Capítulo 17 - 2

2784 Words
Camila 20 de fevereiro Quinta Noite Alguns minutinhos antes -Jin está tomando banho.- Falei assim que desci as escadas e cheguei na sala. Kidoh e Lauani estavam conversando em voz baixa. Não pude evitar sentir ciúmes. –Vocês se conhecem? -Ah, não. –Lauani falou dando uma risadinha. -A gente estudou junto há uns dois anos, antes de eu me mudar. Mas a gente nunca chegou a se falar. Dois anos é muito quando se tem 10 anos. –Kidoh riu e revirou os olhos. -Você estudava lá?- Lauani perguntou exageradamente surpresa.- Eu nunca notei você! -Ah, valeu!- Kidoh riu sarcástico e Lauani negou com a cabeça. -Não. Não foi isso que eu quis dizer. Eu notaria você. Você é um alfa lúpus, quem não notaria você?-Ela perguntou retórica e voltou a falar rapidamente-  Mas eu nunca cheguei a te ver.- Lauani falou rápido e Kidoh sorriu envergonhado. Eu acho impressionante Kidoh ficar desconfortável quando o chamam de alfa lúpus. Eu sei que ele deve ter orgulho, mas é bonito ele não ser um tremendo convencido e ignorante como o Levi ou o Nathan. -Como eu disse, eu sou mais novo... Nós não dividíamos o mesmo horário de intervalo.- Lauani abre um sorriso largo e me olha com ar de brincadeira. -“Nós não dividíamos o mesmo horário de intervalo”- Lauani falou forçando uma voz grossa e rouca. Mesmo com o clima pesado, com o jarro quebrado no meio da sala, foi inevitável não rir. Até Kidoh sorriu e tirou aquela expressão fechada do rosto. -Ah, vai se fuder.- Ele falou rindo. -Eu estava no maternal e você no ensino médio? –Ela riu. -Eu estava no fundamental e você ensino médio. Eu tenho 14.- Kidoh disse voltando a ficar sério e encarou o jarro no chão. Lauani ignorou sua subida mudança de humor. -14? –Ela olhou para mim- Ele tem 14?- Ele não riu. Aposto que não é a primeira vez que não acreditam em sua idade. Eu confirmo com a cabeça. -Enfim... Eu vou falar com o Jin. -Não. Ele está tomando banho. O que foi que houve? –Falei impedindo a passagem do mais novo. Ele me olha sem expressão. -Eu vou resolver amanhã. –Quase posso vê-lo trincando os dentes. -Eu quero saber. Eu perguntaria ao Jin, mas ele está um pouquinho chateado.- Falei sarcástica e ele recuou um pouco devido a nossa proximidade. Lauani nos encara sem acreditar, ela deve estar se perguntando o porquê dele ter me obedecido e ficado na sala. Bom, acho que ele me respeita irmã de consideração. -O i*****l do Levi mexeu com ele e eu surtei.- Ele olhou para o chão rapidamente com feição de culpa. Lauani estava crítica e o observava com as sobrancelhas franzidas. Um surto. Isso explica as coisas quebradas. Meus olhos se arregalaram, mas eu tentei parecer neutra. -Mexeu como?- Kidoh lançou um olhar sugestivo a Lauani. Ele não queria contar com ela aqui. -O que foi, pequeno?-Ela sorriu- Achei que fossemos amigos agora que eu te notei!- Kidoh forçou uma risada. -Uau. Estou tão agradecido. -Eu sei que está.- Ela sorriu mais uma vez e os dois se encararam numa batalha para saber quem iria desviar o olhar primeiro. Meus músculos se contraíram e eu me vi forçada a fazer uma expressão indiferente. Isso foi um flerte? -Lauani, fica quieta. –Falei soprado e os dois viraram para mim. Lauani desviou o olhar primeiro. – Ela sabe do Levi, pode falar. Kidoh abriu a boca e aos poucos a mesma raiva que fez Kidoh quebrar o jarro foi me consumindo. Talvez a minha raiva não causasse tanto dano como em Kidoh, mas eu podia sentir a adrenalina correndo o meu corpo e meus punhos se fechando. Jin Quinta Noite No quarto Mesmo depois de eu ter aumentado o volume da TV, Kidoh não parecia ligar para o conteúdo do programa e se aproximava de mim lentamente, até colocar a cabeça no meu ombro. - Jinnie? - Kidoh sussurrou. - Oi... - Você me desculpou, não foi?