Capítulo 3: A verdade vem nua e crua.

2501 Words
*Recado da Autora*: Esse capítulo contém cenas fortes que podem ativar algum gatilho. Caso não se sinta a vontade, sugiro esperar o próximo capítulo. ~~~~~~~~~ Mesmo que tenha feito um teste de farmácia, no meio do dia, a chegada da amiga e aquela conversa seguida de uma dolorosa descoberta, os últimos raios de sol se escondiam, dando lugar ao cair de mais uma noite. Do dormitório até o bar perto da Universidade onde vários universitários se reúnem às sextas, as luzes do poste iluminavam aquele caminho que passos ecoavam ao bater os saltos da bota na calçada. Parecia só ter aquele barulho ecoando, mas para Clara, não havia só aquele barulho como companheiro. Seu coração batia tão descompassadamente, que parecia estar preso na garganta, prestes de sair a qualquer momento. Algumas pessoas das quais ela passava, tinha a sensação de estarem a observando e rindo. Mas, ao olhar em direção à essas mesmas pessoas, não só via certos risinhos a encarando, mas cochichos de forma bem desdenhosa. E isso a enfureceu. Transformou seu rosto em uma carranca que ao encarar aquelas pessoas por onde passava, tendo aquela máscara na face aterrorizante, alguns que se intimidavam, paravam e apressavam os passos para estarem longe dela. Já, alguns outros, que não se deixavam intimidar, as encaravam de volta parando de falarem entre eles e com sorrisos e olhares debochados, continuavam no mesmo lugar. Clara suspirou. Deu de ombros ajeitando seu casaco, acreditando estar ficando louca, mas de um jeito ou outro, toda aquela conversa com as suas amigas naquele dormitório, não saíam da sua mente. Ergueu a cabeça e seguiu ao seu destino. Não demorou muito, Clara chegou ao seu destino. O barulho do som abafado pelas portas e janelas fechadas, parecia estar baixo, mas, ao abrir aquela porta, puxando a maçaneta o barulho estava quase ensurdecedor. Entrou naquele lugar, cujo as luzes estavam baixas, alguns jogos de luzes pelo corredor até o pequeno palco que havia ali. Mesas pretas dispostas ao redor, dando um espaço significativo do palco para a plateia. Na certa, eram para àqueles que quisessem dançar. Seus olhos varriam pelo lugar à procura daquele que precisava esclarecer as coisas e o avistou, numa mesa próximo ao palco que dava de encontro a um pequeno camarim para os artistas que viessem, pudessem se arrumar antes de se apresentar. Hoje, naquele mesmo dia em especial sendo irônico ou não, estava somente com o som de um aparelho jukebox ecoando pelo ambiente, o que fazia Clara não entender como aquele som, estava tão alto. Mas, não era tão importante assim. O mais importante, era falar com Pedro a quem estava com seus amigos e mais uma moça que Clara nunca havia visto antes. Talvez fosse mais uma da sua lista, só que riam e não havia nenhuma interação de cunho s****l que pudesse ser mais uma das suas presas. “Força Clara, segue em frente para falar com seu amor!” – Pensou espantando todas as negatividades que pairavam em sua mente. Olhou para o seu lado direito e viu um espelho que havia em uma das paredes. Ajeitou seus cabelos e óculos de grau, analisando seu rosto e sorriu. Respirou fundo e ajeitando a alça da bolsa, caminhou até a mesa. Liam, ao ver quem se aproximava quando riu de algo engraçado que estavam falando, morreu ao ver Clara se aproximando. Os olhos se encontraram e a mesma, sentiu um incômodo com aquele olhar, mas disfarçou não se deixando intimidar. Na verdade, Clara sempre filtrou bem o que estava sentindo, e mesmo influenciando na sua baixa estima, se escondendo em roupas largas e óculos de grau grandes, além dos cabelos loiros lisos, presos em um coque ou dentro de uma touca de tricô. Pensava que não revidar e engolir tudo o que sempre lhe fizeram e em muitas vezes, vestir uma máscara de que não se abalava, sabendo que o seu emocional por dentro se destruía cada vez mais, estava ao ponto de entrar em colapso. Agora estava ali, se aproximando de pessoas que não deixariam barato e fariam de tudo para deixa-la m*l. Percebeu Liam virar-se para os demais da mesa e sinalizou de cabeça na sua direção. Como se fosse em câmera lenta, Pedro olhou para onde Liam apontava com o olhar e seu rosto se fechou ainda mais. Clara, sentiu o aperto em seu peito e como se houvessem punhais cravando em seu coração, pensou em virar-se e fugir, mas não podia o fazer. Pensou na sua irmã que sempre a aconselhou a enfrentar os problemas de frente, mas agora, mesmo com a certeza de seguir adiante, não tinha tanta certeza se seria algo bom daquela conversa que iria acontecer. Até mesmo a moça que estava ao lado de Pedro, olhou em sua direção parecendo não entender nada do que estava acontecendo. Clara, deu