Karma

779 Words
Dante Salvatore O momento em que a toquei pela primeira vez, soube que tudo ia desmoronar. Não era nem mesmo para eu estar naquela festa. Fiz uma viagem de um mês para o Nepal, e, de repente, me vi em um lugar lotado de pessoas com a metade da minha idade. Pessoas cuja preocupação da maioria seria o quanto de doses iriam beber naquela noite, ou o quanto de bocas iriam beijar. Não sei dizer se eu estava preso em uma monotonia sutil até a conhecer, mas não via problema em me sentir em paz. E foi tranquilo, pelo menos até a tempestade começar. Como um homem que sempre teve as próprias responsabilidades e individualidade, lembrei que deixei todas as janelas do meu apartamento abertas. A chuva destruiria meus documentos sobre a mesa do escritório, assim como os desenhos e rascunhos de artes que eu queria pintar. Por isso, ao não encontrar Lucas, decidi que voltaria assim que a chuva abaixasse. Tinha acabado de me reconectar com ele, portanto, não iria simplesmente desaparecer de sua festa assim. Mas, foi o que aconteceu. E nisso, sinto que falhei novamente. Eu não esperava que aquilo acontecesse, que ela fosse aparecer. E enquanto seguia com cuidado para os portões da mansão, a vi naquela chuva intensa, completamente encharcada, tentando se esconder sob a bolsa minúscula que carregava acima da cabeça. De começo, acreditei ser apenas uma das convidadas entediada com a música bate estaca sem letra, mas após parar e ela entrar no meu carro como se eu fosse um motorista de aplicativo qualquer, finalmente pude vê-la de perto. Olivia é uma das mulheres mais bonitas que já tive o prazer de ver. E naquele instante, eu esqueci de tudo, de todo o resto. E o restante da noite seguida, me mostrou o quanto ela parecia estar ali para me testar de alguma forma. Não sou um homem que pratica a fé, ou que tem religião, muito menos que acredita que o universo prepara coisas para o destino de cada um. Porém, Olivia era o exemplo perfeito que poderia me arruinar. A eletricidade que senti quando nos tocamos acidentalmente me fez repensar o tipo de conexão que nutri ao longo da vida. Será que tudo foi muito raso ou isso era demais? Ou eu estava bêbado o suficiente para sentir tudo tão a flor da pele que aquilo pareceu absurdo diante de todos os outros toques que recebi ao longo dos meus quarenta e um anos de vida. De qualquer forma, eu precisava me lembrar do que me trouxe aqui. Mas parecia difícil ter alguma sanidade diante de algo tão deslumbrante em frente a minha visão. Não entenda m*l, não sou um pervertido ou algo do tipo. Sou um artista, e jamais resistiria a visão de uma musa. Mas agora, tudo tinha ficado diferente. Eu estava me sentindo preso, estranhamente conectado a alguém que havia acabado de conhecer. O que eu poderia fazer para me livrar daquele sentimento, daquela sensação? Me senti perdido, pela primeira vez. E a ansiedade que seguiu no dia seguinte, após nos despedirmos de forma bruta que me fez pensar se eu tinha me excedido em todos os aspectos, me deixou completamente refém daquelas horas que passamos juntos. Mas a mensagem que ela enviou, mostrou que meu pressentimento estava certo. Eu tinha ido longe demais, e isso a assustou; toda aquela intensidade que ela demonstrou também sentir foi muito para alguém como Olivia, que parecia tão sensível e diferente de qualquer mulher que um dia já conheci. Ao mesmo tempo em que a ansiedade de não saber exatamente o que a afastou de mim me corroía, eu precisava me preocupar com Lucas. Dar uma explicação por sumir de sua festa e não ter estado lá quando ele precisou. Por isso, quando fui diretamente para o apartamento dele, o esperei para jantarmos juntos e termos um momento que, esperançosamente, fosse bom o suficiente para desfazer qualquer mágoa que ele pudesse sentir. Então, encarando a vista da janela grande que ele tem na sala, e que considero a melhor parte daquele lugar, ouvi a maçaneta girar e a porta abrir. Me virei tranquilamente, até finalmente perceber que não era Lucas atrás de mim. Era ela. Vi Lucas entrar em seguida, colocando o braço ao redor do ombro de Olivia, da minha Olivia. Como isso seria possível? Nesse instante eu percebi que a vida pregou uma peça em mim. Fui enganado e talvez esse seja meu karma, meu castigo por duvidar que o universo não tinha poder o suficiente para me surpreender. Eu caí na armadilha sádica e talvez divina que foi dada ao meu destino, e agora, não havia retorno.
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