Com uma mistura de determinação e apreensão, saio da banqueta, pronto para enfrentar o que quer que venha pela frente. É hora de encarar Sarah, de uma vez por todas.
Quando avanço Sarah arruma sua postura. Rebeca tenta chamar sua atenção, mas ela fala algo para ela. E a garota olha para mim.
Nunca saí com nenhuma amiga de Sarah. Isso seria o fim definitivo da nossa relação. Por isso tomei cuidado para saber quem era a garota, se elas eram amigas ou não.
O momento é tenso enquanto eu me aproximo de Sarah, determinado a enfrentar essa conversa de uma vez por todas.
A cada passo em sua direção, meu coração parece martelar mais forte, como se estivesse prestes a sair pela boca. Seus olhos, tão familiares e ao mesmo tempo tão distantes, encontram os meus, e por um instante, parece que todo o universo se reduz àquele momento.
Mas então, o sorriso de desprezo que você dirige a mim é como um soco no estômago.
Como você pode olhar para mim assim, depois de tudo o que vivemos juntos? A dor e a confusão se misturam dentro de mim, mas eu sei que não posso recuar agora.
Eu me aproximo, determinado a enfrentar essa conversa de uma vez por todas, mesmo que seja doloroso. Sei que nossas palavras podem causar mais feridas, mas é melhor do que continuar vivendo nesse limbo de incertezas e arrependimentos.
Respiro fundo, tentando encontrar coragem para as palavras que preciso dizer. Não posso permitir que meu medo me impeça de esclarecer as coisas entre nós, de uma vez por todas.
Quando estou a poucos passos dela, vejo Rebeca tentando chamar sua atenção, mas ela a ignora. Seus olhos estão fixos em mim, como se estivesse esperando por essa conversa tanto quanto eu.
Finalmente, fico diante dela, olhando nos seus olhos verdes que um dia me fizeram sentir como se estivesse no paraíso.
Minutos antes:
Sarah
Pedro Alencar Rangel Insuportavelmente lindo está aqui. Até seu nome é bonito.
Não imaginei encontrá-lo na festa de Rebeca e muito menos acompanhado.
Meu Deus! Como eu me iludi com ele. Juro que pensei que ele me procuraria por sentir minha falta da mesma forma que eu senti a dele.
Burra!
Burra!
Ele te mandou para o inferno, lembra? E ele te mandou literalmente, pois é isso que ele está fazendo, te punindo, como o próprio Satanás.
Brucutu!
Peão cabeça dura!
Fecho os olhos me lembrando de suas palavras ácidas quando disse que ia para São Paulo estudar.
Eu não disse nada antes para ele não sofrer antecipado como eu. Ele interpretou isso como uma traição.
A amargura toma conta agora do meu coração, ela já tem assombrado minha alma e vê-lo acompanhado traz à tona toda a minha raiva. Não é fácil me dar conta que eu nunca signifiquei nada para ele. É uma realidade dura de enfrentar.
No fundo fui uma zinha para ele se divertir...
A vontade de sair, ir embora é muito grande. Fugir na verdade...
Não vou embora!
Vou ficar aqui!
Vou aguentar!
Eu me viro e lhe dou as costas. Não quero ver a cara desse malandro.
Isso! Alimente sua raiva para não fazer papel de i****a e lembre-se que você não é imune a ele.
A imagem da garota baixinha o abraçando me toma nessa hora. E ele sentado no banquinho ficando na altura dela. Ela toda curvilínea indo para cima dele e lhe dando um beijo na boca.
Eles se combinam!
Afasto a imagem caótica e dou um trago no meu chope. Mas não consigo ficar sem olhá-lo por muito tempo. E dou novamente uma olhadinha em sua direção. A garota parece brigar com ele e sai pisando duro.
Acesso de ciúmes?
Bem capaz.
Eu era uma que ficava louca da vida quando Pedro era descaradamente assediado por mulheres.
Pedro olha na minha direção. Os nossos olhos pela primeira vez, depois de muito tempo, se encontram. Eu estremeço, abalada pela magnitude do meu sentimento.