um passo para trás cambaleante ao ver aqueles olhos, os mesmos que seu amor tinha. Eram verdes como esmeraldas. Virou-se em direção à Pedro parecendo perguntar algo e o mesmo dar de ombros se servindo da sua long neck com cara de poucos amigos. Será que era alguma parente do Pedro? Pensava enquanto se recuperava do baque de segundos atrás. Continuou a caminhar até parar frente a mesa onde havia um sofá Booth circulando a mesa preta no centro. Dispostos sobre aquele longo sofá, estavam Liam numa ponta frente a moça que estava ao lado de Pedro e ao lado do amigo do que pensava ser o seu namorado, estava Olívia, com um sorriso malicioso nos lábios. O brilho naquele olhar, deixou Clara desconfortável, mas seus olhos se desviaram em direção a Pedro que ficou extremamente estranho, até que aquela que tanto a odeia resolveu destilar seu veneno. - Olha só o que temos aqui! Se não é a mosca morta, CDF e sem sal da nossa turma. Como é mesmo o nome dela mesmo? Ah, é Mocoronga! – Gargalha seguida por Liam que ri dos comentários maldosos daquela mulher. A moça que estava com eles, revirou os olhos e bufou desconfortável. Pedro, não falou nada, mas seu olhar em direção dos amigos era uma reprimenda que o fizeram se calar, mas não para Olívia. Essa sim, estava disposta a continuar destilando o seu veneno e tentando deixa-la pior. - Está fazendo o que aqui Mocoronga? Veio saber sobre a nossa aposta?! - Olívia! – Pedro grita a repreendendo. A mesma sorri e dá de ombros se fazendo de desentendida. - O que foi? Não falei nada demais. Todo mundo sabe até mesmo aquela p*****a da amiga dela que estava aqui, que sabe sobre a aposta. – Respondeu fazendo bico. Tentando não se deixar abalar ao ponto de chorar, Clara fechou os olhos abaixando a cabeça, respirando fundo. Ao erguer sua cabeça, seus olhos se encontraram com os de Pedro que estava sem reação. Engoliu em seco e o indagou. - Será que podemos conversar Pedro? - Mocoronga, não vê que estamos ocupados. Pedro não quer falar com você, não está vendo! Vaza logo daqui ridícula, que está poluindo o nosso ambiente. - Olívia, pega leve. Deixa que o Pedro resolve. – Liam se manifestou tentando acalmar os ânimos. - Não Liam. Essa insonsa, tem que saber que o Pedro não quer falar com ela. Tudo o que aconteceu entre eles foi só uma aposta que fizemos para ele levar ela para cama. Pedro mesmo falou que foi horrível estar com ela, uma sem sal que nem sabe fazer nada direito, parecia estar com uma boneca inflável. Só quero ficar aqui com vocês sem essa mosca morta ao nosso lado ou na nossa frente. Os olhos de Clara marejaram. Apertou os lábios, não acreditando estar escutando aquilo tudo. Seu coração estava em pedaços, mas não por ouvir aquilo tudo, e sim, por Pedro não fazer nada para dizer o oposto, até mesmo a defendê-la, não o fez. Com o pouco de dignidade que ainda lhe restava, antes mesmo de o fazer, ouviu pela primeira vez a voz daquela moça que também estava na mesa. Sua voz reverberava com uma certa decepção e tristeza. - Isso é verdade Pedro? - ... – Do jeito que ele estava, continuou. Não conseguia encarar Clara, mas também não respondeu a pergunta da moça ao seu lado. E ao se levantar daquele sofá, o encarou com raiva e decepção apontando o dedo na sua direção. - Seu silêncio já diz tudo! Estou decepcionada com você irmão. – O encarou enojada. Ao ouvir aquela moça de corpo com curvas arredondadas e rosto coberto por uma tristeza encarando Pedro, era a irmã dele. Desviou seus olhos daquele que não conseguia dizer sim ou não, mas só por não falar nada, o silêncio foi tomado como uma afirmação e olhou para a moça que estava decepcionada. - Para mim já deu! Eu vou embora e espero mesmo estar errada que você foi capaz disso. Desde que se misturou com esses dois, você mudou muito Pedro. – Meneou a cabeça com tristeza e virou-se para Clara dando um sorriso triste. - Eu não te conheço, mas te desejo sorte. Se isso for verdade, eu sinto muito! – Apertou levemente o ombro de Clara e saiu sem olhar para trás. - Analice! Analice! – Pedro a gritava sem sucesso. Mesmo estando errado, Pedro a encarou com cara de poucos amigos, Clara, era quem tinha culpa por sua irmã agora, estar decepcionada com ele. Seus olhos estavam sombrios e disparou. - Tá vendo o que você fez! Está satisfeita em estragar a minha relação com a minha irmã, sua estúpida! Surpresa pela explosão de sentimentos sobre ela, Clara o encarou incrédula. E por mais que não fosse culpada de nada, se sentiu m*l. Abaixou a cabeça envergonhada. - Me desculpa. Mas precisava falar com você. É importante. – Murmurou cabisbaixa. Um riso irônico ecoou fazendo-a erguer sua cabeça e o encarar. Olivia e Liam estavam de camarote observando tudo e sabiam que