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1200 Words
Hilary Dean Estou tentando aqui me recuperar do susto que é isso aqui. Já decolamos e a sensação é simplesmente horrível e assustadora. O som, a tremedeira, a pressão e o frio na barriga é maior que tudo. Não tenho ninguém aqui para eu poder falar abertamente e estou sozinha até na fileira. Sim, sozinha! Acho que será a primeira e última vez que entro num avião. Eu ainda estou tremendo e não consigo pensar em mais nada. Quer dizer, só penso que preciso sair daqui viva. “Por favor, esse avião não pode cair!” Felizmente, já faz alguns minutos e estou me esforçando para manter o controle. Tudo ao meu redor parece tranquilo e preciso ficar também. Tem pessoas nos outros assentos e elas parecem calmas. Tem uns até que se preparam para dormir ou algo assim. Sobre o homem e o bebê da frente, tudo ainda parece tenso. O bebê ainda chora no seu colo e o homem tenta acalmar o bebê lhe dando mamadeira. Ele tenta conversar com o bebê, ouço sons de chiado como numa música baixa e até o momento nada funciona. Por curiosidade, eu tento me esticar um pouco para ver melhor e estou prestes a oferecer ajuda. Não é incomodada com a situação, é mais por empatia mesmo. — Olá, com licença! — O susto vem com tudo e me sento em reação. É uma das aeromoças. — Deseja comer alguma coisa? Precisa de algo? — Ela pergunta olhando para mim e para a poltrona da frente. — Ah, não obrigada! Eu estou bem aqui. — Estou com vergonha aqui. Parece até que eu estava bisbilhotando algo. — Qualquer coisa é só chamar. — Aceno e a vejo se afastando. O homem da frente continua na tentativa de acalmar o bebê e como não quero chamar atenção, eu decido ficar na minha aqui no cantinho. No bolso da calça, eu pego o chiclete que a Nicole me deu e vou mascando para tentar extravasar o nervoso em mim. Deveria ter trazido um livro, ou algo parecido. Quer saber, eu nunca ia conseguir ler aqui e por isso as revistas estão guardadas. A minha sorte, é que o voo não será tão demorado e se eu me ocupar com outra coisa, deverá passar mais rápido ainda. Ao olhar peja janela, um filme se passa na minha cabeça sobre tudo que já passei. A sensação de estar realmente sozinha, traz um medo imensurável. Já me senti assim antes, mas foi numa situação diferente. Eu tinha saído da casa dos meus pais e passei uma noite completa sozinha. Ali, eu pensei que ficaria sozinha para sempre, mas aqui é diferente. Hoje, eu já tenho 25 anos e pela primeira vez, eu vou fazer uma loucura por mim. Dá um aperto no peito ao lembrar desse detalhe. Queria que Nicole viesse comigo, mas ela tem muitos mais motivos para ficar lá do que eu. Terei que tomar cada decisão sozinha e não terei alguém por perto tão cedo. Não sou de confiar muito fácil nas pessoas e já imagino que nada será fácil assim que eu sair desse avião. — Ah, caramba! — O susto vem pelo som alto e por um balanço forte. “Pedimos desculpas, estamos passando por uma breve turbulência, mas está tudo sob controle.” Me agarro ao braço da poltrona e trinco os dentes. Sério, a sensação é de desespero e lembro de cenas de vários filmes que já vi. Explosões, aviões caindo e o protagonista perdido numa ilha. “Credo, longe de mim isso tudo!” Fecho os meus olhos pedindo a tudo de mais sagrado que isso passe logo. As vozes que ouço são poucas e a mensagem de turbulência se repete. Porém, depois tudo se acalma. Respiro fundo bem devagar e ao abrir os olhos, eu olho ao redor e as pessoas parecem tranquilas. Queria ter essa calma! — Olá, precisa de alguma coisa? — A aeromoça pergunta. — Você está apertando a poltrona sem parar. Quer algum calmante ou um chá? — Desculpe... — Só agora eu consigo me soltar. — É..., e-eu aceito o chá. — Vou trazer com uns biscoitos. — Aceno e a vejo sair. Eu abro e fecho as mãos várias vezes em reação e movo a cabeça em busca de um alívio maior. É definitivo, eu não entro mais num avião. Isso dá medo e não dá segurança alguma, pelo menos para mim. Como que essas pessoas conseguem dormir, sorrir e beber como se fosse tudo tão calmo? Como? Não entendo isso e acho que nunca vou entender. { . . . } Dessa vez, o choro do bebê é bem mais alto e mais forte. Vejo alguns passageiros incomodados e fico com o coração na mão. — Está tudo bem, meu filho! — Ouço o homem falar e eu decido me levantar. — Oi, eu posso ajudar? — Já tenho o olhar dele sobre mim. — É..., e-eu sou babá e já cuidei de muitos bebês. Quer ajuda? — Tá legal, não foram muitos bebês, mas eu sei que posso fazer algo. Eu sei que pode parecer estranho algo assim, já que sou desconhecida, mas eu não sou nenhuma louca. Estamos num avião, tem pessoas aqui e o pai da criança está perto. Acho que não tem como alguém pensar besteiras. Ele parece pensar um pouco, mas ele se levanta e vem para o banco do lado do meu. Aqui de perto, eu consigo ver bem o bebê e é a coisa mais linda. É muito cabeludinho pelo tamanho e eu lhe pego nos braços com cuidado. — Como ele se chama? — Pergunto ao homem que ainda está atordoado. — Michael..., é meu primeiro filho. — Aceno e já noto algo que entrega isso. Há uma marca de nascença bem no pescoço. — Ele é lindo e logo vai se acalmar... — Nisso, eu vou acariciando o bebê. — Calma, meu amor. Vai ficar tudo bem. Não demoro a saber bem o que há de errado. A fralda dele está suja e noto a roupinha um pouco apertada demais. É nítido que esse pai não sabe o que está fazendo e por isso, decido ajudar. — O que tem dele na bolsa? — Eu sei que ele deve ter algo. — E-eu..., eu vou olhar! — Ele pega a bolsa na frente e a traz. Nisso, eu vou cantarolando algo para o bebê e lhe mudo de posição. Aos poucos, o choro dele vai diminuindo de intensidade, mas ele resmunga incomodado. É a fralda e ela precisa ser trocada com urgência. Espero que ele tenha tudo aqui. Nisso tudo, eu fico me perguntando sobre a mãe desse bebê. Ela deveria estar aqui, mas não questiono nada para não ser invasiva. Bom, pelo menos não ainda. Acho que não é a hora ainda, mas vou perguntar! — Aqui tem é..., tem fralda! — Ele fala mostrando algumas. — Isso é ótimo! — Ele abre a bolsa e vou vendo mais coisas. Tem talco, pomada, manta e outras coisas bem pensadas. Com certeza, essa bolsa foi organizada por alguma mulher, mas deixo isso de lado. O foco agora é trocar a fralda!
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