Hilary Dean
Com a bagagem feita e já dentro do carro, eu e Nicole decidimos sair para ir ao mercadinho da esquina comprar apenas uns itens necessários de viagem bem rápido e depois, ela vai me levar ao aeroporto. Segundo ela, pelo nervoso, eu posso sentir fome, precisar de algo íntimo e vou comprar até um calmante depois de tudo. Eu preciso manter a calma e discrição.
Bom, a minha intenção era ir a um mercadinho de esquina, mas ela pega o carro e começa a dirigir fazendo outro caminho. O caminho é para fora do bairro e fico intrigada sendo que, não comentei nada a ela.
Sempre fomos de dividir as coisas e contar tudo, mas o que anda acontecendo está fora de seu conhecimento para o seu bem. Não quero imaginá-la no meio dessa situação e nem quero receber aquele olhar que conheço bem.
— Por que quer ir mais longe? Eu tenho hora para o voo, sabia? — Questiono sem entender nada.
— Achei que você não queria chamar atenção das pessoas. — Ela comenta enquanto dirige. — Vão ver o que você vai comprar e antes de ir embora, o bairro todo já vai saber e falar de você. Quer isso? Hum?
— Não, você tem razão! — Digo me rendendo.
— Fora que..., aquele mercadinho é péssimo e quase não tem nada de bom. — Concordo com ela.
Nicole, é assim! Ela pensa bem mais rápido e sabe se programar para as coisas. Imagina se ela soubesse de tudo.
Ela liga o som enquanto vai dirigindo e como sempre faz, começa a enlouquecer com a música que ecoa no carro. Não perco tempo e vou com ela na canção. Somos duas loucas juntas e os risos com ela são os melhores.
Nicole, se tornou a minha irmã antes mesmo de eu ser acolhida por ela e por seus pais. Nos conhecemos na escolha quando eu ainda ia e não demorou para sermos inseparáveis. Contamos tudo uma para a outra, dividimos segredos e nos apoiamos em tudo. Só comecei a esconder coisas dela recentemente e isso, para o bem dela e da família. Quando falei a ela da minha decisão de ir embora, foram horas de choro sem fim e até de surtos, mas ela não tentou me impedir.
Ela sabe que é para o meu bem e de certa forma já que a mentira inclui uma ótima oportunidade de emprego.
Assim que o carro para no estacionamento, nós descemos e entramos no local. Ela pega um carrinho de compras e vamos olhando as coisas. Eu preciso de itens de higiene bucal para a viagem, absorventes e umas barrinhas que gosto de comer. Esse é meu essencial.
Eu vejo um kit em promoção com tudo que preciso e já vou colocando no carrinho.
— Você precisa de umas calcinhas novas, Hilary. — Ela comente mostrando um kit delas bem grande. — Olha só, está em promoção! Muitas das suas estão com buraquinhos. — Agora, ela sussurra.
— i****a! — Ela gargalha e devolve. — A minhas peças estão ótima e comprei há pouco tempo.
— Eu sei! — E assim, ela sai rindo.
Logo eu vou para a sessão de absorventes e vou procurar o que eu uso. Infelizmente para mim, os valores aumentaram e fico chocada com isso. Por que cobrar tão caro em algo que vamos jogar fora? Não faz sentido! Mas, sem opção, eu pego duas caixinhas dos modelos internos.
Não consigo usar outros, dá alergia e das feias!
Enquanto andamos pelo local, vejo algumas pessoas conhecidas e logo os olhares tortos começam. Noto bem os cochichos e tento ignorar. Sinceramente, eu não quero me irritar agora. Por sorte, Nicole não vê, mas isso me mostra que os boatos estão se espalhando como vento.
Vou andando rapidamente para a sessão dos doces e biscoitos e assim, vou pegando umas barrinhas. Amo isso! Nicole, está em algum lugar por aí e já vi que estou sozinha. Fico olhando ao redor para ver se a encontro e poucos segundos depois, lá vem ela correndo com um objeto na mão.
