3 anos depois...
- Eu vou sentir tua falta, menina. - Minha avó me abraçou e beijou a minha testa.
- Eu amo a senhora, muito. - Falei, a abraçando forte.
Eu tinha acabado de completar dezoito e como presente de aniversário, a separação dos meus pais. Na verdade, ninguém sabe onde ele se meteu, só que ele fez umas besteiras e acabou fugindo e deixando a minha mãe para trás.
Graças a Deus o novo comandante do morro - João Guilherme, tinha uma consideração imensa pela minha mãe e disse que ela não tinha nada haver com as safadezas do meu pai.
E pensar que um homem que sempre se disse tão temente a Deus fosse cometer adultério e com uma mulher casada, ainda por cima.
Entrei no ônibus com lágrimas nos olhos e dei uma aceno para a minha avó, uma senhora de cinquenta anos e super ativa. Eu, pelo menos, a deixaria em ótimas mãos.
Lembro de quando cheguei aqui em Brasília. Minha avó ficou horrorizada com as roupas que eu usava e gritou com o meu pai no telefone por uma hora inteira. Depois disso, eu nunca mais fui a mesma.
Passei a usar shorts, croppeds, regatas e saltos. Minhas roupas antigas foram queimadas e eu ganhei um celular e um Notebook. Comecei a ter amigos, a sair para lugares e criar uma vida aqui. Agora, com uma nova personalidade, sentia que precisava voltar para casa, eu precisava ajudar a minha mãe nesse momento.
Coloquei uma música do One Direction para tocar nos meus fones e viajei o resto da viajem inteirinha.
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Quando cheguei na rodoviária - depois de onze horas de viagem, estavam me sentindo esgotada e morta de fome. Aproveitei os trocados que ganhei da minha avó e comprou um copão de pão de queijo e uma garrafinha de coca e me sentei na mesinha para comer.
Quando terminei, sai do lugar puxando as duas malas enormes que havia trago e parei na entrada chamado um Uber.
Não demorou muito para chegarmos a entrada da favela, uma favela linda, por sinal. Meu humor foi destruído quando o homem olhou para mim, comprimiu os lábios e respirou fundo.
- Só posso vir até aqui, moça. - Ela avisou. - Desculpa.
Fiz uma careta de choro e paguei o homem, que me ajudou a descarregar as malas na rua. Encarei a subida enorme e resmunguei, subindo o morro devagar e tentando me manter calma.
A calça jeans me incomodava, assim como o tênis, ao menos a regata preta ajudava a não me manter como uma porca suada.
- Ou, morena. - Um cara armado parou na minha frente. - Tu vai pra onde?
Parei estática no meu lugar, encarando o fuzil nas costas do muleque, enquanto ele me encarava como quem esperava uma resposta.
Eu tinha me desacostumado com isso.
- ah, eu vou.. - tentei falar e Suspirei, coçando a testa. - Eu estou voltando para casa, sou filha da Vera.
- Que vera? - Ele levantou as sobrancelhas. - Conheço nenhuma não.
- Eu não sei explicar, eu estou fora a três anos. - Passei a língua nos lábios.
Eu estava cansada, suada e com uma lombriga insatisfeita na minha barriga.
- Então não posso liberar não, volta de onde tu veio. - Ele disse, fazendo um sinal com a mão.
Era o famoso "xispa" da minha avó. Normalmente usado quando ela não queria que eu e Bianca pertubassemos ela. Saudades da minha velha.
- Moço, pelo amor de Deus, eu tô cansada, eu vim de Brasília.. - Implorei e ele me encarou desinteressado.
- Ô, princesa, não posso te liberar não. - ele fez uma careta e cruzou os braços.
E então, uma pontada de esperança invadiu o meu peito. Lá estava ele, João Guilherme - ou neném, com seus belos vinte e dois anos.
- João, ô João. - Levantei a mão, o chamando.
Ele me encarou com a testa franzida e saiu da moto, percorrendo o caminho até onde estávamos.
- Quem me chamou? - Ele perguntou, me encarando de cima a baixo.
- A Madame aqui. - Debochou. - A princesa aqui disse que vai pra casa de uma tal de vera.
- Da tia Vera, da treze? - Ele perguntou. Não acredito que ele não se lembra de mim. - Tu é o que dela?
- Filha. - Respondi simples.
Ele fez uma careta de espanto e me encarou de cima abaixo.
- Victória? - Ele perguntou embasbacado. - p***a, olha como tu cresceu.
- É... - Falei envergonhada. - Não fala palavrão, João, é feio.
Ele deu uma risada e me abraçou, surpreendo-me.
- Algumas coisas nunca mudam. - Ele disse, deixando um beijo no meu pescoço.
Me arrepiei toda. Que ousadia toda era essa?
Eu nunca tinha transado com ninguém, mas já tinha me tocado diversas vezes escondido da minha avó dentro do meu quarto. E eu sabia o que era me sentir molhada assim.
- Pode pedir para ele me liberar? - Pedi, me separando dos seus braços.
Sua cintura tinha um claro volume do lado esquerdo. Ele usava um boné para trás, uma blusa preta e um bermuda jeans. No pé, um par de havaianas.
- Onde você se enfiou? Tua mãe disse que você pediu para ir pra casa da sua vó, que tudo já estava marcado? - Ele colocou a mão na cintura, me ignorando.
- João, eu tô cansada, podemos conversar disso depois? - Falei, pondo a mão nas duas malas.
- Não, marca um dez aí, vou buscar o carro e te deixo na porta de casa. - Avisou, apenas assenti e digitei uma mensagem rápida para Bianca.
Victoria: Já cheguei, não precisa se preocupar.
Bianca: Manda uma fotinho.
Posicionei a câmera para o céu, e abaixei a minha cabeça, deixando o meu cabelo cair e formar uma cortina pela câmera. Fiz um sinal com a mão e um bico, bati a foto e enviei.
Logo, o Honda Civic parou ao meu lado. João saiu do carro e pegou as minhas malas, jogando no banco de trás.
- Entra, vou te levar na tia. - Ele mandou, dando a volta e entrando no banco do motorista.
Ele sequer abriu a porta para mim. Que anti cavalheirismo.
Bufei, entrando ao seu lado e apertando o cinto. Se eu não estivesse tão cansada não tinha esperado ele aqui, parada.
Eram muitas ruas, afinal, eu não tinha vocação para subir tudo isso. Não queria nem ter que morar em um morro mais - era cansativo.
De qualquer maneira, eu estava ansiosa para chegar logo na minha casa, rever a minha mãe. Eu tinha tantas saudades dela, da nossa casinha e mais do que isso, seria tudo diferente agora.
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