Clara ia ter o que merecia. - O que foi? Está me olhando assim porquê? Ah, já sei. Acha mesmo que eu vou pedir desculpas! Não garota. Você só foi a presa mais fácil de um dinheiro que nem preciso para ganhar. Sim, você foi uma aposta e mesmo sendo virgem, foi a pior f**a que já tive na vida. Parecia uma boneca inflável, comi a Olívia mesmo falou antes. - Boneca inflável?! Hahahaha. – Liam replica o que Pedro disse apontando na sua direção gargalhando alto. Olívia estava sentindo-se vitoriosa. Desde que Pedro começou a se envolver com Clara, ficou com raiva. Pedro começou a se distanciar dos amigos e, ao alegar ser parte do plano da aposta, sabia que havia algo a mais. Seus olhos ao fitar aquela garota, era de quem estava apaixonado. Com medo de perder a sua amizade colorida que muitas vezes ganhava alguns presentes dos quais, os pais que estão com problemas financeiros atualmente, pelo pai ter feito um péssimo investimento na bolsa, com Pedro apaixonado por Clara, perderia suas regalias. Então, o pressionou. Queria que aquela aposta acabasse logo e com um pequeno vídeo que o próprio havia feito, a aposta estava concluída e vendo que Pedro não queria terminar o relacionamento que começou de forma errada, o ameaçou postar para desmoralizar a sua doce amada. Não tendo outra alternativa, acabou fazendo o que era para ser feito desde o início. E agora estava ali, sorrindo por ver que Pedro estava fazendo tudo para machucar ainda mais a “mosca morta”. Ao ver seu rosto se banhando de lágrimas, Pedro se arrependeu no mesmo instante. Mas já era tarde. O estrago estava feito. Enxugando seu rosto, o encarou pela última vez. - Então quer dizer que nunca me amou? Nem mesmo se eu disser que estou grávida, irá mudar o seu pensamento? – O indagou ainda com um resquício de esperança. Clara percebeu que Pedro parecia estar falando aquilo tudo da boca para fora, o seu olhar tinha uma certa doçura misturada a raiva. O mesmo, alisou os cabelos para trás e sorriu. - Será que esse filho seria meu se estivesse grávida?! Para quem me entregou sua virgindade muito fácil, deve dar para qualquer um por aí. – Seu tom era frio e foi o fim de toda a sua esperança com aquelas palavras. Clara estava em choque. Ouvir aquilo foi como terminar de jogar a pá de cal no seu corpo. Se pudesse sair do seu torpor, teria dado um belo tapa nele. Mas a mesa entre o extenso sofá os separava. Olívia e Liam riam da cara dela, assim como alguns clientes perto faziam o mesmo e até mesmo algumas moças e rapazes sentiam pena e outros raiva da atitude daquele homem e dos seus amigos. Respirando fundo, olhou para os três e saiu daquele lugar que a sufocava. Correu para fora do bar e mesmo que o ar frio daquela noite fria chocasse em seu rosto com força, parecia não sentir. Clara correu entre as pessoas que por onde passava, esbarrava, mas continuava seu trajeto até chegar em uma ponte. Segurou no corrimão e em meio ao riso e choro, gritou ao lembrar de todas as palavras que martelavam em sua mente. - Ahhhh... Num impulso para sanar aquela dor que se acumulou pelos anos que sofria calada os Bullying desde os tempos do colegial, pegou seu celular para ligar para a única pessoa que mesmo distante, sempre esteve com ela. Só chamava e nada de atender. Mesmo que as lágrimas copiosas nublassem sua visão, sentia aquela dor se alastrar ainda mais em seu peito. - Droga! Chloe, até você irmã me abandonou! – Murmura olhando para a tela do seu celular se apagando após cair na caixa depois de chamar e ninguém atender. Levou a mão ao peito apertando a sua jaqueta e guardou o aparelho no bolso da mesma. Enxugou suas lágrimas, deixou sua bolsa cair no chão próximo a grade e com suas mãos no corrimão, impulsionou seu corpo passando as pernas por cima daquele metal. Segurando-se ao corrimão, olhou por cima do ombro para baixo e o rio que ainda não havia se congelado pelo inverno que começava, suas águas escuras balançavam suavemente como se esperasse pelo que Clara iria fazer. Olhou em direção ao seu ventre ainda plano e se desculpou. - Me perdoa meu filho! Me perdoa, por estar tão cansada. Cansada de me fazer de forte o tempo todo e sempre alguém me fazer de i****a ou ser motivo de chacota por motivos torpes. Me perdoa por não poder ver o seu rostinho e por levá-lo comigo, mas não consigo mais! – Lágrimas rolavam por seu rosto enquanto se lamentava. As pontas dos pés estavam sobre uma viga de metal. Certa do que faria, olhou novamente para o horizonte. E ela a viu. Sorriu com os olhos marejados e o rosto banhado em lágrimas. E mesmo que conseguisse alcança-la, não a salvaria. E então ela se soltou ouvindo seu grito. - CLARA! Continua...
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