Três

2953 Words
Marreta  O mês se arrastou. O bagulho foi f**a pra mim, eu piscava os olhos e as lembranças do meu tio caindo na minha frente vinha com tudo. Era como se eu estivesse presenciando aquela m***a toda hora, todo dia. Não tinha como contar nos dedos o monte de fechamento e morador da paz que rodaram naquele dia. Pior era ligar a TV e ver aquele bando de filho da p**a dando papo que só morreu bandido, e que a operação foi uma grande “limpeza” para a periferia. A zona sul vê a gente como uma espécie de animal, como vilõezinhos de quinta que só querem vender drogas e derramar sangue. Mas geral sabe que nós trabalhamos pra eles, então, quem é o verdadeiro vilão nessa p***a? O Chapadão ficou lombrado depois da operação. Agora que estamos voltando na atividade, porque bandido morre, mas o tráfico nunca para tá ligado? E por mais que as paradas tivesse andando sempre tinha uma m***a pra embassar a p***a toda, nesses dias tivemos problemas com um PM infiltrado, mas antes dele abrir o bico pros vermes, um dos meus olheiros pegou o filho da p**a numa conversinha suspeita no telefone. O arrombado foi direto pro pneu, o bom é que isso serviu de exemplo pros caras que colavam com ele e outros cuzão que ficava bicando o bonde do Chapadão. — Tu tá ligado na questão?! Bira e Babuxa tão fechadão com os alemão, os cara tão doido pra dá na nossa cabeça, ele queria ficar no comando de qualquer jeito… Tirei o cigarro da boca antes que Taquara continuasse. — Tomar no ** ninguém quer, né cara?! – ri – ah não fode! Chocolate sempre foi o dono dessa p***a toda, ele ralou pra c*****o pra chegar onde chegou, e eu vou continuar cumprindo a missão dele! Tô só esperando os traíra virar homem e vir bater de frente comigo, invés de ficar ameaçando em áudio de w******p! — Foi mó trairagem, os caras nem esperou o corpo do dono feder pra vim com ideia errada. Deixa eles colar com os palhaço do Parque Esperança e do morro das Torres. Nós não tem peito de aço, mas nós é homem, e não corre de bala!  Taquara segurou a .40 que estava em cima do parapeito da janela de alumínio enferrujado. Eu dei mais uma tragada no cigarro que estava menos que a metade. Enquanto a fumaça aquecia meu pulmão fiquei de boa reparando os vapores indo e voltando pelo barraco com a mochila cheia de e**a, **, e pedra da pura. — Aê patrão, tem umas mina ali fora querendo trocar uma ideia contigo – o homem magro, pardo, com a cabeça raspada vestindo somente uma bermuda tectel azul deu o papo. — Comigo?! Pow Jão, já te passei a visão: não quero mulher me cercando p***a, fica difícil trampar assim! – era um saco esse monte de v***a na cola, mas no final das contas eu conseguia cuidar de uma por uma. — Eu já passei a visão, mas parece que as v***a nunca viu um fuzil na vida – Jão sorriu cheio de maldade quando deu o papo. — Quem é desta vez? – perguntei sem vontade. — A Tati e a Bia. Me animei. — A Bia… ela tá sumida, tem mó tempão que eu não trombo com aquela loira… – me lembrei das fodas atrás do beco, no seu barraco, no meu carro… — Ih c*****o! Falou de loira é com ele mermo! – Taquara riu e deu um t**a nas minhas costas. — Loira não. b****a é comigo mermo! — Com nós! – Taquara deu o papo arrancando um sorriso p********o de mim e do Jão. Dei as costas pros caras, saí do barraco doido pra saber qual era a das vagaba. Lá fora me escorei na parede com os tijolos expostos como quem não queria nada com nada. Encarei Tati e Bia por um instante, eram apenas 8hs da manhã e as duas estavam com os p****s quase pulando fora da parte de cima do biquíni. Bia usava um short jeans tapando metade da b***a branca, e Tati como toda n****a que já fodi não deixava a desejar com o shortinho colado marcando cada banda daquele r**o.  