Sarah
O meu coração se aperta, e cada batida ecoa como um tambor, ressoando na imensidão do silêncio entre nós. Ele me olha ofegante, os olhos profundos repletos de uma expectativa quase palpável, como se cada palavra que eu dissesse pudesse mudar o rumo das nossas vidas.
Eu abaixo o rosto, sentindo a pressão das suas esperas, como se o ar ao nosso redor estivesse carregado de promessas não ditas. Tomo a minha decisão, um peso pesado que se instala no meu peito, como se estivesse carregando um fardo que não me pertence. Os meus olhos encontram os de Pedro, e por um momento, vejo a dor e a incerteza refletidas neles, como se um espelho revelasse as suas almas. Mas eu sei que não posso ceder à fraqueza. Preciso ser forte, não apenas por ele, mas principalmente por mim mesma.
— Tudo bem. É o fim — a minha voz soa firme, mas por dentro, o meu coração está se despedaçando em mil pedaços. A cada palavra, uma parte de mim se despede, como se estivesse sendo arrancada à força, deixando um vazio doloroso no seu lugar.
Pedro parece atordoado, como se as palavras que eu disse não tivessem realmente penetrado na sua mente. O seu olhar escurece, uma mistura de desapontamento e resignação, refletindo a batalha interna que se desenrola dentro dele. Ele sempre foi tão forte, tão seguro, e agora parece tão vulnerável.
— Você vai se arrepender disso, Sarah — ele murmura, a voz carregada de emoção reprimida, como se cada sílaba fosse uma flecha cravada no meu peito. Eu sinto uma onda de compaixão, mas também uma determinação que não posso ignorar.
Sarah
Eu sigo caminhando, cada passo se tornando um desafio maior que o anterior. A ideia de deixá-lo para trás é um fardo pesado em meu coração, um peso que me acompanha como uma sombra persistente. A dor pulsante no meu peito ecoa a decisão que tomei, cada batida ressoando como um lamento, um eco de tudo o que poderia ter sido.
Concentro-me nas pequenas pedras misturadas ao asfalto, tentando me distrair da tempestade de sentimentos que se agita dentro de mim. As lembranças nos cercam, como ecos de risadas e promessas sussurradas que agora parecem um passado distante. Eu sinto o calor das lágrimas nos meus olhos, mas me recuso a deixá-las cair. Não agora. Não diante dele.
Quando finalmente chego ao meu carro, meu olhar se perde no reflexo do vidro. Vejo uma mulher que parece perdida, uma versão de mim mesma que não reconheço. É como se a própria imagem me dissesse que esta é uma despedida não apenas de Pedro, mas de quem eu costumava ser. Eu não sou mais a mesma. Os traços da felicidade que uma vez brilharam em meu rosto agora estão ofuscados pela dor da escolha que fiz.
Pedro
A imagem dela se afastando é um golpe devastador, um feixe de luz que se apaga de repente, mergulhando tudo em escuridão. Fecho os olhos, tentando controlar a onda de emoções que ameaçam transbordar. Ela realmente se foi. A ideia de não ter Sarah ao meu lado me faz sentir como se estivesse vivendo em um pesadelo do qual não consigo acordar. A solidão é uma companheira amarga, e cada instante sem ela se arrasta como uma eternidade.
— Não! — grito para mim mesmo, a voz ecoando na solidão do meu carro. É um grito de frustração, de impotência. Como pude deixar isso acontecer? As memórias dos nossos momentos juntos invadem minha mente, como imagens de um filme que não consigo parar de assistir. O jeito que ela sorria, como seus olhos brilhavam de alegria, tudo isso agora parece tão distante, como uma fotografia desbotada pelo tempo.
Sarah
Forço-me a abrir a porta do carro e a entrar, mas antes que eu possa dar partida, uma onda de arrependimento me atinge como uma onda avassaladora. O que eu realmente quero? Sigo pensando nas conversas que tivemos, nas promessas que fizemos. Fecho os olhos, me lembro do jeito que Pedro me olhava, como se eu fosse a única pessoa no mundo. Essa lembrança é quase insuportável. Eu me pergunto se ele sente o mesmo, se ele sente a falta daquilo que éramos.
— Ah, Deus! — respiro fundo, tentando reprimir as lágrimas que ameaçam escapar. — O que eu estou fazendo?
Pedro
Num gesto desesperado, minhas mãos correm pelos cabelos, enquanto a vejo se distanciar em direção ao seu carro. Cada movimento dela parece um golpe, como se a distância aumentasse o peso do meu arrependimento. Tentei seguir em frente sem ela, deixei o meu orgulho guiar as minhas ações, esperando que fosse ela quem desse o primeiro passo, que fosse ela quem buscasse redenção. Afinal, foram suas palavras afiadas que cortaram fundo na minha alma. Ela é quem devia desculpas, não eu.
Mas uma voz sussurra no meu ouvido, acusando-me de fraqueza, de esperar tempo demais para tentar consertar os nossos erros. "Pedro, você foi fraco", ecoa a voz. "Deveria ter ido atrás dela desde o início, mostrado que juntos poderiam superar qualquer obstáculo."
Oh, como eu queria poder voltar atrás, retroceder até aquele momento fatídico em que ela anunciou a sua partida. Teria sido capaz de controlar as minhas emoções, de tentar entender os seus motivos, de abrir o meu coração sem deixar que a raiva tomasse conta de mim. Cada dia sem ela é como uma tortura, e cada lembrança é uma faca cravada na minha alma.
Mas agora é tarde demais. A mulher que eu julgava ser minha alma gêmea, aquela que eu acreditava ser minha vida, partiu sem olhar para trás, abandonando apenas a dor lancinante e a sombra sufocante da solidão.
Maldita seja a saudade que me consome, malditas sejam as lembranças que me assombram a cada esquina. Eu não queria estar preso a esse sentimento avassalador, mas aqui estou, lutando para respirar enquanto a dor dilacera o meu peito e a angústia sufoca a minha alma. O vazio que ela deixou é imenso, como um abismo que me puxa para baixo.
Queria poder fechar os olhos e retroceder no tempo, mas não posso. Tudo o que me resta são as memórias e a incerteza do futuro, enquanto tento sobreviver à tempestade que é viver sem ela. E, enquanto observo o carro dela se afastar, sinto uma parte de mim se perder para sempre, deixando apenas a tristeza como testemunha daquilo que poderia ter sido.