Anna Narrando.
Eu e a Tânia estávamos no meu quarto escolhendo nossos vestidos quando a minha abuela entrou com uma caixa enorme nas mãos.
Ela colocou em cima da minha cama e se sentou me olhando com o semblante triste.
- Sinto muito hija... - Ela falou batendo a mão no espaço ao lado dela.
Eu me sentei e ela me abraçou forte.
- Eu não tenho escolha, não é mesmo abuela? - Perguntei triste.
- Infelizmente não, minha linda... Eu tentei de tudo, mas, infelizmente você vai precisar cumprir esse contrato. - Ela falou limpando minhas lágrimas.
- Estamos contigo, Anna. - Tania falou se aproximando de nós.
- Você tem uma amiga de verdade, Hija! - Minha avó sorriu para a Tânia.
Todos querem o meu bem, mas ninguém é capaz de me livrar desta loucura que é estar sendo obrigada a casar com alguém que eu não conheço.
Eu amo o Carlos e idealizei uma vida, uma família ao lado dele.
O que mais me dói é saber que existe a possibilidade dele simplesmente me abandonar, não me perdoar por não dizer a verdade a ele e ainda esconder a minha verdadeira identidade.
- Eu não sei o que fazer, Abuela... eu amo ele... - Falei abaixando a cabeça.
- Hija, escute... Se ele te ama de verdade, vai entender e vai te esperar. - Minha avó falou.
- A Rosa tem razão, amiga... dá tempo ao tempo. - Tania falou confiante.
- Veja Hija, seu noivo comprou para você usar essa noite. - Minha avó falou abrindo a caixa e me mostrando um vestido preto brilhante.
- Que ótimo, estarei pronta para o enterro. - Fiz piada.
- Não seja chata amiga, até que ele tem bom gosto. - Tania sorriu.
- Só fala isso porque não está se casando com um velho... - Olhei para a minha abuela e ela sorriu. - Nada contra os velhos.
- Vá se arrumar, minha linda.. Jajá o seu papá chega e você sabe como ele é quando se trata de horário. - Minha avó falou se levantando e indo embora.
- Vou tomar banho então... - Falei para a Tânia. - Tome o seu no banheiro do quarto de hóspedes, amiga.
Tania assentiu e foi para lá com seu vestido vermelho nas mãos.
Eu entrei para o banheiro sem um pingo de vontade de me arrumar.
Eu odeio fazer as coisas contra a minha vontade, mas eu não tenho escolha.
Tomei um banho bem demorado e quente para relaxar, fiz minha higiene, desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha.
Passei hidratante no meu corpo, passei desodorante e soltei meus cabelos para secar.
Modelei meu cabelo com algumas ondas leves e me sentei na frente da penteadeira para fazer uma maquiagem.
Fiz um delineado perfeito, destacando meus olhos azuis, passei um batom vermelho e iluminei os meus traços.
Vesti minha lingerie preta e peguei o vestido preto.
Olhando ele bem, realmente é muito lindo e vai cair bem em minhas curvas.
Eu parem em frente ao espelho e vesti ele, como imaginei, ficou perfeito. Calcei minha sandália de salto fino preta e borrifei perfume em mim.
- Perfeita. - Falei olhando no espelho.
- Ual, que linda! - Tania falou ao entrar no meu closet.
- Pra mim está sendo torturante. - Respondi pegando uma bolsinha preta brilhante. - Você está incrível, obrigada por estar comigo.
- Sempre estarei, Anna!
Nós descemos as escadas dando de cara com meu papá andando de um lado para o outro, parecia estar ansioso.
Assim que ele me viu, ele abriu um sorriso e veio em minha direção, mas eu estava extremamente triste com ele, preferi não o abraçar.
- Está linda, Hija! - Ele falou sem graça. - Me lembrou a sua mãe.
- Espero que o senhor não esteja desapontando a minha mamá onde quer que ela esteja. - Falei num tom arrogante.
- Eu sei o que estou fazendo Anna... Não seja uma filha ingrata e se comporte. - Papá falou irritado.
- Claro, senhor... o que mais devo fazer? - Falei sarcástica.
- BASTA, ANNA. - Papá falou vindo em minha direção.
