Hilary Dean
Eu olho ao redor da casa que morei por um tempo e noto que não falta muita coisa para organizar. Já peguei a maior parte do que era importante e agora, eu só preciso organizar as minhas roupas na mala.
Não tenho como levar metade do que queria!
A pressa é o que me motiva e por isso, começo a pegar as minhas roupas. Não tenho tanta coisa e nada de grande valor. A minha vida aqui no Canadá não foi das melhores como imaginei e por isso, não vou insistir. Principalmente depois dos acontecimentos recentes. A minha passagem já foi comprada e de hoje não passa.
Eu realmente preciso ir embora desse lugar o quanto antes!
Já verifiquei se me desfiz de tudo da geladeira, se deixei algum lixo em algum cômodo e vou olhando se tem mais algum pertence meu pelos lugares.
Apesar de gostar daqui, eu preciso ir embora para o meu bem. Esse lugar tirou muita coisa de mim e sinto que se eu ficar, não vai sobrar mais nada. Não tenho emprego aqui, a minha família biológica não presta e muita gente aqui não gosta de mim. Eu tive que sair da casa dos meus pais bem cedo, porque não suportava mais o clima de brigas e humilhações. O meu pai bebia todos os dias e sempre chegava em casa completamente violento.
Já a minha mãe, por não suportar tudo, começou a usar drogas e eu quase entrei nessa.
Quando não conseguiam o que queriam, eu era surrada por qualquer coisa e a saída foi fugir. Faz muito tempo que não tenho contato com eles e não faço ideia de como estão. Por causa deles, eu não consegui ir à escola todos os dias, mas fui acolhida pela Nicole e os seus pais. Foram os pais dela que me deram aulas em casa e me ajudaram em tudo. Para retribuir, fui fazendo trabalhos de babá e foi dando certo. Mas um certo que durou pouco.
— A minha mãe está louca que você vai embora... — Ela comenta sentada na cama. — Mas ela entende e está se conformando. É uma oportunidade grande para você.
— Amo a sua mãe. Ela é incrível! — Sou muito sincera nisso. — Vou sentir saudade de vocês e espero que ela não se chateei comigo.
— Claro que não! Ela só está preocupada de você ir sozinha! — Aceno levemente e solto um suspiro. — Pelo menos já se despediram. — Aceno.
— É e assim que chegar lá, eu ligo e vamos mantendo contato. — Faço mais uma promessa a ela.
— Como vai fazer mesmo, Hilary? — Ela me encara bem tensa agora e tento me manter firme.
Mas esse ponto é bem mais delicado e odeio mentir para ela.
Eu tenho um dinheiro guardado para me manter lá e a minha passagem para Washington, foi comprada pela mãe dela. Fiz pesquisas pela internet e consegui alugar um lugar para eu ficar e lá eu vou procurar emprego. Consegui fazer uma bela economia e, Nicole, não sabe disso, mas a mãe dela também me deu um valor para ajudar e claro, ela quer que eu vá de primeira classe já que é a minha primeira vez num avião. Tive que prometer que vou fazer isso. A passagem foi comprada de primeira classe.
Ela se tornou a minha mãe de verdade para mim.
Desde que fui morar com elas, eu fui bem recebida e tratada como filha. Fiz de tudo para não dar problemas a eles e fiz o que podia. Eu ajudava na limpeza, nas refeições, fazia compras com ela e só pedia algo que era extremamente necessário ou urgente. Eles me colocaram para sentar-se à mesa com eles e fiquei num quarto que era mais que perfeito. Bem melhor e diferente da casa dos meus pais.
Nunca na vida eu vou esquecer o que fizeram por mim. Por isso eu me sinto péssima por mentir para eles.
O período na casa deles foi incrível, mas tive que sair e mostrar que eles cuidaram bem de mim. No começo, foi difícil, mas agora se complicou mais ainda.
Eu realmente preciso ir embora daqui!
