Pedro
.— Sabe quem está aqui? — Marcos, meu amigo, sopra no meu ouvido.
— Não. Quem? — digo com pouco caso.
— Sarah!
Os pelos do meu corpo se arrepiam. Um turbilhão de emoções me atinge de repente.
Sarah!
A simples menção do nome dela traz à tona lembranças enterradas, sentimentos que pensei ter controlado. Meu coração dispara, como se estivesse tentando escapar do meu peito. Meus joelhos tremem, e por um momento sinto-me incapaz de me mover.
Como pode algo tão simples como vê-la novamente ter um impacto tão avassalador sobre mim?
Meses se passaram desde que ela partiu, mas parece que foi ontem. A ferida ainda está fresca, pulsando com cada batida do meu coração.
Sarah. Minha ruivinha. A mulher que roubou o meu coração e o quebrou em mil pedaços. E agora, aqui está ela, tão perto e tão distante ao mesmo tempo.
Mesmo diante da dor por ela ter seguido em frente, uma parte de mim ainda anseia por ela. Uma parte de mim ainda a ama, mesmo que eu tente negar. Não importa o quanto tente resistir, nunca conseguirei escapar do poder que ela exerce sobre mim.
— Quem está aí? — Caroline, minha atual ficante, me pergunta.
Respiro fundo, tentando me recompor.
— Uma amiga — digo, cortando as explicações.
— Vamos ao toalete? — Damaris convida Caroline.
Eu olho para ela enigmático, torcendo para ela aceitar: Vai! Aceita!
— Tudo bem. Já volto, meu amor.
Ufa! Eu forço um sorriso para ela e recebo um beijo na boca.
Quando ela se afasta, eu me viro para Marcos:
— p***a! Só agora você vem me dizer isso? Poderia ter me contado antes de virmos para cá.
— Eu não sabia. Te disse isso porque a vi entrar por aquela porta.
Eu gelo.
Ela então me viu com Caroline...
Fecho os olhos com força.
— Ela está acompanhada?
— Não, mas ela viu que você está. Inclusive viu Caroline te beijando.
Ela não veio em julho, nem para as festividades de final de ano, e agora aparece aqui em pleno mês de março?
Passo a mão no rosto e fungo:
— p***a!
Respiro fundo, tentando controlar a avalanche de pensamentos que inundam a minha mente. A sensação do olhar dela sobre mim enquanto eu estava com Caroline é como uma faca cortando o meu peito. Não queria que ela me visse com outra.
— Ela deve ter vindo apenas para o fim de semana, para visitar o pai — Marcos conclui.
A revelação sobre a breve estadia de Sarah apenas intensifica a tempestade de emoções dentro de mim. É como se o tempo estivesse se esgotando, aumentando a pressão para tomar uma decisão.
Eu me pergunto se devo confrontá-la, esclarecer as coisas de uma vez por todas, ou se devo simplesmente deixar isso para lá e tentar seguir com minha vida. Cada opção parece carregada de consequências, e eu me sinto paralisado pelo peso das escolhas à minha frente.
Respiro fundo mais uma vez, tentando encontrar alguma clareza em meio ao caos emocional que me consome. Mas parece que, quanto mais eu tento encontrar uma solução, mais complicado tudo se torna.
Eu a procuro com os olhos e não a encontro. Marcos percebe e diz:
— Ela está atrás daquele grupinho de mulheres. Não dá pra ver.
Dou um riso nervoso.
Se escondeu de mim...
— Preciso ir lá falar com ela. Preciso resolver a nossa situação.
Marcos segura meu ombro:
— Pedro, essa mulher te deixou. E você fica preocupado se ela te viu ou não com alguém? Viva sua vida. Ela precisa entender que a fila anda.
A conversa com Marcos me faz refletir sobre as minhas próprias ações e motivações. Ele tem um ponto válido: Sarah me deixou, e é hora de seguir em frente. Mas eu sei que não é bem assim. Eu continuo preso a ela. Essa é a verdade.
— Viver a vida? Sabe qual é a realidade? Estou desesperadamente tentando tapar um buraco, mas, toda vez que saio com alguém, percebo que ele é impreenchível.
Marcos meneia a cabeça com um risinho no rosto.
— Isso! Pode rir, mas só eu sei como luto para esquecê-la.
Respiro fundo.
— Raquel, Sofia... agora Caroline, e qualquer outra que surgir na minha vida, são interessantes no começo, mas depois eu quero distância.
Marcos meneia a cabeça.
— Esqueça-a! Melhor coisa que você pode fazer. Já falamos sobre isso.
Marcos trabalha na Agrocampo, uma loja que vende equipamentos para o campo. De tanto eu comprar equipamentos para a fazenda, ficamos amigos.