- Me vas a pegar ahora, papa? ( Vai me agredir agora, papai? ) - Falei olhando em seus olhos furiosos.
- Não seja ridícula, Anna... não encostaria um dedo sequer em você. - Ele falou recuando. - Apenas me compreenda, será um contrato bom para todos nós, não quero te perder.
- Mas está me perdendo de um jeito ou de outro papá, está me dando de bandeja para o inimigo.
- Eles não te fariam m*l algum, Hija. - Papá olhou para a Tânia. - Não é legal discutir na frente de sua amiga.
- Oh não... não se incomode senhor... finja que não estou presente. - Tania falou indo em direção a cozinha, onde estava a abuela.
- Eu gosto dela. - Papá falou sorrindo. - Está criança sabe se portar nos lugares...
- Uma criança, assim como sua filha que está vendendo. - Revirei os olhos.
- Un día me entenderás... Un día! ( Um dia você irá me entender... um dia! ) - Papá foi até a porta da cozinha. - Vamos... estamos atrasados.
- Claro, vamos lá... - A Abuela falou.
Ela e Tânia vieram para a sala e nos dividimos nos carros.
Eu e Tânia fomos com o nosso motorista o Ruíz e o Papá com a Abuela foram no carro dele.
Com certeza ele chegaria na frente para amenizar qualquer que fosse a cara do Eduardo Mallardo, aquele ali, dizem que é m*l humorado de nascença... imagine se eu vou dar certo morando na mesma casa que um homem como ele.
Mas penso o seguinte, se o pai é assim, imagine como deve ser o filho.
Imagine, eu vou ser obrigada a perder minha virgindade com um homem muito mais velho e experiente que eu...
Só de pensar nisso eu senti um frio percorrer a minha espinha.
Como meu pai pode fazer isso comigo, ele sabe as regras da Máfia e se eu não me casar virgem, tudo vai por água abaixo.
Será que essa é a saída para mim?
O caminho foi rápido, chegamos ao Cassino, ele fica localizado em cima de um navio na costa oeste, quando o último apostador entra, o navio zarpa a uma pequena distância da cidade e atraca em uma pequena ilha chamada Palma de Maiorca.
Está ilha é considerada o paraíso espanhol, ela é perfeita, romântica, parece uma ilha encantada.
Todas as vezes que vamos a essa ilha eu lembro da minha amada mãe.
Se ela estivesse viva, tenho certeza que as coisas seriam diferentes e jamais o meu pai me venderia.
Com toda certeza do mundo a minha mãe nunca concordaria com essa atitude do meu pai e somente ela conseguiria convencer ele de que isso é loucura.
Eu e Tânia subimos no grande navio com a ajuda dos seguranças, eles nos acompanharam até o grande salão, eu olhei para dentro e vi quantas pessoas estavam lá, pude ver de longe o meu papá junto da Abuela conversando com algumas pessoas.
Eu dei meia volta e saí de lá, fui para a frente do navio, eu precisava respirar, entrar lá é como se estivesse assinando minha sentença de morte.
- Anna, onde vai? - Tania perguntou vindo atrás de mim.
- Preciso respirar. - Falei andando depressa.
Chegamos até a frente do navio, eu me apoiei na grade e fiquei alguns minutos observando o navio indo em direção a pequena ilha.
- Os problemas não vão fugir se você continuar adiando Anna... você precisa ser forte e enfrentar logo. - Tania falou observando a água.
- Eu estive pensando... e se eu me entregar paga o Carlos?! - Falei com uma certa dúvida.
- ¿Estás loca, Ana? ( Está louca, Anna? ) - Tania arregalou os olhos. - A Máfia te mata... junto do Carlos.
- Pelo menos não viveria este inferno... tenta me compreender. - Pedi choramingando.
- Não faça isso... enfrente de uma vez. É só um ano, Anna. Você consegue. - Ela falou me abraçando forte.
- Tudo bem, não tem o que fazer... - Me soltei do abraço. - Tudo isso é uma loucura.
- Vai dar tudo certo no final... você só precisa conversar com o Carlos!
- Eu vou... amanhã! - Falei triste. - Dios me ayude! ( Deus me ajude! )