Demônio da Calábria

Cap 4

Sierra

Alguns minutos se passaram até ouvirmos uma porta batendo em algum lugar.

Olho na direção do barulho por puro instinto e lá está ele, o homem mais bonito que já vi em minha vida, ele é alto e forte, seus braços são tão musculosos que parece que a blusa social vai rasgar a qualquer momento, seus cabelos muito bem penteados são de um castanho-claro quase louro, seus traços são perfeitos e harmônicos e algumas meninas até suspiram, o que no mínimo é ridículo dada a situação horrível em que nos encontramos.

O homem é realmente bonito, não que eu tenha muito com quem comparar, os poucos homens que conheci no convento tinham mais de cinquenta anos, o nosso padre, os professores e o dono do mercadinho.

Mesmo assim, não me deixo enganar por aquele rosto bonito, de longe posso sentir a aura de poder e perigo que emana dele e não só isso, basta olhar o medo que transparece dos monstros que nos trouxeram para cá, se eles que foram capazes de estuprar e matar aquela garota no navio o temem, não gosto nem de pensar no que ele é capaz de fazer.

Todos abaixam a cabeça para ele em sinal de respeito e ele os olha com superioridade.

..._ Veja Dom Matteo, temos uma ótima leva dessa vez.

O banguela diz com aquele ar de puxa saco, mas é completamente ignorado.

Ouço os passos dele se aproximando e passando de garota em garota nos avaliando assim como o Enrico fez, quando chega a minha vez ele me observa por apenas três segundos antes de continuar a observar as outras meninas.

Eu fico aliviada de não ter despertado o seu interesse, o que vi em seus olhos cinzentos e frios feito gelo foi pura maldade.

Quando ele chega ao fim da fila, simplesmente vira as costas e vai embora, algumas garotas até parecem decepcionadas.

Matteo_ A garota de olhos azuis, traga-a para mim Enrico.

Ele diz sem olhar para trás.

Demoro alguns segundos para entender que ele estava falando de mim, e a minha ficha só cai quando o tal Enrico me começa a puxar pelo braço.

Sierra_ Não, por favor, eu não quero ir!

Grito tentando me soltar, fazendo o possível para fugir, mas isso só torna o seu aperto mais firme.

Enrico_ É melhor colaborar garotinha, será melhor para você.

Sierra_ Eu só quero ir para casa, por favor!

Eu imploro desesperada.

Enrico_ Você nunca mais verá a sua casa, a Calábria agora é o seu lar.

Depois de dias de choro silencioso, eu não me seguro mais e deixo os meus soluços livres, as lágrimas parecem não ter fim.

E antes de passar por aquela porta olho uma última vez para as garotas que vieram comigo naquele porão nojento e vejo o olhar de pena da Karen e da Mirna direcionados para mim.

É isso, minha vida está acabada, eu irei morrer nas mãos daquele homem com rosto de anjo e alma de demônio.

Sou arrastada por Enrico até o lado de fora do galpão e colocada em um carro com ninguém menos que o tal Matteo.

Com o coração quase saindo pela boca me encolho no banco tentando ficar o mais longe possível dele.

O homem nem se abala com a minha presença e nem uma vez olha em minha direção.

Não sei porque ele me escolheu, ele m*l prestou atenção em mim no meio das outras garotas.

Matteo_ Já estou perdendo a paciência com esse seu choro irritante, se não calar a boca vou te dar um bom motivo para chorar para valer.

Suas palavras causam um arrepio de medo por todo o meu corpo e controlo os meus soluços imediatamente.

Logo o carro começa a andar e eu me pego olhando para o lado de fora observando as ruas e casas por onde passamos tentando memorizar alguma coisa caso eu consiga fugir.

Matteo_ Não perca o seu tempo tentado decorar o caminho, você nunca poderá escapar de mim.

Ele diz como se pudesse ler os meus pensamentos.

Não respondo nada, minha voz parece estar presa em minha garganta e eu temo que, se dizer alguma coisa, ele me puna somente por falar.

Esse homem está acostumado a praticar todo tipo de maldade, tirar a vida de uma garota como eu deve ser algo corriqueiro para ele.

Aos poucos, meus olhos vão se fechando e eu acabo pegando no sono, mesmo que dormir seja a última coisa que eu queira fazer agora...

Acordo em um quarto luxuoso sob uma cama de dossel.

Levanto confusa olhando para todos os lados me perguntando se estou sonhando, só tem um jeito de descobrir.

Dou um beliscão em meu braço e a dor que sinto no local me mostra que isso não é um sonho, estou realmente aqui, mas como isso é possível se há pouco eu estava no carro com aquele homem sinistro?

Me levanto exitante e caminho pelo local, encontro três portas, a primeira está trancada, então deduzo que é a saída, o que me mostra que sou uma prisioneira.

A segunda é um enorme banheiro e a terceira é um tipo de armário cheio de roupas femininas.

Reparando bem, todas as peças são do meu tamanho e do tipo que eu usava no convento.

Nas palavras daquele Enrico, eu me visto como uma senhora de oitenta anos.

Nunca tive vaidade, aliás isso é algo que era totalmente recriminado no convento e, de qualquer forma, sempre me senti confortável com o que visto.

Olho para mim mesma no grande espelho pendurado na parede e vejo o quanto estou suja e descabelada, provavelmente devo estar fedendo depois de tantos dias no porão daquele navio sem tomar um banho.

Mesmo assim, eu decido ignorar isso e procuro uma rota de fuga, preciso fugir daqui e pedir ajuda.

Vou até a janela que, para a minha sorte, está destrancada.

Mais do que depressa abro a mesma na intenção de pulá-la, mas todas as minhas esperanças se esvaem quando vejo que estou a vários metros de altura, uma queda com certeza seria fatal.

Matteo_ Eu já disse, nunca vai conseguir fugir de mim, garotinha, não adianta tentar escapar, do lado de fora há um exército de soldados sob o meu comando e todos eles estão ansiosos por mostrar o seu valor para o seu dom, cada um deles ficaria mais do que feliz em te capturar e te trazer de volta.

Sierra_ O que você quer de mim?

Matteo_ Qual o seu nome?

Ele pergunta, ignorando o que eu disse.

Sierra_ Kate.

Eu minto sem querer dizer o meu nome verdadeiro.

Matteo_ A garotinha, se tem uma coisa que eu odeio é que mintam para mim, por tanto, se não quiser que eu a castigue, é melhor dizer a verdade sempre que eu te fizer alguma pergunta.

Sierra_ Como sabe que estou mentindo?

Matteo_ Sei muitas coisas sobre você... Sierra.

Meus olhos se arregalam em espanto. Como ele sabe o meu nome?

Matteo_ Quantos anos você tem?

Ele indaga, ignorando a minha pergunta mais uma vez.

Sierra_ Se sabe o meu nome, com certeza sabe a minha idade também.

Matteo_ Quero ouvir de você.

Sierra_ Tenho dezessete, faço dezoito em algumas semanas.

Matteo_ Então, quando isso acontecer, nos conversamos sobre o que eu quero de você. Agora, vá tomar um banho, estou sentindo o seu mau cheiro daqui, tem roupas no closet...