Hilary Dean
Ele parece pensar um pouco ainda, como se tentasse entender a situação e olha para mim e para o seu filho. Essa exaustão dele está me dando medo agora. Se ele for esperto, vai concordar comigo e faço isso por ele também. Imagina só, ele me acusar de roubar o bebê sendo que foi ele que saiu daqui sem a criança. Vão questionar o motivo de ele ter feito isso e nós dois seremos interrogados. Vão até desconfiar se ele é mesmo pai.
Eu não quero isso e quero pensar que ele também não.
— Sim, é..., ela é a minha prima! — O alívio em mim é enorme e assim, ele pega Michael e se mostra aliviado por completo.
Ele não esconde a expressão.
— C-conseguiu falar com..., aquela pessoa? — Engulo em seco e ele acena, mas ele demora um pouco a falar.
— Sim, e-eu consegui e... voltei para ver se precisava de ajuda. — Fico aliviada por ele entrar na situação. — Lembrei que seria injusto você ficar com ele por causa da bagagem grande. — Ele responde olhando as minhas coisas e para completar, ele pega a minha mochila. — Obrigado!
As minhas pernas ainda tremem, mas estou mais leve agora.
— Obrigada! — O alívio que sinto é enorme. — Podemos ir, moça? — Falo com a mulher da companhia.
— Claro! Tenham um ótimo dia. — Agradecemos e vamos saindo.
Que alívio! De verdade, sinto um peso saindo de cima de mim e vou a cada passo agradecendo a Deus por isso.
Isso foi uma loucura. Senti o medo e a tensão em mim em segundos e agora, ela vai saindo conforme eu vou saindo do avião. Desço as escadas com cuidado e nem quero imaginar como seria descer isso aqui com aquele bebê nas minhas mãos. Seria impossível!
Mark, vai na frente e posso notar ele segurando firme o suporte da cadeirinha. A expressão que ele fez ao me ver com Michael foi de desespero completo. Posso imaginar que ele deva ter surtado por uns minutos antes de voltar. Depois, o alívio em seu rosto foi imenso e vi ele se controlando para não se contradizer na conversa.
— Desculpe... — Ele se vira e me olha. — E-eu esqueci o seu nome.
— Hilary! — Respondo ficando frente a frente com ele. — Eu não queria lhe assustar e nem estava roubando o seu filho. Por favor, não pense isso... — Tento me explicar. — Como falei antes, eu sou babá e quando o vi ali..., e-eu pensei que você estava perto... — Ele acena. — Eu tentei mudar o rumo da conversa ali, porque poderíamos nos complicar.
— Eu imagino... — Ele suspira. — Eu seria denunciado na mesma hora e nem quero pensar onde isso daria.
— Exato! — Ainda bem que ele entendeu e assim, ele me olha seriamente.
— E não pense que eu sou um péssimo pai. — Nisso, eu fico calada. — Eu só... — Ele suspira e olha para o filho. — Michael, nasceu há poucos dias e eu perdi a minha esposa no parto. — O meu coração se aperta aqui. — O parto foi de risco e ela perdeu muito sangue..., depois não conseguiram fazer muita coisa. — Noto o peso na sua voz. — Foi tudo muito rápido e eu..., eu não durmo há dias. E-eu ainda não tenho ideia do que fazer... — Agora eu entendo a exaustão visível nele.
Se um filho já suga as energias de pais preparados, imagina depois de uma tragédia dessa. Eu compreendo muito essa fisionomia dele e até essa inquietação. Eu trabalhei em várias casas onde eu via o rosto caído de cansaço de uma mãe noites e noites em claro. De um pai que saia para comprar algo e dormia no carro, enfim, eu entendo.
E ele sozinho assim é mais complicado ainda.
— Eu sinto muito, Mark! — Engulo em seco e ele não para de olhar para o filho. — Não tem ninguém aqui que lhe ajude? Alguém de sua família?
— E-eu não consegui contar ainda aos meus irmãos e estou voltando para a minha antiga casa. — Ele suspira e tenta se recompor. — Você mora por aqui?
— Não..., na verdade, é a minha primeira vez aqui e estou procurando emprego. — Não vou mentir nessa altura e penso rápido. — Se precisar de uma babá..., já conhece uma. Eu sou muito boa! — Falo com um pequeno riso no rosto.
Se Nicole estivesse aqui, ela diria milhares de motivos para ele me contratar agora.
Eu sei, parece meio errado, mas eu preciso de um trabalho e ele de uma babá. Ele não tem esposa e pelo que disse, tem irmãos. Quero pensar que sejam todos homens e se for, poderá ter uma chance de ele me contratar. Infelizmente, ele parece ainda bem aéreo pela situação e não fico tão confiante assim.
Mas, para não me arrepender, eu abro a minha bolsa e r***o um pedaço de papel de uma das revistas que a Nicole me deu. Procuro uma caneta, mas não encontro. Porém, ele mesmo pega uma de dentro de seu terno e me entrega. Anoto o meu número bem rápido e lhe entrego.
Mark, olha um pouco o papel e depois, ele o guarda junto com a caneta.
— Eu preciso ir... — Ele fala depois de pigarrear.
— Boa sorte e espero que tudo fique bem. — Ele acena e toco apenas na mãozinha de Michael. — Até logo, garotinho! — Falo com ele e os vejo irem.
Eu pego as minhas coisas para sair daqui e o vejo ir bem lá na frente. Mark, é recebido por um homem que parece ser um motorista e fico olhando de longe. Bem que eu pensei, ele é rico e penso que é bem rico mesmo. O carro que ele entra é enorme e vejo mais pessoas lhe ajudando. O carro não demora a sair e observo até sair do meu campo de visão e penso se ele vai mesmo me procurar.
Bom, sinceramente, eu acho difícil. Ele tem muitos recursos e pode contratar pessoas bem mais preparadas e conhecidas. Eu não faço ideia se dei uma boa primeira impressão e por isso, vou esquecer. Ainda tem o fato de que ele provavelmente, depois de dormir, irá esquecer boa parte do que ocorreu hoje. Aquele homem precisa dormir e eu preciso saber onde eu estou exatamente.
O meu foco agora é ir ao lugar que eu aluguei e me instalar.
É, eu estou em Washington e é hora de recomeçar!