Não demonstre o quanto ele te afeta!
Forço os meus lábios a sorrir de um jeito debochado enquanto meneio a minha cabeça para ele com desprezo.
As meninas que me acompanham falam comigo, mas eu nem as ouço. Na verdade, eu as deixei de ouvir desde que entrei aqui e o avistei com uma mulher.
Ele se levanta do banquinho. O meu coração dispara.
Reparo melhor na sua roupa. No jeans escuro que modela seu corpo ainda mais musculoso do que eu me lembrava.
A camiseta branca aderindo seu peitoral e seus ombros largos. Reparo que o seu cabelo está mais claro do que antes. A barba charmosa não tem um fio fora do lugar. Até hoje ele é o cara mais bonito que já vi. Na faculdade está cheio de rapazes, mas nenhum homem chega aos pés de Pedro. E pior, ele sabe muito bem disso. Eu mesma ergui o seu ego confessando que para mim ele era o cara mais lindo do mundo.
Ele se move na minha direção.
Deus! Ele está vindo para cá?
O meu coração dispara quando vejo Pedro se aproximando. Os seus ombros largos e a sua postura confiante só realçam a sua beleza, e eu me pego admirando cada detalhe dele, mesmo contra a minha vontade. As minhas mãos tremem levemente enquanto tento manter a compostura.
Os olhos cor de mel, sombreados por cílios escuros espessos agora estão focados em mim, determinados, exibindo um brilho perigoso, intenso. Sobrancelhas estão arqueadas. O queixo definido arrogante. Lábios carnudos na medida certa se abrem num sorriso predador.
Deus! Bonito é uma palavra que não o define. Ele vai além da beleza.
Exótico como um leão. Em força e formosura. Odeio as reações que ele provoca no meu corpo.
Lembro de tudo que ele anda aprontando.
Idiota!
Dou-lhe dou as costas e coloco minha barriga contra o balcão bar.
—O que você tem Sarah? —Rebeca me pergunta.
—Pedro está aqui.
—Está? Mas eu não o convidei.
—Então ele veio de penetra.
—Ele está com quem?
—Com Marcos.
Ela aperta os lábios.
—Hum, agora entendo. Eu encontrei com Marcos e o convidei e disse que ele poderia levar um amigo, mas nunca imaginei....
— Oi. — Ouço a voz dele nas nossas costas.
As minhas mãos tremem levemente enquanto tento manter a compostura. Virando-me para encará-lo, sinto uma onda de raiva misturada com a atração que ainda persiste dentro de mim.
— Não temos nada para falar um com o outro. —Eu me viro novamente.
Pedro se aproxima e eu tenho vontade de socar sua linda cara, mas me contenho.
—Pensei que estivesse mais madura. Enfrentando os problemas de frente. Não vou sair daqui enquanto não conversarmos.
Eu me viro para ele. Nos encaramos, como de costume, sinto meu corpo aquecer só com seu olhar.
— Pedro. Acabou. O que quer comigo agora? — Eu tento manter uma postura firme, mesmo que por dentro esteja em frangalhos.
Ele se aproxima mais, me encurralando entre ele e o balcão do barzinho. Fico entre a parede e a espada, ou melhor, entre Pedro e o balcão.
— Eu sei que errei, Sarah. Eu sei que te magoei de uma forma irreparável. Mas eu sinto sua falta, está difícil conviver com a dor da sua ausência, dessa sensação de vazio que me consome desde que você partiu.
O quê? Ele quer que eu acredite nisso?
Não sei o que me dá mais raiva, se são suas palavras ou seus olhos famintos sobre mim...
Ele acabou de beijar uma garota e Rebeca tem me mantido informada da situação; a cama de Pedro tem estado muito ocupada.
— Verdade? Mas eu não sinto. Eu estou bem. — Digo, mesmo me sentindo estraçalhada por dentro.
Pedro se aproxima de mim, me prendendo em seu olhar intenso. Fico sem fôlego com seu cheiro, e minhas mãos tremem levemente.