- A voz propositalmente meiga de Kidoh quase me fez rir e eu o encarei tentando manter uma expressão séria. –Não foi?- Ele perguntou novamente. - Eu já disse que sim. - Mas o Jin não está abraçando o Kidoh e o Kidoh não vê o Jin há 2 anos... – Eu não tenho certeza se eu tenho vontade abraçar ou bater em Kidoh quando ele me trata m*l e vem todo carinhoso falar comigo depois. E não tenho certeza se ele só está se sentindo culpado pelo surto ou se está realmente com saudade. De qualquer modo, eu dei um sorriso irônico. -Eu vi você uma vez por mês!  -Kidoh não conseguiu m***r a saudade em um final de semana, vale como 2 anos...- Ele falou manhoso. –Desculpa o Kidoh!- Ele abriu os braços pedindo um abraço. Eu suspirei e me aproximei sem vontade, mas a minha tentativa de ser frio foi falha quando ele me abraçou e não me soltou mais. Começou a ter graça depois dos dez segundos, quando o quarto ficou mais silencioso e só dava para ouvir a nossa respiração e o som da TV. Kidoh só fala de si em terceira pessoa quando está se sentindo culpado e, claro, a sós. -Ta bom. – Ele não moveu um músculo- Ok. – Eu ri- Eu desculpo você... –Ele me soltou e me deu alguns beijos na bochecha, mas se afastou num susto. -O que foi? –Perguntei sem entender. -Papai chegou. –Pude ouvir a voz do meu pai chamando por Kidoh quase de imediato e ele riu irônico. Coisas quebradas podiam ser associadas a Kidoh com quase 100% de acerto –Eu vou explicar o que aconteceu... Amanhã iremos resolver isso, ok? -Resolver? -As pessoas não machucam você e as coisas ficam por isso mesmo, entendeu? Papai já deveria saber do Levi há muito tempo. Ele deve ir na escola, afinal aconteceu na escola.- Ele disse calmo. Calmo demais para ser o Kidoh. Mordi o lábio para controlar meu stress instantâneo. Eu sabia que não podia convencê-lo a desistir, então me levantei da cama para acompanhá-lo. -Melhor você ficar. Ele ainda vai brigar comigo pelo jarro. – Assenti e me sentei de volta na cama. Ele saiu em seguida e eu fiquei paralisado por um minuto. Meu pai. Escola. Levi. Nathan. Kidoh. Isso não podia dar em boa coisa. Eu quis voltar ao dia que conheci os cães e ter ignorado Nathan, ou ter pegado uma gripe e não ter ido ao colégio naquele dia,ou  simplesmente estudar em outro colégio. Minha vontade de descer lá e ouvir o que estavam falando era grande, mas ao mesmo tempo queria me manter desinformado para poupar a minha mente de pirar. Alcancei os fones de ouvido largado em cima da cama e topei o volume até o mundo ficar mudo. Eu sei que eu não conseguiria dormir. Jin 21 de fevereiro Sexta Manhã Meu coração batia tão forte que eu achei que iria ter um ataque de pânico. Assim que percebi que Kidoh estava falando sério e meu pai nos levou de carro até a escola e desceu conosco, eu queria morrer. O que poderia ser pior do que ficar de frente com os cães e citar cada coisa que eles já fizeram comigo? Eu iria começar a chorar assim que entrasse na diretoria e todos os alfas da minha vida me veriam chorar. Nathan. Kidoh. O meu pai.  E o m***a do Levi. Eu não sei se eles chamariam os outros que já fizeram coisas comigo em doses muito menores, como o Matheus, Lauani, Layla e o Aidan. Eu queria me m***r só em pensar na possibilidade de Matheus ser chamado na diretoria por isso. -Hey, por que estão maltratando a solitária vida desse ser sozinho e solitário e que não tem amigos? –A diretora diria. Eu sei que ela iria sugerir que fossemos amigos daqui pra frente e poderia até citar que já fomos amigos um dia. -Por que você e o Jin não são mais amigos, Taetae? Vocês eram tão próximos! Os ômegas devem ser unidos!- Então ele faria aquela cara de nojinho e Levi riria incessantemente até Nathanmandar ele se tocar e dizer que não era momento para isso. Então eu me mataria com a caneta mais próxima cravada na garganta. Eu estava com vergonha de existir. -Vão para a aula agora. Nos falamos depois.