Elas sorriram quando percebeu que eu estava de olho, só na marcação, e antes que eu jogasse uma ideia, as minas foram mais rápidas e mandaram logo o papo. — Pow Marreta, com um solzão desses tu tá aí afundado nesse barraco? p***a bora pra praia! – Tati perguntou afastando os óculos escuros para baixo. — Praia… qual foi Tati?! Tô todo problemático, não tenho tempo pra ficar de rolezinho. — Então é assim? Tem mó tempão que nós não esbarra e tu vai me dar um gelo? Pow, não tô crendo! – Bia ficou nervosa. Cheguei na loira sorrindo. Apoiei a mão em seu queixo erguendo aquela cabecinha linda. — Relaxa loira. Agora eu te dou um gelo, mas pode crer que mais tarde eu te derreto toda! — p***a tu não muda mermo! – afirmou emburrada, se afastando. — Mano, leva as mina lá pra tomar um sol. Deixa o bagulho aqui comigo, eu dobro meu turno. Tô te devendo uma desde o dia que minha mulher te expulsou lá de casa! Bolei só em me lembrar da Kel esculachando eu e Pedrão na cara dura. Filha da p**a. — Pow! Aquilo foi vacilação mermo, mas deixa pra lá, já tô acostumado. Não vai demorar pra aquela maluca te bater na frente do bonde! — Quê isso mano? – Taquara abriu os braços perguntando – tá doido? Esse não é meu proceder! — É o que tá parecendo… – mudei o assunto. Nem quis fingir que não estava interessado na proposta de Taquara – c*****o, tem quase um ano que não colo na praia! Tati, Bia, já pode ir se ajeitando, põe aquele fio dental na moral e partiu praia! – sorri animado, estava tão feliz que meu mano iria dobrar pra eu curtir um pouco, que até quis dar uma moral pra Jão, o soldado que até o momento tem sido o que mais nos fortalecia – e aí Jão?! Bora colar com nós no rolê! — Pow! Demorou, é pra agora chefe! Troquei umas ideias com Taquara, exigindo que ele me passasse a visão de qualquer treta que rolasse. — Ah qual foi? Até parece que tu não me conhece. Pode tirar teu dia com as piranhas tranquilaço, deixa comigo meu parça! – Taquara afirmou tocando minha mão. Eu realmente não tinha com o que me preocupar, Taquara sempre fechou comigo na moral. Era um dos poucos, ou talvez o único com quem eu realmente podia contar de verdade. […] Passei no barraco pra ajeitar a caminhonete. Coloquei tudo no esquema e partir pra 12, pegar Tati e Bia. As gostosas entraram no carro cheias de si, se achando porque iriam dar um rolê na praia, na minha companhia. Desci o morro acelerado, na intenção de chegar rápido para eu aproveitar mais do dia. Trocamos umas ideias enquanto seguíamos pelo caminho. — Isso aí patrão, nós tem que botar pra f***r enquanto nossa ficha tá limpa, porque depois já era, nem no pé do morro da brotar em paz! – Jão deitou folgadão no banco do carona ao meu lado, aproveitou para abrir uma das latas de cerveja gelada que eu havia trago na caixa de isopor. — Nós faz o possível pra manter a ficha limpa, mas não dá pra saber até onde isso vai. Por mais que eu aja na encolha sempre tem uns filhos da p**a de olho, fechando com os canas e com os alemão. Mas aqui na baixada tá de boa, eu sou um ninguém fora do morro. — Fora né, porque lá todo mundo te conhece n***o – Tati disse acariciando minha nuca por detrás do banco. Enquanto pegava firme no volante acabei passando frente a um shopping, e como esperado as vadias se assanharam dentro do carro. — Marreta leva a gente no shopping! Minha saída de praia tá toda surrada, meu óculos tá velho, tu não vai querer desfilar com mulher m*l vestida, né mermo ?!  Por que eu iria ligar pra aquilo? — Não tô afim de enrolar. E na moral, pra quê comprar roupa se na praia geral só vai reparar na tua b***a?! Jão se meteu. — Qual foi patrão? Pega m*l pra ti colar com mulher esculachada! É, ele tinha razão. — Beleza. Então é isso… meia horinha, não pode passar disso. Copiou? – passei a visão dando meia volta, seguindo para o estacionamento. — Copiado. Na verdade eu só parei porque eu estou precisando comprar uns panos, renovar meus trajes, e como estou frente a um shopping, não pega nada. Depois de estacionar fomos às compras. Enquanto caminhava pelos extensos corredores notei que chamava atenção, não sei se é porque é raro ver