— É fácil dizer. Por que você acha que a minha agenda social está sempre cheia? Estou tentando tocar a minha vida, como você diz.
— Bem, o que você pretende fazer?
Eu respiro fundo, tentando encontrar alguma paz dentro de mim, mas não consigo.
— Falar com ela.
Marcos ri.
— Vai quebrar a cara. Eu vi aqueles olhos verdes chisparem na sua direção. A carinha dela não era nada boa quando Caroline te beijou.
— Então... ela me olhou com raiva? Isso é um bom sinal.
— Eu não te entendo. Você mesmo disse que Sarah está feliz com a nova vida, longe de você. E agora vai se humilhar e procurá-la?
— Eu preciso conversar com ela, preciso olhá-la nos olhos e constatar que ela realmente seguiu em frente. Só assim terei paz de espírito — digo, com angústia e raiva ao mesmo tempo.
— E agora, ela te viu com Caroline. Que desculpa você vai dar?
Dou um grande gole na minha cerveja.
— Sei lá. Que fui assediado. Que conheci Caroline aqui.
— Pedro, não vai colar. E, mesmo que ela acredite, mulher não pensa igual a homem. Vai interpretar de outro jeito. Vai achar que você nunca gostou dela, que já a substituiu e blá, blá, blá...
A conversa com Marcos apenas aumenta a minha indecisão. Ele tem razão ao dizer que Sarah provavelmente interpretará m*l minha abordagem. Mas, mesmo assim, sinto que preciso ter essa conversa com ela, nem que seja para me dar algum tipo de encerramento.
— Posso provar o contrário. Posso abrir o meu coração e explicar que estou tentando me distrair. Sou homem, p***a! Mas, se voltarmos, se ela me perdoar, eu a espero, e ela será a única na minha vida como sempre foi.
— Deus! Esperar uma mulher?
Meu rosto fica ainda mais sério.
— Claro! Por que não? Eu posso manter contato com ela pelo w******p, fazer videochamadas. Posso viajar de vez em quando para São Paulo e, nas férias, podemos ficar juntos...
— Se você acha que isso é o certo, então vai fundo!
— Eu vou!
Tomo outro gole da minha cerveja, sentindo a amargura do dilema que me consome por dentro. Sei que enfrentar Sarah não será fácil, que as minhas palavras podem não ser bem recebidas, mas sinto que é algo que devo fazer por mim mesmo.
Respiro fundo, tentando encontrar coragem dentro de mim para enfrentar o que quer que aconteça. Sei que essa conversa pode mudar tudo, para melhor ou para pior, mas é uma conversa que preciso ter.
Eu a procuro novamente pelo salão. Agora a avisto.
Ela está lá. Ainda mais bonita do que me lembrava. Os cabelos ruivos até a cintura. O perfil delicado. O narizinho arrebitado. Os lábios cor de cereja. Os seus olhos então se voltam na minha direção. Ela estaca quando os nossos olhares se encontram. Os meus olhos castanhos se encontram com os verdes dela.
Ela se vira de costas.
Respiro fundo, preparando-me para abordá-la, mas antes que eu possa dar o primeiro passo, Caroline aparece e me abraça. Sinto-me nervoso e retiro seus braços dos meus ombros.
— Caroline, fique aqui. Vou até ali falar com uma pessoa.
— Quem?
— Uma amiga.
— Quem é essa amiga?
— Sarah.
Caroline examina o salão e a avista. A sua expressão se fecha.
— Sarah não é sua amiga. Eu sei do rolo entre vocês. Vou com você.
— Não, não vai.
— Como assim, não vou?
— Eu preciso conversar com ela a sós.
Caroline fica de todas as cores.
Deus! E eu disse que nossa relação era só uma curtição. Nunca saiu da minha boca que estamos namorando sério. Tanto que não fico no pé dela; só ocasionalmente saímos e transamos, mas é só.
Eu a seguro pelos ombros.
— Caroline, vou refrescar a sua memória. Você não é minha dona. Não aja como se fosse, nem como se eu estivesse te traindo. Nós já conversamos sobre a nossa relação, lembra? Sem amarras.
— Quer saber? Você é um perfeito i****a. Se você está comigo hoje, deveria respeitar-me. f**a-se você! — ela diz, pega a bolsa e vai embora.
Eu pisco com as falas dela. E meneio a cabeça sem entender sua atitude. Damaris, amiga de Caroline, me olha com raiva também e segue após ela. Marcos ri da minha desgraça.
Não estou preocupado com Caroline, mas sim, em como vou contornar minha situação com Sarah!
Ergo os meus olhos e vejo Sarah me observando. Ela meneia a cabeça e sorri com desprezo para mim.
O coração dispara. A minha boca seca, mas meu rosto se mantém enigmático.
Ah, agora que vou lá!
Vou tirar aquele sorrisinho jocoso de seus lábios!