- Meu pai disse entrando em um corredor diferente do nosso. O caminho da diretoria, mas Kidoh deu meia volta para seguir o nosso pai. - Ei! Eu quero ir também! - Kidoh falou alto seguindo-o. Eu queria dizer para ele ficar, mas minha voz iria falhar e iriam me ignorar. Camila apertou minha mão ao meu lado e saiu para sua aula. -Kidoh. Aula. Não vou repetir.-Meu pai disse seco e Kidoh foi ficando para trás. - Que d***a. Ele não vai saber explicar a diretora o que aconteceu!- Ele respirou fundo. - Vai acabar não dando em nada! - Ele vai resolver! - Eu preferia que eles só esquecessem esse assunto.  Kidoh estava com uma expressão de raiva e uma leve inquietação, enquanto encarava o chão por alguns poucos segundos. Eu podia jurar que ele estava pensando em argumentos para dizer ao meu pai para ele deixá-lo ir também, mas ele soltou um longo suspiro. - Eu odeio ser aluno novo... -Ele falou pensativo e sorriu sem mostrar os dentes. -Boa sorte!- Forcei um sorriso. Meu coração estava muito acelerado e ele me olhou se perguntando o porquê disso. - Vai dar tudo certo, eles vão gostar de você. -Tome uma água antes de entrar na sala, se não aqueles dois babacas saberam que está nervoso.- Falou simples, guardando o Kidoh com sentimentos no bolso e vestindo a máscara de Sr f**a que ele adora. Ele saiu entre os corredores, pisando firme e confiante. Ele provavelmente não sabia onde era sua sala, estava contando com a sorte. Ah, tomar água não iria ajudar a me acalmar. -Jin!!- Minha expressão surpresa foi quase sarcástica quando Levi surgiu na minha frente. – Você está bem? Eu sinto muito por ontem... Olhar para trás e conferir se Kidoh ainda estava perto foi quase um reflexo involuntário. Assenti com a cabeça e tentei me distanciar, mas ele não se contentou com a minha resposta. -Ei... Eu não sei o que dizer. –Ele disse quando puxou a minha mão para eu não ir embora. Eu ri de nervoso. – Se eu puder fazer alguma coisa por você para te recompensar, é só dizer...- engoli em seco. -Ei!- O grito de Kidoh vindo por trás de mim me fez me encolher por um segundo e gelar logo em seguida. Levi não esboçou reação, apenas guiou o olhar em direção o grito. –Qual. O. teu. Problema. Com. O. Jin?- Kidoh falou e só foi o tempo dele se aproximar para dar o primeiro soco em Levi. Eu prendi a respiração. As poucas pessoas que ainda estavam nos corredores, ao invéz da aula, voltaram-se para o centro do corredor e apreciaram o segundo soco dado pelo meu irmão. Eu não tinha certeza, se eu queria ver aquilo, ou se queria interromper antes que Kidoh também se machucasse, mas quando o terceiro soco derrubou o cão no chão, eu pensei se deveria parar aquilo para o meu irmão não ser expulso da escola. Eu me sentia culpado por ficar parado, mas algo em mim (de que eu não me orgulhava) gostou disso. Levi tentou reagir, mas estava um pouco atordoado e acabou socando o ar. Meu irmão estava por cima do cão e acertando todos os socos com exatidão naquele rostinho lindo do Levi. Olhei em volta e os betas apoiavam aquilo mesmo sem saber o motivo. Outros olhavam com um pouco de angustia, mas nenhum tentou separar os dois. Kidoh estava transtornado e aí que lembrei que ele não pode se meter em briga, porque ele não sabe quando parar e toda a raiva só aumenta. E fica incontrolável. Eu ia dar meu primeiro passo em direção dos dois para separá-los, quando Nathanentrou no círculo de observadores e percebeu que era Levi que estava apanhando. Na mesma hora ele entrou em cena e tirou Kidoh de cima de Levi e o empurrou para que se afastasse. Levi não se levantou, mas não estava desmaiado. -O qu...- Nathancomeçou a falar, mas foi interrompido por Levi no chão. -A culpa não foi minha, eu nem sei quem é ele !