um preto com tantas sacolas, ou porque eu realmente sou um t***o. Entramos e saímos de várias lojas, de biquínis principalmente. Agora era a vez de comprar pra mim, olhei para o lado onde camisas cromadas na vitrine de uma loja bolada me chamaram. Eu entrei, é lógico. O vendedor me mostrava umas peças quando geral parou pra olhar a mina que entrou e acabou escorregando no tapete da porta. Ei! Aquela não era a mina que trombei naquele dia? Fiquei surpreso, mas não perdi tempo. Cheguei e dei a mão para ajudá-la a levantar. De pé, ela deu dois passos para trás, me encarando com aquele par de olhos num tom de bronze acobreado. — VOCÊ? Meu Deus! Não me diga que tá assaltando essa loja também? – c*****o, a mina praticamente gritou aquilo, fazendo com que todos ao redor parasse para nos olhar. Engoli em seco, e cocei a cabeça abrindo um sorriso envergonhado. — Tá maluca? Tô aqui de boa, comprando na moral! De onde tu tirou essa ideia que sou assaltante?! – desconcertado, tentei disfarçar apoiando minha mão no ombro dela. — Bom… é que… – gaguejou, se afastando até minha mão parar de tocá-la. — Ei, relaxa. Tô de boa – sorri –, foi até bom trombar contigo. Tem dias que tô esperando uma ligação, uma mensagem sua no zap e nada! — Desculpa – abriu um sorriso no canto dos lábios, enquanto inclinava a cabeça para baixo evitando olhar nos meus olhos – é que… você acredita que nessa semana teve tantos trabalhos na faculdade que nem tive tempo?! Uhum… Tive vontade de rir, ela querendo mentir pra mentiroso, qual foi? Óbvio que ela ficou com medo, por isso não me ligou, nem me chamou no zap. Pensando bem está aí uma missão pra hoje, vou limpar minha barra com essa mina. Vale a pena, ela é uma gracinha, parece aquelas bonequinhas toda desenhadinha. O cabelo preto batia na cintura e parecia uma seda de tão liso, os lábios dela conseguia ser mais carnudos do que os meus e chamava atenção naquela carinha redondinha. Acho que ela media 1,65m porque estava um pouco abaixo do meu ombro, e bom, a morena tinha uma b***a e uma cintura de deixar qualquer um louco. — Boa Tarde! – um dos vendedores se aproximou – a senhora deu sorte que arrebentou a sandália na melhor loja do shopping. Fique à vontade para escolher uma! – só me dei conta que ela tinha arrebentado a sandália depois que o cara deu o papo. — Obrigada – ela sorriu – mas na verdade eu só vim deixar meu currículo – a branquinha abriu a pasta que carregava, tirou um dos currículos e entregou para o vendedor. — Pow, não tô crendo que tu tá entregando currículo num sabadão com mó solzão desses! — Pra quem está desempregada, numa situação desesperadora como a minha, não há dia certo para procurar trabalho, e é por isso que eu vim aqui. Agora se me der licença tenho que sair pra entregar mais currículos. Foi bom te ver de novo, tchau Rafael – enfiou a pasta no antebraço e deu as costas para mim. A puxei pelo braço antes que ela desse o primeiro passo. A morena parou e eu disse: — Vai sair assim? Com a sandália arrebentada? Ela arqueou as sobrancelhas, respirou fundo olhando para os pés cheia de marra. — d***a! Eu ri. — Bora fechar comigo na praia! – me sentei num puff frente à ela. — Olha, eu bem que queria, mas eu tenho mesmo que entregar esses currículos. Quem sabe na próxima?! – a branquinha tirou o cabelo do peito, jogando para trás.  Caralho. A mina era muito linda com aquela carinha de menina e mó corpão. Acho que não disfarcei quando parei para olhá-la, porque ela ficou sem graça e caminhou toda desajeitada por causa da sandália até parar frente à vitrine. Eu levantei e fui atrás. — Na moral Isadora… — Isabela! — Isabela. Vou te passar a visão, tu tá tão branca que tá parecendo um defunto! Sério, cola comigo que tu brilha! – pisquei cheio de maldade enquanto ela me encarava desconfiada – bora pra praia pegar um sol, corar um pouco, tomar uma cerveja. Naquele naipe, tá ligado?! — Meu Deus… é sério isso? Eu tô parecendo