— Eu não acredito que se esqueceu de nós.
— Você precisa mesmo que eu lembre a você o que você fez comigo? — Minha voz vacila um pouco, mas tento manter a firmeza.
— Eu já disse que eu errei. Quero que as coisas sejam diferentes agora.
Diferentes? Sim, estão diferentes. Ele tem estado muito ativo nos últimos tempos.
— Pedro, acabou. — Repito, tentando enfatizar cada palavra.
Eu me viro, mas Pedro pega meu braço, me fazendo estremecer com seu toque. Tento não demonstrar o quanto ele me afeta.
— Nunca pensei que fosse do tipo que guardasse mágoa.
Não acredito que ele fica jogando com as palavras para me fazer sentir culpada!
— Não tenho mágoa, Pedro. Apenas segui em frente como você... e solta meu braço.
Eu puxo meu braço com força, me soltando dele, e me afasto.
— Minha vida tem sido um vazio sem você!
Eu rio sarcasticamente.
— Eu vi... eu vi como você tem estado vazio... Por isso você encontrou nesse tempo diversas consoladoras?
— Sarah, aquilo que você viu não é nada.
Ao longe vejo meu primo. Um rapaz alto, forte, bonito. Ele está aqui visitando meus pai.
— Não! Não teremos essa conversa. — Consigo sorrir friamente para ele e dizer: — Pois acredite! O que tivemos está no passado. Olha, meu namorado chegou. — Minto descaradamente.
Os olhos de Pedro na hora endurecem. Agora me olha calado, como se entrasse em estado de choque. Desvio meus olhos dos dele enquanto meu estômago revira. Consigo sair de lá, dessa vez ele não me impede. Vou em direção ao meu primo por parte de pai que está aqui. Passo por entre as pessoas e chego até ele.
Nem sei como consegui andar...
— Priminho, me abraça. — Peço, e imediatamente sou atendida. Meus olhos se enchem de lágrimas.
Fico um tempo assim. Ele segura meu queixo e me olha.
— Hein, o que foi?
— Eu encontrei meu ex e eu quero tirá-lo de vez da minha vida. Você poderia se passar por meu namorado por um instante? Colocar a mão nos meus ombros... essas coisas...
Ricardo ri.
—Precisa desse artificie para afastá-lo? Se precisa é porque ainda gosta dele.
—Ricardo. Não vamos falar sobre isso, ok?
—Tudo bem. Só que ser agarrado por uma garota bonita como você irá espantar a mulherada. E eu pretendo caçar uma para essa noite.
Ele consegue me fazer rir.
Deus! Esses homens não têm sentimentos?
—Caçar?
—É... você sabe.
Ricardo sorri e me envolve com seus braços e me dá um beijo na testa. Eu sorrio para ele.
Ele é pode ser considerado um bom partido para quem gosta de status. Meu tio é dono de uma clínica médica. Ele é o homem mais bem vestido daqui. Cursa medicina. Fala bem. É inteligente. Mas é só.
Ricardo é um homem prático. Ele é do tipo que se casará com uma mulher que esteja dentro de sua lista de pré-requisitos. Não tem romantismo nenhum. Coitada da mulher que se apaixonar por ele.
Procuro Pedro com os olhos e não o encontro.
Ele foi embora?
Solto o ar com um sentimento r**m por dentro.
Pare de pensar nele! Ele foi um grosso com você e esteve muito ocupado esse tempo todo.
Mais tarde estou bebericando meu chope com Rebeca, Antônia e Lucila. Ricardo está fazendo um enorme sucesso no meio delas.
Eu não bebi muito.
Estou cansada.
Nada me agrada, por isso resolvo voltar para casa.
—Meninas eu já vou indo.
—Já vai?
—Já, mas vocês estão bem acompanhadas. Meu primo ficará. Não é Ricardo?
Ele ergue o seu uísque.
—Com prazer.
Eu sorrio e pegando minha bolsa me despeço delas com um beijo e atravesso o salão em direção a saída.