Olivia Fernandes
Meus olhos se fixaram em Dante no instante em que o vi parado majestosamente contra a luz do sol que atravessava a janela.
— Como sou i****a, esqueci de te avisar que meu pai viria. — Lucas olhou em minha direção ao dizer, mantendo o braço ao redor do meu ombro.
Dante me encarou enquanto meus olhos ainda seguiam em direção a ele e fez um sinal com o olhar que entendi mesmo sem o conhecer bem. Era para eu disfarçar, dentro do possível, para Lucas não perceber que nós não conhecíamos.
Eu não fazia ideia se iria conseguir, mas precisava tentar.
— Então esse é o seu pai? — falei com um pouco mais de surpresa na voz do que deveria. Acho que agir sobre pressão nunca foi o meu forte.
Dante se virou para a janela rapidamente, e quase tive a impressão de que ele queria rir da minha falta de habilidade em atuar. Ou isso, ou ele queria chorar.
Se for a segunda opção, eu entendo completamente.
Antes de encontrá-lo aqui, ainda tinha dúvidas de como poderia contar isso a Lucas sem partir seu coração ou destruir nossa amizade, mas agora, vendo a reação de Dante ser tão desesperadora quanto a minha, visto que ele m*l consegue olhar em minha direção, eu entendo que não dizer nada foi o melhor a se fazer.
— Sei que é meio abrupto apresentar vocês dois assim, mas espero não ter problema. — Ele seguiu em direção ao pai, o puxando em direção a mim.
Deus, acho que vou infartar. Isso é embaraçoso em um nível que jamais conseguiria imaginar.
— Pai, esse é Olivia Fernandes, a futura professora mais competente de toda Vale Dália. — Ele disse as palavras com tanta sinceridade que meu coração se apertou ao ver seus olhos brilhantes fitando minha figura. — E Olivia, esse é meu pai, que nunca quer aparecer nas festas de família, e isso justifica você não o conhecer. — Lucas sorri ao olhar Dante mais de perto, enquanto o mais velho retribui o sorriso, embora envergonhado.
— É um prazer, Olivia Fernandes. — Ele sussurra meu nome quase com um tom misterioso em sua voz. — Sou Dante Salvatore. — responde como se eu já não soubesse e esse fosse o motivo dos meus pesadelos na última noite.
Pesadelos apenas pelo tom sádico que é guardar um segredo do meu melhor amigo, pois, caso contrário, poderia ser mais um sonho erótico considerando o modo como acordei afobada.
— Igualmente, senhor Salvatore. — disse um pouco mais baixo apenas para ele não perceber o quanto gostei de chamá-lo assim.
Vejo ele travar o maxilar e sua mão aperta a minha um pouco mais forte quando eu digo, e embora acredite fielmente que estou louca, acho que ele também gosta disso.
É ambíguo sentir culpa e desejo na mesma intensidade, mas agora, perto dele, principalmente quando ele me toca, não sei como posso resistir.
— Então, vamos preparar a comida? Temos muito o que fazer. — Lucas coloca nossos livros na mesa de centro e largo a mão de Dante para que ele não perceba.
Corto a troca de olhares intensa para não desmaiar ali naquele momento, e sigo para a sala, próximo de Lucas.
— Ah, não se preocupem com isso. Vieram estudar, certo? — Dante comentou, apontando em direção aos livros com sutileza. — Pode deixar que eu cozinho, é bom que eu te salvo da comida do Lucas. — Ele brinca, finalmente conseguindo me tratar com naturalidade.
Isso me alivia, e consigo rir da situação pela primeira vez.
— Acho que preciso te agradecer por isso. — retribuo com sinceridade.
Lucas tem muitas qualidades, mas cozinhar não é uma delas.
— Meu pai foi chef quando novo, ainda quando vivia na Itália. — Lucas comentou, me surpreendendo.
— Isso é incrível. — digo, negando o quanto ele parecia ser ainda mais perfeito ao conhecê-lo melhor. — É uma grande coincidência, mas meu pai também trabalhou na mesma área.
— Tanto tempo de amizade e ainda não sabemos muita coisa sobre nossas famílias. — Lucas comentou. — Inclusive, preciso te explicar sobre Luara…
Me ajeitei no sofá, ansiosa para saber sobre toda essa história que ainda me causava incomodo, ainda que menos.
O apartamento não tinha divisões, e a sala era separada por uma pequena ilha na cozinha estilo americana. Por isso, Dante conseguia nos ouvir, e eu sentia os olhos dele atento em nós, embora não o olhasse diretamente.
— Luara e eu nos conhecemos desde o colégio, inclusive namoramos por dois anos, mas algo aconteceu e nós brigamos. Agora ela veio visitar minha mãe, elas são grandes amigas, e acabamos ficando de novo. Não foi nada planejado, mas aconteceu tudo muito rápido. — Lucas parecia nervoso ao falar sobre ela, e eu não entendi o motivo, até que Dante se intrometeu.
— Algo aconteceu… — Ele cutucou, fazendo Lucas cobrir o rosto.
— Não começa, pai. — Ele levantou para vê-lo melhor. Eu os segui com o olhar, observando a discussão.
Dante cortava os legumes com uma rapidez ímpar, ao mesmo tempo em que balbuciava algumas palavras em italiano.
Me senti culpada por pensar o quanto era sexy quando ele ficava nervoso.
— Você precisa ter autoestima, Lucas. É um Salvatore, não pode deixar ela te fazer de i****a. — Dante esmurou levemente a bancada.
— Todo mundo merece uma segunda chance, ou você não merecia uma? — Lucas disse, fazendo Dante dissolver a expressão de raiva que mantinha em seu rosto.
— Acho que esse não é o melhor momento para falar sobre isso, vamos poupar Olivia dessa discussão. É m*l-educado. — Dante se esquivou do assunto, me fazendo ter ainda mais curiosidade para saber do que Lucas estava falando.
— Olivia é minha melhor amiga, ela é a única que sabe sobre a minha vida. — Lucas sentou sobre a banqueta, apoiando os cotovelos sobre a mesa e apoiando a cabeça contra as mãos.
— Melhor amiga? Por que nunca me contou sobre ela? — Dante sussurrou, mas consegui ouvir. Me senti uma intrusa naquela conversa, e quis ir embora. Mas não sabia como reagir.
— Você quis tanto se afastar da mamãe que se afastou de mim também. — Lucas admitiu.
Senti meu coração apertar por ele, e vi que a relação deles era muito mais complexa do que eu poderia imaginar.
Isso tornava tudo pior.
Dante seguiu até Lucas, tirando o avental branco ridiculamente pequeno nele e apoiando sobre a bancada. Apoiou a mão na cabeça de Lucas e lhe deu um abraço desajeitado, demonstrando sua compaixão.
— Vou te compensar por isso, prometo. — Dante disse e Lucas sorriu.
Vendo a complexidade daquela relação, cheguei a conclusão que a noite passada nunca mais poderia se repetir.
Sequer deveria ter existido, e por isso, eu precisava fingir que Dante e eu nunca nos encontramos no final daquela festa, até acreditar que, todas aquelas sensações, foram um devaneio da minha cabeça.
Só esperava que ele conseguisse fazer o mesmo.