um defunto?! – Isabela olhou dentro dos meus olhos quando perguntou. — Pior que tá, tô passando a visão real. Eu ri enquanto ela caminhava até o espelho. Ao parar em frente ficou encarando-o com uma expressão interrogativa. Aproveitei que ela estava distraída para jogar umas ideias no vendedor. — Meu parça, o que a morena ali pedir é por na minha conta, morô?! Ele acenou com a cabeça num gesto de sim. E num piscar de olhos surgiu com os braços cheios de caixas de sapatos. O vendedor a cutucou e a apresentou o punhado de sandálias aos seus pés. — Moço eu já disse, não adianta insistir, não vim pra comprar – ela dizia enquanto calçava um dos pares se admirando no espelho. — Não se preocupe senhora, ele vai pagar! – o vendedor sorriu apontando a minha direção. Ela mexeu no cabelo jogando ele pra frente toda tímida. — Rafael, muito obrigada mesmo, mas… eu não posso aceitar… — Tua sandália arrebentou. Só tô te dando uma moral! — Eu sei, mas é que… – tive que interromper. É sério que ela estava negando o que as minas que vieram comigo estava implorando? p**a que pariu! — Então você vai embora descalça? – franzi a testa me aproximando – pow branquinha te devo uma desde aquele dia. Calça logo essa p***a e bora pra praia! Isabela calçou a sandália, não quis discutir comigo. Deu a impressão que ela ficou com medo, não sei porque, sou tão gente boa. — Então tá. Eu vou, mas vou logo avisando que não tenho biquíni, não trouxe nada. — Isso aí nós descola rápido. Tati dá um biquíni pra ela, de preferência o mais cavado – pisquei pra Preta. — Para Marreta, eu vou mermo ter que dar um dos biquínis pra ela? – Tati perguntou cheia de marra. — Tá s***a? Tu já ganhou mais do que merecia. Anda logo, dá um pra mina, bora meter o pé daqui! – Balancei a mão mandando ela se adiantar. Saímos da loja na companhia das minas, incluindo Isabela que seguia à nossa frente à passos lentos e desconfiados. Ela ficava reparando as lojas e as pessoas meio perdidinha, era engraçado ver aquilo. Elas foram para o banheiro pôr o biquíni enquanto eu e meu parceiro seguíamos para o estacionamento. — Aquela morena já tá no papo. Tu sabe como funciona, eu pego e repasso! – pisquei pro soldado que abriu um sorriso s****o. — Fechou. Enquanto isso vou dar uns pegas na Tati, já tá tudo desenrolado! Estalei os dedos animado. Nos escoramos no carro e ficamos de molho, esperando as minas sair da p***a daquele banheiro. Um sorriso cheio de maldade escapou da minha boca quando olhei para frente e vi Isabela com um biquíni azul marinho cavado, deixando tudo que eu queria ver à mostra. Só a m***a daquela saída de praia que estava sacaneando com minhas vistas, mas tudo bem, eu sou paciente, consigo esperar mais um pouquinho pra ver aquela b***a. — Entra aí branquinha, tu vai na frente comigo. Ela sorriu, estava alegre, soltinha. — Aí Marreta, eu dei o biquíni e a saída de praia pra essazinha. Só não dei o de fita isolante, esse tava na minha visão não é de hoje! – Tati disse num tom sério. — Até parece que eu iria ter coragem de usar isso! – Isabela encarou Tati com deboche, sorrindo. — Tu tá cheia de onda né garota? Chegou agora e já tá querendo sentar na janela, vê se te enxerga! Se tem uma coisa que eu odeio é pobre metida a patricinha! – Bia saiu em defesa da amiga. — Já eu, odeio gente intrometida! — a branquinha entrou batendo a porta do meu carro com tanta força que meu coração fisgou. Pow, não acredito que ela tratou meu bebê assim. — Bora geral ficar de boa! Não vamos brigar por causa de biquíni. p**a que pariu! – Jão exclamou balançando a cabeça. — Entra todo mundo no carro. Senão nós não chega em Arraial hoje! — Êpa! Arraial do Cabo, pra mim nós só ia ali em Copa mesmo – Tati afirmou enquanto sentava no banco traseiro. — Ah para né? Mó tempão que não tomo um sol, já que é pra ir, que seja direito. Daqui a duas horas tamo brotando em Arraial!
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