- O alfa no chão falou para o amigo e cuspiu um pouco de sangue no chão. -Não sabe quem sou, o****o?- Kidoh respondeu com raiva, as veias do seu pescoço saltavam.- E o outro b****a? Você é o Nathan? –Kidoh falou andando para mais perto do cão ainda de pé. - Baixa a bolinha aí, descontrolado!- Nathanfalou antes de também receber um soco. - É o Nathanou não, p***a? - Sou- Ele falou como se fosse óbvio levando a mão onde o meu irmão socou. Kidoh sorriu sarcástico. -Prazer, eu sou o irmão do Jin.- Ele sorriu antes de socá-lo novamente. Nathannão caiu. Era como se tivesse processando a informação na sua cabeça e me achou do lado de dois betas como se todo o tempo ele já soubesse que eu estava ali. Meu coração apertou e eu fiquei inquieto. A vontade de interromper era mais forte que a vontade de assistir. Ele não se defendeu. Não se defendeu. Ele deixou Kidoh acertá-lo sem esboçar muitas emoções. Levi continuava no mesmo lugar que antes, agora sentado e a mão tampando o nariz. Eu não podia ver aquilo. Quando Kidoh foi acertar o quarto soco eu pulei na frente, m*l notei que saí do lugar e eu já estava lá. -Ta bom. Ta bom.-Falei tentando empurrá-lo para que se afastasse (como Nathanfez antes com Kidoh), mas sem sucesso. -Sai, Jin!- Ele falou e eu quase fui jogado para longe. Voltei rápido o suficiente para impedir que Kidoh desse outro soco. Nathanestava imóvel, sem ao menos se defender. Eu abracei Kidoh para ficar entre os dois e ele não conseguisse me empurrar novamente. -Kidoh, eu to bem. Não vai mais acontecer.- Eu pude sentir –com a cabeça encostada em seu peito- que seu coração estava acelerado e seu corpo estava quente. –Olha pra mim, Kidoh! Vamos embora, sim?   -Não. -Olha pra mim, eu to bem. Eles não fizeram nada. Vamos.-Eu pedi, mas ele nem olhou para mim. Estava encarando Nathan. -Não fizeram agora! -Eles não vão fazer mais, vamos... Você está descontrolado. Olha para você- Falei baixinho e Kidoh olhou para mim acordando, ele fez uma expressão de culpa e em seguida olhou para Levi sangrando. -Eu sinto muito- ele sussurrou para mim e se soltou. Eu não sei porque ele não fez isso antes, enquanto realmente queria se soltar e esmurrar Nathancom todas as forças. Kidoh me puxou para fora do círculo e as pessoas em volta foram se distanciando. -Eu tenho que ir para a sala- Ele disse robótico, o olhar perto do chão. Ele havia tido outro surto. Dois surtos, em dois dias seguidos; eu achava que eles estava melhor. Eu sabia que ele não estava normal. Ele se foi entre os corredores novamente e eu fiquei parado ali sem saber o que fazer. Olhei para trás num impulso e vi Ivan ajudando Levi a se levantar e depois saíram juntos devagar. E vi Nathanme olhando rápido, até ele decididamente vir em minha direção. -Por que não deixou seu irmão me bater?- Sua voz era áspera, eu dei de ombros. -Por que não deixou seu irmão me bater?- Ele repetiu. Eu não sei. -Não queria que ele se machucasse.- Nathannão estava revidando e era notável. -Eu não revidei.- Ele disse como se fosse óbvio e eu agradeci por pensar mais rápido dessa vez. -Como eu poderia saber que você não ia revidar?- Falei e ele pensou por meio segundo. -Pare de mentir para mim, eu sei que tem um motivo!- Ele falou alto e tocou com as duas mãos nos meus ombros. Eu me encolhi. Como ele pode falar alto comigo depois do que aconteceu? Ele se aproximou de mim e eu recuei até bater contra uma parede- Por que? Por que não deixou seu irmão me bater?- Eu não tinha uma resposta. O que ele esperava que eu dissesse? -Eu não sei!! –Falei alto, mas ele não se afasta. Ele encarou minha boca e segurou minha nuca com uma das mãos. Meu coração bateu forte pela proximidade, ele me deixava nervoso. –Louco!- Falei soprado, um segundo antes de sentir seus lábios nos meus.
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