Nove meses depois, dezembro...
Sarah
O sol de dezembro banha a fazenda com a sua luz suave, um brilho dourado que reflete na vegetação ao redor, dando a impressão de paz e tranquilidade. Mas por mais que o cenário pareça sereno, dentro de mim, há uma tempestade. Pedro. Ele é a sombra que me acompanha, o fantasma que se recusa a ir embora. E, apesar de todos os meus esforços para seguir em frente, sua ausência é como uma ferida aberta que não cicatriza, que arde a cada lembrança, a cada pensamento que escapa ao meu controle.
Tento manter-me firme diante da minha família. Eu sorrio, brinco, participo das conversas, mas tudo parece uma máscara. Por dentro, estou a desmoronar. O coração que um dia se encheu de amor agora está dilacerado, carregando o peso de uma saudade que me sufoca. Estar na fazenda, no lugar onde vivemos tantos momentos juntos, parece amplificar a dor. Cada canto, cada detalhe, cada árvore parece carregar consigo a marca de Pedro. A cada passo que dou pelos campos, posso quase sentir sua presença ao meu lado. O vento que passa pelo meu rosto me traz o eco de suas risadas, e o farfalhar das folhas nas árvores me lembra das conversas que tivemos, dos segredos que compartilhamos, e dos sonhos que planejamos juntos.
Eu me lembro de suas mãos segurando as minhas, de como nossos dedos se entrelaçavam com naturalidade, como se tivessem sido feitos para estarem juntos. E de repente, o peso da ausência dele se torna insuportável. Tudo ao meu redor grita por ele. Os campos que percorremos de mãos dadas, os pores do sol que admiramos, até mesmo o cheiro da terra molhada depois da chuva me faz pensar nele. É como se a própria natureza estivesse conspirando para manter viva a lembrança de Pedro em cada pequeno detalhe.
Enquanto caminho, posso sentir a dor crescendo dentro de mim, cada lembrança atingindo-me com força. Fecho os olhos e me permito por um momento imaginar que ele ainda está aqui. Posso quase sentir sua mão envolvendo a minha, como se ainda estivéssemos juntos, lado a lado. E quando abro os olhos, a realidade me acerta com uma crueldade implacável: ele não está aqui. Ele se foi. E eu estou sozinha, presa a essas memórias que me torturam.
As horas se arrastam, e o almoço em família não traz o conforto que eu esperava. Sentada à mesa com o meu pai e meu irmão, tento me envolver nas conversas animadas, mas tudo parece distante. As risadas, os pratos servidos, a troca de histórias... Tudo continua como sempre foi, mas eu estou diferente. A falta de Pedro paira sobre mim como uma sombra silenciosa, e por mais que eu tente me concentrar nas vozes ao meu redor, não consigo afastar o vazio que ele deixou.
Eu olho para meu pai e meu irmão, e me pergunto se eles percebem. Se eles veem o quanto estou lutando para manter essa fachada, para esconder a dor que insiste em me consumir.
Eles tentam me distrair, tentam me fazer sorrir, e eu me esforço para corresponder. Mas a verdade é que, por dentro, estou despedaçada. E nada do que digam ou façam pode preencher o vazio deixado por Pedro.
Quando a noite finalmente cai, é no silêncio do meu quarto que a realidade me atinge com toda a força. Deitada na cama, eu olho para o teto, sentindo o peso da solidão se instalar ao meu redor. A escuridão traz consigo todas as memórias que eu tentei suprimir durante o dia. As lembranças de Pedro vêm à tona com uma intensidade quase c***l. Fecho os olhos, tentando afastar a dor, mas ela se recusa a ir embora. Seu sorriso, o jeito como ele me olhava antes de me beijar, seus olhos cor de mel que pareciam enxergar direto dentro de mim... Tudo volta com uma clareza dolorosa.
E então as lágrimas começam a rolar. No silêncio da noite, eu finalmente me permito chorar, deixar que a dor flua livremente. Afundo o rosto no travesseiro, tentando abafar os soluços que escapam dos meus lábios, mas não há como escapar dessa dor. A ausência de Pedro é como uma âncora, pesando sobre mim, arrastando-me para um lugar escuro e profundo, onde a tristeza e a solidão me envolvem por completo.
Eu sei que não posso continuar assim, que preciso encontrar uma maneira de seguir em frente. Mas, por enquanto, tudo o que consigo fazer é mergulhar nesse abismo de dor, permitindo que as lembranças me consumam, uma a uma. E, quando o cansaço finalmente vence, deixo que o sono me leve para longe, mesmo que seja apenas por algumas horas, para um lugar onde Pedro ainda está ao meu lado, onde ainda posso sentir o calor de seus braços ao meu redor.
O dia seguinte desperta com uma promessa tímida de sol, sua luz suave se filtrando pelas cortinas do quarto. Mas essa promessa, tão breve, é rapidamente obscurecida por uma sombra familiar que retorna com toda a força, apertando meu peito como um abraço indesejado. Mais um dia sem Pedro. Mais um dia enfrentando a solidão que me envolve, apesar de toda a vida que existe ao meu redor.
Desço as escadas, cada degrau ecoando na casa grande e vazia, meus pés pesados como se o peso de minhas lembranças me prendesse. Ao entrar na cozinha, sou recebida pelo aroma acolhedor de café recém-passado e pão fresco. O cheiro me envolve, despertando uma sensação agridoce de conforto. Por um instante, parece que tudo está normal, que a vida continua com sua rotina tranquila, apesar da tempestade interna que carrego. Nice, a governanta, está de costas para mim, concentrada na preparação da refeição, seu rosto sereno contrastando com a agitação de meus pensamentos.
— Sarah, querida, você pode me ajudar a colocar a mesa? — ela pergunta, sua voz suave interrompendo o silêncio da cozinha.
— Claro, com prazer — respondo, forçando um sorriso, tentando contribuir de alguma forma. No entanto, a ausência de meu pai e de Diogo pesa em minha mente. Onde eles estão? — E meu pai, Diogo? — pergunto, uma pitada de preocupação escapando na minha voz.
— Saíram cedo hoje. Foram a uma fazenda vizinha comprar algumas cabeças de gado — ela responde, dissipando parte da minha inquietação, embora o vazio permaneça.
Olho ao redor, percebendo a imensidão daquela casa e a falta das presenças que, de alguma forma, preenchiam o espaço. A mesa posta para apenas uma pessoa é um símbolo doloroso da minha solidão.
— Então, a mesa é só para mim? — pergunto, tentando disfarçar a tristeza com uma leve brincadeira.
— Sim — Nice confirma com um sorriso compreensivo.