante desesperado, e Alice, a mais nova e adorável de minhas primas, entra gritando, numa postura nada elegante. — Katryn, precisa me ajudar! Precisa impedi-lo! Respiro fundo, me perguntando quem poderia fazer alguém elegante como Alice se descontrolar daquela forma, e em que momento do dia eu teria tempo para torturar essa pessoa. Eu jamais permito que alguém cause sofrimento à minha família. Por mais distante que seja o parentesco, partilhar de meu sangue é garantia de uma proteção quase infinita. Controlo a ferocidade no meu tom de voz para acalmá-la, mesmo que eu não esteja nada calma ao tentar entender a situação que terei de resolver. — Allie, querida! Respire! Quem, e o quê, exatamente, eu preciso impedir? Ela soluça um pouco, tentando respirar, quando enfim consegue se expressar com clareza, seu tom de voz é cheio de medo e tristeza. — O porco do Logan. Ele vai me obrigar a me casar, arranjará o meu casamento. Me sinto muito frustrada, pois por mais que eu abomine essa prática, e deseje a todos os meus primos e primas a mesma regalia que tive ao poder escolher com quem me casaria, não consegui que o conselho, composto por meus quinze tios e tias, votassem com unanimidade o fim dos casamentos arranjados em nossa família. Uma vez que casar nossos parentes com os filhos de outras famílias proeminentes no crime garante a paz e a troca de vantagens entre nós, eu não pude convencer meus tios que essa é uma prática r**m. Mas preciso admitir que se Logan, Matthew, Emmett e Madeleine tivessem votado a favor da minha proposta, eu não teria um plano funcional para conseguir alianças com os outros chefes de família. Meu coração se aperta por não poder dar a Alice a resposta que ela deseja. — Alice, querida! Sabe que precisamos forjar alianças fortes. Em nosso mundo, os casamentos arranjados se fazem necessários para evitar que as famílias entrem em guerra e destruam umas às outras. Seu pequeno corpo esbelto treme violentamente quando ela responde com desespero ao meu discurso ensaiado. — Não, Kat! Ele quer me casar com o Stevens. O nojento do Stevens, que tem idade para ser meu pai, e além de ser tarado, é agressivo com mulheres. Ela solta um soluço desesperado ao terminar sua explicação, e vê-la assim me faz desejar realmente torturar seu pai. No entanto, a lei é clara e sagrada, não posso usar de violência contra o conselho. Devo proteger e zelar cada m****o da nossa linhagem, mesmo os que eu gostaria de matar com as minhas próprias mãos. Não posso acabar com ele, mas a lei permite que eu possa acabar com seus planos sujos, e terei prazer em fazer isso durante a votação do conselho, no momento em que a humilhação será maior e mais insuportável. Tranquilizo Alice com a promessa de que não permitirei que ela passe por esse martírio em nome da ambição de seu pai. — Tio Logan está indo longe demais, o conselho não votou esse matrimônio. Acredito que nem saibam que ele tem essa intenção. A aprovação teria de ser unânime, e eu votarei contra perante todo o conselho. Esse casamento não acontecerá. Alice se acalma, me dá um abraço, um beijo no rosto e sai quase saltitante com a ideia de seu pai sendo humilhado pela sobrinha, na frente de todos os irmãos. Sua felicidade quase infantil com a minha promessa faz com eu queira preservar essa inocência, que, aparentemente, ela foi a única dos meus primos que conseguiu manter. Vejo os olhares de Ícarus em direção a ela, e erroneamente interpreto como interesse. Meu olhar não disfarça a advertência de que não deve tentar seduzi-la, pois não sei qual arranjo a aguarda no futuro, tal acordo pode ter sua virgindade como uma das exigências. E seria difícil resistir às investidas de alguém como ele, cuja aparência é a expressão máxima da tentação. Porém, minha interpretação de suas intenções não poderia ser mais equivocada. Ele foca os olhos verdes em mim e parece genuinamente curioso quando me questiona sobre o que discuti com Allie. — Sua família vota sobre os casamentos? Fico um tanto surpresa com seu interesse repentino nas regras que nos regem. Mas entendo que quanto mais ele souber das nossas leis, melhor será me aconselhando sobre como contorná-las pouco a pouco para alcançar meus objetivos. Então, explico de forma concisa algumas das convenções centenárias que eu e minha família seguimos. — Cada aliança contraída por meio de matrimônio deve ser votada pelo conselho, e ser aprovada pelos dezesseis membros. Visando garantir não só a paz entre as famílias, mas também, o máximo de benefícios para nós. Qualquer dos quinze votos minoritários, se negativo, coloca a pauta sob revisão. O meu voto, quando negativo, anula a pauta. Penso que ele dará o assunto por encerrado, mas minha explicação apenas alimenta sua curiosidade. — Mesmo o seu casamento? Quero dizer, seus tios poderiam impedir, mas votaram a favor de que você se casasse com um tonto como Dominicke? Dou um riso sincero quando sigo sua linha de raciocínio, porque realmente não faria nenhum sentido as dezesseis maiores mentes criminosas do país, talvez até do mundo, escolherem alguém como Nickie para se casar com a futura chefe deles. — Não o meu, eu tinha um acordo com Christian, que me permitia escolher o meu marido. A tristeza que sinto em pensar no erro que cometi ao escolher Dominicke é inevitável. A minha falta de tato ao optar por ele causou a infelicidade que estou vivendo nesse casamento falido, presa a um homem que não me ama e nem me respeita. Para afastar o clima, brinco com os acontecimentos que nos conduziram, todos nós, à situação caótica que vivemos agora. — Se servir de consolo, você era o favorito do meu pai. Rio com leveza. Ícarus ri, e embora também brinque, sinto um pouco de verdade no que diz. — Mentira! Sou só o caçula de Salvatore. Tenho certeza de que Christian preferia Matteo, até mesmo Demétrio era mais favorito do que eu. Embora possa fazer sentido, sob sua perspectiva, meu pai ter tido interesse em me casar com algum de seus irmãos mais velhos, a verdade é que Christian realmente gostaria que eu tivesse escolhido ele. — Matteo herdará o negócio do seu pai, e não era de interesse do meu pai unir nossas atividades. Demétrio é dominante demais, e era de interesse alguém que me apoiasse em minha liderança, não alguém que tentasse tirá-la de mim. Você era a opção perfeita, o preferido. Dou um meio sorriso apaziguador, torcendo para que isso encerre o assunto, mas não encerra. — Por que o escolheu ao invés de mim, então? A pergunta não é feita em tom de brincadeira, portanto, minha resposta também é séria. — Você não entenderia, nunca se apaixonou por alguém. Ícarus dá uma risada incrédula, e me responde com a frase que fica marcada em minha mente, ressoando por um longo tempo. — Quem disse que não me apaixonei? Seus olhos dizem claramente o que suas palavras não falam, que sou eu a pessoa por quem ele se apaixonou. — Eu… Ele me interrompe. — Não tem que me dar uma resposta sobre isso. Sei que não é recíproco, sei que ama aquele i*****l. E embora ele esteja certo, e eu ame Dominicke, não posso deixar de refletir sobre como seria se eu tivesse posto meus sentimentos de lado e escolhido Ícarus. Eu teria me apaixonado por ele depois do casamento? Teria o amado? Ele teria sido leal?
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