Olivia Fernandes
Enquanto caminhava pelo campus com passos lentos e pensativos, aproveitando a noite calma e bonita, senti o cheiro de Dante ainda impregnado em mim. Era como se ele estivesse presente em cada centímetro da minha pele, e isso fazia o meu rosto ferver. Eu me sentia como se estivesse em um dos dramas literários que passava as noites em claro lendo, mas agora, como a protagonista de uma história confusa e perturbadora, e não apenas no sentido negativo.
Sentia-me afetada no meu íntimo, como se estivesse refém de Dante no quarto que criei na minha memória, onde deixei um espaço especial para recordar os detalhes sórdidos que se referiam a ele. Enquanto andava, recordava cada momento daquela noite. Como cheguei a esse ponto? O que fazer agora? A imagem de Lucas vinha à minha mente, dividindo e piorando minha confusão.
Céus, ele era pai de Lucas, como eu poderia ter previsto isso?
Tentava me lembrar de todos os detalhes que construíam o rosto de Dante. E, pensando bem, eu podia ver certa semelhança, mas nada que dissesse explicitamente que eram pai e filho. Talvez fosse culpa da barba ou dos drinks que bebi antes de sair correndo da festa após ver Lucas com Luara.
Luara, esse era um nome que havia esquecido nas últimas horas… Bem, pelo menos havia um lado positivo nisso. Esqueci completamente do motivo que me levou até ele. Se não fosse por Luara, ou melhor, por Lucas, eu não teria saído na chuva e não teria entrado no carro de Dante. Parecia destino, mas eu não quis me prender a esses detalhes. Pensei estar me iludindo e criando algo além do que realmente aconteceu, por mais que eu odiasse admitir o quanto os detalhes daquela noite foram peculiares, para não dizer mágicos, sendo ainda mais ilusórios.
Ele era perfeito, e era a primeira vez que me encantava com alguém tanto quanto me encantei por Lucas. Dante era a explicação perfeita para um garoto tão gentil existir, pois tinha a quem puxar.
Ao chegar no dormitório, tirei meu vestido e segui para o banho. Enchi a banheira, aromatizando a água com os sais que guardava para ocasiões especiais. Eu precisava de um momento para relaxar, ou enlouqueceria. Fiquei imersa na água quente, tentando acalmar minha mente caótica.
Após um tempo, finalmente me senti um pouco mais tranquila. Enrolei-me em uma toalha macia e fui para o quarto, tentando afastar os pensamentos perturbadores. Precisava de uma noite de sono, embora duvidasse conseguir dormir bem.
A manhã chegou mais rápido do que eu gostaria. Quando abri os olhos, percebi que adormeci no sofá, ainda com a toalha enrolada. O celular vibrava incessantemente ao meu lado. Peguei o aparelho e vi várias mensagens de Lucas, todas cheias de preocupação e perguntas sobre onde eu estava e se estava bem.
Vesti-me rapidamente e saí do dormitório, decidida a encontrar Lucas. Estranhei como todos os olhares estavam voltados para mim, mas preferi acreditar que era apenas resultado do belo vestido que escolhi, numa tentativa frustrada de recuperar minha autoestima após passar a noite me autodepreciando.
Ao chegar na biblioteca, logo vi Lucas parado em frente às estantes. Ele estava inquieto, andando de um lado para o outro, com as mãos enfiadas no bolso do seu moletom branco.
— Liv, você me deixou preocupado! O que aconteceu ontem à noite?
Me afastei um pouco, olhando o rosto de Lucas. Respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas. Mas, antes que eu pudesse continuar, vi o roxo contornando o olho esquerdo do meu amigo.
— O que aconteceu? — Acariciei o rosto dele, preocupada ao lembrar da briga mencionada por Dante.
— É uma longa história… — Ele desconversou, mas eu m*l percebi devido ao nervosismo que sentia.
Mais pessoas passaram ao redor de nós, cochichando e balbuciando palavras desconexas.
— Vem, vamos ficar a sós. — Lucas segurou minha mão e me puxou, levando-me para um dos corredores extensos e bonitos da biblioteca.
Estávamos sozinhos, cercados por uma infinidade de livros, com o cheiro das páginas antigas tomando conta do ambiente. Seria o cenário perfeito para eu dizer o que sentia. Mas agora, já não sabia mais se sentia o mesmo que na noite passada.
— Lucas, tem algo que você precisa saber. — Comecei, sentindo meu coração acelerar.
Antes que eu pudesse continuar, Lucas me interrompeu.
— Você está bem com tudo isso que está acontecendo? — Ele perguntou, a preocupação evidente em sua voz.
Fiquei confusa.
— Do que você está falando, Lucas? O que exatamente aconteceu?
Ele franziu o cenho, surpreso.
— Você não sabe? — Falou sem explicar bem, me deixando ainda mais nervosa. — Liv… vazaram algumas fotos.
As palavras dele carregaram um peso que senti em mim.
— Que fotos? — Perguntei, com a voz trêmula. Não sabia exatamente se queria saber do que se tratava, mas precisava.
— Sinto muito por isso… — Ele tirou o celular do bolso e o levou em direção ao meu rosto.
Senti o chão sumir sob meus pés. Agora entendia por que todos me olhavam de maneira estranha enquanto caminhava até ali. Uma onda de humilhação e raiva tomou conta de mim.
— Fotos… minhas? Como assim? — Perguntei, com a voz trêmula.
Lucas tentou segurar minha mão, mas eu me afastei.
— Olivia, eu não sei como isso aconteceu.
Balancei a cabeça, com os olhos marejados de lágrimas.
— Eu… eu não posso lidar com isso agora.
Sem dizer mais nada, corri, desesperada, desejando nunca mais voltar. Queria, mais do que nunca, sumir daquela situação, acordar de um pesadelo. Corri sem rumo, e quando estava longe o suficiente para me perguntar para onde poderia ir, senti meu celular vibrar mais uma vez.
Uma enxurrada de mensagens de conhecidos e desconhecidos, todas mencionando as malditas fotos que havia tirado em uma noite de bebedeira com minha colega de quarto. Quando rolei a tela o suficiente para ver todos os comentários perturbadores, vi mais uma mensagem chegando no meu celular. Mas, dessa vez, algo fez um sorriso brotar diante da situação difícil em que me encontrava.
— Quando posso te ver de novo, bella?