Capítulo 05

1072 Words
João Guilherme Desço da moto na frente da boca de fumo, entrando pela pequena escadinha. Encontrei alguns vapores sentados na porta fumando maconha e estreitei os olhos para eles. A regra era muito clara. Não se drogar na p***a do plantão. Era tão difícil de entender? Eu não fui claro o suficiente? Se houvesse uma invasão agora, como eu conseguiria lidar com essa merda? Com esse montante de moleques chapados? Passei por um deles, acertando um tapa estalado em sua mão, fazendo seu Beck cair no chão. Ele me encarou feio. — Tem alguma p***a para me dizer? — Eu perguntei, encarando-o. — Não, chefe. — Ele engoliu um seco. — Não tenho nada pra dizer pra tu. — Então tira essa cara de cu quando estiver olhando para mim, eu não sou seus parceiros. Ele não disse nada, ficou em silêncio, olhando para frente, os dedos cruzados na frente do corpo. Ele sabia que eu podia cortar a mão dele quando quisesse, mas eles queriam me tirar como otario e sinceramente? estou sendo bonzinho demais com esse bando de marmanjo. Não era assim que a banda tocava pros lados de cá. O buraco era muito mais embaixo e se o antigo dono tinha perdido o controle, eu estava recuperando. Quem veio depois do meu pai; que sumiu muito de repente, foi o melhor amigo dele, Queiroz. Queiroz era meu padrinho, mas não tínhamos afinidade e eu nem sei o motivo. Acho que ele não queria era me passar o morro que é meu por direito. Quando eu cresci, deixei ele pensar que estava abafando. Mas geral sabia que eu ia tomar meu lugar, só ele que não. Meu padrinho jurava que eu seria um bundão; já que meu pai foi pego pela facção rival e nunca encontraram nem o cotoco do dedo. Essa história é estranha e minha mãe não gosta de contar. Só sei coisas básicas que foi o que saiu da boca do meu padrinho. De qualquer maneira, Queiroz era um otario de primeira espécie. O maluco era um cheirador fodido, que usava do se posto pra conseguir comer b****a, já que era feio igual um espírito r**m. Sua cara combinava bem com a sua alma, já que as pessoas diziam que ele era bicho r**m. Alguns diziam que ele tinha até pacto com o coiso r**m, mas não gosto de ficar pensando nisso. Se ele tiver, que Deus me guarde dele e de toda a merda que ele possa fazer contra mim; já que eu; sinceramente, não consigo pensar em nada que ele possa fazer pra estar contra mim. Como a tia Vera gostava de dizer, quem me protege não dorme e se não dorme, tô sempre protegido. Só vou morrer no dia que Deus permitir e no momento, ele me quer por perto. Eu tenho alguma missão aqui na terra e quero saber qual é. Não sou imbatível, na verdade, sou muito fácil de ser derrubado e se não fui, é porque alguma coisa não permitiu. Sempre tentei ser o máximo de disposição que eu podia ser. Se eu tivesse que ir pra trocação, colocar a minha cara mesmo, atirar do alto de qualquer morro, eu iria. Eu tinha que proteger meu morro e todo mundo que estava nele. A segurança, a educação de qualidade, a saúde e tudo o que engloba o governo não passa do pé do morro. Campanha de vacina? A mãe que não desce com os filhos por centro da cidade pro postinho pra ver se o filho é atendido por algum médico ou se a carteirinha fica completa. Os caras andam de jaleco e nariz empinado, e se acham melhores que todo mundo que é mais pobre por poder gastar milhões pra matar gente. É isso que hospital é, carnificina. Pouquíssimos entram pra essa profissão por amor. Alguns nos deixam estribuchados no chão, olham de cima e vão dormir com o upa cheio. Minha pior experiência, quando eu era menor, foi com quarenta graus de febre. O surto de dengue tinha acabado de chegar no Brasil e o médico teve coragem de dizer que era virose. Agora então, depois do surto de covid, perdemos gente pra c*****o do morro, tive que mandar um "toque de recolher" forçado pra galera ficar em casa, eles estavam achando que era brincadeira. Cortei igreja, escola meio período – e direto pra casa depois de sair, quem eu visse de gracinha na rua, era dois pescoção e tchau —, quem trabalhava? Podia entrar e sair, mas os bares não podiam ficar cheios. Só o dono já estava bom. Comprou e entrou pra casa. Ficou no portão de fofoca? Três chamadas; na quarta era um pescoção pra deixar de ser otario. Eu aprendi desde cedo que se você não souber controlar o povo; o povo controla você. E foi por uma boa causa. Ficou até mais fácil pegar os otarios que estavam roubando aqui na área. Agora, o povo parecia nunca ter visto um baile. Ficava lotado. As ruas cheias, as pessoas paradas no bar. Quem olhasse de longe, achava que eles tinham mudado de país e voltado. Mas, de qualquer maneira, eu amo esse lugar. Acho que tô fazendo um bom trabalho. Tentando trazer um postinho aqui pra cima, pras crianças poderem ter a dignidade, tá ligado? Se tudo correr nos trinques, a gente vai arrastar um ONG pra cá e se tudo der certo, vamos entrar agorinha com uma grana pra trazer professor pra cá. Não interessa o quão caro seja. Trazer cultura pra essa criançada não terminar igual a mim. Eu não quero ver moleque carregando fuzil com doze ou treze anos. Isso é idade de estar estudando. Mandei um monte chorando igual bebe pra casa. Quer entrar pro tráfico e não aguenta uns tapinha nas costas pra ficar esperto? No meu plantão? Ah, me poupe. Tu acha que vai vir bagunçar? não mesmo! Vai é estudar que ganha muito mais. Tem molequinho que só quer pra andar com a arminha na cintura, mas se atirar cai pra trás igual um saco de bosta. De qualquer maneira; eu tô tentando dar o meu melhor. Ser pra esse povo tudo aquilo que não foram até agora. Vou fazer essa p***a crescer e ser muito melhor. Ong, escola, saúde... todas essas porras que a gente só vê no asfalto. — X — me sigam no insta @aut.may
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