Se lá em Washington eu for babá também será ótimo, mas vou fazer de tudo para não me envolver nos problemas recentes. Eu preciso de um novo começo e fugir da imagem que me deram aqui. Essa cidade é bem pequena e o povo sabe até quantos passos você deu durante o dia. Existem olhos em todos os lugares.
— Vai dar tudo certo. — Ela garante. — Mas vou sentir a sua falta!
— E eu a sua! Você é a minha irmã, Nicole, e assim que tudo estiver bem lá, eu vou lhe avisar. — Prometo a ela. — Quero você comigo e vamos fazer a nossa vida lá. Quem sabe, lá estará o seu tão procurado namorado. — Sorrio lhe fazendo sorrir.
— Tomara e espero que não demore muito. — Sorrio dando palmas.
— Eu dei uma olhada e lá, as oportunidades são muito maiores que aqui. Já fiz o meu currículo e estou confiante. — Junto às mãos abaixo do queixo.
— Ótimo! — Sou abraçada por ela e lhe aperto bem forte.
Sinto um frio enorme na barriga. É uma mistura de sensações bem misturadas dizendo que vai dar certo e outras dizendo que é uma loucura.
Mas eu vou arriscar!
Eu preciso arriscar do jeito certo e vou acreditar que dará resultados. Porém, fico mais tensa ainda ao pegar o meu celular e ver uma mensagem recebida de horas atrás de um número desconhecido. O meu sangue gela agora, mas tento disfarçar.
“Se não pagar a dívida, dê adeus a sua casa e a sua vida também!”
Eu não posso mais ficar um dia aqui. Eles vão me destruir mais ainda e não tenho outro jeito para resolver essa situação. Eu não tenho dinheiro e o pouco que eu tenho é tudo contado.
— Algum problema? — Nicole, pergunta me olhando curiosa.
— Ah, não! São torpedos programados da operadora, só isso. — Minto mais uma vez e fecho o celular.
Tento disfarçar ao máximo e espero estar conseguindo. Nicole, é observadora até demais!
— Ah, bom, eu vou ali no banheiro. — Ela comenta incomodada. — Talvez eu demore um pouquinho, tá!
Ela vai correndo e logo some da minha vista. Assim que largo o celular, eu respiro fundo e passo as mãos no rosto procurando sanidade. Não sei se suporto mais isso, já tem se arrastado por muito tempo e nem fui eu que entrei nessa.
Saio dos meus pensamentos ao ouvir batidas na porta e já fico em alerta. Eu me levanto indo com cautela e quando ouço mais vezes, acelero os passos. Sinto uma sensação rüim dentro de mim e ao abrir a porta, eu não vejo ninguém. Isso é estranho.
Dou um passo à frente e ao olhar para o lado, eu sou puxada e encurralada na parede por dois homens.
— Lembra da gente? Claro que lembra! — Tem uma mão na minha boca e sinto uma ponta fina na minha barriga. — É o seguinte..., a sua mãe aumentou a dívida e disse que você pagaria. Queremos o dinheiro ainda essa semana ou você perde tudo. Entendeu? — Não tenho chance alguma de resposta. — Aqueles dois mil dólares não foi nada!
— Não acha melhor nós deixarmos um belo lembrete de que não tem mais chances? — O outro fala me olhando de cima a baixo. — Tenho algo em mente.
— Quem sabe na próxima. Não temos muito tempo! — Eu prendo até a respiração agora e as lágrimas escorrem pelo medo. — Está avisada! Tem cinco dias para pagar tudo e saiba logo que depois de pagar, a sua mãe morre. Ninguém aqui é trouxa. — Aceno com a cabeça sendo a única ação que tenho.
Ouço o som de um carro passando na rua e eles me soltam para fugir. Para não chamar atenção, eu corro para dentro e fecho a porta enquanto me tremo inteira aqui. As minhas mãos estão sem controle, as minhas pernas estão bambas e estou ofegante pelo susto imenso.
É a primeira vez que eles vêm aqui na casa e não posso mais ficar aqui. Tenho que agilizar tudo para ir embora e vou fazer agora.