— Olha só, você precisa disso aqui também! — É um tipo de almofada para o pescoço.
— Por quê? — Ela coloca no pescoço dela e começa a exibir.
— Se sentir sono ou algo do tipo, ele se coloca no pescoço e relaxa. — Ela explica e retira já coloca no carrinho. — Você vai levar!
Não tem papo com ela!
Com tudo no carrinho, logo ela inventa de pegar uma toalha e uma manta para levar e se eu não controlar, ela vai pegar a loja toda. Ela se empolga com tudo! Antes que ela pegue mais alguma coisa, eu corto a sua onda e vamos ao caixa pagar. Assim que p**o por tudo e recebo os pacotes, nós andamos em direção ao carro e colocamos no banco de trás.
— Não falta mais nada. — Garanto a ela. — Ouviu, não é? Mais nada! — Repito em riso.
— É, eu só acho que... — Ela não termina a frase por ser cortada.
— Hilary? — Ouço o meu nome e olho para trás.
O chão some dos meus pés ao ver a minha mãe biológica diante de mim e nem consigo me mexer. Ela usa um casaco velho, os cabelos estão presos e há olheiras bem marcadas em baixo dos seus olhos. Ela aperta as mãos pelo frio e me olha de cima a baixo mostrando muita curiosidade.
Não acredito que ela está aqui, bem na minha frente!
Confesso, é difícil reconhecê-la. Está mais magra, pálida e nem cor nos lábios ela tem. Noto que ela está sozinha e só consigo me mexer, quando Nicole toca no meu ombro.
— O que faz aqui? — Pergunto engolindo em seco e tento disfarçar a raiva dentro de mim.
— Andei te procurando! — Ela tosse e tenta disfarçar. — Faz um tempo, na verdade, e que bom que te achei.
Tenho medo do que ela pode falar e por isso, eu não tenho outra saída.
— Nicole, pode nos deixar a sós? — Peço completamente sem jeito.
— Tem certeza? — Aceno praticamente implorando. — Tudo bem. Eu te espero no carro.
Ela se afasta e ao entrar, ela fecha a porta.
— O que quer comigo? — Ela está inquieta e não parece nada bem. — Já não bastou o que me obrigaram a fazer?
— Eu preciso de dinheiro... — Juro que não acredito nisso. — E-eu não tenho mais nada e eu... — Eu n**o tentando manter a calma, mas está difícil.
— Nossa! É só nisso que pensa? Você nem sequer pergunta como estou! Só quer saber de dinheiro. — Ela não tem mais jeito mesmo.
— Me desculpe! — Ela passa as mãos no rosto e começa a chorar. — E-eu estou desesperada. — As suas mãos tremem e juro que não consigo digerir isso. — E-eu preciso de...
— De drogas! — Termino a frase por ela. — Eu não tenho nada disso. — Sou sarcástica e olho para os lados antes de falar. — Os traficantes que você compra vieram atrás de mim outra vez e você não faz ideia do que eu tive que fazer para pagar uma parte do que você devia a eles. Eu perdi a minha honra por sua causa e para piorar, você vai e compra mais para aumentar a dívida e eu estou sendo ameaçada! — Tento ao máximo controlar a voz. — Eles podem me matar e deixaram isso bem claro.
— Hilary..., por favor! — Ela tenta vir mais perto, mas não deixo.
— Só vai embora e me esquece! Finge que eu já morri, porque é isso que eles vão fazer comigo. — Dou meia volta e engulo o choro o máximo que consigo.
Na mesma hora, eu entro no carro e Nicole dá a partida sem demora alguma. Evito até de olhar pela janela ou retrovisor, porque não vou me sentir m*l por algo que não é culpa minha. Eu estou tremendo aqui por dentro e queria gritar em raiva, mas não posso.
Nicole, não sabe do que fiz e tenho certeza de que ela me olharia com outros olhos. A minha chance é sair daqui.
Eu não vou ficar e não posso ser vista com aquela mulher por ninguém, se não estou mais ferrada ainda