Raquel
Minutos antes de Pedro sair da cama, meus olhos passeiam famintos pelo seu corpo esguio e musculoso, destacando cada curva e linha que o compõe. A luz suave da manhã entra pelas frestas da cortina, iluminando sua pele morena, e, por um momento, sinto que o tempo desacelera. A maneira como seus músculos se movem quando ele se vira na cama, o leve tremor dos seus braços ao se apoiar, é hipnotizante. Não consigo desviar o olhar. Meu coração bate mais rápido, como se cada movimento dele provocasse uma corrente elétrica em mim. Sempre tive uma queda por Pedro, mas vê-lo assim, à luz do dia, no silêncio íntimo do quarto, com essa aura de virilidade pura, só aumenta minha admiração e o desejo que sempre mantive escondido. Cada detalhe dele parece ter sido esculpido com precisão, e me sinto completamente cativada.
Enquanto ele se afasta da cama e caminha em direção ao banheiro, ainda meio adormecido, sinto um arrepio subir pela minha espinha. Ouço o som da água do chuveiro começando a correr e me deixo relaxar por um instante, saboreando a lembrança da noite anterior. Fecho os olhos e quase consigo sentir novamente a pressão dos seus lábios contra os meus, o calor da sua pele junto à minha... Mas logo o som distante de um telefone vibrando interrompe meus devaneios.
Abro os olhos e percebo que é o celular dele, o nome "Sarah" piscando na tela. Um sorriso travesso se forma nos meus lábios. Sarah? Já ouvi falar dela, a ex dele, aquela com quem ele terminou há alguns meses. Ele estava cabisbaixo ultimamente, talvez ainda magoado. Mas vê-la ligando justo agora, enquanto Pedro está no chuveiro, me traz um estranho sentimento de poder.
"Sarah," penso, sentindo uma pontada de ciúme. Não resisto à tentação de atender. Meu coração acelera um pouco, e me imagino controlando a situação, tendo a oportunidade de cutucar aquela que, por tanto tempo, esteve no lugar onde quero estar agora. É minha chance de afastá-la um pouco mais, talvez até de provocar uma pequena ferida que a faça desistir de vez.
Com um toque suave, deslizo o dedo sobre a tela e atendo.
— Alô? — minha voz sai mais baixa do que o normal, suave e sedutora, carregada de intenções que talvez nem eu mesma entenda completamente.
Do outro lado da linha, silêncio. Imagino o que ela está pensando. Ela deve estar surpresa, tentando processar o fato de que não é Pedro quem está atendendo.
— Acho que liguei para o número errado — ela finalmente diz, a voz dela parecendo um tanto hesitante.
Eu sorrio, sentindo uma satisfação quase maliciosa crescer dentro de mim. Não, ela não ligou para o número errado. Ela só não esperava ouvir outra mulher atendendo o telefone de Pedro.
— Não, você ligou certo — respondo, meu tom levemente brincalhão, quase provocativo. — Estou falando do celular do Pedro. Ele está no banho agora. Algum recado?
Posso quase sentir a tensão do outro lado da linha. O silêncio que segue é denso, carregado de emoções que Sarah provavelmente não quer demonstrar. Meu sorriso se alarga, uma pequena vitória pessoal. É isso, eu a peguei de surpresa. Sua hesitação me dá o controle da situação.
— Quem está falando? — a voz dela sai mais firme, agora cheia de raiva disfarçada. Eu posso praticamente ver a expressão dela se contorcendo de ciúme e surpresa.
— Aqui é Raquel — respondo, mantendo o tom casual, como se não houvesse nada de errado naquela situação. — Ele está no banho. Algum recado?
A ligação é finalizada abruptamente, e por um segundo, fico olhando para a tela, processando o que aconteceu. Uma onda de satisfação percorre meu corpo. Não é a vitória completa, claro. Pedro não é meu, pelo menos não ainda. Mas o fato de ter, nem que seja por um momento, mexido com os sentimentos de Sarah, traz uma sensação de poder que não experimento com frequência.
Com um sorriso travesso, deleto a chamada do registro do celular de Pedro. Não preciso que ele saiba o que aconteceu. A noite foi nossa, e agora o momento também é meu. Aguardo ansiosa pelo que o destino reserva. Quem sabe essa pequena brincadeira não abre uma nova porta para mim, uma oportunidade de me aproximar ainda mais de Pedro? Eu sempre detestei a maneira como Sarah exibia Pedro em todos os lugares, como se fosse uma espécie de troféu. Agora, é a minha vez de ver como as coisas se desenrolam. Talvez ela finalmente o deixe livre... livre para mim.
Pedro
O barulho da água quente que escorre sobre mim deveria ser reconfortante, mas, em vez disso, sinto um peso imenso dentro do peito, algo que a água não consegue lavar. A sensação de vazio é implacável, como uma sombra constante, pairando sobre mim. Fecho os olhos e me deixo perder no som da água caindo, mas nada apaga a culpa que me consome. O que fiz ontem à noite... não deveria ter acontecido.
Enquanto a água quente escorre pelo meu corpo, sinto como se cada gota estivesse tentando apagar a lembrança da noite passada, mas nada é suficiente. A imagem de Sarah invade minha mente repetidamente, seu sorriso suave, os momentos que compartilhamos. Como cheguei a este ponto? Onde foi que me perdi?
Desligo o chuveiro com um movimento rápido e respiro fundo, como se pudesse, com um único suspiro, expulsar o arrependimento que me envolve. Mas ele permanece. Quando saio do banheiro, Raquel está me observando. Seus olhos escuros seguem cada um dos meus movimentos com uma intensidade quase palpável. Sinto o peso do seu olhar, como se estivesse sendo avaliado a cada passo. Ela me vê, mas eu não consigo retribuir com a mesma admiração.
Ajo mecanicamente, vestindo a roupa com pressa. Coloco minha cueca e, em seguida, as calças, mas nada alivia a pressão que sinto por dentro. Sentado na beira da cama, calço minhas botas, e o colchão cede levemente sob o meu peso, o que parece apenas aumentar a sensação de desconforto que me corrói. Raquel se aproxima, sua expressão tranquila, quase carinhosa, e me toca no rosto com uma gentileza que não mereço.
Ela tenta me beijar, mas o simples toque dela faz meu corpo reagir como se tivesse levado um choque. Levanto-me abruptamente, como se estivesse fugindo da proximidade, da i********e que ela tenta forjar. Procuro minha camisa, colocando-a apressadamente, sem nem ao menos abotoar direito. Ela fica ali, olhando para mim, e o desapontamento em seus olhos é claro. Mas eu não posso mais fingir. A culpa que sinto é insuportável.
— Pedro, o que houve? — sua voz é suave, cheia de uma doçura que agora soa falsa, mesmo que talvez ela esteja sendo sincera. — Você está diferente hoje de manhã... como se não conseguisse nem olhar para mim.
Fico parado por um momento, segurando a camisa nas mãos, lutando para encontrar as palavras certas. Mas como explicar? Como dizer que o que aconteceu foi um erro, um momento de fraqueza que nunca deveria ter acontecido?
— Isso... — minha voz sai mais dura do que eu pretendia. — Isso não deveria ter acontecido, Raquel. Foi um erro.