O setor de Andrei havia ficado enlouquecido com o aumento. Rodrigo fez questão de contar que tinha sido por causa de Andrei, que não aguentava mais os agradecimentos. Já acostumados com as visitas do chefe devido ao m****o ilustre da equipe, os funcionários já nem ligavam para as provocações entre eles.
— O senhor não deve ter mesmo muito trabalho. — dizia Andrei.
— Zilinski, você não precisa de dinheiro, preciso checar se não é um espião.
— Entendo. Eu, pelo contrário, tenho a vantagem de não precisar sair daqui para checar nada.
Eles se provocavam.
— Claro... — dizia o chefe. — Então você anda me hackeando? — questionou com um sorriso de canto de boca, com ar de quem vencia.
— Não, senhor. Não tenho motivo nem vontade para fazer isso. — Andrei respondeu calmo, impassivo.
Embora Andrei não falasse de forma ferina, suas palavras, algumas vezes, atingiam Rodrigo de forma inesperada. Ele passara a gostar das provocações do garoto, apesar de se incomodar com algumas delas. Pois ele era o único que tinha coragem de fazê-lo. Não só na empresa. Rodrigo sabia que sua presença era um tanto imponente, a começar pela sua altura, mas de alguma forma não surtia efeito algum em Andrei. E aquilo o instigava, ao mesmo tempo que incomodava. A personalidade do garoto despertava nele sentimentos contraditórios. E ele acabava agindo de forma pouco usual.
— Então não tem vontade de me hackear, Zilinski?
— Não. — respondeu seco, mas não grosseiramente, porque ele tinha um jeito peculiar de ser indiferente sem parecer arrogante.
— Por quê? — perguntou sério, podia se sentir quase que uma verdadeira curiosidade ali.
— Porque não hackeio mais ninguém. Talvez... — disse sorrindo — e se hackeasse, jamais hackearia um empresário. E você, senhor, é um empresário. — falou, virando a cadeira para o chefe, que estava parado na porta. Os outros já estavam cansados da conversa e tinham ido fazer outra coisa. Aproveitavam esses momentos de mútua provocação dos dois para dar uma escapada.
— E daí que sou empresário?
— Empresários são todos iguais. E, a não ser que eu tenha um motivo realmente muito bom, eu não hackeio empresários.
— Interessante... — Rodrigo tentou um leve desdém.
— Sabe por que existe salário mínimo, senhor? — nesse momento, Leandro voltava. — Por que se não existisse, os empresários pagariam ainda menos ao trabalhador, ou não pagariam nada. Por isso que só hackearia um empresário se fosse para ajudar um trabalhador. Respondi sua pergunta, senhor?
— Sim. Respondeu. Mas, ainda acho que nem todos são iguais. — falou e saiu, nitidamente incomodado. Perturbado e constrangido.
— Cara!! Você é f**a! Sensacional!Não sei como não te mandam embora, mas é sensacional! — Leandro comemorava.
— Nem eu. — disse Andrei, baixando a cabeça e voltando a trabalhar. Ele não se vangloriava daquelas coisas, não fazia para se aparecer e se Rodrigo não insistisse em provocá-lo, ele não falaria nada daquilo.
— Será que agora ele para de vir aqui encher o saco? — questionou Leandro. — Ele deve estar mesmo preocupado com a segurança digital da empresa. — ironizou.
Naquele noite, Andrei voltou para casa ainda mais melancólico do que de costume. Nem o tempo chuvoso foi capaz de mudar seu humor. Sentia que perdia a mão nas provocações com o chefe e não gostava de magoar as pessoas. Mas as coisas saíam do controle facilmente com Rodrigo. Ele o irritava deliberadamente e Andrei tentava entender por que deixava que banalidades como as que o chefe dizia podiam fazer com que ele quisesse revidar. E com esses pensamentos, abriu a porta de seu apartamento com uma ideia ainda mais estúpida em mente.